Até a relva vencemos!
Este é um jogo que deve galvanizar o FC Porto. Foi uma vitória com muitos obstáculos superados e que deve ser assumida como um grande passo nas ambições do FC Porto para esta época. Desde logo, foi o primeiro jogo após o rescaldo do mercado (bem que rolaram parangonas de vendas e saídas, mesmo até à último segundo) e pela ausência forçada de Fernando.
Também nos calhou pela frente um adversário empertigado, como sempre e ainda bem, com muita vontade de correr a meio campo e de bater na defesa. A ferocidade do ancião Maurício já é conhecida, mas ontem estava em ponto de rebuçado. Pelo João do apito podia ser, claro! Nem amarelo lhe mostrou! Maurício, que já pouco corre e muito bate, compensa, assim, a sua calvície futebolística com a ajuda do inestimável João.
Não se ficam por aqui os adversários a vencer. Numa região onde abundam os “greens” minuciosamente impecáveis para inglês ver e jogar de taco, o bicampeão Europeu tem que vencer um relvado que teimava em fintar, rasteirar e atrapalhar quem queria ganhar. É sina! Finalmente, como se já não bastasse, cabe ao FC Porto ganhar de virada, como dizem os brasileiros, pois a Olhanense ganha uma vantagem imerecida no marcador. Mas é esta a fibra do campeão. Não há adamastor que não nos faça dobrar o cabo! O FC Porto vira o jogo com classe e talento e quando parecia já poder descansar, ergue-se uma nova contrariedade. Defour lesiona-se e já não há mais nenhum 6 para inventar. A Olhenense cresce, encurta distância, mas não supera a nossa fibra! Grande vitória! À campeão!
O FC Porto inicia o jogo com o mesmo onze inical que arrasou o Vitória de Guimarães, com uma excepção. Face à ausência forçada de Fernando por lesão, entrou Defour para o seu lugar. Vítor Pereira manteve a estrutura da equipa e confiou em Defour para fazer a posição de Fernando. Muito bem!
O FC Porto toma conta do jogo logo de início, empurrando a Olhanense para o seu meio campo. A equipa de Olhão fica limitada a ténues contra-ataques e a defender a sua área. Neste último capítulo, tudo valia, tudo podia ser, menos arrancar olhos (achamos nós!).
É do FC Porto o primeiro sinal de perigo, logo ao terceiro minuto de jogo. Hulk e Moutinho combinam e libertam para Lucho, que ganha espaço na área, mas remata fraco. Aos 11 minutos de jogo, Lucho cruza com classe para Jackson, mas Ricardo antecipa-se. É uma boa entrada do bicampeão.
Dois minutos depois, o resultado carrega-se de injustiça. Alex Sandro perde a bola em transição ofensiva e a Olhanense aproveita para atacar. Aproveitando a subida de Alex Sandro, a Olhanense explora o seu flanco direito para carregar. Defour não tem a mesma abrangência de Fernando e a Olhanense consegue vencer essa primeira linha de defesa. Os dois centrais do FC Porto acorrem ao flanco esquerdo para tentar travar a progressão e ambos são vencidos da mesma forma. Entram um pouco à queima, em vez de aguentarem e são fintados pelo relvado. Duas escorregadelas depois, já a Olhanense está na linha de fundo e só sobrava Danilo a segurar as pontas no centro da defesa. Defour e Moutinho tentavam recuperar terreno e posicionamento, quando a bola é metida em Abdi. Ainda assim, é Otamendi o primeiro a chegar à ajuda a Danilo, mas repete o mesmo erro que cometeu no início da jogada. Otamendia aposta no carrinho, Abdi limitou-se a deixá-lo passar e aproveita a clareira que Otamendi abrira para rematar para golo. Injusto. Um golo conseguido contra a corrente do jogo e a meias com o relvado!
Após o golo da Olhanense o FC Porto entra num período de menor produção ofensiva. Atsu não carrilava jogo pelo seu flanco e Lucho afasta-se das zonas de perigo. A criatividade na zona central esmorece. A primeira resposta à desvantagem vem de Defour. Grande abertura, em chapéu, para Jakcson cabecear ao lado já só com Ricardo pela frente. Cinco minutos depois, Moutinho dá de calcanhar para a desmarcação de Hulk. O brasileiro arranca pela direita e mete uma bola tensa para Atsu, na pequena área. Atsu falha o remate e o perigo passa. Seguem-se 10 minutos onde o FC Porto revela crescentes dificuldades em perigar a Olhanense, até que, Vítor Pereira saca o seu trunfo do banco.
