É incontornável. Já muito tem sido escrito e lido, dito e ouvido, discutido e dissecado e as respostas só o tempo as dará. É o tema que marca a nossa actualidade e ao qual não se pode fugir. É sobretudo o tema que eu não gostava de apresentar.
O miúdo do Vilanovense que um dia sonhou jogar nas Antas foi determinante nos últimos 4 anos. Marcou uma era e o futebol do Porto por motivos incrivelmente conhecidos e aos quais eu não vou voltar. Até porque a hora é de olhar em frente.
Facto - A solução tem que ser encontrada no e pelo plantel. As críticas ao timing da venda são legítimas, às quais eu me junto, mas a explicação é simples: NUNCA foi intenção dos responsáveis pelo futebol do FC Porto uma ida ao mercado para colmatar uma incrível saída. Por isso esticaram a corda até onde foi possível, como percebemos hoje pelo filme já visto das declarações do Presidente uma semana antes da saída. Paralelismos com a situação vivida à um ano atrás existem, atenuantes e condições diferentes também. O resultado esperamos todos que seja diferente.
De quais atenuantes e condições se tratam: Desde já, a exposição da posição. Ao Kléber caiu-lhe nos ombros a responsabilidade de substituir a única peça que desfalcou a equipa que obteve sucesso total. E que peça. Para além disso, o específico posto 9 expõe de outra forma o atleta. A seguir ao guarda-redes, é a posição mais solitária no jogo. Os golos têm que surgir, os resultados têm que aparecer, a cobrança é maior.
Depois, a oferta. Para o incrível lugar no onze há, para efeitos imediatos, duas caras à espreita. Varela, que equilibra mais do que desequilibra. E o equilíbrio é não só necessário mas fundamental. Atsu, que procura afirmação ao mais alto nível. Tanto um como outro, que oferecem soluções completamente díspares, não dão garantias. Imaginar os últimos dois anos com Varela a titular na extrema-direita é um processo demasiado penoso e Atsu, protagonista duma excelente pré-época individual, precisa no meu entender de tempo e espaço para crescer. Principalmente ao nível TOP. As coisas quando doem são diferentes.
Iturbe e Kelvin, para já, correm por fora.
Mas a solução estará, sem dúvida, na EQUIPA. A equipa terá que encontrar novas referências. O treinador terá que trabalhar novas dinâmicas e rotinas. A máquina terá que estar oleada. Se a engrenagem emperrar como no ano que passou, sem a incrível potência que forçava o mecanismo a continuar o processo para o qual está destinado, vamos sofrer.
Moutinho vai ter que se soltar, pôr a equipa a mexer.
Jackson vai ter que se adaptar, vai ter que corresponder, vai ter que FACTURAR.
Lucho vai ter que comandar. Vai ter que liderar.
James vai ter que crescer, vai ter que assumir, vai ter que desequilibrar. Ao seu estilo. Vai ter que ser regular.
James, sobretudo. A chave da incrível equação poderá passar fundamentalmente por ele. Encontrar, duma vez, a melhor maneira de o enquadrar no jogo. E essa, para mim, foi a que vimos com o Olhanense. Não creio que a melhor posição para ele seja a 10 com dois extremos, para além de como se sabe essa ser uma posição inexistente no 4-3-3 que tanto sucesso nos permitiu alcançar. Ele tem que ter espaço, amplitude e liberdade. Também para poder ocupar espaço nas alas. A melhor posição para ele não será certamente a de extremo no seu clássico papel. Acho que a solução poderá passar pelo que vimos no último jogo, James que no papel foi extremo esquerdo mas na realidade foi simplesmente o 4º médio dum esquema que supostamente só contaria com 3, até à substituição de Lucho. Não foi só o 4º médio como o principal organizador do jogo ofensivo do Porto. Desde baixar para receber da 1ª linha e construir a partir de trás, a tabelar e a oferecer sempre uma nova linha de passe no meio-campo, a desequilibrar no último terço, este tem que ser o papel de James no novo Porto de 12/13. LIVRE.
Um incrível problema com que Vítor Pereira terá que lidar mais uma vez com a época já a decorrer, e terá que o resolver com a profundidade que os dois promissores laterais lhe oferecem, com o equilíbrio do Fernando, com a inteligência e a capacidade de passe e construção do seu meio-campo, com o génio de James e com o que esperamos virem a ser os golos de Jackson.
