domingo, 12 de maio de 2013

FC Porto 2 - 1 Mouros: Virada de Sonho!


Virada de sonho!

Esta crónica demorou a sair. E demorou porque foi um jogo que não vi, mas que vivi.



Com o escoar dos minutos e a persistência do empate, é complicado mantermo-nos optimistas. É, então, que começamos a procurar fazer uma construção mental que nos dê conforto. Um enganar a nós próprios, um sedativo para a nossa decepção. Como pensar que, ao menos, não fazem a festa no Dragão e que tudo fica adiado para a última jornada. Quando, na verdade, só a vitória nos interessa e tudo o que não seja a vitória são só diferentes gradações de mau. Até que chega o minuto 90 e tudo ainda está igual. Há um certo estado depressivo que toma conta de nós. É inevitável. Mais quatro minutos. Sim, já vi jogos serem ganhos até em menos tempo, mas será este? Há sempre aquela esperança inocente no meio da descrença. Até que: Kelvin e um remate de assombro.



Tal é a velocidade em que se passa de um estado abúlico à exaltação, tal é descarga maciça e antagónica de neurotransmissores de um milésimo de segundo para o outro, que o tempo parece que dilata e que somos suspensos nele. A ressaca é de tal forma poderosa que deixa-nos na memória um traço enevoado de toda a experiência. Confesso que é o que se passa comigo, tal a emoção de um momento que é e será eternamente histórico nas nossas vidas e na memória colectiva do FC Porto.

Quanto ao jogo, ganhamos! GANHAMOS!!! GANHAMOS!!! GANHAMOS!!!  Se jogamos melhor, se poderíamos ter jogado melhor, se isto ou aquilo…não interessa. GANHAMOS!!!

Procurando buscar alguma racionalidade, foi um jogo disputado com muita tenacidade de parte a parte. Não foi um bom jogo, nem o poderia ser. Desde logo, porque Jorge Jesus, tantas vezes acusado de meter tudo à frente, desta vez, mete tudo atrás. O que eu vi foi uma Olhanense em campo. Com jogadores de maior qualidade e com muita mais vontade de correr atrás de nós, mas a Olhanense. Para trás, mais atrás e sempre atrás. Melgarejo é substituído por um lateral cuja missão era não passar o meio campo, os extremos eram os primeiros defesas e o meio campo meteu-se todo atrás, sobretudo com a saída de Gaitán. É que nem o contra-ataque era uma opção. Nada.

Pelo lado do FC Porto, restava só o ataque. E foi isso sempre que a equipa tentou, tendo pela frente o maior e mais duro autocarro da temporada!

Vítor Pereira escolhe para o jogo o melhor onze disponível, aproveitado a recuperação de Alex Sandro e recolocando Mangala no eixo da defesa.

O jogo começa fechado, mas o FC Porto ganha logo ascendente no jogo. Aos 5 minutos de jogo, o FC Porto tem uma oportunidade de ouro para adiantar-se no marcador. Jogada desenvolvida pelo corredor central, com James a servir a subida de Danilo. Danilo vence a oposição do primeiro defesa esquerdo (Ola John) e antes que o segundo defesa esquerdo cai sobre ele, cruza rasteiro e ao segundo poste, onde Jackson não chega por muito pouco. Teria sido um jogo bem diferente se o FC Porto tivesse marcado nesta oportunidade.

Um minuto depois, lançamento longo de Moutinho para Jackson, com o ponta-de-lança a atacar a área, mas a não ser feliz na recepção de bola.

Até que surge o minuto 18 e o adversário marca. Num lançamento lateral para a área, a defensiva do FC Porto leva demasiado tempo a cortar a bola e, de ressalto em ressalto, esta espirra para Lima que à boca da baliza só tem que encostar.

É assim, a sangue frio, frente a mais uma Olhanense que o FC Porto se apanha a perder. Mais um golo de ressalto em ressalto e uma sombra que cresce neste jogo decisivo.




