domingo, 5 de maio de 2013

Nacional 1 - 3 FC Porto (Crónica de Breogán)


Imaginação.



Imagine um FC Porto fluido no ataque. Imagine um FC Porto com acutilância nas alas, mesmo só com um extremo na equipa inicial. Imagine um FC Porto com criatividade pelo centro do terreno, rodando a bola de flanco a flanco e em velocidade. Imagine um FC Porto que não faz de Jackson uma ilha isolada, mas mais um participante no turbilhão ofensivo. Imagine um FC Porto plenamente capaz de pressionar alto e não só de trocar a bola à entrada do meio campo adversário. Imagine um FC Porto com potência muscular pelos flancos, com Danilo e Mangala quais locomotivas “Big Boy” a todo o vapor, esmagando quem ataca e massacrando quem defende. Imagine um FC Porto impositivo, autoritário, senhor do seu nariz e plenamente confiante. Imagine tranquilidade a defender e veneno no atacar.



Imagine, agora, aquele Varela. Aquele que há muito não se via. Imagine um James viçoso como uma folha de alface acaba de nascer. Imagine um Lucho rejuvenescido com a gestão que tem sido feita. Imagine os laterais do FC Porto libertos com a presença de um flanqueador na equipa, com destaque para Danilo, que até parece outro. Imagine um Otamendi senhorial sobre o pouco que escapou ao filtro de Fernando.

Imagine, por fim, um Nacional a tentar a táctica do autocarro. Imagine o Manuel Machado a tentar uma dupla de trincos com Moreno e Ghazal. Imagine à frente deste duo, um 8 como o Jota e não um criativo e, por fim, três ciclistas na frente de ataque para espreitar as bolas que sobravam. Imagine tal estranheza táctica por parte do Nacional, que não se habituou a ser autocarro na Choupana.

Foram 45 minutos assim e aos 22 minutos já íamos em 3-0. Podiam ter sido mais no final desses 45 minutos, não fosse um penalti contra a corrente de jogo e muita sorte para o Nacional. Depois, foi só gerir, guardar para o que aí vem e fechar a loja.

Quanto ao jogo, Vítor Pereira concede a titularidade a Varela, em detrimento de Atsu. A ausência de Alex Sandro é resolvida com a passagem de Mangala para lateral e a entrada de Abdoulaye para central.

O jogo começa com o FC Porto a todo o vapor, esmagando a resistência do Nacional e mostrando uma rara capacidade criativa no centro do terreno e nos flancos (sobretudo por Varela). Os primeiros 20 minutos do FC Porto são uma avalancha pelos Alpes abaixo. O primeiro lance de perigo, aos 8 minutos, é uma amostra da nova vitalidade de Varela. Recuperação de bola de Varela, ataque pelo flanco esquerdo e centro para área, com Jackson a cabecear ligeiramente ao lado. Foi a ameaça para o golo que já estava aí a aparecer.






Aos 10 minutos, o primeiro golo da noite. Onde nasceu? No flanco, claro. Varela reconquista a bola, após lançamento lateral do Nacional, finta o seu adversário e a acredita que chega à bola antes que esta saísse pela linha de fundo. Depois, é a vez de Jackson fazer o mesmo. Antecipa-se ao seu marcador, fica com a sobra de Varela e volta a mostrar que sabe inventar espaço na linha de fundo. Arranca para a baliza e serve James, que só tinha que encostar para golo. Saúde no flanco é golo na rede!




O FC Porto mantinha a pressão. Aos 13 minutos, passe longo para Jackson, que ganha a posição, mas vê Mexer a roubar-lhe a bola no último momento. Aos 15 minutos, canto de Moutinho e Mangala cabeceia à barra. Era um FC Porto “prego a fundo”.

Aos 20 minutos e o FC Porto já alarga distâncias no marcador com um esquema táctico saído do laboratório. Cobra Moutinho, a bola roda para James, que temporiza para permitir a entrada de Moutinho pelo flanco. Moutinho ataca a área e é servido por James com precisão. Ganha a posição na área, Moutinho serve de cabeça para a zona frontal da baliza, onde surge Falcao, perdão!, onde surge Mangala a marcar de calcanhar. Que golo monstruoso do central! Fora de jogo? É possível, mas é milimétrico.

Mais dois minutos e mais um golo. Mais uma vez, Varela ataca a área do Nacional, mas desta vez, é rasteirado por Miguel Rodrigues. Penalti claro e evidente. Avança Lucho para a conversão e, sem hesitações ou temores, converte o castigo máximo.

Mais quatro minutos de jogo e novo penalti, desta vez, para o Nacional. Jota remata à entrada da área e Mangala desvia com o braço. Candeias converte o penalti, mas Helton ainda cheira a defesa.

Até ao final da primeira parte, manteve-se total domínio do FC Porto, que criou mais duas grandes oportunidades para voltar a dilatar a distância no marcador. Aos 34 minutos, Jackson fica a milímetros de desviar para golo um cruzamento da direita.

