Postiço
É visível a dificuldade com que o
FC Porto aborda esta recta final. Para lá das questões tácticas que aqui já abordamos,
a equipa está cansada, não tem rotação e sente-se alguma apatia.
Cumpriu-se o objectivo e é isso
que fica deste jogo. Mesmo sendo uma vitória expressiva, não tranquiliza o
espírito e a insegurança reina.
Hoje o jogo foi um bloqueio até
ao 1-0. Mas um bloqueio mais nosso que provocado pelo adversário. Era o FC
Porto que não jogava e não o Rio Ave que não deixava. A razão fundamental é
sobejamente conhecida, basta para isso olhar o onze inicial. Com um lateral,
dois falsos extremos e sem um criativo, nem é preciso montar um autocarro para
que a circulação da bola e a velocidade da mesma seja em câmara lenta. O FC
Porto vive de tal forma imerso em tantas adaptações que é quase cronicamente postiço
o seu onze inicial. São falsos laterais que são centrais. São falsos extremos
que são médios e, às vezes, laterais. São falsos criativos, porque nenhum do
trio do meio campo o é. São falsos 6, quando falta Fernando. É um somatório
quase interminável. Neste redemoinho só os centrais e Jackson (aguenta homem!)
mantêm-se genuínos.
Ainda assim, o que sobressai é a
atitude da equipa. Há quase que uma rendição latente que acentua ainda mais a
revolta generosa de Castro. É um contraste tremendo. A alegria de um versus a
melancolia de tantos.
Vítor Pereira introduziu algumas
mudanças para este jogo. Na defesa, Fabiano assume a baliza e renova-se o eixo
defensivo. Abdoulaye e Maicon formam a dupla de centrais, com Mangala na
posição de defesa esquerdo. Alex Sandro e Otamendi saem da equipa.
No meio campo, Castro entra para
o lugar de Lucho e, no ataque, Izmaylov cede o seu lugar a Defour.
O FC Porto entra lento, sem
progressão vertical, sem velocidade nos flancos e sem apoio a Jackson. É uma
primeira parte capaz de curar insónias.
O primeiro lance de perigo, aos
14 minutos, cai para o Rio Ave. Contra-ataque rápido com Ukra a rematar ao
lado. Dois minutos depois, responde o FC Porto. Castro desmarca Mangala de
calcanhar e o “lateral” entra na área. Cruza tenso e atrasado e encontra James
à entrada na área. James tenta o remate, mas sai prensado de encontro a
Jackson. O ponta-de-lança domina bem a bola, mas, na altura do remate,
Vilas-Boas desarma-o.
Aos 19 minutos, livre directo a
favor do FC Porto. James avança para a cobrança, mas Oblak encaixa a bola sem
dificuldade. Após esta ligeira agitação, o jogo cai num ritmo tão baixo que
quase pára.
Só aos 34 minutos, é que volta a
bater o coração portista. Na saída de bola do Rio Ave, Nivaldo é pressionado
por Castro (quem mais!). Já em desespero, o central do Rio Ave remata contra
Castro e a bola sai ligeiramente ao lado da baliza do Rio Ave. É Castro quem
levanta a bandeira da revolta. Quatro minutos depois, o FC Porto ganha novo
livre após falta sobre Castro junto à bandeirola de canto. Sempre ele. James
bate o livre, mas a defensiva do Rio Ave corta. No entanto, Maicon ganha a segunda
bola, vence o seu adversário e remata para defesa apertada de Oblak.
Findam os lances de perigo para o
FC Porto nesta primeira parte. Duas bolas paradas, um momento de pressão de
Castro e um lance de envolvência. Tão pouco! Mas ainda haveria tempo para um
susto final. Após um livre no meio campo, Bebé encara Defour e cruza tenso para
a área. Hassan antecipa-se a Fabiano e fica a centímetros do golo.
Ao intervalo, Vítor Pereira
viu-se forçado a mexer nas suas peças e mexe de forma acertada. Retira um pouco
do muito postiço que a equipa tem. Sai Abdoulaye e entra Alex Sandro. A equipa
passa a ter um lateral esquerdo de raiz e Mangala assume a posição central.
Abdoulaye vinha fazendo uma exibição correcta, mas a equipa precisava de
equilíbrio. Uma coisa é ter no flanco Mangala e Alex Sandro, embora artificial,
é produtivo. Outra bem diferente é ter um flanco com Mangala e Defour ou
Mangala e James.
O jogo recomeça com a mesma
toada. O FC Porto lento e sem ideias e um Rio Ave enfadonhamente expectante.
Volta a ser Castro a mostrar o caminho da revolta. Aos 52 minutos, remate forte
e do meio da rua, que passa próximo do poste de Oblak.
Dois minutos depois, o lance que
muda o jogo. Num meio campo sem ideias, o FC Porto passa a jogar de 6 para 9.
