Há uma epidemia que alastra no
Olival e a equipa júnior não escapou. É uma epidemia que ataca os extremos e
que os fazem desaparecer do onze inicial das equipas portistas. O FC Porto
perde capacidade de gerar perigo, de mandar no jogo, mas esta nova abordagem
táctica parece consolidar-se nas principais equipas do FC Porto. E alastra sem
parar.
Se temos dificuldade em arranjar
extremos produtivos em outras equipas, nesta equipa júnior, mesmo com Fred
lesionado, não há essa dificuldade. No entanto, a opção técnica passa,
invariavelmente, pelo abdicar dos extremos para permitir a convivência na
frente de ataque de André Silva e Gonçalo Paciência.
Ontem, uma vez mais, a equipa júnior
do FC Porto entra em campo sem nenhum extremo no onze inicial. Com um meio
campo reforçado com quatro elementos e com dois avançados centro no onze
inicial, o FC Porto sofreu para dar profundidade e velocidade ao seu jogo. O
Braga, fechado e solidário, fiava a teia que já tantas vezes vimos a ser
utilizada frente a equipas do FC Porto que abdicam de flanquear. Linha
defensiva coesa e em bloco baixo, com os laterais bem fechados sobre os
centrais. Linha média bem junta à linha defensiva e com muito coração para
tapar todas as linhas de passe (destaque para Reko e Bouças). Finalmente, uma
linha ofensiva com 3 ciclistas, prontos para sprintar para a baliza portista
pelos três corredores, assim que se libertassem das suas tarefas defensivas.
O Braga espreitava o erro
portista e prometia cavalgar sobre ele, já o FC Porto debatia-se com o muro
bracarense, sem velocidade para o furar pelo centro e sem amplitude para o
contornar.
O jogo arrasta-se e desde cedo o
FC Porto revela enormes dificuldades em criar perigo. Só aos 22 minutos, surge
a primeira ocasião de perigo. Jogada desenvolvida pelo flanco direito, com
Belinha a cruzar largo para André Silva. O avançado portista domina bem e
remata com precisão, mas Tiago Sá defende. Quatro minutos depois, e sem construir
um lance de ataque, o Braga adianta-se no marcador. Penetração na área portista
e cruzamento para a zona de pequena área, onde surge Vítor Andrade, sem
qualquer jogador a pressioná-lo, a desviar para a própria baliza. Momento de
infelicidade que premiava a coesão defensiva do Braga. Não só premiava, como
reforçava, pois após o golo, mais o Braga apostou na sua teia defensiva.
O FC Porto só consegue responder
ao golo sofrido aos 39 minutos. Nem de propósito, nova jogada lateralizada,
mesmo que na sua origem esteja um lançamento lateral. Marcelo cobra o
lançamento lateral e coloca em Belinha que, no imediato, centra a bola para
área. Francisco Ramos aparece na zona de finalização, mas o remate sai ao lado.
A assim se chega ao intervalo, com um Braga sentado lá atrás, mas com um golo
no marcador e um FC Porto amarrado e tolhido pelo seu próprio sistema táctico.
O intervalo é bom conselheiro
para Capucho. Saiu Belinha para a entrada de Ivo. O FC Porto ganha um extremo e
recoloca Francisco Ramos no meio campo, deixando a função híbrida de falso
extremo.
A alteração produz logo efeitos.
É um FC Porto alegre e positivo que reentra no jogo. O flanco esquerdo ganha
nova vida e Rafa aproveita a presença de Ivo para começar a produzir o futebol
ofensivo. Algo que não conseguia fazer na primeira parte, por estar sozinho a
tomar conta de todo o flanco esquerdo.
O Braga, matreiro e bem montado,
aproveita o novo entusiasmo azul e branco. Com os seus ciclistas sempre prontos
a disparar para a baliza de Kadú, o Braga espreitava a subida no terreno do FC
Porto. É o Braga quem tem as três melhores oportunidades na abertura da segunda
parte. A todas elas, Kadú responde a grande nível, mantendo a sua equipa na
busca da vitória. Aos 52 minutos, defende um desvio perigoso, após livre de
Bruno Mendonça e, aos 56 minutos, opõe-se grandiosamente ao duelo com Erivaldo
e Bouças. Duas grandes defesas no mesmo lance.
