O tiro de partida para o par de
jogos que faltavam para consumar o título do Benfica havia sido dado por
Lopetegui na conferência de imprensa de rescaldo da vitória sobre o Gil Vicente
quando ficou explicita a raiva, a revolta e a denúncia do que tinha sido este
campeonato e como o manto protector tinha aconchegado aquilo que o colo tinha
começado a erguer.
Lopetegui percebeu tarde o que a
casa gasta. Neste caso “a casa” é a luta interna entre o Porto e o Benfica pela
conquista de títulos.
Quem já cá está há mais de 30
anos sabe de trás para frente e da frente para trás “o que a casa gasta”.
Apesar de saber mais do que o papa permanece no silêncio por conforto ou
cansaço.
Vai daí, o basco teve que pedalar
a nossa bicicleta sozinho e, qual deputado sem grupo parlamentar, fazer erguer
a sua única voz contra o manto protector da comunicação social maioritariamente
afecta ao Benfica, contra o benfica, contra Vitor Pereira e contra os árbitros.
O politicamente correcto que era
a sua imagem e a sua forma de estar no futebol tiveram que ser abandonados em
nome do que viu e aprendeu enquanto cá esteve.
Esse espirito de revolta
comunicacional é o tom certo para quem se preocupa exclusivamente em ganhar não
se importando com o preço reputacional que ficará para sempre colado à sua
pele.
O protesto, a revolta e o
queixume poderia servir como factor agregador da massa adepta e dos jogadores..
Podia ser uma manhosice de
Lopetegui. Disparar para o ar para desviar as atenções do que se passa em
terra. Podia, mas eu vejo autenticidade na revolta.
Autenticidade e razão para a
revolta. O Benfica foi levado ao colo na 1ª volta e esconder isso é aceitar que
a quem trabalha no Porto não basta ser melhor.
Pode-se ser melhor e perder. Perdendo,
fica-se com o ónus de qualquer perdedor. A incompetência, o nervosismo, a
incapacidade de responder à pressão, a incompleta aprendizagem , a falta de
unhas para comandar o clube.
Quando se sente que a impotência
é mais forte do que a competência há um claro risco de desânimo.
No rescaldo da excelente
conferência de imprensa de Lopetegui era fundamental ganhar a derrota.
No final da jornada 32 todos
sabíamos que perder o campeonato era uma inevitabilidade.
No final da jornada 32 foi
passada uma mensagem fortissima por Lopetegui que ficou na agenda mediática e
se prolongou pela semana apesar da tentativa de ridicularização pelo Benfica e
seu manto protector.
O campeonato de 2015/16 já se
tinha começado a jogar ali. A história do colinho e do manto protector seria
tão longa consoante a capacidade que o Porto teria de ganhar a derrota.
Sejamos claros: Um bom discurso político de um qualquer
treinador numa altura em que se está em competição precisa de ser consequente.
Que a equipa de futebol consiga
amplificar o que foi dito em vez de colocar duas almofadas nas colunas da
denúncia.
No Restelo o que aconteceu foi
que o Porto conseguiu viver um dia tão triste como viveu em Munique ou no
Estádio da Luz.
Na Alemanha fomos humilhados. Na
Luz perdemos o campeonato de vez.
No Restelo mostramos o que somos.
Uma equipa velha de alma, incapaz de ser solidária e que envergonhou todos os
que viveram aquela tarde embalados pela esperança de ver o palco do Marquês
desmontado por uma semana.
O discurso de Lopetegui foi
soterrado. Aquilo que no fim da jornada 32.º parecia vindo da boca CheGuevara
virou José Manuel Coelho. Boçalidades.
A exibição daquela equipa
roubou-nos o direito de nos revoltarmos por uma injustiça.
Quem sente vergonha dos seus
silencia-se mesmo quando está carregado de razão.
Quem sente vergonha dos seus
questiona qualquer verdade.
Se não confio na comunicação
social, nos arbitros, na APAF, no Benfica, na Liga e na FPF tenho mesmo é que
pôr a boca no mundo.
Se não confio na comunicação
social, nos árbitros, na APAF, no Benfica, na Liga, na FPF e............NOS
MEUS JOGADORES sou obrigado a estar calado. Só e em silêncio.
O desespero de Lopetegui nos 90
minutos simboliza bem o que qualquer portista sentiu.
Depois de tudo o que passamos
fazemos isto? Não há respeito pelo que vivemos?
Como é que somos nós a dar o COLO
final ao Benfica 6 dias depois do MANTO PROTECTOR?
Vergonha.
Durante os 90 penosos minutos, o
que vimos aquele grupo de 14 Velhos no Restelo fazer é similar ao que se
assiste quando as selecções sul-americanas se deslocam a LA PAZ para enfrentar
a Bolivia.
Velocidade nem vê-la. Agilidade
nem cheiro. Vontade zero. Fadiga de quem está lá dentro e náuseas de quem
assistia à forma como o Porto se exibia.
