GUARDA-REDES DO FC Porto
O número um é o começo de quase
tudo. Pois bem, no futebol, o número um é propriedade (quase) exclusiva do
guarda-redes (embora aos melhores fosse conferida liberdade para escolher o
99!). Foi, então, pela baliza que optamos por começar estas recordações (tanta
vezes, aprendizagem) da grandiosa história do FCP.
E, se há lugares onde sempre
tivemos qualidade, o “goleiro” é certamente um deles. Alguns tinham
mãos-de-ferro, outros marcaram golos imortais de baliza a baliza, tivemos os
que se imortalizaram em música, e os que se celebrizaram pela colecção de
troféus única no mundo; alguns, estrangeiros, bateram recordes de títulos
nacionais, mas todos são reconhecidos no imaginário portista, mesmo que o seu
nome se limite a um impronunciável conjunto de consoantes…
O PRIMEIRO
McGeoch. No célebre primeiro jogo
contra o F. C. Lisbonense, em Março de 1894, as crónicas referem-no apenas pelo
apelido: McGeoch. Apesar de singelas, não deixaram de fazer interessantes
referências elogiosas ao seu desempenho, creditando-o com uma exibição entre as
melhores da tarde. A explicação viria umas linhas mais à frente, justificando a
sua qualidade acima da média, com o seu passado a defender as redes na sua
terra natal: Escócia.
A McGeoch não mais se leu
qualquer referência, o que não seria estranho, dado que, provavelmente, em
1906, já teria mais de 50 anos.
OS DESCONHECIDOS
Em 1906, o primeiro guarda-redes
retratado é Pinheiro.
Entre as primeiras equipas
referenciadas (e, sobretudo, fotografadas), o guarda-redes era Carlos Vouga
Pinheiro. Aparentemente, Vouga Pinheiro havia estudado em Inglaterra (onde
jogava a extremo-direito) e encontrava-se familiarizado com o jogo, ao
contrário de muitos dos seus colegas.
Porém, no primeiro jogo
internacional – em 1908, contra o Fortuna de Vigo, o guarda-redes fotografado foi
já Soares. Provavelmente, Américo Soares, um dos entusiastas pioneiros do
futebol.
O PRIMEIRO TITULAR
Por alturas de 1910, a
rotatividade na baliza acabou e o guarda-redes começava a ser quase sempre o
mesmo: Peter Jansen. Até 1913/14, o nome pelo qual começavam as equipas do FCP
era, quase sempre, Jansen. Jansen foi, por exemplo, o guarda-redes da célebre
recepção ao Médoc.
As informações sobre ele – a
exemplo de quase todos os seus contemporâneos – são muito escassas, porém,
existem referências à sua serenidade em campo e à constante excelência das suas
exibições. Outros ainda referiam-se a ele como sendo o melhor “keeper a actuar
em Portugal”.
O PRIMEIRO PORTUGUÊS
TITULAR
Na altura em que Jansen começou a
defender as redes da baliza do FCP, um outro guarda-redes começa, igualmente, a
ser referido: Manuel Valença. Na época, a principal competição em que o FCP
participava, era a Taça Monteiro da Costa que se destinava, exclusivamente, a
atletas portugueses; porém, os melhores jogadores eram os estrangeiros. Assim,
o FCP possuía 2 equipas: uma – a melhor – com estrangeiros e uma outra,
exclusivamente formada por portugueses, para disputar a Taça Monteiro da Costa.
Nesta segunda, o guarda-redes era, precisamente, Manuel Valença.
Com o tempo esta distinção deixou
de existir e no final da primeira metade desta década, já Manuel Valença era o
titular da (única) equipa.
Manuel Valença esteve presente em
alguns jogos históricos desse tempo: foi o titular das primeiras conquistas da
Taça Monteiro da Costa (excepto em 1913), jogou em Vigo e foi titular na
inauguração do Campo da Constituição. A sua presença (embora depois na “sombra”
de Lino Moreira) manteve-se até ao início da década de 20, ficando bem patente
a sua longevidade atlética.
Manuel Pereira Bastos Valença, na
altura capitão de artilharia colocado em Penafiel (mais tarde, tenente-coronel),
foi um dos primeiros sócios do FCP e um dos primeiros guarda-redes do FCP. As
referências às suas qualidades futebolísticas recordam o seu estilo.
OUTROS DESTAQUES
Na sombra de Manuel Valença,
outros guarda-redes aparecem como tendo defendido a baliza do FCP por esta
altura.
Desde logo, Alberto Vilaça de
Carvalho, engenheiro civil. Guarda-redes inscrito na 3ª categoria (atrás de
Manuel Valença e Peter Jansen), primeiro, mas que acabou por defender as redes
do FCP na Taça Monteiro da Costa.
Cyril Wright, que esteve entre os
primeiros sócios do FCP também defendeu as redes do FCP. Provavelmente, com
maior aptidão para outros jogos com maior utilização das mãos (como o rugby),
Cyril Wright acabou por ter amplo destaque na vitória do Boavista sobre o FCP
na primeira Taça do Porto, onde brilhou no … Boavista, por empréstimo do FCP!
Guilherme Marques era o
guarda-redes inscrito, inicialmente na 4ª categoria do FCP (atrás de Vilaça de
Carvalho), mas no final da década esteva já inscrito na 2ª categoria
imediatamente atrás do primeiro guarda-redes campeão de Portugal: Lino Moreira.
Guilherme Marques tinha, igualmente, um curriculum interessante no lawn-tennis
do nosso clube.
Outros relatos evidenciam que,
também Augusto Aires Pereira foi guarda-redes do FCP, este, na conquista da
última Taça Monteiro da Costa.
O PRIMEIRO CAMPEÃO
Embora esta seja uma época de
poucos registos, ainda antes dos 20 anos já existiam referências suas como
capitão do Leça, clube da sua terra natal.
No FCP haveria de ingressar em
1918 e aí ficar até 1924.
Foi titular indiscutível e as
suas exibições eram sempre registadas como positivas.
Noutros tempos teria sido
certamente internacional, pois estava entre os melhores nacionais, mas o
relacionamento complexo entre “a selecção” e o país para além de Lisboa,
dificultavam essa possibilidade
De Lino Moreira ficaram as
conquistas: campeão regional do Porto todos os anos que esteve ao serviço do
FCP e Campeão de Portugal em 1922.
Aliás, ficou, igualmente, ligado
ao Campeonato de Portugal de 1923 (embora, subtilmente, omitido, de muitos
relatos, incluindo do “suposto” Almanaque do nosso clube), pois na meia-final
disputada em Coimbra, lesionou-se, tendo mesmo acabado por sair, ficando o FCP
a jogar com menos um jogador (as substituições, então, ainda não eram
permitidas)!
Na sua última época no FCP –
1923/24, embora inscrito na 1ª categoria, não existem registos de qualquer jogo
que tenha feito nesta época. Deixou o FCP antes dos 30 anos e acabou por abrir
a porta a um dos maiores símbolos do FCP: Miguel Siska!
Por: Jorge
1 comentário:
1963 tres guarda redes juniores como Antenor Jorge Granja e Domingos SEguiram no FCPorto?
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