O Braga criava perigo no
contra-ataque, mas o FC Porto estava bem mais saudável. A nova amplitude do
ataque portista obrigava os laterais bracarenses a duelos no um para um e em
velocidade. Núrio foi o primeiro a ceder e é expulso, por duplo amarelo, ao
minuto 57.
Capucho aproveita a oportunidade
para abrir mais a equipa. Até aí, para abrir mais a equipa ou teria que abdicar
de um avançado centro ou de alguém do meio campo. Mas com a expulsão de Núrio,
o Braga já não teria tanta presença no meio campo. Nesse mesmo minuto, entra
Raúl, saindo Graça, e a equipa do FC Porto expande-se por toda a frente de
ataque.
O FC Porto carrila jogo por ambos
os flancos e os avançados centro do FC Porto são alimentados com muitas bolas
de perigo, até que, aos 69 minutos, mais um defesa do Braga que cede à pressão
ofensiva do FC Porto e é expulso.
Capucho volta a responder de
forma positiva. Se o flanco esquerdo já estava plenamente carburante, com Rafa
a produzir muito futebol e bem auxiliado por Ivo, o flanco direito vivia só das
investidas de Raúl. Capucho retira Marcelo e introduz Leandro a lateral direito
e a capacidade desequilibrante do flanco direito sobe muito de produção. Daqui
até ao empate seria uma questão de tempo e…sorte.
E lá veio o golo redentor. Aos 77
minutos, jogada flanqueada por Ivo na esquerda e cruzamento tenso para área do
Braga. Gera-se a confusão, com os jogadores do Braga a não serem capazes de
tirar a bola da área. Esta acaba por sobrar para Rafa e o lateral esquerdo não
perdoa.
O empate desorienta a equipa do
Braga e o FC Porto aproveita a vantagem numérica. Aos 78 minutos, Raúl cruza da
direita e Gonçalo, de cabeça, atira ao poste. Mas o empate viria no minuto
seguinte. Raúl volta a ganhar a linha de fundo e cruza rasteiro e recuado.
Gonçalo, na marca de penalti, trabalha bem e remate com êxito. Reviravolta em
dois minutos.
Estranhamente, o FC Porto não
domina a vantagem e perde consistência a meio campo. O Braga, por Bruno
Mendonça, tenta um último assalto à baliza de Kadú, mas Tomás, no último
momento, com um corte arriscado, afasta o perigo.
Após uns minutos de apatia, o FC Porto volta ao ataque. Primeiro, é Raúl a descobrir, uma vez mais, Gonçalo na
área bracarense. O remate sai de pronto, mas Tiago Sé defende. Até que, ao
minuto 90, Ivo centra com critério para André Silva que luta no ar com Tiago
Sá. A bola sobra para Gonçalo, que se impõe na área e faz o terceiro. O jogo
acaba pouco depois, com resultado muito engana. O FC Porto safou-se de boa.
Capucho foi apostando na segunda parte, como deveria ter apostado de início, e
teve a sorte dos jogadores do Braga irem cedendo, infantilmente, ao segundo
cartão amarelo. Fica a lição e que se acabe, de vez, com a epidemia do Olival!
Capucho faz bem em apostar nos
dois aríetes ofensivos que possui. São os dois melhores avançados deste
escalão, sem sombra de dúvida. Não pode abdicar de extremos, pois o futebol da
sua equipa torna-se inócuo. Seria bem mais interessante consolidar o meio campo
com Tomás e Francisco Ramos, manter dois extremos abertos e colocar André Silva
nas costas de Gonçalo e não no flanco. Para isso, precisa de arranjar uma nova
solução a central: Lima Pereira. Estranhamente, desaparecido.