Vítor Pereira percebe que o FC Porto não tem capacidade de penetração na esquerda e que Jackson passa demasiado tempo a vir buscar jogo a meio campo. A reacção do treinador é imediata e é premiado por isso. Tira Atsu e coloca James em jogo. O flanco esquerdo não melhora substancialmente e fica entregue às investidas de Alex Sandro, mas o perigo incrementou na zona central com criatividade de James. Jackson passou a ser ponta-de-lança a tempo inteiro e os médios defensivos da Olhanense já pouco conseguiam fazer para travar o caudal ofensivo do FC Porto.
James entra em campo aos 36 minutos e até ao intervalo, o FC Porto alcança 2 oportunidades claras de golo e o empate. Dez minutos endiabrados pela da entrada de James em campo! Primeiro, Hulk arranca da direita ao seu estilo e a meter a bola a roçar a barra. Depois, é o rendilhado de passes entre James e Moutinho, com Moutinho a entrar na área e a ser servido por James. Com tudo para marcar, o relvado volta a atacar. Moutinho remata meio na bola, meio num torrão de relva e a bola vai frouxa para Ricardo. Finalmente, a dois minutos do intervalo a injustiça começa a ser limpa do marcador. Livre para Moutinho colocar na área. Ricardo mostra aquela que sempre foi a sua especialidade (não saber sair!) e James aproveita para marcar com uma chapelada monumental! Golo de bandeira!
Se o FC Porto muito melhorou com a entrada de James, o intervalo fez ainda melhor! O FC Porto entra para a segunda parte com a corda toda. Logo no primeiro minuto da segunda parte, a barra volta a salvar a Olhanense. Hulk cruza na direita e Jackson consegue um grande cabeceamento que Ricardo, a custo, desvia para a barra. Mas quem porfia (quase) sempre alcança! Três minutos depois, a reviravolta! Magistral abertura de James para Jackson a esventrar a defesa algarvia. Jackson, à matador, senta Ricardo e remata para a baliza deserta. O FC Porto continua com o pé no acelerador e aos 57 minutos Hulk arranca da direita remata para defesa apertada de Ricardo.
Após esta entrada demolidora, o FC Porto abranda o ritmo. A Olhanense aproveita para organizar as suas linhas e o jogo cai numa toada mais morna. Vítor Pereira volta a mexer bem. Refaz a largura da frente de ataque ao retirar Lucho e a colocar Varela em campo. Lucho estava cada vez mais distante do jogo e Varela tem melhor desempenho, mas a substituição devolve à equipa a sua estrutura habitual e a sua forma mais cómoda de jogar. Cinco minutos depois e numa jogada só possível com a “reactivação” do flanco esquerdo, o FC Porto chega ao 1-3. Alex Sandro faz “gato sapato” de Abdi e centra para área. Maurício, sem ninguém a quem bater, alivia direitinho para Hulk fuzilar Ricardo. Finalmente! Justiça no marcador!
Até que ao minuto 78 se levanta o último obstáculo. Defour abandona o terreno de jogo lesionado. Castro entra para o seu lugar e não consegue segurar as pontas. Por duas vezes deixa escapar Rui Duarte. Na primeira, o lance perde-se pela linha de fundo, mas, dois minutos depois, o passe de Rui Duarte encontra a desmarcação de Targino e a Olhanense reduz.
Inglório e imerecido. É verdade que após este golo o FC Porto sofreu. Sofreu porque tinha um meio campo defensivo com remendos sobre remendos. Mas soube fechar os caminhos da sua baliza e vencer este último obstáculo.
Foi uma grande vitória.
Daquelas que são servidas com momentos de inspiração e talento, mas também com muito suor e trabalho. Onde um campeão tem que vestir o fato-macaco e virar um resultado que injustamente foi alcançado pelo adversário. Onde um campeão teve que vencer o jogo truculento da defensiva contrária e tudo mais o que podia ser!
Daquelas que são servidas com momentos de inspiração e talento, mas também com muito suor e trabalho. Onde um campeão tem que vestir o fato-macaco e virar um resultado que injustamente foi alcançado pelo adversário. Onde um campeão teve que vencer o jogo truculento da defensiva contrária e tudo mais o que podia ser!
Até o relvado saiu derrotado!
Exagero? Não, esta vitória é profunda. Veja-se a reacção final de Sérgio Conceição que se diz o único que não saiu satisfeito. Pudera, ele sabe que em “condições normais”, um ponto estaria ganho. Mas o FC Porto venceu todos os obstáculos, mesmo os não normais. Sérgio Conceição não contava que um médio lhe estragasse os planos e descarregou no médi(c)o!
Análises individuais:
Helton – Sofre dois golos, mas não teve trabalho para mostrar serviço. No primeiro golo, é batido pela cortina formada pelo carrinho de Otamendi e pelo corpo de Yontcha. No segundo golo, não teve hipóteses. De resto, tranquilidade absoluta.