O FC Porto reage com o coração e tenta sacudir o autocarro. Aumenta a pressão sobre o meio campo defensivo do adversário e tenta subir as linhas. E a resposta sai pronta, felizmente, Ao minuto 24 incursão de Varela pelo flanco, mas a defesa corta e alivia. Alex Sandro recupera imediatamente e à saída da grande área contrária e volta a lançar Varela pelo flanco. Varela ataca o espaço e aproveita o desposicionamento de Maxi. Centra tenso para servir Lucho ao primeiro poste, mas a bola desvia em Maxi e engana Artur. Estava feito o empate e explodia o Dragão. Alívio!!! De volta à casa de partida.




As equipas acusam a emoção e o jogo cai numa toada mais lenta. Como se os erros defensivos de ambas as equipas nos golos sofridos as assustassem de arriscar. Ainda assim, é o FC Porto que se mantém no controlo do jogo e na busca da vitória. Do outro lado, o jogo continua e continuará amarrado, só criando perigo nos esporádicos lançamentos laterais longos (!).

Aos 28 minutos, o FC Porto volta a cheirar o golo. Remate de ressaca de Moutinho de muito longe para grande defesa de Artur. O FC Porto revelava dificuldades em entrar na defesa contrária e de manter a pressão ofensiva. James não conseguia entrar no jogo, nem tão pouco, virar-se para defensiva contrária. Matic não dava um milímetro e Enzo encarregava-se das dobras aos laterais.
É neste emaranhado táctico que o jogo chega ao intervalo. O FC Porto tenta libertar jogadores para a frente, mas o adversário sobrepovoa a defesa. Jackson sofria com a marcação impiedosa de Garay e James não conseguia dar a equipa a criatividade necessária para vencer a resistência constrária.


A segunda parte é um prolongar desta luta titânica entre quem quer vencer e quem não quer perder.
O FC Porto entra melhor, mas falta-lhe inspiração no ataque à baliza. É Varela quem se chega à frente e tenta sacudir o autocarro. Aos 48 minutos, no flanco esquerdo, encara Maxi e dribla-o. O remate sai pronto e em arco para o poste contrário, mas Artur desvia. Três minutos depois, Varela tenta de novo, mas desta vez, nem foi precisa a aplicação de Artur.

Aos 62 minutos, Moutinho volta a lançar Varela e este tenta servir Jackson mas Garay não permite e corta para canto. Jackson sofria com a marcação e não conseguia antecipar-se a Garay.

Até que, aos 66 minutos, o jogo ganha uma brecha. Gaitán lesiona-se e Jesus lembra-se de tantas críticas pela sua vocação ofensiva. Vai daí e recorre ao seu trinco de perdição: Roderick. Se o meio campo adversário já estava recuado, mais recuou e o ataque adversário limitava-se a fogachos esparsos. Uma Olhanense autêntica.

Mas a sorte mantinha-se arredia. Cinco minutos após a lesão de Gaitán,  também Fernando se lesiona, em mais um atropelo de Matic. Só mais um. É Defour quem assume a posição e o FC Porto perde a sua unidade de maior pressão a meio campo.

Pouco antes da entrada de Defour, livre a favor do FC Porto, com Jackson a ganhar a posição na área (a única vez em que foge à marcação) mas a cabecear muito mal.

Aos 78 minutos, Proença perdoa o segundo amarelo a Matic, em mais um “virar do boneco”, desta feita a Danilo. Um minuto depois, Vítor Pereira arrisca. O jogo caíra num impasse, ou melhor, num penoso impasse. O tempo escova-se a favor do adversário e o aproximar do empate dava ânimo a quem não queria perder.




Aos 79 minutos, Vítor Pereira lança Kelvin e retira Lucho. A meio campo já pouco havia para conquistar. Com a saída de Fernando por lesão, a pressão do FC Porto decresceu a olhos vistos e o recuo do meio campo do adversário já havia sido forçado com a introdução de Roderick. Restava a Vítor Pereira abrir o seu ataque. Espalhar as suas unidades e obrigar o adversário a ter maior amplitude defensiva à frente da sua baliza. Se há mais amplitude, há menor espessura, logo, maior possibilidade para o erro.




