domingo, 28 de abril de 2013

FC Porto-V. Setúbal, 2-0: A luta continua.





Mais uma jornada, mais uma luta, mais um autocarro virado. Até chamar autocarro a este Vitória de Setúbal tacanho de José Mota é um elogio. Quando um treinador abdica da linha ofensiva para carregar a equipa de médios e ao minuto 18 já pede ao Zé Pedro para trocar a bola com calma, é porque não encarou esta jornada para somar, pelo menos, um ponto na sua luta contra a despromoção, mas sim para roubar dois pontos ao adversário, numa luta que é alheia ao Vitória de Setúbal. Houve momentos que mais parecia um jogo de andebol, com os 10 jogadores de campo do Vitória de Setúbal à volta da sua área e o FC Porto a tentar entrar.



Já se sabe por que dificuldades passa o FC Porto frente a equipas fechadas. Já sabe também o porquê e é algo que vai ficar sem resolução esta época, está mais que visto. Não conseguimos alargar a nossa frente de ataque e falta quem assuma a criação de jogo ofensivo. James anda pela hora da morte e Lucho carece de intensidade para isso. Falta somar mais três factores. Primeiro, a série de passes falhados. Segundo, a baixa velocidade de circulação da bola. Por fim, já nem os laterais conseguem assumir o jogo flanqueado.

Vítor Pereira manteve os mesmos onze que foram titulares em Moreira de Cónegos, mantendo Atsu como extremo na equipa.

O jogo começa titubeante, vergado à castração futebolística imposta pela táctica tacanha de José Mota. A recusa incondicional do Vitória de Setúbal em jogar futebol quase que mata o jogo. E só não o mata porque o FC Porto tem um grande avançado centro e vai ser ele o eixo das oportunidades do FC Porto no jogo.
Aos 17 minutos, centro largo de Lucho da direita (quase da linha de meio campo!) para a entrada da área. James ataca o espaço nas costas de Jackson e gera dificuldades para a defesa do Vitória de Setúbal. Venâncio não chega à bola e Kieszek sai em falso, deixando a baliza à mercê. A bola sobra para Atsu que mais não faz que atirar bem por cima. Perdida infantil.

Aos 21 minutos, o FC Porto volta a espreitar o golo. Nova bola bombeada para a área, desta vez, por Otamendi. Jackson arrasta a marcação, ganha posição na área e amortece de cabeça para James, em zona frontal. James não consegue colocar o remate e permite o desvio de Venâncio. Nova perdida infantil.

Aos 24 minutos, a única oportunidade do Vitória de Setúbal na primeira parte. Pontapé lá para frente para Kieszek, mas desta vez, o que não era mais que mais um “pontapé lá para a frente” tornou-se numa assistência. Pedro Santos foge à marcação portista, recebe o “pontapé lá para a frente” com classe e à entrada da área, tenta colocar o remate. Saiu ao lado, para alívio de Mangala e graças à pressão de Otamendi.




O jogo cai na sua pior fase, com o Vitória de Setúbal tacanho de José Mota a conseguir bloquear todos os centímetros em volta da sua grande área e fazendo da linha de meio campo a linha de fundo do lado contrário. Do lado portista, faltava inspiração e velocidade. Lucho tentava liderar, mas o meio campo falhava passe atrás de passe. James ficava morto na sua híbrida função e Danilo não subia pelo flanco. No outro lado, a presença de Atsu dava um pouco mais de largura, mas o ganês nada fazia de jeito. Aliás, não só não ajudava como ainda atrapalhava as subidas de Alex Sandro. Até que, ao minuto 39, Vítor Pereira, farto da apatia (e falta de jeito) de Atsu, substitui-o por Varela. O FC Porto arrebita e anima.



Aos 43 minutos, Alex Sandro sobe pelo flanco (já sem o obstáculo Atsu) e cruza para Jackson. O ponta-de-lança recebe e roda com classe sobre Venâncio, mas o remate sai à figura de Kieszek. No minuto seguinte, Varela inventa espaço na linha de fundo, finta dois adversários e entra na área com perigo. Centra tenso e rasteiro, mas ninguém chega a tempo para o desvio.