A 1ª parte foi tenebrosa. Para
além dos defeitos habituais do rame-rame ofensivo vimos um laxismo na pressão e
uma vontade de aproveitar o quentinho do sol que abriu crateras na defesa para
Sturgeon, Camara & Ca.
Já passava dos 25 minutos de jogo
e o placard era elucidativo:
Belenenses – 2 OPORTUNIDADES
CLARAS DE GOLO + 1 LANCE DE PERIGO
Porto – 562 PASSES
Já nem questiono a ignorância do
contexto daquele jogo. Fiquei sem perceber se quem estava lá dentro sabia quais
as regras do jogo. O Belenenses via aquele rectangulo verde e jogava Snooker. O
Porto via aquele rectangulo verde e só pensava no Bilhar às 3 tabelas.
Oliver parecia ser o único que
percebia que a bola tinha que ir para perto duma baliza e ao raiar da meia-hora
de jogo isola Herrera dando um sinal ao Mundo que podia haver esperança.
Logo a seguir Sturgeon surge
isolado na cara de Helton e ficou claro que o 0-0 era uma bençao divina e que
até uma desvantagem de 1-0 já seria lisonjeira para o que se estava a passar em
LA PAZ.
E do céu, ou da altitude, cai uma
estrela. O velho Alex sobe de andarilho ao ataque e cruza para a estrela
Jackson facturar. O Bicampeonato do Benfica estava com o carimbo de adiamento.
Estava-se a escrever certo por
linhas tortas. É torto ganhar um jogo quando não se merece mas também me
parecia certo que o COLO da 1ª volta sofresse mais uma semana.
A 2ª parte começa e Lopetegui
desiste da equipa. Viu a injustiça de uma Equipa de Velhos estar a ganhar sem
vontade de se mexer e percebeu que nada ia mudar.
Se no ínicio se pode questionar a
competência de Lopetegui para fazer passar o seu discurso de conferência de
imprensa para o comportamento dos seus jogadores no relvado, será mais fácil de
entender a desistência após aqueles 45 minutos iniciais e o inicio da 2ª parte.
“Estes velhos não se mexem para a
frente. Estes velhos não tapam atrás. Não vale a pena.”
Aí fez o que grande percentagem
de treinadores faz. Procurar um restauro do sistema para um momento de sucesso
para ver se o desastre anunciado é evitado.
O que fiz em Setúbal?
“Tirei um extremo e meti um
médio. Não joguei cheta mas o Setúbal pouco fez. Dada a 1ª parte da Bolivia e a
vontade geriatrica dos meus jogadores é capaz de ser bom negócio arranjar uma
forma de matar o jogo.”
E assim foi. A segunda Parte do
Restelo foi igualzinha à segunda parte do Bonfim. Bola cá e lá, abre a boca e
estica os braços, está um calor do Diabo e quanto está em Guimarães?
A degradação comportamental de
quem já não era inferior ao adversário mas não tinha nenhum interesse em ser
superior. Como foi possível, Porto?
Não há aqui uma questão tactica a
discutir, se devíamos ter mais ou menos avançados ou mais ou menos médios. A
atitude foi sempre má, a descontração e a distracção foram sempre a nota
dominante. O que interessa o 4-4-2 ou o 4-3-3 quando é este o padrão?
Na 2ª parte o Belenenses já não
conseguiu ser perigoso mas foi suando a camisola e fazendo pela vida. Tal como
o Setubal há 15 dias também conseguiu sacar uma oportunidadezinha de golo e
voilá!
Indi procurava os óculos de sol,
Maicon rodava a anca à velocidade de uma lesma cansada e Tiago Caeiro faz um
golo JUSTISSIMO que castigava a degradação moral e comportamental daquela
equipa velha de alma e sem vontade de ser feliz.
Nos poucos minutos que faltam
novo curto-circuito entre quem nunca sabe se está a jogar Snooker ou Bilhar às
3 Tabelas. Não fossem 1 ou 2 bolas paradas que fizeram acumular os jogadores de
rosa no ataque e teríamos revivido o momento constrangedor dos passa tempo
enquanto passa bolas.
Quem joga contra equipas cujo
passatempo é passar bolas nem precisa de queimar tempo.
Adrian inventou um cruzamento
perfeito para Jackson. Minuto 92.
A sorte só protege os audazes. Os
incapazes ficam orfãos. E bem!
ANÁLISES INDIVIDUAIS:
Helton – Nada a apontar na partida do Restelo. Helton esteve atento
e competente mantendo a bitola com que nos habituou desde o regresso.
A Flash é inenarrável.
Danilo - Este é daqueles que
nos habitua a ver sem fôlego após corridas vertiginosas para cima e para baixo.
Em La Paz foi mais um para quem correr era um despautério. Fez a ala direita
com velocidade à Pirlo. Não se percebe.
Maicon – Ai que me dói as Cruzes. Rotação, agilidade e focalização
são coisas de outro planeta. Jamais esquecerei o golo de Tiago Caeiro.
Indi – Tentou ser sério mas
jogou com a mesma sonolência competitiva dos companheiros conforme se pode
comprovar no golo do empate.