Pode-se questionar porquê Lucho e não James. O capitão dava tudo e o jovem colombiano teimava em não entrar em jogo. Verdade. Mas este jogo era para ganhar. Só para ganhar. E James pode ganhar jogos. Num passe, num remate, num cruzamento. A opção é correcta.

Entretanto, Jesus decide de trocar de ponta-de-lança esquecido. Tira Lima e coloca Cardozo. No futebol corrido nada trouxe, mas, aos 80 minutos de jogo, quase resultava. Livre frontal mal assinalado e oportunidade para Cardozo testar a segurança de Helton. Cobra rasteiro e colocado, mas a estirada de Helton é monstruosa e segura o empate.

Até aos 84 minutos, joga-se a cartada final. E ganha Vítor Pereira. Ganhamos nós. Liedson entra para o lugar de Danilo, recuando Defour para lateral direito. James sai da zona de pressão de Matic, onde nunca esteve confortável, e junta-se a Moutinho no meio campo. Liedson tenta suavizar a marcação a Jackson e “obriga” os extremos a ficarem bem abertos. Era o tudo por tudo. Mais não havia a fazer. E o que havia sido feito, foi bem feito.

Jesus tenta ainda recuar mais. Ola John, farto de correr para trás, já não dava mais um passo e é retirado de campo. Jesus opta por Aimar e tenta defender ainda mais. A nossa via para a baliza de Artur, sobretudo após o arriscar em Kelvin, eram os flancos e agora havia menos um jogador nesses corredores e mais um para o monte na zona central. Fantástico.

O primeiro resultado deste duelo nos bancos veio logo no minuto seguinte. É uma jogada que começa no flanco esquerdo, entre Kelvin e Alex Sandro. A bola roda para o flanco contrário, onde Danilo faz uma abertura perfeita para as costas da defesa do adversário, onde James surge, descaído para o flanco. Isolado e deslumbrado, James não cumpre com a razão pela qual Vítor Pereira o havia deixado em campo e atira ao poste. Uma perdida monstruosa.

Confesso que pensei que havia sido o nosso canto do cisne. A nossa oportunidade de ouro. Só para perceberem a amplitude emocional que sofri nos últimos minutos desta partida. Fiquei agarrado aquela oportunidade logo abrir o jogo e a esta a cinco minutos do fim! Qualquer uma delas era a nossa salvação.

O que se passou após este lance é um pouco obscuro para mim. Não me recordo com nitidez.

Só me recordo nesse minuto 91, um alívio de Moutinho na lateral direita, lutando por mais uma bola. Bola essa que é rechaçada pela defensiva adversária e que Varela reconquista na zona central, qual médio centro de raça e alta rotatividade. Só ali, ficam uns quatro adversários para trás, no meio do serpentear de Varela pela zona central. A bola segue para Kelvin, que flectindo ligeiramente para dentro, desposiciona Maxi. Liedson aproveita o espaço e ataca as costas de Maxi. Kelvin percebe a movimentação, triangula com Liedson e dispara para a área adversária. Maxi já havia ficado para trás e Liedson roda sobre a bola. Sobre si em Luisão e Roderick tenta apanhar Kelvin. Eis que surge o momento decisivo. Liedson mete o passe de primeira. E tinha que ser primeira. Tinha que ser. Só assim, mantínhamos a ligeira vantagem que havíamos conquistado no lance. Kelvin cavalga para área, cada centímetro ganho a Roderick vale ouro. A recepção do passe de Liedson é à entrada da área e é um assombro. A bola balança no ar mesmo ao jeito daquele pé esquerdo. É aqui que todos os centímetros ganhos a Roderick contam. Todos eles. Todos os centímetros que permitem ter tempo para vergar o corpo de forma a colocar um remate indefensável naquele pé esquerdo. Kelvin roda o corpo e mete toda a sua inocente loucura no bico da chuteira. Nesta altura, Roderick já não era mais que o espectador mais próximo do que poderia acontecer. A bola sai disparada, curva à frente de Artur, foge divinalmente da sua luva e segue em órbita à procura do poste contrário.