Acaba-se a primeira parte, com José Mota a esfregar as mãos de contente. Só faltam mais 45 minutos para tirar dois pontos ao FC Porto. Tacanhez.

A segunda parte começa logo com más notícias. Alex Sandro não voltaria a jogo, por lesão, entrando Abdoulaye para central e Mangala assume a posição de lateral esquerdo.

O FC Porto entra mais pressionante, na segunda parte. O Vitória de Setúbal torna-se ainda mais tacanho.
Aos 51 minutos, Jackson está em posição privilegiada, mas a bola escapa-se no último momento.

Ao minuto 60, o começa o fim da tacanhez neste jogo. Canto a favor do FC Porto e Moutinho avança para a cobrança. O centro sai tenso, com Mangala a atacar a bola no primeiro poste, mas esta acaba por passar. No segundo poste, é Otamendi quem aparece e o cabeceamento sai forte e preciso, mas Kieszek defende para canto. No novo canto, a bola sobra para Lucho, na entrada da área. O remate sai de pronto e Jorge Luíz desvia a bola com o braço. Penalti bem assinalado e James avança para a cobrança. O remate sai forte, mas pouco colocado e Kieszek defende. Balde de água fria no Dragão e o relembrar episódios passados.

Mas o FC Porto não deprime. Agarra-se às duas oportunidades criadas e mantém a pressão sobre o Vitória de Setúbal.

Até que, ao minuto 64, finalmente, surge o golo. Jackson desce ao meio campo, roda sobre o adversário, finta-o e faz uma abertura brutal para James no flanco direito. A recepção de James é boa. O que lhe permite atacar de imediato a área e apresentar um momento de genialidade. Centro de trivela para o segundo poste, onde surge Lucho a desviar para golo, aproveitando o espaço deixado vago por Jackson. Está feito!

A partir daqui o FC Porto acalma e assenta o seu jogo. Vítor Pereira aproveita a última substituição para gerir a condição física de Lucho, enquanto José Mota tenta sacudir a tacanhez e virar a equipa para a frente. Mas é algo já impregnado e o Vitória de Setúbal não cria mais perigo.

O jogo cai num ritmo morno até ao segundo golo portista. Ao minuto 85, lançamento lateral para Mangala na linha de meio campo. Mangala lança para Varela, no flanco esquerdo e no enfiamento da grande área. Sem apoio, Varela temporiza e temporiza. Até que, qual comboio sem freio, lá surge Mangala em velocidade. Varela só tinha que colocar a bola em frente do comboio em movimento e foi isso que fez. Mangala irrompe entre dois jogadores sadinos e entra na área, centrando tenso para o segundo poste, onde Defour havia ganho a frente a Kiko e desvia para golo.







Até final, destaque para o minuto 91. Bom trabalho de Defour na direita e centro ligeiramente atrasado para Jackson. Qual colher, o pé de Jackson ainda vai buscar a bola e remata com precisão. Precisão a mais, pois o remate sai ao poste, traindo o excelente jogo (mais um!) de Jackson e ficando-lhe a dever mais um golo.





Trabalho de casa feito, mesmo com um jogo que não encantou. Às nossas limitações perante equipas tão defensivas, soma-se a tacanhez futebolística de quem só joga assim no Dragão.

Sejamos claros, nesta fase pouco me importa se o jogo foi emotivo ou não. Toca a somar 3 pontos, cumprir a nossa parte e esperar pelo melhor! A luta continua!


Análises Individuais:

Helton – Para a próxima devia pagar bilhete e sentar-se ao lado do José Mota para jogarem à bisca.

Danilo – Passou ao lado do jogo. Subiu muito pouco e faltou veneno nas suas raras subidas. O futebol ofensivo do Vitória de Setúbal era inexistente e fez falta para dar largura ao ataque portista.

Alex Sandro – Sufocado por Atsu e libertado por Varela. Acaba a primeira parte com queixas físicas e sai lesionado ao intervalo.

Otamendi – Sem trabalho algum, esteve bem no único momento de tensão. Soube segurar-se e manter a pressão sobre Pedro Santos. Quase marcava de cabeça, mas Kieszek defendeu.

