Vítor Pereira assumiu o comando
técnico do F.C. Porto em Junho de 2011, pouco depois da saída inesperada de
André Villas Boas para o Chelsea.
Logo nessa altura se percebeu que
tinha em mãos um projecto tão difícil quanto ambicioso, pois iria lidar com um
grupo que tinha acabado de ganhar tudo e a bitola estava muito alta.
Face a isto, muitos adeptos
ficaram de pé atrás com a escolha do ex-adjunto para principal, um treinador
sem experiência de primeira liga e com um historial de treinador principal
pouco entusiasmante.
Nas primeiras entrevistas
enquanto treinador do clube, Vítor Pereira assumiu sempre a sua preferência por
um estilo de jogo de posse de bola, com pressão constante para roubar a bola e
controlo do jogo com a mesma. Sempre se mostrou pouco apreciador de equipas que
jogam apenas em transições, defendendo o seu estilo e prometendo aplicar o
mesmo à equipa.
No entanto, esse futebol esteve
longe na sua primeira época no Dragão. Depois de um início algo prometedor, com
alguns jogos em que foram visíveis as ideias do treinador (principalmente os
jogos com o Setubal e Shakhtar no Dragão), nunca mais se voltou a ver esse
futebol prometido na equipa portista, durante essa época. A equipa teve
momentos muito conturbados, sendo também vítima das vontades individuais de
certos jogadores, e Vítor Pereira teve demasiadas dificuldades em impor o seu
jogo. Depois do mercado de transferências de Janeiro a equipa estabilizou, mas
mesmo na melhor fase da época o futebol portista nunca foi aquilo que o seu
treinador prometera, dependendo muito das individualidades para decidir, com
destaque natural para Hulk, e nunca se viu uma equipa a controlar os jogos com
autoridade.
No fim da época, grande parte dos
adeptos portistas pediu a substituição de Vitor Pereira, mesmo depois do título
alcançado. Defendiam que não se devia insistir no erro de manter o treinador,
porque o mérito do título era mais da estrutura que do treinador.
Outros, um grupo mais restrito,
defendiam a continuação do treinador, porque este conquistara o direito de
poder provar o seu valor, agora com outra estabilidade no grupo.
A verdade é que Vítor Pereira
continuou e as mudanças no treinador e na equipa cedo se notaram.
Logo na pré-época viu-se um grupo
mais unido e mais focado no trabalho, ao contrário do ano anterior. O facto dos
insatisfeitos terem sido vendidos ou postos de lado foi decisivo para este
facto.
Nos primeiros jogos também se
começaram logo a notar diferenças na forma de jogar da equipa, apesar de alguns
erros do treinador ainda se evidenciarem, em certas alturas.
Mas com o passar do tempo foi-se
tornando evidente que estávamos perante uma equipa nova, completamente adaptada
a uma forma de jogar e entregue aos princípios do treinador.
E isso tem-se tornado evidente de
jogo para jogo. Desde o arranque da época poucos foram os jogos em que esta
equipa deixou de ser fiel ao seu estilo de jogo, mesmo nos momentos de maior
aperto nos jogos.
E que estilo de jogo é esse?
Vítor Pereira conseguiu
finalmente implementar o futebol que queria no clube: hoje vemos o Porto a
jogar um futebol de posse de bola, privilegiando o jogo coletivo em trocas de
bola constantes, fazendo do jogo central o seu ponto forte. Defensivamente a
equipa reage rápido à perda de bola, fazendo uma pressão forte e alta para a
recuperar rapidamente. Actualmente as individualidades do plantel estão
claramente ao serviço do coletivo, sendo muito raras as vezes em que vemos um
jogador a tentar decidir tudo sozinho.
Este estilo tem estado presente
em todos os jogos, mesmo naqueles em que a equipa se exibiu abaixo do
expectável (e ainda foram alguns). E isto é uma vitória do treinador. Ver a sua
equipa jogar segundo os seus princípios, seja qual for o jogo e estádio, é um
sinal de identidade. E Vítor Pereira construiu uma equipa com identidade.
Mas o técnico espinhense continua
a ter defeitos. Um deles é a sua falta de carisma. Vítor Pereira não é um
treinador que consiga unir todos os adeptos portistas e isso deve-se muito a
essa falta de carisma. A equipa exibe-se, também, em alguns jogos com alguma
falta de intensidade, que advém de alguma dificuldade no plano motivacional por
parte do treinador. Contudo, essa dificuldade já não é tão evidente quanto
antes, e isso é comprovado pelos resultados.
Outro dos pontos onde Vítor
Pereira não se destaca é na capacidade de ler o jogo do banco. Não que seja um
mau treinador nesse aspecto, mas também não é acima da média. Já deu a volta a
alguns jogos a partir do banco, já conseguiu equilibrar a equipa a partir do
mesmo, mas não é claramente dos seus pontos fortes. Contudo, está claramente
melhor, principalmente por, aparentemente, ter percebido que não deve deixar a
equipa a jogar sem 6 quando quer dar a volta a um jogo.
No entanto a evolução do
treinador tem sido notável e a equipa tem acompanhado essa evolução. Os últimos
jogos mostraram o melhor futebol da época, mas já antes tínhamos visto jogos de
excelente qualidade e, acima de tudo, uma equipa sempre personalizada. Como
consequência desta evolução já se vem falando, entre os adeptos, da possível
renovação do contrato do treinador. Porém ainda é cedo para tal. O foco, neste
momento, tem de estar no campeonato e na Champions, as competições pelas quais
interessa competir. Depois disso haverá tempo para se discutir a possibilidade
de Vítor Pereira se manter no cargo.
Uma coisa parece evidente: o
Vítor Pereira de hoje já não é apenas o ex-adjunto de André Villas Boas.
Por: Eddie the Head
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