Por fim, aos 43 minutos, momento de grande inspiração de Varela. A defesa do Nacional alivia, mas Varela ganha a sobra, ainda na área. Recebe no peito, amortece na coxa e, de primeira e sem deixar cair a bola, remata cruzado e em rotação para estrondosa defesa de Gottardi.

O FC Porto vai para intervalo com uma vantagem muito curta, em função do seu caudal ofensivo.

A segunda parte traz mais gestão ao jogo. O FC Porto controla o jogo, mas não deixa de espreitar o ataque.

A abrir a segunda parte, aos 48 minutos, surge um dos momentos decisivos do jogo. Keita ganha com facilidade a Abdoulaye, que escorrega, e avança para a baliza do FC Porto. Otamendi vem detrás, recupera terreno e trava a progressão do ponta-de-lança do Nacional.

Este seria o único lance de golo do Nacional na segunda parte, ao qual se pode acrescentar um trabalho individual com remate ao lado de Diogo Barcellos, ao minuto 70. De resto, só houve FC Porto embora num ritmo de gestão e bem diferente do ritmo imposto na primeira parte.

Na segunda parte, o FC Porto soma quatro oportunidades. Aos 68 minutos, e após um canto, Abdoulaye cabeceia com perigo, mas ligeiramente ao lado.

Aos 73 minutos, após passe de Lucho, grande arrancada de Danilo pelo flanco direito. O lateral entra na área e tenta servir Jackson. Miguel Rodrigues esforça-se por evitar que a bola chegue a Jackson e acaba por desviar a bola para o poste.

Aos 81 minutos, Danilo volta a subir à área do Nacional e remata. O remate é forte, mas sai torto. Por fim, ao minuto 83, grande abertura de Jackson para Lucho, mas Gottardi sai da baliza e mata o lance no último momento.

A gestão permitiu à equipa recuperar forças para a próxima batalha, onde a vitória é imperiosa e incondicional.

Imaginem que o FC Porto fizesse uma época mais próximo dos primeiros 45 minutos que dos segundos. Imaginem esta posse não distante da baliza, mas verticalmente virada a esta. Imaginem um Varela, um James e um Lucho com esta rotação durante a época. Imaginem onde estaríamos e o que já poderíamos ter ganho. Já imaginaram?






Ainda assim, confio que ainda vamos ter uma nova oportunidade. Seria justiça divina. E mais afirmo, terei todo o prazer de dedicar este título às esganiçadas (e esganiçados) que, no final do jogo de ontem, já não se conseguiam disfarçar com a camisola e cachecol do Nacional da Madeira. Parecem ratazanas a saltar dos bueiros em dias de cheia. Guincham que se fartam, mas fedem a esgoto.




Análises Individuais:

Helton – Foi ontem um espectador atento ao desenrolar dos acontecimentos. Foi por pouco que não defende o penalti do Candeias.

Danilo – Voltou a levantar a ponta do véu. Foi um jogo muito sólido a defender e acutilante a atacar. O seu jogo interior é desconcertante para quem o tem que defender, sobretudo agora, que está com um novo fôlego físico. Para o ano, quando misturar melhor o jogo interior com o exterior, vai provar o lateral de excelência que pode vir a ser.

Mangala – Voltou a mostrar à vontade na posição de lateral esquerdo. Podem ser os meus olhos, mas noto alegria de Mangala na posição. Noto que gosta dos pequenos momentos de “loucura” em que avança pelo flanco abaixo para ir matar saudades do seu tempo de avançado. Algo que está proibido de fazer enquanto central. Muito poder muscular naquele flanco esquerdo, tanto que Mateus soçobrou. Marca um golo à Falcao (só faltou a girafa de joelhos!) e nem o penalti lhe tira brilho.

Abdoulaye – Foi o elo mais fraco da defesa. Deu-se mal com a mobilidade de Rondón e com a força de Keita. Valeu-lhe Otamendi e o pouco acerto do adversário.

Otamendi – Dobrou Abdoulaye a preceito e sai de campo com um corte que vale um golo. Salvar aquele possível 2-3 logo a abrir a segunda parte foi determinante. Comandou bem a defesa e foi o pronto-socorro de Abdoulaye sempre que preciso.

FernandoMais um jogo de elevado nível, com qualidade no processo defensivo e ofensivo. Varreu Jota da zona de criação e só quando saiu de campo é que se viu Diego Barcellos. Empurrou a equipa para a frente, sobretudo na primeira parte, quando abafou toda a saída de bola do Nacional. Sai por gestão, não fosse Cosme se lembrar da próxima jornada. Estava 3-1 e a 20 minutos do fim, foi uma jogada inteligente por parte de Vítor Pereira.

Moutinho – Jogo em alta rotação e em especial destaque na primeira parte. Deu muita fluidez ao jogo ofensivo com passes curtos mas precisos. Sempre ao primeiro toque e com a suavidade dos grandes jogadores. NA segunda parte, soube vestir o fato-macaco e ajudar a controlar as operações a meio campo.