Danilo – Um jogo muito mau. Primeiro, está claramente fora de forma. Não consegue abrir a passada e ser demolidor nas suas subidas. Depois, mal se conseguia manter em pé. Quase não houve jogada que começasse ou acabasse sem ir ao chão. O lance de perigo de Abdi, na segunda parte, é exemplo disso. Escorrega no momento do corte e tenta atrapalhar rebolando pelo chão! Por fim, encheu-se de brio e acaba o jogo por cima com alguns cortes determinantes.
Alex Sandro – Não pode perder uma bola numa transição ofensiva sem ter Fernando em campo. Foi penalizado por um golo que se desenvolveu pelo seu flanco. Redimiu-se no lance do terceiro golo com uma investida de talento e classe. Seguro a defender, faltou-lhe melhor acompanhamento no seu flanco e ressentiu-se disso. Melhorou muito quando Hulk veio para o seu flanco.
Otamendi – Quando perceber que não vai ganhar todos os lances, sobretudo os mais críticos, de carrinho, aí sim, vai ser um grande central. Só tinha que “aguentar” o Abdi até os reforços chegarem (Moutinho e Defour). Só manter-se ali, em frente dele, a atrapalhar e a tapar o caminho. Só isso! Não ganhar a bola num corte espectacular. Arriscou e Abdi aproveitou esse risco. De resto, fez um excelente jogo.
Maicon – Jogo tranquilo com alguns cortes determinantes. No lance do primeiro golo da Olhanense parece traído pelo relvado, embora pudesse fazer melhor. Já há saudades de um livre à Maicon!
Defour – Ponto prévio: não é Fernando! Comparar uma performance de Fernando com a de Defour a 6 é maldade! Não tem nem a abrangência, nem a tenacidade, nem a autoconfiança do Fernando. Mas fez um jogo agradável. Essa é que é a verdade. Deu a cara pela equipa e a sua falta foi sentida quando saiu por lesão. Andou meio perdido no primeiro golo da Olhanense, mas não é um especialista do lugar. Grande passe para Jackson na primeira parte. É este Defour que falta aparecer!
Moutinho – Começou algo discreto, mas depois arranca para uma exibição tremenda. Muito trabalho naquele meio campo, pontuada por detalhes técnicos assombrosos. Faltou-lhe o golo. Aliás, é isso que lhe falta para ser um dos melhores do mundo. Tem que ser mais frio em frente à baliza. Grande jogo!
Lucho – Jogou ao seu nível nos primeiros 20 minutos do jogo. É por ele que passa o primeiro perigo do FC Porto. Mas depois, afunda no meio campo e afasta-se de Jackson. Foi importante no trabalho a meio campo e na sustentação do grande jogo de Moutinho e James. Acaba bem substituído por Vítor Pereira para recolocar a equipa a jogar no seu modelo de jogo.
Atsu – Passou ao lado do jogo. Precisa de assumir mais o jogo, mas ainda está a dar os primeiros passos. Não pode deprimir. O percurso é mesmo difícil! Ontem “perdeu”, amanhã ganhará!
Hulk – Não fez uma exibição de arromba, mas calou o azedume do público! Algumas arrancadas à Hulk, que só não deram em golo por milagre e um fuzilamento a Ricardo para calar as algaraviadas. É garante de perigo e de eminência de golo. Mesmo num relvado que em nada o ajudava.
Jackson – É craque, não há dúvida. Fartou-se de cheirar o golo e alcança um pleno de calma e instinto. Mostrou bom jogo aéreo, bom controlo de bola, capacidade de finta e remate, capacidade de jogar fora e dentro da área. Um ponta-de-lança completo e de talento.
James – Mudou o jogo e sai de campo como o melhor em campo. Derreteu a defensiva da Olhanense com uma capacidade de percepção do jogo que é ímpar no nosso campeonato. Tem uma capacidade de passe e de remate soberba. Junta, ainda, uma finta curta mortífera. Marca um golo de bandeira, de craque. Um chapéu sem deixar cair a bola! A assistência para Jackson é deliciosa. O homem do jogo.
Varela – Mais uma entrada sofrível em campo. A única vantagem que trouxe foi colocar a equipa no seu esquema habitual.
Castro – Muita disponibilidade e pouco futebol. Deixa escapar o Rui Duarte, por duas vezes, em dois minutos e o resultado foi o previsível. Não é um 6, mas tem que apresentar mais futebol para ser opção válida!
FICHA DE JOGO:
Olhanense- FC Porto, 2-3
1 de Setembro de 2012
Estádio do Algarve, no Porto
Assistência: 9.498 espectadores
Árbitro: João Ferreira (Setúbal)
Assistentes: Luís Ramos e Pais António
OLHANENSE: Ricardo; Luís Filipe, Vasco Fernandes, Maurício e Babanco; Fernando Alexandre e Jander; Invanildo, Rui Duarte e Abdi; Yontcha
Substituições: Yontcha por Targino (55m), Ivanildo por David Silva (67m)
Não utilizados: Bruno Veríssimo, Nuno Reis, Nuno Piloto, Rui Sampaio, Nuno Silva.
