Lento escoar
A taça da liga é o objectivo
menor da época. Aquilo que se ganha por fastio e não por vontade. No entanto,
esta final ganhou outros contornos. Primeiro, porque nesta época do FC Porto os
objectivos escoam-se entre os dedos. Segundo, porque seria um bálsamo moral
para a recta final do campeonato. Falhamos.
Há coisas neste jogo que
dilaceram um portista que se debruce sobre o futebol da equipa. Desde logo, o
que esta vitória do Braga retira à equipa. Se este FC Porto era uma equipa
perto do seu ponto de quebra, agora vai ser mais difícil endireitar a espinha.
É uma final perdida e as finais, no FC Porto, são para vencer. Sobretudo, com o
pior Braga dos últimos anos.
Depois, há toda a sombra que esta
derrota gera. Quase que apaga a vitória caseira frente a este Braga. Toda a
onda de “mini entusiasmo” que se gerou, todo o “ainda estamos vivos”, fica
transformado num longo suspiro. Nós perdemos as nossas finais e os outros
ganham as deles, é isso que nos atravessa o espírito. Já não bastava a desvantagem
pontual, como ainda por cima, temos um tropeço valente onde sabíamos que não o
poderíamos ter. Não foi tão só perder, mas, sobretudo, e ainda por cima, como
perdemos e como o justificamos. Por fim, é o constatar de uma equipa sem rumo.
Não há rasgo táctico, não há garra e propaga-se o “desculpismo”.
Comecemos pela parte táctica.
Peseiro, que é Peseiro, revela capacidade de aprendizagem. Do Dragão para
Coimbra percebe o que tinha que mudar. Percebe que precisa de soltar Mossoró e
mesmo mantendo uma toada defensiva, espalha melhor a equipa no campo. Aliás,
ele avisou: “não será surpresa o Braga ganhar”.
Vítor Pereira revela-se incapaz
de aprender. Teimosamente, não aprende. Sabe que ganha ao Braga no Dragão por
abrir a sua frente de ataque, mas para Coimbra, mantém a equipa fechada sobre
si, esmagando numa posse inútil e inconsequente. Jackson vive mais isolado que
uma qualquer ilha do Atlântico Sul próxima do círculo polar antártico. É uma
desgraça de táctica que é replicada vezes sem fim ao longo do seu legado, com a
morte lenta dos extremos da equipa, a aniquilação do meio campo ofensivo e o
alastrar dos oitos qual maré negra. E nada adianta, mesmo que se prove, como no
jogo anterior, o sucesso do modelo que ele tanto tenta aniquilar. Não. Vítor
Pereira faz questão de utilizar uma táctica tacanha, menor, inconsequente e
castradora, que se baseia numa vitória pírrica de posse de bola. Bem sei que
não o faz por acinte, mas por estar convicto que é esse o caminho. Não sei se é
se fico mais descansado por isso. Também sei que este plantel tem erros de
construção básicos e algumas decisões absurdas, com destaque para os reforços
do mercado de Janeiro. A maior parte destes erros, sobretudo os mais graves, ultrapassam
a sua esfera de decisão, mas também tem erros de avaliação, sobretudo durante a
pré-época (bem falta fazem alguns jogadores dispensados). Tudo isso é verdade.
Mas só reforça que, hoje, Vítor Pereira faz mais parte do problema que da
solução. Não ameniza o problema, agrava-o em demasia.
Como exemplo desse agravamento, e
retomando a análise táctica do jogo, ao minuto 60, já com a equipa a perder
desde o intervalo e reduzida a 10, Vítor Pereira começar a abrir a equipa para
tentar, pelo menos, empatar a final. É necessário deitar fora mais 15 minutos da
segunda parte para tentar mudar o curso do jogo. Ou seja, algo que já deveria
vir montado do intervalo é adiado para daí a 15 minutos. Não se promove a
racionalidade táctica, mas a sofreguidão final.
Aos 75 minutos, parece lembrar-se
do jogo anterior e daquilo que lhe deu a vitória, como quem busca uma saída
para o buraco onde se meteu, mas esquecendo-se do que aconteceu neste. Em
desespero, retira James e coloca Atsu e acaba com o FC Porto nesse momento. Ou
seja, abre a equipa com 10 jogadores como não abre com 11 e retira um jogador
capaz de “inventar” o empate num passe, cruzamento ou remate. Resumindo, com onze jogadores
fecha a equipa, amarrando-a ao seu modelo pírrico de posse de bola. Com dez e a
perder, leva 15 minutos a abrir o que podia. No desespero, abre-a para lá do
que pode e retira-lhe um ás de trunfo. Vítor Pereira só agravou. Isso é
exasperante. Não levamos goleada porque Fabiano defendeu tudo e Otamendi faz
dois cortes loucos. Em toda a segunda parte, tivemos um lance de real perigo,
por Jackson e a passe de James. Aquele que viria a ser substituído pouco
depois. Um lance só. Muito pouco, mesmo em inferioridade numérica, para um FC
Porto numa final frente a um Braga de Peseiro. Reflexo do trabalho de banco.