Ou seja, de Fernando para Jackson. Isso mesmo, o ponto de apoio de Jackson
passa a ser Fernando!!! Rico futebol este! É assim que o lance nasce. Bola
picada de Fernando para desmarcação de Jackson (lance repetido mais duas vezes
ao longo do encontro), com este a dominar já dentro da área do Rio Ave, isolado
e de frente para a baliza. Após dominar a bola, Jackson é abalroado por Oblak
de forma grosseira. Penalti e expulsão do guarda-redes do Rio Ave. Justo e
claro! James avança para a marcação e faz o primeiro golo da tarde.
O FC Porto melhora, mas não
substancialmente. Fernando e Castro bem tentam dar alma à equipa, mas esta não
se anima. O Rio Ave retrai-se, eclipsando-se em definitivo.
Vítor Pereira percebe que a
equipa precisa de crescer. Aos 62 minutos, dá descanso a Moutinho e introduz
Izmaylov. Izmaylov a falso extremo é algo igualmente postiço, ainda assim,
menos postiço que Defour. Ou seja, Vítor Pereira vai ganhando o jogo ao
reconfigurar a equipa no seu esquema habitual. Nesse mesmo minuto, Fernando com
um remate do meio da rua obriga Éderson a defesa apertada.
Aos 72 minutos, o criativo (não é
charada!) do FC Porto marca. Fernando ganha, na raça, uma bola a meio campo. O
médio “criativo” lança Defour no flanco esquerdo e este avança para a área do
Rio Ave. Ao entrar na área, Defour cruza tenso e atrasado, para a finalização
de Fernando que acompanhara a jogada. O homem faz (quase) tudo.
Com o jogo praticamente ganho,
Vítor Pereira lança Liedson. Descansaria Jackson? Não, descansaria James.
Jackson ganha companhia, mas a bola continuaria arredia.
Aos 81 minutos, Tarantini quase
reduz, mas logo depois o FC Porto mata o jogo. Fantástica desmarcação de
calcanhar de Castro para Defour. O médio belga entra na área e com calma
finaliza o 3-0, aos 83 minutos. No último minuto do jogo, chegaria o 4-0. Livre
superiormente cobrado por Danilo, com Éderson ainda a desviar para o poste. Na
recarga, Mangala não perdoa e fecha as contas do jogo.
Duas notas finais. Primeira, para
a arbitragem, que expulsa Izmaylov pouco antes do 4-0 por um mero empurrão e
acumula foras-de-jogo mal assinalados ao ataque do FC Porto. Artistas! Segunda,
para Paulinho Santos. Sempre na frente de batalha contra os espíritos pouco
santos, mas muito malignos. Somos Porto, não é para qualquer um.
Seguem-se dois jogos com o Braga.
Duas finais. Uma boa oportunidade para levantar a parte anímica da equipa.
Análises Individuais:
Fabiano – Num jogo sem trabalho,
mostrou-se muito frágil. Nas duas situações em que interveio, tremeu imenso.
Danilo – Volta a fazer um jogo
sóbrio e pela certa. Deixou Bebé fazer o seu número artístico, mas sempre longe
de causar perigo. Pacientemente, foi anulando essa via de ataque do Rio Ave.
Acaba o jogo em grande com um livre bem cobrado. Um cheirinho do talento que
ali há. Não é só em força, mas também em jeito.
Mangala – Jogo bem agradável a
lateral. Tem aquela alma que enche o lugar. Sóbrio a defender e competente
quando passa a central.
Abdoulaye – Fez um jogo sem
mácula. Sai em benefício da equipa e não por não estar a corresponder. Ingrato,
porque paga a factura de ser o quarto central da hierarquia, mas necessário.
Maicon – Um jogo quase sem
história, não fosse ter deixado Hassan escapar no final da primeira parte.
Ainda esteve perto do golo.
Fernando – Fez tudo a meio campo.
Foi 6, foi 8 e foi 10. Marcou e deu a marcar. Batalhou, ganhou bolas, criou
perigo, animou as bancadas. Realisticamente, foi o melhor em campo, mas o
prémio não é seu.
Castro – O melhor em campo.
Merece. Pela alma, pelo grito de revolta e por ser um profundo contraste de
alegria para muitos dos seus colegas. Mostrou talento e vontade de ser mais que
um mero carregador de piano. Haja alegria!
Moutinho – Jogo quase em ponto
morto. Apagado e bem pisado pelo novo pitbull do lado vermelho da segunda circular.
Defour – Jogo agradável, embora
sem rotinas de posição a extremo. Ainda assim, tentou dar profundidade e
verticalidade. Sai com um golo, no seu melhor período do encontro: interior
esquerdo.
James – Quase patética a sua
apatia. Muito bem, vem de lesão, mas nem esse rabo pesado é desculpa para tudo.
Bateu o penalti com precisão e não fez mais nada. Muito escasso para um jogador
da sua valia.
Jackson – Quando Fernando é o seu
melhor amigo, então está tudo dito. Aguenta homem! Hoje deixou-se abater e não
teve inspirado. Faltou-lhe “chispa”.