Treinador: Sérgio Conceição
FC PORTO: Helton; Danilo, Maicon, Otamendi e Alex Sandro; Lucho, Defour e João Moutinho; Hulk, Jackson Martinez e Atsu.
Substituições: Atsu por James Rodriguez (36m), Lucho por Varela (68m), Defour por Castro (79m).
Não utilizados: Fabiano, Kleber, Miguel Lopes e Mangala.
Treinador: Vítor Pereira
Ao intervalo: 1-1
Marcadores: Abdi (14m), James Rodriguez (43m), Jackson Martinez (49m), Hulk (73m), Targino (86m)
Cartões amarelos: Alex Sandro (15m) Fernando Alexandre (20m), Abdi (27m)
Palavras dos Protagonistas:
"É nas dificuldades que se vêem os campeões"
Vítor Pereira
“Gostei de praticamente todo o jogo, à excepção dos dois minutos finais. Com o segundo golo, os jogadores do Olhanense acreditaram, cresceram e nós ficamos intranquilos e sentimos dificuldades. Não conseguimos ter a bola, segurar, agir bem, circular, e passamos por algumas dificuldades nos momentos finais. Mas é nas dificuldades que se vêem os campeões e hoje mostramos, mais uma vez, que mesmo a perder, conseguimos dar a volta e vencer.”
“Começámos a perder, mas virámos para 3-1 com muita qualidade e com união, num campo extremamente difícil. Lembro que no ano passado perdemos dois pontos com este Olhanense. Estou satisfeito com o resultado desta noite e, como disse, com a maior parte do tempo de jogo, à excepção dos minutos finais, que temos de rever, reflectir e corrigir.”
“A entrada do James? A partir do momento em que o Olhanense está em vantagem não existe espaço ou profundidade e é preciso um jogador diferente. O Atsu precisa e gosta de espaço para explorar o seu jogo rápido, de velocidade. James é um jogador mais de toque e decisão. Entre linhas, faz a diferença. Entrou muito bem no jogo e trouxe-nos essa qualidade em termos de posse de bola, que, juntamente com os colegas, permitiu virar o resultado.”
“Estamos muito satisfeitos por ter cá Hulk e Moutinho. Se a equipa não estivesse totalmente focada no jogo, de corpo e alma, não conseguia fazer isto, dar a volta ao resultado e garantir a vitória naqueles minutos finais. Fizemos o nosso trajecto e ganhámos com justiça, mas ainda é muito cedo para o 1.º lugar significar alguma coisa.”
Hulk
“Estamos felizes por este resultado positivo. Sabíamos que íamos ter dificuldades aqui, até pelo que aconteceu no ano passado. Tínhamos de entrar concentrados. Entramos a perder, mas a equipa não desistiu e conseguiu dar a volta. Sofremos um pouco no final, mas faz parte. O mister está de fora e vê o jogo de forma diferente; ao intervalo explicou-nos o que estavamos a fazer de errado, nós escutamos os conselhos e conseguimos virar o jogo. Todos os jogos são importantes e para sermos campeões não podemos perder pontos em jogos difíceis como este.”
“Como todos sabem, tenho mais quatro anos de contrato com o FC Porto. Estou bem, sou bicampeão nacional e espero ser tricampeão. Se ficasse desiludido por não ter saído, não tinha vindo para o jogo... Estou feliz, estou num grande clube da Europa e quero ganhar mais títulos com o FC Porto.”
Por: Breogán
4 comentários:
Vitor Pereira parece que esta a começar mostrar trabalho! Não sei...
Sem muito a dizer, a equipa toda esta de parabéns, não importa como ou por quanto devemos ganhar, O QUE IMPORTA E' AMEALHAR TODOS OS PONTOS E NO FINAL SERMOS TRICAMPEOES!
MUITO BOA A CRITICA E A APRECIAÇAO AOS JOGADORES PARABENS VOU SEGUIR COM MAIS ATENÇAO
Comentário com qualidade e equilibrado.
Eu não achei que Atsu estivesse mal. O transporte de bola não lhe chegou de forma eficiente, nos primeiros 30m tanto MOutinho como Lucho tiveram algumas dificuldade no modo e na forma de alimentar o ataque.
A prova é que com James em jogo o volume atacante e o futebol de posse veio ao de cima. Jackson deixa de vir atras como foi explicado.
Foi nesse limbo que Atsu sentiu dificuldade. Com James em campo teríamos por certo outro Atsu.
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