Por fim, a utilização de
Abdoulaye e as declarações finas de Vítor Pereira.
É fácil criticar a utilização de
Abdoulaye depois do que aconteceu, mas o que aconteceu também não pode servir
de abafador para emissão de opinião. Não se pode apontar a Vítor Pereira erros que
são do jogador. Pode ser criticável a escolha, e sim, é mais que criticável.
Primeiro, porque Abdoulaye já havia tremido frente ao Braga no jogo passado e
só descansou quando Mossoró saiu (ver última análise). Segundo, porque Castro
mais que merecia a utilização. É aqui que bate o ponto. A utilização de Castro
implicaria mexer no meio campo de estimação de Vítor Pereira. Preferiu mexer na
estrutura defensiva e foi por aí que o FC Porto tombou. Mais uma vez, Vítor
Pereira não atenua, mas agrava.
Quanto às declarações finais de
Vítor Pereira, escondendo-se atrás do árbitro, são muito desanimadoras. Em nada
preparam a equipa para os próximos embates, em nada revelam aprendizagem e são
só uma rafeira fuga para a frente. Precisamos de muito melhor para o que nos
espera até ao final na época.
Quanto ao jogo, serei breve,
pouco mais há a dissecar. Vítor Pereira dá a titularidade a Fabiano e Abdoulaye
e saem da equipa Helton e Otamendi. Mangala assume a posição do lesionado
Maicon.
O jogo começa com o FC Porto por
cima e, aos 11 minutos, tem a sua grande oportunidade da primeira parte.
Cruzamento tenso de Defour, com Jackson a desviar no primeiro poste e James, no
segundo poste, a falhar a emenda por milímetros. A partir daqui, o Braga vai
equilibrando aos poucos e ataca os espaços para contra-atacar, embora sem nunca
criar perigo. O FC Porto vai afastando-se da baliza e concentrando-se na bola.
Até que, ao minuto 44, surge o
penalti para o Braga. Abdoulaye é expulso e Alan converte o castigo máximo.
A segunda parte começa com o FC
Porto sem saber o que fazer para chegar à baliza do Braga. Foi de tal forma
caricato, que o Braga entra na segunda parte temerário da reacção do FC Porto,
mas não existiu reacção alguma do lado portista. O futebol azul e branco estagnou.
Ainda assim, ao minuto 58, Danilo cruza e James cabeceia fraco para defesa
fácil de Quim. Pouco depois, Kelvin entra e o futebol portista anima um pouco.
Aos 68 minutos, Alan e Micael
quase acabam com o jogo, mas Fabiano fez tudo o que estava ao seu alcance para
o evitar. Logo depois, a passe de James, Jackson foge ao batalhão de marcadores
que o seguiram, remate forte, mas ao lado da baliza de Quim. Um minuto depois,
Vítor Pereira acaba com a reacção portista ao tirar James e colocar Atsu.
O Braga cresce, imediatamente, e
até final tem 3 situações de enorme perigo.
Salvador conquista o seu troféu
com uma equipa que fica a léguas de outras que já teve.
Do lado do FC Porto, o que nos
deixa este jogo e o que fazer?
Temos ainda algo para lutar. É
pouco, mas é o que há. É capaz Vítor Pereira de dar luta por esse bocadinho que
falta? Eu, sinceramente, acho que não. Se o FC Porto ainda quiser tentar o
milagre, não será com Vítor Pereira que o consegue. Já ninguém avança quando
Vítor Pereira gritar avançar, como já ninguém recua quando Vítor Pereira manda
recuar. Espero estar muito enganado.
Há algo neste jogo que me feriu.
Já perto do fim, Kelvin enfrenta Douglão. Douglão está prestes a perder o
lance, mas acaba por pressionar Kelvin. Este atrapalha-se e fica estatelado no
chão com a bola a sair pela linha de fundo. Douglão avança sobre Kelvin e lança-lhe
um sonoro “TOMA!” (no mínimo). Um lavar de alma dos dois golos de Kelvin no
jogo passado, só pode. Reacção de Kelvin? Comeu e calou. Reacção do FC Porto? Zero.
Já nem brio, garra ou alma esta equipa tem. Come e cala.
Análises Individuais:
Fabiano – É o herói do encontro.
O magro resultado deveu-se a ele. Tira três golos feitos ao Braga. Foi um jogo
que apelou ao estilo de guarda-redes que mais gosta. Defesas vistosas,
entregando o corpo todo à bola. Se já está guarda-redes de clube grande a tempo
inteiro é outra questão.
Danilo – Patético atraso na
primeira parte que leva à desorientação de Abdoulaye. De resto, fez um jogo
equilibrado, sem nunca se revelar.
