El autobús.
O que veio fazer o Málaga ao Dragão? Estacionar o “autobús” em frente da baliza. Não é por ser na Champions que se passa a chamar futebol táctico à táctica do autocarro. Só Mourinho goza desse predicado, nem percebo bem porquê.
Este Málaga bem podia ter pedido
emprestado os equipamentos à Olhanense ou ao Beira-Mar. Pelo menos, poupávamos
os olhos àquele verde alface ridículo.
O Málaga jogou em bloco baixo e
sem qualquer autorização para que os laterais subissem. Aliás, Sánchez passou
mais tempo a dobrar os centrais que a tentar vencer a linha de meio campo. Não
satisfeito, à frente desta defesa, Pellegrini estaciona dois trincos, para os
quais a bola é um objecto indesejado e altamente perigoso. Tenho a certeza que
ambos sabem de cor a marca das caneleiras de Moutinho, mas nem imaginam a marca
da bola de jogo.
Perante este cenário, restava ao
FC Porto tentar de todas as maneiras encontrar um caminho para as redes do
Málaga. Quase tudo foi tentado, mas faltou definição no último momento. Muito controlo
de jogo, muita posse, muito remate de longa distância, mas pouca envolvência.
Na verdade, o FC Porto teve dificuldades em penetrar na defesa do Málaga.
Faltou acutilância pelos flancos e maior criatividade na zona 10. O normal e o
recorrente frente aos Beira-Mar e Olhanense desta vida! É claro, o Málaga
defende melhor. Os jogadores têm outra tarimba e outra qualidade. Mas hoje, o
FC Porto entrou muito motivado e com vontade de resolver a eliminatória. Faltou
um pouco mais de sorte e ousadia. E isto já estava resolvido!
Vítor Pereira fez uma única
alteração no onze inicial. Varela entra para o lugar de Atsu, dando maior
experiência à linha ofensiva do FC Porto.
O filme do jogo é um total
massacre ofensivo do FC Porto. A ausência de jogadas do Málaga não é má vontade
para com os do outro lado da fronteira, mas o resultado de um futebol
inteiramente dominador por parte do FC Porto.
Logo aos 4 minutos, Izmaylov, num
movimento interior, fura por entre a defesa do Málaga e remata para defesa
apertada de Caballero. É um FC Porto a entrar muito forte e decidido a resolver
o jogo rapidamente. Aos 14 minutos, abertura de Otamendi para Jackson, com
Demichelis a cortar no último momento para canto. No canto, Moutinho centra e
Fernando, ao primeiro poste, cabeceia ligeiramente por cima. No minuto
seguinte, novo canto a favor do FC Porto. Moutinho avança, de novo, para a
marcação. O centro sai tenso, Varela desvia ao primeiro poste, mas Fernando,
desta vez no segundo poste, chega ligeiramente atrasado para empurrar a bola para
a baliza.
Aos 18 minutos, Varela ataca a
área do Málaga e é servido primordialmente por Lucho. Ganha a frente a Antunes,
mas finta para dentro e Antunes afasta o perigo. Fica, no entanto a dúvida se o
corte de Antunes é completamente legal ou não.
O jogo cai numa toada mais morna,
com o Málaga a tapar todos os caminhos para a baliza e com o FC Porto incapaz
de jogar em envolvência. Jackson é forçado a jogar muito tempo fora da área e
os extremos não conseguem produzir jogo para o ponta de lança.
Só aos 33 minutos de jogo é que o
FC Porto volta a criar perigo. Grande abertura de Danilo para Jackson, que
ganha na diagonal ao seu marcador. Jackson mata a bola no peito e quando se
preparava para rematar, Sánchez, na dobra, corta para canto.
Aos 37, 38 e 40 minutos, Jackson,
Danilo e Moutinho não conseguem criar perigo em três boas situações, até que,
aos 44 minutos, Izmaylov encerra a primeira parte da mesma forma como a havia
começado. Grande trabalho sobre Iturra e remate forte fora da área, mas ao
lado.
Ficavam para trás 45 minutos de
pleno domínio do FC Porto, com muitas situações de perigo mas sem grandes
situações de golo eminente. Faltava ao FC Porto capacidade inventiva na zona
10, onde Iturra e Toulalan sobreviviam sem situações de grande pânico. Mas
sobretudo, maior capacidade de ataque pelos flancos. O FC Porto era pouco
incisivo nos corredores laterais, o que obrigava Jackson a vir fora da área para
buscar jogo.
A segunda parte é uma cópia da
primeira. A única diferença está no golo atingido pelo FC Porto, que dá alguma
justiça ao marcador, e no desacelerar final do FC Porto. No resto, o mesmo: “el
autobús” e uma certa incapacidade do FC Porto em contornar essa barreira
defensiva.