E terá que o começar a resolver RÁPIDO. O próximo jogo é com o adversário menos forte do grupo, num muito adverso e complicado ambiente e contra o qual seria muito importante fazer 6 pontos. A concorrência com PSG e Dinamo vai ser feroz.
E com isto volto ao título. As minhas foram castradas na passada segunda-feira. O meu incrível sonho de um Porto Europeu, com capacidade de lutar por umas meias finais, esfumou-se. A expectativa de bater o pé a um tubarão já lá vai. O incrível potencial que eu vi em Olhão (para mim o jogo mais promissor até agora) vai custar a engolir.
- Acredito que continuamos a ter uma equipa mais do que capaz de nos trazer o TRI. Que é o fundamental.
- Acredito que continuamos a ter uma equipa competitiva que vai lutar pelos oitavos da Champions.
- Acredito que a nossa época será positiva.
As dúvidas são muitas, mas ficam duas certezas:
1) O FC Porto está mais fraco.
2) Sou um privilegiado. Porque tive no meu Clube um jogador fantástico com uma história fantástica. Alguém de humildes origens, habituado ao trabalho desde cedo, que aos 15 anos quis ir às Antas ver o Porto e teve o atrevimento de sonhar que um dia ia jogar aqui. Alguém que foi gozado, atacado, desvalorizado até pelos que torciam por ele. Alguém que entrou numa terça-feira à noite em Craven Cottage pelo Brasil, e quarta-feira estava em Leiria a vestir de azul e branco. Alguém a quem as coisas nem sempre saíram bem, mas que deu sempre TUDO fosse com o Limianos ou contra o Barça. Até ao último minuto. Alguém que rebentou com tudo o que fosse vermelho que lhe aparecia pela frente. Alguém que SEMPRE fez questão de demonstrar o ORGULHO que sentia por vestir a minha camisola.
Alguém que não tinha "razão nenhuma para sair".
Eu vivi a era de (mais) uma Lenda do meu Clube.
Daqui a 30 anos, vou dizer com orgulho que vivi 'in loco' os tempos do INCRÍVEL HULK.
Por: Tribunal
3 comentários:
Fantástica análise que enuncia o problema e enumera as possiveis soluções.
Estou de acordo que a substituição do Hulk passa em primeiro lugar pela equipa e em 2.º por James.
Ao ler a crónica percebo que o autor está descrente nas possibilidades europeias do clube.
As perguntas que se impõem ao autor são:
Fez bem a SAD ao vender Hulk?
O "esticar da corda" até ao limite não terá sido uma forma de tentar ir buscar o dinheiro necessário por outras vias?
Não sei.
Se o Clube estava "perto do abismo", se havia mesmo necessidade imediata de liquidez, se a manutenção do Hulk representasse um passo maior que a perna e daí resultassem prejuízos graves acho que fez bem.
Se era financeiramente possível aguentá-lo mais um ano, se daí não resultasse nada de grave ao nível de tesouraria, tendo em conta a vontade de um jogador desta dimensão em permanecer cá acho que fez mal.
Não me acredito que uma possível desvalorização de Hulk pela idade fosse assim tão significativa. Poderia ser até, num cenário optimista de uma excelente campanha europeia, uma valorização. Indirectamente poderia também ajudar valorizar outros activos com um possível brilharete na Europa para o qual Hulk contribuiria de sobremaneira.
Assim perde-se um dos melhores plantéis que tenho memória de ver no Porto e a hipótese de podermos sonhar com algo mais.
O mercado já não é o que era, a crise alastrou-se tb ao futebol, tirando o PSG e os russos não se viu grandes investimento por essa europa fora.
O Hulk ou ia agora ou depois complicava na perspectiva de compensar o investimento, nunca mais ia valer o que valeu agora.
Há talento a ser lançado e depois há a situação económica do clube, não nos podemos esquecer que estamos em Portugal, mergulhados numa crise profunda onde a banca não está melhor e fechou a torneira.
Fossemos nós um clube rico e com esta capacidade de potenciar talento e ...até dói sonhar!!
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