Há dias, enquanto lia uma
notícia sobre a criação de uma escola de guarda-redes inserida no projecto
Dragon Force, dei por mim a pensar qual seria, neste momento, a importância da
Dragon Force na realidade formativa do nosso Clube, ainda mais agora que a sua
presença se limita cada vez menos ao Grande Porto.
Para começo de análise, convém
referir que o projecto Dragon Force iniciou-se em Setembro de 2008 com a
primeira Escola a abrir portas no Vitalis Park. Neste momento, e com a abertura
de 4 novas Escolas em Vila Pouca de Aguiar, Leça, Régua e no Colégio do Rosário
(Porto), são, ao todo, 14 escolas, distribuídas um pouco por todo o país.
Quem acompanha com relativa proximidade os escalões de formação rapidamente percebe que há alguns aspectos que saltam à vista no trabalho desenvolvido nas escolas Dragon Force. Em primeiro lugar, nota-se uma maneira de jogar transversal a todas as escolas e todos os escalões. Por vezes mecanizadas em demasia, as equipas DF fazem da posse de bola a sua prioridade, procurando criar à vontade entre o atleta e a bola. Uma forma de jogar similar aos escalões de formação do nosso Clube, embora limitada pela menor qualidade da generalidade dos seus executantes.
Quem vê de fora, como eu, fica
com a clara sensação que o trabalho nas nossas Escolas é bem feito, mas há uma
questão que assume especial importância:
A Dragon Force é, efectivamente, uma
fonte de talento para os nossos escalões de competição?
Embora não havendo um
registo 100% fidedigno, os números que vamos tendo conhecimento ou que vamos vendo
publicado em blogs e sites ligados a estas escolas parecem indicar que sim. Por
exemplo, para a época 2011/2012, a DF Braga colocou nos escalões de competição
do FC Porto 5 atletas. Números excelentes para uma zona onde os outros dois
grandes costumam “pescar” com relativa frequência e uma zona fértil em talento.
Mas será suficiente?
Mas será suficiente?
Procurando analisar mais a
fundo, percebemos desde logo que há limitações no que diz respeito à detecção
de talento nas zonas onde estão situadas as nossas Escolas. A mais clara
prende-se com o facto de cada Escola não poder fazer a sua própria prospecção e
não poder captar atletas de outros clubes para os seus quadros, estando
limitada aos atletas que, por sua própria iniciativa, passam a integrar a Escola.
Ora, se na zona do Grande Porto isto faz sentido, evitando que o Clube-Mãe e as
várias Escolas DF sejam concorrentes entre si na prospecção, em outras zonas
fora deste centro parece uma oportunidade perdida para sermos uma força
dominadora.
Parto do princípio que tal
proibição aconteça para que se mantenha o espírito de uma verdadeira Escola de
Futebol, não voltada unicamente para a competição e dando igual oportunidade a
todos de poderem evoluir com o intuito de poderem chegar às equipas de competição.
Tal espírito seria subvertido se as equipas de competição dessas Escolas fossem
constituídas em grande parte por atletas que chegam directamente de outros
clubes. Mas cortar por completo a possibilidade de ir buscar mais talento
parece-me demasiado radical, e não seria descabido que houvesse, por exemplo,
um número (reduzido) de vagas nessas equipas para atletas vindos de outros
clubes.
Tal limitação leva-nos sempre
a pensar até que ponto conseguimos ser competitivos tendo como única fonte de
recrutamento a Escola em si. Daí ser importante fazer um levantamento dos
resultados obtidos pelas Escolas na passada época (2011/2012) com as suas
equipas de competição:
ESCOLA/ESCALÃO
|
SUB-15
|
SUB-13
|
SUB-12
|
SUB-11
|
SUB-10
|
BRAGA
|
NÃO TEM
|
1º
|
5º
|
3º
|
NÃO TEM
|
CUSTÓIAS
|
NÃO TEM
|
4º
|
NÃO TEM
|
9º
|
NÃO TEM
|
ERMESINDE
|
2º
|
2º
|
NÃO TEM
|
6º
|
NÃO TEM
|
GRIJÓ
|
NÃO TEM
|
5º
|
NÃO TEM
|
2º
|
NÃO TEM
|
VALADARES
|
NÃO TEM
|
7º
|
NÃO TEM
|
4º
|
NÃO TEM
|
VISEU
|
NÃO TEM
|
3º
|
3º
|
1º
|
NÃO TEM
|
VITALIS PARK
|
NÃO TEM
|
1º
|
1º
|
2º
|
6º
|
Há 3 Escolas que devem servir
como referência maior, por motivos óbvios: Braga, Viseu e Vitalis Park. Isto
porque as restantes competem na zona do Clube-Mãe, com uma base de recrutamento
menor, onde só a DF Vitalis Park consegue ter matéria para ser realmente
competitiva. Em relação a Braga, é importante destacar que há apenas campeões
de série, não havendo Fase Final em nenhum destes escalões. Referir também que
não há campeonato específico de Sub-12, pelo que ambas as equipas de Infantis
competiram no mesmo campeonato, apenas em séries diferentes.