Aos 53 minutos, surge a primeira
grande oportunidade. Varela, no flanco esquerdo, centra para a entrada de
Izmaylov, no segundo poste. O russo ganha a frente a Antunes e com a baliza à
sua mercê, atira ao lado. Grande perdida!
Mas o golo não tardaria. Aos 55
minutos, grande arrancada de Alex Sandro pelo seu flanco, aguentando todas as
investidas dos jogadores do Málaga. Quando se esperava um cruzamento, Alex
Sandro apercebe-se do movimento de desmarcação de Moutinho e endossa a bola com
precisão. Moutinho, de primeira, mete a bola entre as pernas de Caballero para
o 1-0! É possível que Moutinho tenha beneficiado de um ligeiro fora de jogo, no
entanto, bastou um pouco de criatividade na zona 10 para o FC Porto abrir o
ferrolho. Uma desmarcação mais incisiva, um ataque à área do Málaga e as
marcações falharam.
Vítor Pereira retira Varela e
coloca James, aos 57 minutos. O FC Porto ainda consegue manter o sufoco à saída
de bola do Málaga, mas, aos poucos, vai perdendo fulgor. Aos 59 minutos, bem
servido por Jackson, James remata em arco ao lado. Esta quase a última oportunidade
do FC Porto!
Vítor Pereira ainda tentou
sacudir a equipa, tirando Izmaylov para colocar a velocidade de Atsu em campo,
aos 70 minutos. Mas o Málaga fechava-se mais, confortado em só levar um golo
sofrido de volta para a Andaluzia.
Aos 72 minutos, o árbitro
consegue transformar um agarrão de Wellinton a Jackson na área (logo,
penalti!), numa falta ofensiva do Colombiano! E com este lance, acabam as
incidências de nota do jogo.
Faltou a estocada final. O “descanso” merecido
para a segunda mão. Mas também faltou capacidade para ir buscar esse descanso.
Após o 1-0, o FC Porto não conseguiu ser asfixiante. Temos sempre muitas
dificuldades em contornar equipas que se fechem tão lá atrás. James não entrou
para a posição 10 e Atsu não trouxe envolvência ao flanco. O FC Porto deixou
escoar os minutos onde poderia construir outro resultado. Dominamos totalmente,
mas não conseguimos matar a eliminatória.
Não se enganem com o “el
autobús”. Este Málaga veio cá jogar assim, mas no seu estádio não irá encarar o
encontro da mesma forma. Será determinante o FC Porto mostrar que tem capacidade
de marcar em Málaga. Logo desde o minuto inicial. Até lá, James terá mais
minutos de jogo, assim como Izmaylov e Atsu no pós-CAN. Será um FC Porto mais
entrosado e com maior dinâmica, assim se espera.
De volta ao campeonato, com o Rio
Ave “patrocinado” e um problema a resolver à esquerda. Recuperar para ganhar!
Uma vitória importante para conquistar.
Análises Individuais:
Helton – Um espectador. Algum
excesso de confiança na primeira parte, de resto, nem suou.
Danilo – Secou quem apareceu no
seu flanco. Isco e Santa Cruz passaram ao lado do jogo. Continua a apresentar
algumas dificuldades físicas e não consegue ser uma “locomotiva” pelo flanco
abaixo. Mas mais que isso, tanto resolve um lance com classe (como na
assistência para Jackson, na primeira parte), como faz um disparate. Precisa de
ganhar confiança e tranquilidade no momento final. Perdeu dois lances, onde com
um pouco mais de calma e qualidade, daria muitos problemas ao Málaga.
Alex Sandro – Fez um primeira
parte muito sóbria. Joaquín e Júlio Baptista tornaram-se inexistências, muito
pelo seu lavor defensivo. Subiu pela certa e subiu sempre com critério e
qualidade. Ainda não voltou ao seu pico de forma, falta-lhe maior capacidade
para fazer o “vai-vém”, mas já está mais decisivo na hora de atacar. Brilhante
assistência para Moutinho.
Mangala – Entrou nervoso, até
algo disperso, mas cedo encontrou o ritmo. Impressionante como fez “aterrar”
Baptista na primeira parte, ganhando-lhe no corpo a corpo com uma facilidade
tremenda.
Otamendi – Um muro. Por ali não
passou nada.
Fernando – Excelente jogo. Matou
toda a saída de bola do Málaga e empurrou o meio campo do FC Porto para a
frente. Ainda deu uma perninha no ataque, dando fluidez ofensiva. Em Málaga
será fundamental ter um Fernando em grande.