Alex Sandro – Trouxe profundidade
e critério ao flanco esquerdo.
Izmaylov – Um ou outro passe de
rotura, mas não deu nada extra à equipa. Nova entrada em campo sem ser capaz de
fazer a diferença.
Liedson – Umas recepções de bola
falhadas e pouco mais.
Ficha de Jogo:
FC Porto-Rio Ave, 4-0
Taça da Liga, meia-final
3 de Abril de 2013
Estádio do Dragão, no Porto
Assistência: 12.509 espectadores
Árbitro: Hugo Miguel (Lisboa)
Assistentes: Nuno Pereira e Hernâni Fernandes
Quarto árbitro: Cosme Machado
FC PORTO: Fabiano; Danilo, Maicon, Abdoulaye e Mangala; Fernando (cap.), Castro e João Moutinho; James, Jackson e Defour
Substituições: Abdoulaye por Alex Sandro (intervalo), João Moutinho por Izmaylov (63m) e James por Liedson (76m)
Não utilizados: Kadú, Lucho, Kelvin e Otamendi
Treinador: Vítor Pereira
RIO AVE: Oblak; Marcelo, André Vilas Boas (cap.), Nivaldo e Lionn; Filipe Augusto, Tarantini e Braga; Ukra, Hassan e Bebé
Substituições: Ukra por Ederson (56m), Braga por Del Valle (74m) e Hassan por Rafael Miranda (80m)
Não utilizados: Diego Lopes, André Dias, Rúben e André Costa
Treinador: Nuno Espírito Santo
Ao intervalo: 0-0
Marcadores: James (57m, pen.), Fernando (72m), Defour (83m) e Mangala (90m+4)
Cartões amarelos: Lionn (90m+2) e Nivaldo (90m+3)
Análise dos Intervenientes:
Vítor Pereira:
«Castro transmite uma alma extraordinária»
«O Castro tem um espírito competitivo remendo. Tem evoluído muito e as oportunidades vão surgindo à medida que os jogos se acumulam. O Castro tem aproveitado, tem lutado pelo seu espaço. No treino é um jogador extraordinário pela alma que transmite. No jogo tem ganho confiança e está a conquistar o seu espaço. Estou muito satisfeito por ele».
Sobre o cartão vermelho a Izmaylov
«Foi a única mancha neste jogo. A partida não justificava esse lance, já no final, O resultado estava feito, nada justifica os nervos à flor da pele. Ainda assim, a reação dele não é para vermelho. Temos de evitar isto no futuro».
«Os 4-0 não espelham as dificuldades que tivemos»
Vítor Pereira estava satisfeito pela qualificação para a final da Taça da Liga, mas admitiu na sala de imprensa do Dragão que o desnível no resultado não ilustra com justiça o que se passou frente ao Rio Ave.
«Estou satisfeito pelo jogo e pela final. O Rio Ave, enquanto manteve as linhas próximas, foi adiando o primeiro golo. Depois disso os espaços surgiram, criámos situações de rotura e construímos naturalmente a vitória».
Sobre a justiça da goleada
«Os 4-0 não espelham as dificuldades que tivemos. Mas estou satisfeito por poder acrescentar mais um troféu à nossa história. O Sp. Braga também está na final por mérito próprio. É uma equipa bem apetrechada e teremos uma final difícil. Vamos olhá-la com espírito de conquista. Estamos a disputar dois troféus ainda e é aí que temos de colocar toda a nossa ambição».
James Rodríguez:
«Acreditamos que podemos ser campeões»
«Mais importante do que o meu golo, é a equipa em si. Marcámos quatro golos que foram um passo para a final, que era o nosso objetivo. Acreditamos que podemos ser campeões. Jogámos para isso, para darmos um passo para a final para podermos ganhar o título».
Nuno E. Santo:
«Não houve nada de importante. Abordei o árbitro com respeito e cordialidade. Apenas fiz um comentário simples ao árbitro. Depois disso houve um conflito verbal, mas está sanado e por nós fica esquecido».
Sobre a expulsão de Obak
«Com dez tudo se tornou complicado. Demorámos mais tempo a recuperar a bola e a nossa tarefa complicou-se. Tivemos uma primeira parte muito bem conseguida, com oportunidades, mas com a expulsão o jogo mudou. O F.C. Porto tem uma excelente posse de bola e com mais um elemento fez golos».
«Vínhamos para este jogo com a ausência de jogadores importantes e de um jogo na Luz onde jogámos muito tempo com nove. Ainda por cima saímos daqui condicionados para o próximo jogo. No entanto, a resposta dada na primeira parte dá-me otimismo.
Sobre a arbitragem
«Começa a ser difícil não falar sobre isso. Estive recentemente numa gala e um dos melhores árbitros disse-me que apreciava o comportamento de alguns treinadores, dando o meu exempo. Acredito na competência dos árbitros, mas começa a ser difícil não falar sobre arbitragens. Vamos manter esta postura até ao fim».
Por: Breogán
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