Mangala – Deixou escapar Pedro Santos, mas compensou com uma segunda parte a muito bom nível. Percebe-se que até gosta de jogar a lateral esquerdo. Tem liberdade e o seu futebol ofensivo que concilia a velocidade, uma passada larga e infatigável e aquele jeito meio bruto de levar a bola à sua frente é desconcertante para os adversários.

Fernando – Primeira parte de altíssimo nível, onde empurrou o FC Porto para a frente até mais não poder. Baixou de ritmo na segunda parte e nem teve que suar para matar o jogo ofensivo do Vitória de Setúbal. Isso já havia feito o José Mota.

Moutinho – Muito errático no passe, empenhou-se como sempre no jogo. É mais um que, vindo de lesão, sofre muito com a parte final dos jogos.

Lucho – Liderou e procurou orientar sempre a equipa para a frente. Mesmo quando as coisas não corriam bem e o muro sadino não cedia. Falhou muitos passes, mas tentou sempre dar soluções à equipa. Ora aparecia nas costas de Jackson, ora trocava com James e procurava dar largura. Marca o primeiro golo e tranquiliza a equipa. Saiu por gestão, algo que há muito já deveria ser feito.

James – Fez um mau jogo? Sem dúvida alguma! “Asneirou” até mais não. Anda preso por arames e até me atrevo a dizer que a vontade não é muita. Mas James é isto, ganha um jogo num lance de génio e isso para nós é imprescindível. Temos as dificuldades ofensivas que temos e estamos na fase da época em que estamos. Abdicar de James é suicídio.

Atsu – Só me ocorre patético. O único benefício que trouxe à equipa é estrutural. Decorre da posição que ocupa em campo e que permite tornar o jogo interior menos denso. Mas esse benefício estrutural não tem continuidade no seu jogo e acaba por ser um empecilho. Mau demais. Muito mais demais!

Jackson – Não marcou, falhou uma boa oportunidade e o poste negou-lhe outra. Não fez nenhuma assistência, embora, no primeiro golo, a abertura para James é de 10 e não de 9. Pode ser estranho, mas é, claramente, o melhor em campo. O homem faz tudo, quase sempre sozinho e é a alegria do nosso ataque. Sem Jackson já tínhamos ido pelo cano há muito tempo.
Voltou a mostrar ontem o grande jogador que é. Fintando quando já não parecia haver finta possível, metendo passes que fazem sonhar muitos médios, ganhando bolas na área qual farol de Hércules. Este jogador minimamente bem servido, e sublinho o minimamente, já tinha enchido as duas balizas do Dragão de bolas.


Varela – Qualquer porcaria que fizesse era logo melhor do que havia feito o Atsu. Portanto, confesso algumas dificuldades de análise. Ainda assim, foi notório que entrou bem e que contribuiu para melhorar o nosso jogo ofensivo. Soube, pelo menos, aproveitar o talento alheio. Primeiro, com Alex Sandro e depois com Mangala.

Abdoulaye – O Vitória de Setúbal do José Mota nem à baliza chegou na segunda parte. Cumpriu o seu papel.

Defour – Entrou animado e aproveitou a inexperiência de Kiko para fazer o segundo.




FICHA DE JOGO

FC Porto-V. Setúbal, 2-0
Liga portuguesa, 27.ª jornada
27 de Abril de 2013
Estádio do Dragão, no Porto
Assistência: 32.410 espectadores

Árbitro: Carlos Xistra (Castelo Branco)
Assistentes: Nuno Pereira e Paulo Soares
Quarto árbitro: Paulo Brás

FC PORTO: Helton; Danilo, Otamendi, Mangala e Alex Sandro; Fernando, João Moutinho e Lucho (cap.); James, Jackson e Atsu
Substituições: Atsu por Varela (39m), Alexandro por Abdoulaye (intervalo) e Lucho por Defour (81m)
Não utilizados: Fabiano, Castro, Izmaylov e Liedson
Treinador: Vítor Pereira