Moutinho – O melhor em campo. Um
médio de mão cheia. No jogo ofensivo e defensivo deu um recital. Prova disso
mesmo é o tratamento violento que mereceu dos médios do Málaga, com beneplácito
do árbitro. Sempre que pôde, deu uma mãozinha no ataque, sendo decisivo na
forma como aparece na zona 10 no lance do golo.
Lucho – Muito trabalho na
primeira parte, onde fez um excelente jogo táctico. A boa pressão alta do FC
Porto deveu-se, em muito, à sua capacidade de cortar linhas de passe. Faltou o
desdobramento ofensivo. Jackson jogou muito só no ataque, sem ninguém próximo
com quem tabelar. Caiu de produção na segunda parte.
Izmaylov – Falta-lhe capacidade
física para aguentar um embate destes. Poderia dar mais trabalho a Sánchez se
tivesse com outro fôlego. Ainda assim, sobretudo nos movimentos interiores,
criou perigo. Tem muita qualidade técnica, mas precisa de potenciar as suas
mudanças de velocidade.
Varela – Neste flanco já havia
capacidade física, mas faltou talento. Foi um bom Varela, mas não um grande
Varela. Antunes merecia uma noite mais sobressaltada, mas nem lançado em
velocidade foi capaz de o vencer. O seu melhor lance, curiosamente, saiu do
flanco esquerdo, na segunda parte. Esteve confiante com bola e acertado no
passe. Aliás, bom jogo até no capítulo defensivo. Faltou virar Antunes do
avesso e dar qualidade ao jogo ofensivo.
Jackson – Forçou o lance
individual, é certo, mas faltou-lhe muito acompanhamento. Tem que sair da sua
posição para dar fluidez e pontos de fixação à circulação de bola. É algo que o
nosso sistema de jogo obriga. Mas passa demasiado tempo fora da sua zona de
acção. Não é culpa dele, mas consequência das dificuldades que o FC Porto tem
em atacar defesas que montam o autocarro.
Não esteve inspirado, mas não
deixa de ser um deleite ver o seu poder de desmarcação e cada recepção
orientada.
James – Nota-se que ainda está a
aquecer motores, mas será um grande trunfo para a segunda mão. Infelizmente,
voltou a entrar para um flanco, onde só num lance é que conseguiu ganhar um
pouco de espaço. Fez falta ao FC Porto um James ameaçador nas costas de Jackson.
Atsu – Entrou com velocidade, mas
sem capacidade de desequilíbrio. Sánchez demorou um pouco a assimilar a sua
velocidade, mas depois lá encaixou. Faltou-lhe mais arte com a bola nos pés
para dominar o flanco.
FICHA DE JOGO
FC Porto-Malaga CF, 1-0
Liga dos Campeões, oitavos-de-final, primeira mão
19 de Fevereiro de 2013
Estádio do Dragão, no Porto
Assistência: 42.209 espectadores
Arbitro: Mark Clattenburg (Inglaterra)
Assistentes: Simon Beck e Stuart Burt
Quarto arbitro: Simon Long
Assistentes adicionais: Lee Probert e Mike Dean
FC PORTO: Helton; Danilo, Otamendi, Mangala e Alex Sandro; Fernando, Lucho (cap.) e João Moutinho; Varela, Jackson e Izmaylov
Substituições: Varela por James (58m), Izmaylov por Atsu (70m) e Lucho por Castro (90m+1)
Não utilizados: Fabiano, Maicon, Liedson e Sebá
Treinador: Vítor Pereira
MALAGA CF: Willy; Sergio Sanchez, Demichelis, Weligton (cap) e Antunes; Iturra e Toulalan; Joaquin, Júlio Baptista e Isco; Santa Cruz
Substituições: Joaquín por Portillo (63m), Júlio Baptista por Piazon (78m) e Iturra por Camacho (78m)
Não utilizados: Kameni, Lugano, Saviola e Duda
Treinador: Manuel Pellegrini
Ao intervalo: 0-0
Marcador: João Moutinho (56m)
Cartão amarelo: Iturra (75m)
Análise dos Intervenientes:
Vítor Pereira:
«Vamos para Málaga para fazer um golo»
«Era importante ganhar e não sofrer golos, mas depois do jogo que fizemos, depois de um jogo que de grande qualidade do primeiro ao último minuto, justificámos o segundo e só não estou completamente contente porque merecemos o 2-0 e não o conseguimos.
Sabemos que um desequilíbrio num momento pode permitir ao adversário chegar ao golo. Por isso foi importante não sofrer golos e ser uma equipa consistente e personalizada do primeiro ao último minuto. É um adversário de grande nível, que hoje não conseguiu explanar o seu jogo.