Lucho – Alta rotação na primeira parte, puxando James para o centro e dando auxílio às subidas de Danilo. Trabalhou imenso na pressão à dupla de trincos do Nacional e nunca deixou de ajudar Jackson lá na frente. Começou a decrescer na segunda parte e acaba substituído no seu programa de gestão. É preciso um grande Lucho para o próximo jogo.

James Fresquinho! Fresquinho! Foi um James mais disponível, com maior amplitude e muito mais mexido. Jogou a maior parte do tempo onde gosta e com a batuta só fez destroço na defensiva do Nacional. Precisa de um treinador que lhe ensine a defender mais e melhor. Como Deco aprendeu com Mourinho. No plano ofensivo, tendo pernas e um Jackson para dialogar, é desconcertante.

VarelaQue falta nos fez. Que falta nos faz. Onde andou Varela de ano e meio para cá? Este Varela que é o melhor em campo e que alimenta o ataque do FC Porto. Este Varela que se agarra à bola e que não foge dela. Este Varela que joga para a frente e não para o lado. Este Varela que vira o defesa e que não se deixa virar por ele. Este Varela que vai atrás da bola mesmo que ameace sair pela linha de fundo e não estático a vê-la ir. Onde andou? Está provado que quando quer, é o jogador que se afasta anos-luz do patético. Porque não quis sempre?

Jackson – Faltou-lhe uma pontinha de inspiração para sair da Choupana com um golo. De resto, foi uma alegria vê-lo na primeira parte. Finalmente, a equipa tão perto de si. Sentiu-se como peixe na água e fez a cabeça em água aos centrais contrários. Manteve o nível na segunda parte, só faltando aquele detalhe: o golo.


Castro – Voltou a entrar forte no jogo e a mostrar que, em definitivo, já não é só o operário de macacão e de farrapo seboso de desperdícios têxteis no bolso de trás. Joga mais fino, mais claro e mais calmo.

Defour Entrou bem e manteve a fluidez da equipa.

Izmaylov – Cinco minutos em campo e mais que a tempo para ser o pior em campo. Não fez nada e ainda leva um amarelo escusado para ficar de pantufas no próximo jogo. De facto, a SAD tem muita reflexão a fazer sobre o que fez neste mercado de Janeiro. Cada tiro, cada melro.




FICHA DE JOGO

Nacional-FC Porto, 1-3
Liga portuguesa, 28.ª jornada
4 de Maio de 2013
Estádio da Madeira, no Funchal

Árbitro: Cosme Machado (Braga)
Assistentes: Alfredo Braga e Tomás Santos
Quarto árbitro: Pedro Campos

NACIONAL: Gottardi; Nuno Campos, Miguel Rodrigues, Mexer e Marçal; Aly Ghazal, Moreno (cap.) e Jota; Candeias, Rondón e Mateus
Substituições: Moreno por Claudemir (intervalo), Mateus por Keita (intervalo) e Nuno Campos por Diego Barcellos (62m)
Não utilizados: Vladan, João Aurélio, Edgar Costa e Diogo
Treinador: Manuel Machado

FC PORTO: Helton; Danilo, Abdoulaye, Otamendi e Mangala; Fernando, João Moutinho e Lucho (cap.); James, Jackson Martínez e Varela
Substituições: Fernando por Castro (69m), Varela por Defour (78m) e Lucho por Izmaylov (85m)
Não utilizados: Fabiano, Maicon, Liedson e Castro
Treinador: Vítor Pereira

Ao intervalo: 1-3
Marcadores: James (10m), Mangala (19m), Lucho (pen., 22m) e Candeias (pen., 27m)
Cartões amarelos: Mangala (25m), Candeias (29m), Fernando (51m), Helton (70m), Keita (89m) e Izmaylov (90m+1)


Análise dos Intervenientes:


Vítor Pereira

"3-1 é muito curto"

Vítor Pereira elogiou a primeira parte da equipa, a vitória, mas acha que o 3-1 foi muito curto para o que a equipa mostrou na Choupana. Agora, o objectivo é vencer os dois jogos que faltam e fazer as contas no fim. James concorda e diz que o FC Porto é um grande clube e que vai "lutar até ao último jogo".

"Jogo de grande qualidade, com primeira parte em que criamos variadíssimas oportunidades de golo. Fizemos três golos, mas o resultado ao intervalo não espelha o que se passou, 3-1 é muito curto. Na segunda parte podáimos ter feito mais dois ou três golos, não foi possível, mas controlamos o jogo".

"Temos de fazer o nosso trabalho e fizemo-lo bem. Jogámos o próximo jogo em casa, vamos abordá-lo para ganhar, depois o último também e faremos as contas no fim".

"Todas as vitórias são importantes para continuarmos na luta pelo título".

James Rodríguez

"Ganhamos, penso que foi bom. Há que ganhar todos os jogos para continuarmos na luta".

"Fizemos o nosso trabalho e vamos esperar por segunda-feira para ver o que acontece com eles. Somos um grande clube e vamos lutar até ao último jogo".






Por: Breogán



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