Oxigenar
Foi um jogo de começo sofrido,
mas que acabou oxigenando o FC Porto. Não só pela questão pontual e de nos
manter na luta, mas sobretudo, por uma questão exibicional. Não foi uma grande
exibição, mas foi uma exibição sólida e competente, o que configura um bálsamo
retemperador após a derrota frente ao Braga.
Começamos mal, muito incomodados
pela impetuosidade do Moreirense, sobrevivemos e acabamos impondo o nosso jogo,
ganhando vantagem sobre o adversário no talento individual.
Vítor Pereira coloca em campo o
seu onze base, mas com uma alteração. Defour sai da equipa e entra Atsu. É uma
alteração no modelo de jogo, abrindo a frente de ataque com um extremo e
aumentando a capacidade ofensiva do FC Porto.
É uma questão estrutural e não
exibicional. A exibição do Atsu chegou, no máximo, à mediania e por períodos
breves. Ainda assim, a sua presença em campo enquanto extremo, dá amplitude à
equipa.
Primeiro, porque não procura o espaço interior como Defour. É menos a
contribuir para a hiperconcentração de jogadores no corredor central.
Segundo,
porque mesmo jogando pouco, a sua presença no flanco obriga à fixação do
lateral (beneficia Alex Sandro) e à atenção dos médios interiores para a dobra.
Terceiro, menos gente no centro, mais espaço para Lucho e maior capacidade de
ligação a Jackson. É um exercício lógico simples. Beneficia Jackson, logo,
estamos mais perto do golo. E foi o que aconteceu. O 4-3-3 sem extremos é uma
aberração táctica e espero que tenha acabado de vez.
O jogo começa com o FC Porto algo
temerário. O Moreirense colocava-se o mais possível atrás da linha da bola e
lançava o seu panzer ofensivo (Ghilas) assim que a recuperava. Bolas em
profundidade, espaço para embalar, linhas rectas para correr em direcção à
baliza e muita energia cinética na hora do encosto. Ghilas é isto e o FC Porto
levou demasiado tempo a perceber.
A primeira oportunidade é do
Moreirense. Aos 7 minutos, o Moreirense avança pelo corredor esquerdo do FC
Porto e Espinho desvia a bola para defesa atenta de Helton. O FC Porto responde
dois minutos depois, num lance de envolvimento com Jackson a servir Atsu na
zona do ponta-de-lança, mas o ganês falha o desvio por pouco, com a baliza à
sua mercê.
O Moreirense está na sua melhor
fase do jogo, com o FC Porto ainda a tentar adaptar-se ao futebol directo da
equipa de Moreira. Ghilas atormenta Mangala e Alex Sandro, mas nunca consegue
criar perigo.
O FC Porto só voltaria a
incomodar Ricardo Ribeiro aos 18 minutos de jogo. Excelente remate em arco de
Fernando fora da área para defesa apertada do guarda-redes do Moreirense. Dois
minutos depois, é James quem tenta a sorte de longa distância, mas Ricardo
Ribeiro volta a resolver.
Aos 23 minutos de jogo, o momento
mais perigoso do Moreirense. Passe de Moutinho no grande círculo e alívio da
defesa do Moreirense. O “balão” apanha o caminho de Ghilas que, perante a
passividade de Mangala e Otamendi, arranca para a baliza de Helton em linha
recta e em perseguição da bola. Helton sai para matar o lance e acaba por
sentir todo o aço do panzer.
É a partir daqui que o FC Porto
começa a ganhar preponderância no jogo. Danilo solta-se mais e Lucho chega-se
mais a Jackson. Aos 31 minutos, Danilo centra bem, mas Jackson não desvia a
preceito. É o mote para o golo.
Aos 34 minutos, o FC Porto ganha
vantagem no marcador. Lance de envolvimento, com uma tabelinha preciosa entre
Lucho e Danilo. Danilo assume o corredor central e faz uso do seu excelente
jogo interior para desequilibrar. Recebe de Lucho, roda e coloca a bola na
desmarcação em diagonal de Jackson. Bem servido, na área e de frente para a
baliza e já desmarcado do central, seria golo na certa. E foi!
O FC Porto ganha vantagem e
conforto no jogo. Joga-se em amplitude e no meio campo do Moreirense.
