terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Vítor Pereira e o modelo que o define.



Vítor Pereira assumiu o comando técnico do F.C. Porto em Junho de 2011, pouco depois da saída inesperada de André Villas Boas para o Chelsea.

Logo nessa altura se percebeu que tinha em mãos um projecto tão difícil quanto ambicioso, pois iria lidar com um grupo que tinha acabado de ganhar tudo e a bitola estava muito alta.

Face a isto, muitos adeptos ficaram de pé atrás com a escolha do ex-adjunto para principal, um treinador sem experiência de primeira liga e com um historial de treinador principal pouco entusiasmante.

Nas primeiras entrevistas enquanto treinador do clube, Vítor Pereira assumiu sempre a sua preferência por um estilo de jogo de posse de bola, com pressão constante para roubar a bola e controlo do jogo com a mesma. Sempre se mostrou pouco apreciador de equipas que jogam apenas em transições, defendendo o seu estilo e prometendo aplicar o mesmo à equipa.



No entanto, esse futebol esteve longe na sua primeira época no Dragão. Depois de um início algo prometedor, com alguns jogos em que foram visíveis as ideias do treinador (principalmente os jogos com o Setubal e Shakhtar no Dragão), nunca mais se voltou a ver esse futebol prometido na equipa portista, durante essa época. A equipa teve momentos muito conturbados, sendo também vítima das vontades individuais de certos jogadores, e Vítor Pereira teve demasiadas dificuldades em impor o seu jogo. Depois do mercado de transferências de Janeiro a equipa estabilizou, mas mesmo na melhor fase da época o futebol portista nunca foi aquilo que o seu treinador prometera, dependendo muito das individualidades para decidir, com destaque natural para Hulk, e nunca se viu uma equipa a controlar os jogos com autoridade.




No fim da época, grande parte dos adeptos portistas pediu a substituição de Vitor Pereira, mesmo depois do título alcançado. Defendiam que não se devia insistir no erro de manter o treinador, porque o mérito do título era mais da estrutura que do treinador.

Outros, um grupo mais restrito, defendiam a continuação do treinador, porque este conquistara o direito de poder provar o seu valor, agora com outra estabilidade no grupo.

A verdade é que Vítor Pereira continuou e as mudanças no treinador e na equipa cedo se notaram.

Logo na pré-época viu-se um grupo mais unido e mais focado no trabalho, ao contrário do ano anterior. O facto dos insatisfeitos terem sido vendidos ou postos de lado foi decisivo para este facto.

Nos primeiros jogos também se começaram logo a notar diferenças na forma de jogar da equipa, apesar de alguns erros do treinador ainda se evidenciarem, em certas alturas.

Mas com o passar do tempo foi-se tornando evidente que estávamos perante uma equipa nova, completamente adaptada a uma forma de jogar e entregue aos princípios do treinador.

E isso tem-se tornado evidente de jogo para jogo. Desde o arranque da época poucos foram os jogos em que esta equipa deixou de ser fiel ao seu estilo de jogo, mesmo nos momentos de maior aperto nos jogos.

E que estilo de jogo é esse?

Vítor Pereira conseguiu finalmente implementar o futebol que queria no clube: hoje vemos o Porto a jogar um futebol de posse de bola, privilegiando o jogo coletivo em trocas de bola constantes, fazendo do jogo central o seu ponto forte. Defensivamente a equipa reage rápido à perda de bola, fazendo uma pressão forte e alta para a recuperar rapidamente. Actualmente as individualidades do plantel estão claramente ao serviço do coletivo, sendo muito raras as vezes em que vemos um jogador a tentar decidir tudo sozinho.

Este estilo tem estado presente em todos os jogos, mesmo naqueles em que a equipa se exibiu abaixo do expectável (e ainda foram alguns). E isto é uma vitória do treinador. Ver a sua equipa jogar segundo os seus princípios, seja qual for o jogo e estádio, é um sinal de identidade. E Vítor Pereira construiu uma equipa com identidade.

Mas o técnico espinhense continua a ter defeitos. Um deles é a sua falta de carisma. Vítor Pereira não é um treinador que consiga unir todos os adeptos portistas e isso deve-se muito a essa falta de carisma. A equipa exibe-se, também, em alguns jogos com alguma falta de intensidade, que advém de alguma dificuldade no plano motivacional por parte do treinador. Contudo, essa dificuldade já não é tão evidente quanto antes, e isso é comprovado pelos resultados.






Outro dos pontos onde Vítor Pereira não se destaca é na capacidade de ler o jogo do banco. Não que seja um mau treinador nesse aspecto, mas também não é acima da média. Já deu a volta a alguns jogos a partir do banco, já conseguiu equilibrar a equipa a partir do mesmo, mas não é claramente dos seus pontos fortes. Contudo, está claramente melhor, principalmente por, aparentemente, ter percebido que não deve deixar a equipa a jogar sem 6 quando quer dar a volta a um jogo.




No entanto a evolução do treinador tem sido notável e a equipa tem acompanhado essa evolução. Os últimos jogos mostraram o melhor futebol da época, mas já antes tínhamos visto jogos de excelente qualidade e, acima de tudo, uma equipa sempre personalizada. Como consequência desta evolução já se vem falando, entre os adeptos, da possível renovação do contrato do treinador. Porém ainda é cedo para tal. O foco, neste momento, tem de estar no campeonato e na Champions, as competições pelas quais interessa competir. Depois disso haverá tempo para se discutir a possibilidade de Vítor Pereira se manter no cargo.

Uma coisa parece evidente: o Vítor Pereira de hoje já não é apenas o ex-adjunto de André Villas Boas.


Por: Eddie the Head

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