Alex Sandro - Tô Nem Aí! Tô
Nem Aí! Não me chateie que eu agora não te quero ouvir!
Ao ver Alex Sandro a jogar lembrei-me
da letra desta música brasileira. Ver este defesa-esquerdo de nível mundial a
jogar com a mentalidade amadora e altiva de quem se acha sempre mais importante
do que 90 minutos revolta-me.
Rúben Neves – Estou preocupado com Rúben. A 1ª volta foi melhor do
que a 2ª volta.
Na 1ª senti sempre que havia
valor acrescentado na utilização de Rúben Neves a titular ou a suplente. Na 2ª
volta o “senti sempre” passou a “raramente senti”.
Rúben ganhou peso e massa
muscular mas a qualidade de passe ficou curta para quem perdeu agilidade e
capacidade de reacção.
Na verdade, hoje vejo o Rúben
Neves a jogar a 6 como vejo o Quintero a jogar a 10.
Só é possível em momentos curtos
de jogo e de início só em jogos com equipas declaradamente mais fracas. Estão
muito bons com bola mas sem bola ocupam uma parcela de terreno reduzida.
Casemiro chega a todo o lado e lavra tudo e todos. É como uma pegada de
elefante. Neste momento o rasto de Rúben Neves é de formiga.
Herrera - O que foi aquilo?
Stevie Wonder deve ter baixado em Lopetegui para que o mexicano errante se
tenha aguentado 90 minutos.
Está há mais de um mês de rastos
fisicamente. Como tecnicamente não é grande espingarda o somatório dessas duas
realidades diz tudo sobre a sua recente qualidade exibicional.
Oliver - O puto reguila no
Lar de Idosos. Não sabe jogar sem alegria de quem gosta de bola e se diverte a
jogar. Deve ser dificil remar sozinho quando não há água debaixo do barco.
Brahimi – Ainda não tinha começado a partida e já Brahimi estava a
esticar a camisola porque lhe apertava o pescoço. Mister! Posso tira-la? Praia
a sério tem que ser em tronco nu!
Outra exibição horrivel cheia de
piruetas e contra-piruetas. Se a maior parte da ala geriátrica que se
apresentou no Restelo confundia Snooker com Bilhar aqui o argelino estava numa de ginástica ritmica.
Um jogo pavoroso. Ao nível de
Herrera e Rúben Neves.
Quaresma - Foi bem mais
proactivo que Brahimi e isso é positivo para quem joga em La Paz.
A vontade de fazer não impediu
displicências próprias de quem faz atrasos de cabeça desde o meio-campo. Há um
mitico de Abel Xavier para Neno no Estádio Mario Duarte em Aveiro. Ainda bem
que Camara não é Dino.
No resto da partida ficou a ideia
que era o único capaz de pegar na bola e tentar arrancar com ela sem fazer o obrigatório
passe de 1 metro.
Jackson – O
lutador costumeiro que marcou um golo improvável e falhou outro obrigatório.
Não consigo ter moral para lhe fazer uma critica
justa depois de tudo o que fez no campeonato.
Evandro – Tentou entrar no jogo mas o peso em La Paz é contagiante.
O golo do Belenenses começa numa luta por ele perdida no meio-campo. Mesmo com
esta marca negativa está bem à frente do
Herrera dos últimos meses.
Hernâni - Trapalhão e com
vontade de fazer a 100 Km/h tudo o que lhe aparece à frente mesmo que sejam
curvas apertadas.
Adrian – Aquele cruzamento fez-lhe merecer a utilização à frente de
Aboubakar.
Ficha do Jogo
Belenenses-FC Porto, 1-1
Primeira Liga, 33ª jornada
Domingo, 17 Maio 2015 - 18:00
Estádio: Restelo, Lisboa
Assistência: -
Árbitro: Rui Costa (Porto)
Assistentes: Miguel Aguilar e Tiago Costa
4º Árbitro: Jorge Tavares
BELENSES: Ventura, Nélson, João Afonso, Gonçalo Brandão, Filipe Ferreira, Pelé, Dias, Carlos Martins, Sturgeon, Camará, Fábio Nunes.
Suplentes: Matt Jones, Tiago Caeiro (72' Dias), Tiago Silva (80' Tiago Silva), Dálcio (57' Sturgeon), Bruno China, Diogo Ribeiro.
Treinador: Jorge Simão.
FC PORTO: Helton, Danilo, Maicon, Martins Indi, Alex Sandro, Rúben Neves, Herrera, Óliver Torres, Quaresma, Jackson Martínez, Brahimi.
Suplentes: Andrés Fernández, Quintero, Reyes, Evandro (62' Brahimi), Hernâni (68' Quaresma), Adrián López (86' Óliver Torres), Aboubakar.
Treinador: Julen Lopetegui.
Ao intervalo: 0-1.
Marcadores: Jackson Martínez (44'), Tiago Caeiro (85').
Disciplina: cartão amarelo a Jackson Martínez (42'), Camará (90+2'), Ventura (90+2').
Por: Walter Casagrande