Aos 41
minutos, Atsu remata com perigo, mas Ricardo Ribeiro desvia para canto. Três
minutos depois, e novo susto para o FC Porto. Mangala deixa-se antecipar por
Fábio Espinho e perde a bola dividida. Espinho avança para a área portista e
remata com violência, mas Helton defende. A resposta do FC Porto é intensa. No
primeiro minuto de compensação da primeira parte, Moutinho desfere uma bomba
fora da área, num pontapé de ressaca, para grande defesa de Ricardo Ribeiro.
Mesmo antes do intervalo, penalti claríssimo sobre Atsu que o árbitro fez
questão em não ver. Mais um.
Foi uma primeira parte onde o FC
Porto começou temerário, mas acaba por cima e totalmente dominador,
aproveitando a boa exibição de Lucho e a maior amplitude do seu ataque.
A segunda parte é dominada pelo
FC Porto e a marcha do marcador ajudou ao pleno domínio.
Aos 52 minutos, canto cobrado por
James, mas a defesa do Moreirense corta. A sobra fica para James, que volta a
centrar para a área. Mangala desvia no primeiro poste e, no segundo poste,
Fernando, mesmo apertado, atira para a baliza. Ricardo Ribeiro defende à
primeira, mas a não consegue defender a recarga de Fernando. Golo justo para um
bravo em campo.
Três minutos depois, Fernando
volta à carga. Transição do Moreirense abafada por Fernando, com a sobra a
ficar para Lucho. O capitão, de primeira, lança Jackson com um passe picado. A
desmarcação de Jackson é imparável e perante a saída de Ricardo Ribeiro,
faz-lhe um chapéu e marca o terceiro golo do FC Porto. Grande golo e grande
jogada.
A partir daqui, o FC Porto geriu.
O jogo estava ganho e havia que dar descanso a alguns jogadores. Até final,
mais dois remates com perigo. Primeiro, é Castro a rematar com perigo, aos 79
minutos e, depois, Danilo, aos 89 minutos, em mais um movimento interior. Pelo
meio, aos 85 minutos, nova fuga de Ghilas. Mais uma bola em profundidade e
fuga, desta vez a Otamendi, para novo duelo com Helton. Helton sai bem e
bloqueia o remate de Ghilas, mantendo o nulo na sua baliza.
O trabalho de casa está feito.
Mais que esperar resultados de outros jogos, a boa notícia é a oxigenação que
esta equipa levou. Essa revitalização que trouxe Jackson de volta aos golos, um
Lucho como há muito não se via e um FC Porto com alguma acutilância no ataque.
Lutar até ao fim. Cerrar os
dentes.
Análises Individuais:
Helton – Manteve o zero a zero na
altura mais crítica do jogo e a vantagem mínima frente a Fábio Espinho. Ganhou
os duelos todos com Ghilas e fez uma exibição imaculada. Até ele melhorou
bastante.
Danilo – Começou com erros
básicos a nível do passe e tímido no ataque. Soltou-se com o decorrer no jogo e
termina o encontro com uma assistência e o último remate de perigo do jogo. O
seu jogo interior é uma mais-valia na sua função de lateral.
Alex Sandro – Começou com muitas
dificuldades defensivas. Foi pelo seu flanco que o Moreirense mais carrilou
jogo. Tal como Danilo, faz um jogo em crescendo e sai de campo com uma boa
exibição, sobretudo, no plano ofensivo.
Mangala – Jogo para aprender e
recordar. Está habituado a “esmagar”, mas desta vez teve pela frente um panzer.
Não iria verga-lo por esmagamento. Mangala, em vez de jogar na antecipação e no
posicionamento, encara o desafio físico e trata de jogar à apanhada com Ghilas.
Deu-se bem em alguns lances e muito mal noutros. Salvou-o Helton em duas
ocasiões. Ghilas tem um futebol muito unidimensional, basta jogar em
antecipação sobre ele e acaba para o jogo. Mais patético foi a forma como perde
para Espinho. Devia pensar que era o Ghilas que aí vinha…
Otamendi – Como jogou mais em
antecipação, esteve melhor no jogo. Ainda assim, perdeu dois lances da mesma
forma que o Mangala. Compensou com dois cortes preciosos.
Fernando – Um grande jogo em
Moreira de Cónegos. Abafou tudo o que podia, levou a equipa para a frente e
ainda marcou. Está a liderar em campo.
Moutinho – Deveria ter ajudado
mais a equipa no plano defensivo. Alguns lançamentos para Ghilas nasceram na
sua zona de acção. De resto, a qualidade de sempre.