Alex Sandro – Bem melhor que em
jogo recentes, ainda assim longe da boa forma do início da temporada.
Abdoulaye – A corda parte sempre
pelo lado mais fraco. É um jogador que vive debaixo do estatuto de formado
localmente. Não fosse isso e não seria jogador da equipa A do FC Porto.
Mangala – No meio da trapalhada,
também ia dando a sua calinada. Precisa de um colega de sector mais estável,
mas Vítor Pereira decidiu arriscar par anão mexer no seu meio campo de posse.
Fernando – É o melhor em campo.
Houve alturas em que parecia que levava a equipa toda às costas.
Moutinho – Desde a lesão que não
está no máximo das suas capacidades. Ainda assim, volta a fazer uma boa
exibição.
Lucho – Na primeira parte, destacou-se
pouco e acaba sacrificado ao intervalo. Mais uma vez, deixou abrir uma enorme
clareira até Jackson.
Defour – Não é extremo, nem chega
perto. A médio não se destaca, nem destoa.
James – Lá foi tentando levar a
água ao seu moinho. Está lento e os seus movimentos algo previsíveis, mas é o
único que pode mudar o curso do jogo. Vítor Pereira tirou-o e o FC Porto acabou
no ataque.
Jackson – Já começa a pesar nos
seus ombros tão longo isolamento. Já anda distante do golo há muito. Para além
da factura física da longa temporada a que foi sujeito, há uma factura anímica
que começa a ser por demais evidente. É a principal vítima do modelo de jogo de
Vítor Pereira. Ainda assim, lá tentou.
Otamendi – Brilhante e sofrível.
Grande corte ou leva cueca. Mas salvou mais que aquilo que deixou passar.
Kelvin – Acaba arrasado por
Douglão. Ainda mexeu no jogo, mas mexeu pouco.
Atsu – Este nem mexeu. Perdas de
bola patéticas.
Ficha de Jogo:
Sporting de Braga 1-0 FC Porto
Marcador:
1-0 Alan, gp, 45'
Sporting de Braga - Quim; Baiano, Nuno André Coelho, Santos e Elderson; Custódio e Hugo Viana; Alan, Ruben Micael (João Pedro, 74’) e Márcio Mossoró (Douglão , 90’+1’); Carlão (Zé Luís, 77’).
Suplentes: Kritciuk, Douglão, Rúben Amorim, Mauro, João Pedro, Hélder Barbosa e Zé Luís.
FC Porto - Fabiano; Danilo, Abdoulaye, Mangala e Alex Sandro; João Moutinho, Fernando e Lucho (Otamendi, 46’); James (Atsu, 74’), Defour (Kelvin, 59’) e Jackson.
Suplentes: Helton, Otamendi, Castro, Izmaylov, Kelvin, Atsu e Liedson.
Análise dos intervenientes:
Vitor Pereira:
“Decisão do árbitro definiu o jogo”
A análise do jogo, que Vítor Pereira parte em dois, faz-se, segundo o próprio, com relativa facilidade. E tem como elemento diferenciador uma decisão errada do árbitro: um penálti, que deixou o Braga em vantagem no marcador, e uma expulsão, que deixou o FC Porto em desvantagem numérica. Até lá, ainda de acordo com o treinador, houve “mais Porto do que Braga”.
Vítor Pereira destaca “carácter enorme” dos jogadores
“Dou os parabéns ao Braga e aos meus jogadores, que se bateram do primeiro ao último minuto. Houve mais Porto do que Braga e, depois, houve uma expulsão e um penálti, que, na minha opinião, foram mal assinalados e definem este jogo. Na segunda parte, evidenciámos um carácter enorme e, mesmo com dez, fomos à procura do empate e só não o conseguimos porque faltou aquela estrelinha no momento certo. É natural que os jogadores estejam desiludidos, porque queriam ganhar a competição e deram tudo para o conseguir. Mais uma vez, dou os parabéns aos intervenientes e lamento que uma decisão da equipa de arbitragem tenha definido a final desta forma.”
Lucho Gonzalez:
Lucho não baixa os braços
“É sempre triste perder uma final, mas temos que levantar a cabeça e prepararmo-nos para continuar a lutar pelo título. Jogar com um a menos condicionou bastante, mas, mesmo assim, procurámos chegar ao golo, corremos os riscos necessários. No sábado temos mais um jogo muito difícil, mas não baixamos os braços. Estamos tristes, mas temos que levantar a cabeça.”
Por: Breogán
2 comentários:
Custa ler mas é praticamente o que passou.
Exige-se aos nossos dirigentes uma reflexão capaz.
Breogan, que dizes da exibição do Sergio na Trofa ?!
Não tenho muito a dizer. Infelizmente, não vi o jogo.
Mas pelo que o meu colega Prodígio escreve na sua crónica, esteve bem acima da média, como é habitual.
http://tribunaportista.blogspot.pt/2013/04/segunda-liga-trofense-4-1-fc-porto-b.html
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