Não permitimos ao Málaga jogar o seu futebol, nos momentos de transição defensiva estivemos muito concentrados, nunca deixámos que o jogo se partisse e tivemos posse de bola. Vamos para Málaga com o objetivo de marcar, porque isso sim poderia sentenciar a eliminatória.»
Lucho:
«Fizemos um grande jogo»
«É um bom resultado. O primeiro objetivo era ganhar, o segundo objetivo era não sofrer golos, conseguimos as duas coisas. Não foi fácil, mas estamos contentes porque fizemos um grande jogo.
O Málaga está entre as dezasseis melhores equipas da Europa, tem grandes jogadores, está aqui por mérito e dificultou-nos as coisas, mas nós respondemos bem, marcámos um golo e podíamos ter marcado mais. Há que ser inteligente. Era importante não sofrer e por isso procurámos o segundo golo com ordem.»
Jackson:
«Temos de fazer o mesmo jogo lá»
«Era importante cumprir o objetivo, ganhar sem sofrer golos. Temos de pensar que no próximo jogo vai ser mais difícil. Temos de fazer o mesmo jogo lá, já cumprimos em casa. Esperamos ir a Espanha fazer um bom jogo e passar à fase seguinte. É uma defesa muito forte.»
O que disse a imprensa estrangeira:
Marca - "O único golo do encontro é precedido de um fora de jogo de João Moutinho. Certo é que o FC Porto mereceu a vitória, embora a tenha conseguido de forma ilegal".
As - "A equipa de Pellegrini viu-se superada pelo FC Porto. Apenas rematou uma vez à baliza. Mas o golo de João Moutinho foi em fora de jogo. Tudo será decidido no La Rosaleda".
Sport - "O FC Porto ganhou o primeiro jogo dos oitavos de final graças a um golo solitário de Moutinho na segunda parte. Os portugueses foram melhores em traços gerais e tiveram as melhores oportunidades".
Mundo Deportivo - "O Málaga está a pagar pela histórica estreia na Champions. Pellegrini sabia que o FC Porto, no seu estádio, seria um adversário muito perigoso, mas não contava que a sua equipa caísse com um erro grave do árbitro. O único golo do jogo, obra de Moutinho, foi em claro fora de jogo e agora a equipa andaluz tentará virar no La Rosaleda".
UEFA.com - "Frente a um adversário que não tinha sofrido qualquer derrota na fase de grupos, o FC Porto dominou por completo a primeira parte, mas teve de esperar até ao minuto 56 para ganhar uma vantagem que poderá revelar-se decisiva a 13 de Março, quando visitar o La Rosaleda".
L'Equipe - "Sob o seu domínio, o FC Porto tinha certamente os meios para ficar numa situação mais favorável antes de viajar a Málaga, dia 13 de março. Mas vencendo sem sofrer golos em casa, os jogadores de Vítor Pereira fizeram grande parte do trabalho. Estatisticamente, as chances de passar aos quartos de final sobem para 59,03 por cento".
Por: Breogán
5 comentários:
Crónica e resumo do FC Porto - Málaga, as incidências, os jogadores, os treinadores, os golos, tudo o que interessa no jogo que permitiu aos dragões ganharam vantagem nos oitavos-de-final da Liga dos Campeões em vantagemnumerica.pt/news/fc-porto-exemplar/
Tendo visto o jogo no estádio, acho que foram muito benevolentes com o Varela. O rapaz parecia que não se entendia com a bola, bem VP em substituí-lo.
Atsu, entrou bem, mas as ordens do banco eram diferentes, fez o que lhe foi pedido.
Danilo não está numa boa forma fisica e, para quem está a disputar o campeonato a taça da liga e a champions sem alternativas, é perigoso.
caríssimas(os),
grande jogo! bravos heróis! valente Vítor Pereira!
(resultado só peca por escasso. e a «gloriosa» azia espanhola é... a cereja no topo do bolo)
ps1:
mesmo com tal confiança, ainda faltam (espera-se que só) noventa minutos.
ps2:
o Málaga também poderia ter pedido emprestados os equipamentos à Académica - a equipa mais em voga nesta última semana :D
somos Porto!, car@go!
«este é o nosso destino»: «a vencer desde 1893»!
saudações desportivas mas sempre pentacampeãs a todas(os) vós! ;)
Miguel | Tomo II
Varela não foi, de facto, um extremo rompedor como seria necessário, mas esteve muito activo na circulação da bola e houve momentos em que conseguiu fazer a diferença.
Excelente jogo colectivo e individual.
E gostei da cronica do jogo.
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