Lucho – Fez-lhe bem o descanso
que tem tido nos últimos jogos. Notou-se logo outra disponibilidade em campo e
capacidade de chagar perto de Jackson. Era esta gestão que se impunha desde o
início da época. Grande assistência para o último golo da noite. Merece ser o
melhor em campo.
James – Exibição muito apagada,
de quem não tem andamento para a posição híbrida que ocupa. Ficou-se por uns
passes teleguiados e um ou outro remate. É preciso um James com outra rotação
para a recta final do campeonato.
Atsu – A sua entrada foi
importante pela alteração estrutural que provocou. Quanto à sua exibição,
voltou a ser demasiado fraca, só chegando à mediania em curtos momentos.
Jackson – Andou longe do golo,
mas a culpa não é sua. Bem servido é um matador de gala. O seu segundo golo é
de craque e o primeiro é uma desmarcação portentosa. Não é o melhor em campo
por deferência a Lucho, mas merecia.
Castro – Outra excelente entrada
em campo. Mostra, claramente, que é opção válida para este meio campo. Alegria
e vitalidade.
Liedson – Mais 10 minutos de azul
e branco para seguradora ver.
Izmaylov - Mais 3 minutos de azul
e branco para seguradora ver.
FICHA DE JOGO
Moreirense-FC Porto, 0-3
Liga portuguesa, 26.ª jornada
20 de Abril de 2013
Parque Desportivo Comendador Joaquim Almeida Freitas, em Moreira de Cónegos
Árbitro: Marco Ferreira (Madeira)
Assistentes: Cristóvão Moniz e Sérgio Serrão
Quarto árbitro: Manuel Oliveira
MOREIRENSE: Ricardo Ribeiro; Ricardo Pessoa, Anilton, Aníbal Capela e Florent; Vinícius (cap.), Renatinho e Fábio Espinho; Wagner, Ghilas e Pintassilgo
Substituições: Wagner por Rafael Lopes (61m), Ricardo Pessoa por Paulinho (65m) e Anilton por Diego Gaúcho (74m)
Não utilizados: Ricardo Andrade, Kinkela, Belaid e Tales
Treinador: Augusto Inácio
FC PORTO: Helton; Danilo, Otamendi, Mangala e Alex Sandro; Fernando, João Moutinho e Lucho (cap.); James, Jackson Martínez e Atsu
Substituições: Lucho por Castro (74m), Atsu por Liedson (81m) e James por Izmaylov (87m)
Não utilizados: Fabiano, Quiño, Kelvin e Defour
Treinador: Vítor Pereira
Ao intervalo: 0-1
Marcadores: Jackson Martínez (34m e 55m) e Fernando (52m)
Análise dos Intervenientes:
Vítor Pereira:
«Num dos festejos quase caía»
«Num dos festejos quase caía. Escorreguei. Estou assim porque o campeonato está a chegar ao fim. São jornadas importantes e é natural que exija mais emotividade. Fiz o que senti, celebrei de forma espontânea».
«Isso aconteceu no segundo golo. Foi importante porque nos deu confiança para fazer um jogo de maior qualidade e retirou alguma esperança ao Moreirense».
«Sportinguista, eu?»
Após a excelente vitória em Moreira de Cónegos, os jornalistas quiseram saber na sala de imprensa se Vítor Pereira, por um dia, iria ser sportinguista. O técnico tentou não falar sobre o derby da Luz, mas lá deixou sair algumas palavras curiosas.
«Sportinguista amanhã, eu? Não, portista sempre, desde que me lembro de ver futebol. Não temos controlo sobre esse jogo. Dizer que não interessa é mentira, mas todos os resultados são importantes. Não nos podemos dispersar com possíveis cenários».
«A equipa está preparada e não vai entregar nada de bandeja. Somos bicampeões e vamos lutar até ao fim. Não vamos estender o tapete a ninguém. O título passa pelos jogos que faltam. Vamos esperar. Hoje fizemos bem o nosso trabalho».
Sobre o jogo em Moreira de Cónegos
«Vencer aqui não é fácil e com a autoridade que o fizemos fico ainda mais satisfeito. Marcámos nos momentos certos. Marcámos primeiro e isso obrigou o adversário a abrir as suas linhas. Passámos a ter mais espaços e oportunidades de golos. Fizemos três, podíamos ter feito mais dois ou três, e o Moreirense também podia ter marcado».
«Tivemos paciência, boa circulação e uma reação forte à perda de bola. Fizemos bem o nosso trabalho».
Por: Breogán
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