Análises Individuais:
Kadú – Hoje foi guarda-redes de
equipa grande. Na primeira parte, foi um espectador e sofre um golo em que nada
podia fazer. Na segunda parte, manteve a equipa no jogo com três excelentes
defesas. Transmitiu confiança à equipa e matou a reacção bracarense.
Marcelo – Colocou todo o seu
altruísmo em campo. Lutou bravamente contra Erivaldo, mas saiu quando a equipa
precisava de mais talento pelo flanco.
Rafa – Uma primeira parte onde
lhe faltou ajuda para ser fonte de perigo. Aliás, Aldair foi mais seu defesa,
que Rafa foi de Aldair. Na segunda parte, aproveitou a entrada de Ivo para
carburar muito jogo pelo seu flanco. Inicia a reviravolta no marcador, com toda
a justiça.
André Ribeiro – Tal como Marcelo,
total dedicação à equipa. Falta-lhe capacidade física para se impor até neste
escalão, mas dá tudo o que tem. Perdeu-se, algumas vezes, na marcação frente
aos ciclistas bracarenses mas nunca virou a cara à luta.
Tomás – Tenta jogar onde não
pode. Tem esse hábito, mas não se pode esquecer que é central e não médio
defensivo. Subiu de produção no segundo tempo, quando subia mais no terreno.
Grande corte no final do jogo.
Vítor Andrade – Saiu-lhe a fava,
mas nem estava a ser pressionado. Algo errático no passe e sem capacidade para
se impor na batalha a meio campo. Nunca se encontrou e quando o Braga sofre o
2-1, foi o primeiro a ceder à pressão do meio campo do Braga, formado por dois
jogadores!
Belinha – Fez dois bons centros
na primeira parte, mas foi muito macio na disputa de bola. O meio campo do
Braga tinha espaço e tempo para respirar.
Graça – Com o meio campo
defensivo com tantos problemas, nunca teve jogo suficiente para alimentar o
ataque. Foi engolido pela tenacidade de Reko e pela ajuda de Bouças. Não deu o
apoio que a dupla ofensiva precisava e foi bem substituído.
Francisco Ramos – Sempre muito
disponível, andou como peixe fora da água na primeira parte. Ainda assim,
aparece bem entre os centrais do Braga no último lance de perigo do FC Porto na
primeira parte. No segundo tempo, recua para médio e tem um trabalho de
formiguinha de bom nível. Bouças e Reko deixaram de ter tanto tempo e espaço.
André Silva – Lutou muito, foi
sempre até ao limite, mas já não é um jogador de corredor lateral. É um aríete
virado à baliza contrária. Tem mais mobilidade que Gonçalo e deve ser
aproveitado nas suas costas e não jogado no flanco. Determinante na luta dentro
da área, na segunda parte.
Gonçalo – Trata bola por tu e é
exímio na arte de a proteger. É um jogador puro de área. Decresce muito de
produção se é obrigado a jogar fora longe dela, embora tenha técnica para se
aguentar no jogo fora da área. É um 9 com faro de golo. Foi o melhor em campo e
liderou a equipa com toda a alma.
Ivo – Trouxe muita qualidade ao
jogo flanqueado. É um artista da bola, embora algo depressivo. Tecnicamente é
dos melhores jogadores deste plantel, mas joga triste, como que acabrunhado por
algum problema. Se conseguir transformar o seu futebol para algo mais positivo,
quase que um catarse para o seu estado de alma, é um jogador de elevado nível.
Fica ligado a dois golos. Mesmo tristonho, foi decisivo.
Raúl – Tem a alegria e vigor que
falta a Ivo, embora lhe faltem os mesmos recursos técnicos. Entrou meio
trapalhão, como é, por vezes, seu timbre, mas rapidamente ficou confortável no
jogo. Com a entrada de Leandro, explodiu no flanco direito.
Leandro – Cometeu alguns erros,
mas é sempre um jogador positivo. Meio em força, meio em jeito, lá levou o jogo
pelo flanco abaixo. Capucho, se quiser, ganhou ontem um lateral direito para
dar maior dinâmica ao flanco.
Por: Breogán
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