Os resultados mostram-nos
então que conseguimos ser competitivos acima de tudo nas Escolas fora do Grande
Porto, onde é efectivamente mais importante sê-lo. Na próxima época, é provável
que já tenhamos equipas de competição nas Escolas de Vila Pouca de Aguiar
(através do SC Vila Pouca de Aguiar) e Régua (SC Régua), que nos permitirá
avaliar ainda melhor a competitividade das nossas Escolas.
Tendo isto em conta, podemos
então chegar à conclusão que, apostando-se também na prospecção para tornar
ainda mais fortes as nossas equipas, seríamos capazes de “dominar” a formação
nas zonas onde estão inseridas as nossas Escolas, o que levaria a que mais
atletas procurassem a nossa Escola, aumentando a base de recrutamento e, por
consequência, a qualidade das equipas (isto limitando-nos apenas à questão
desportiva e esquecendo tudo o que são questões financeiras e de promoção de
imagem, que seriam igualmente valorizadas).
Ainda assim, parece ser
claramente positivo o trabalho desenvolvido pelas escolas Dragon Force,
esperando que este trabalho se traduza em números no que diz respeito a
jogadores colocados nos quadros competitivos do Clube, já que deve ser esse um
dos principais propósitos destas Escolas, se não o principal.
5 comentários:
Brilhante crónica!
Um verdadeiro manual que ajuda a perceber a formação desde as bases!
Para quem se interessa pela formação no geral e do nosso clube em particular deve ler este artigo com muita atenção, já li e reli e tirei imenso proveito para perceber melhor como funciona e em que se baseia a formação de base..
É pertinente, sim.
Os melhores, claro, são sempre reportados ao FC Porto, imagino eu.
Ainda assim, haverá alguns jovens jogadores que poderiam passar pelo crivo de um escola DF antes de saltarem para o FC Porto. Sobretudo, nas escolas DF que distam do Porto. Permitiram uma formação à FC Porto sem arrancar os miúdos dos seus ambientes familiares.
Excelente analise . E construtiva !
Breogan como sabes que os "melhores" são sempre reportados ao FCP?
Os melhores "DEVEM" ser reportados ao FC Porto.
Com a concorrência que temos neste momento no país, e com a caça ao talento precoce mesmo por parte de clubes estrangeiros, entre eles por exemplo: o Milan e o Ajax,é de elementar importância o crivo e importância do DF.
Neste caso, o que eu acho é que a este nível o futebol devia voltar para o povo e aqui o Dragon Force peca em meu ver numa questão (já sei que a vida para os clubes não está fácil e é preciso pagar a formadores)que é o facto do futebol industrializado, ter que se pagar para os miúdos jogarem, ainda para mais numa altura em que o futebol de rua desapareceu,não sendo a primeira vez que ouço pais de miúdos a dizerem que não "metem" os filhos nas escolas DF por serem mto caras..
O Porto tem o nome, tem o curriculum, tem o atractivo das vitórias, hoje em dia todos os jovens querem jogar com a camisola de quem ganha, e quem ganha mais é o FC Porto, esse carisma da equipa devia ser materializado, se os melhores são reportados eu não sei, gostava que sim, se não são, exemplo de percas como o Nelson Oliveira entre outros jogadores oriundos de regiões do norte não deveriam escapar.
peço desculpa por me ter alastrado e fugido ao tema base que eram as escolas Dragon Force.
Não sei. Daí o "imagino eu"!
Mas é o que faz lógica. Se os melhores não são reportados à prospecção do FC Porto, então seria cómico!
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