V. SETÚBAL: Kieszek; Pedro Queirós, Frederico Venâncio, Jorge Luiz e Kiko; Ney Santos, Bruno Amaro (cap.), Paulo Tavares e José Pedro; Pedro Santos e Miguel Pedro
Substituições: Miguel Pedro por Jorginho (58m), Zé Pedro por Horta (71m) e Bruno por Makukula (82m)
Não utilizados: Fonseca, Amoreirinha, Bruno Gallo e Bruninho
Treinador: José Mota

Ao intervalo: 0-0
Marcadores: Lucho (64m) e Defour (87m)
Cartão amarelo: Miguel Pedro (32m), Atsu (33m), Pedro Santos (37m), Paulo Tavares (77m), Kiko (80m) e Jorginho (84m)


Análise dos Intervenientes:

Vítor Pereira:


"A equipa não entrou em ansiedade"


Qual é a sua primeira análise sobre o jogo?

O Vitória foi uma equipa que veio ao Dragão jogar muito fechada, sem ponta-de-lança, com dois homens abertos na frente e quatro no meio, na tentativa de nos surpreender num momento de perda ou de erro. Enquanto não sofreu o primeiro golo manteve-se confiante e não é fácil entrar numa estrutura dessas, unicamente com preocupações defensivas. A nossa equipa teve qualidade e carácter e não entrou em ansiedade, o que é próprio destas situações. Teve paciência e construiu várias situações de golo, se não me engano umas seis ou sete. Fizemos dois golos e não sofremos nenhum, pelo que estou satisfeito com a equipa, o comportamento dos jogadores e o próprio jogo

O FC Porto teve o espírito guerreiro que tinha pedido antes do jogo?

Se passámos 70 e tal por cento do tempo com a posse bola e se damos um enfâse defensivo à expressão, só é possível ser guerreiro no momento em que perdemos a bola. Nesse sentido, tivemos o carácter de ir sempre à procura do golo, que foi tardando. Houve esse espírito que pretendo, porque a equipa não se acomodou, quis sempre abrir a estrutura adversária. O espírito traduz-se na forma como não nos acomodámos e não permitimos que o adversário se estendesse, tendo passado a maior parte do tempo no meio-campo adversário. Esta é a nossa matriz, jogamos sempre desta forma, com bola e reagindo com agressividade à perda.

Sentiu o campeonato a fugir quando James falhou o penálti? Porque falha o FC Porto tantas grandes penalidades?

Estávamos à procura do golo há tanto tempo, que era natural que esperasse que ele surgisse naquele altura, porque era uma oportunidade clara. Ainda assim, acreditei que o tempo que faltava era suficiente. Uma estrutura fechada vai acumulando fadiga e é normal que os erros surjam mais próximo do fim. Em relação aos penáltis, tínhamos o Jackson a marcar, que já foi infeliz esta época, temos ainda o Lucho e o James. O James sentiu confiança e nos treinos marca a maior parte dos penáltis. Isto faz parte do jogo…

Com a entrada do Varela procurou alguém com mais velocidade, para correr mais?

Não para correr mais, mas para diversificar os movimentos, até porque o Alex Sandro estava diminuído. A profundidade, muitas vezes, não se consegue por correr no espaço. O importante era que os movimentos não se repetissem e não fossem fácies de anular. Estávamos com dificuldades em entrar naquele corredor e, com o Varela, achei que teríamos isso. Do meu ponto de vista, o Varela entrou bem. O Atsu ainda se ressente um pouco da lesão contraída na Madeira e não deu à equipa aquilo que eu idealizei.

Jogar dois jogos fora e apenas um em casa até ao fim da Liga é uma desvantagem? E como comenta a nomeação de Manuel Mota para o Marítimo-Benfica?

Relativamente a jogar fora, já provamos que temos capacidade para ganhar em qualquer estádio. Relativamente à nomeação, espero que o Manuel Mota tenha um dia feliz, um dia sim e faça uma grande arbitragem. Desejo que todos os árbitros estejam ao melhor nível, porque nós também procuramos estar. Erramos, como é humano, mas espero que ele não erre consecutivamente, como já vi na semana passada. Espero que isso não volte a acontecer.




Por: Breogán



1 comentário:

Anónimo disse...

Mais uma excelente cronica.

Dá gosto vir aqui ler os artigos de opinião deste blogue.

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