 

GOLLLLLLLLLLOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!!!!! GOLLLLLLLLLLLLOOOOOOOOOO!!!!
GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOLLLLLLLLLLLLLOOOOOOOOOOOOO!!!!

É só vê-la percorrer as malhas laterais e depois a rede de fundo…rondado admiravelmente no fundo da baliza do nosso contentamento, num momento de euforia que será eternamente inesquecível. O remate cruzado mais maravilhoso do mundo e de sempre. O melhor poema que alguma vez li!

Já soube que após isto Vítor Pereira festejou na alegria de todos nós. Com os olhos cheios de portismo. Já soube que Castro, Lucho e tantos outros saltaram para o campo, como também uma mão cheia de adeptos, apanha bolas, o Dr. Puga, o roupeiro e todos o que podiam. Também já soube que Jesus caiu de joelhos, num gesto que devemos respeitar e honrar. Soube, porque não vi! Não vi porque os meus olhos também estavam cheios de portismo e agarrado a quem comigo celebrava, num momento que não acabava nunca…

Também sei que o jogo acabou pouco depois e que acabara de assistir à virada de sonho. À nossa virada de sonho!


Merecido? Claro. Tudo fizemos para ganhar. Viramos o autocarro de uma época inteira.

Celebrar. Festejar e guardar para sempre.

Mas agora, temos que ser exigentes connosco. Não devolver o favor e sermos merecedores. Não ganhamos nada mais que decidir o nosso futuro. Todos sabemos o que este jogo representou e até a ameaça que cada um de nós sentia na sua cabeça. A vitória era incondicional e entramos a perder. Festejar, sim. Celebrar, sempre. Mas perceber que no próximo jogo teremos que ser tão ou mais focados, tão ou mais sofredores, tão ou mais aplicados. Nada ganhamos, repito. Só o direito de sonharmos por nós mesmos.

Temos um adversário competente e motivado pela frente. Teremos uma baixa de peso no meio campo. Confiança? Claro! Sede de vitória? Eterna! Mas respeito e concentração.

O mesmo empenho e a mesma dedicação. Só isso que nos separa de atingir o nosso objectivo. Repetir o mesmo empenho e a mesma dedicação.




Análises Individuais:

Helton – Tem a defesa do jogo, num livre de Cardozo. Uma defesa que impede uma brutal a fria injustiça. Segurou-nos ali e deu-nos a oportunidade de sermos felizes. De resto, um livre de Lima que só deu para aquecer as mãos.

Danilo – Começa o jogo em alta rotação e manteve-se sempre muito activo no jogo. Não deu espaços a Ola John e subiu a preceito no flanco. No golo, foi traído pelo enésimo ressalto de bola e deixa fugir Lima nas suas costas.

Alex Sandro – começa o jogo muito errático no passe. Cresceu muito no jogo e acaba com Salvio no bolso. Faltou-lhe maior capacidade ofensiva, mas tal como Danilo, apanhou os flancos tamponados por Jesus.

Mangala – Perfeito na marcação a Lima e muito rápido nas dobras que teve que fazer. Foi um libero de elevada qualidade e por alto foi tudo dele.

Otamendi – Tal como Mangala, esteve quase perfeito no centro da defesa. Foi importante na saída de bola e até nos momentos de pressão ofensiva. Grande jogo.

Fernando – Correu quilómetros e anulou por completo Gaitán. Manteve o meio campo do FC Porto em pressão alta e foi afoito no ataque. Quando sai por lesão, o meio campo portista quebra a pressão ofensiva e passamos por algumas dificuldades. Valeu o recuo do adversário e as mexidas finais. Fará muita falta em Paços de Ferreira.

Moutinho – Jogo de total abnegação, entrega e qualidade. Lutou por cada bola como fosse a última. Sofre com a pressão de Enzo, mas soube igualar a aposta. Manteve-se firme e concentrado no jogo e é da sua tenacidade que nasce o golo da vitória.

Lucho – Grande entrega e total qualidade em tudo o que fez. Não levou mais vezes o FC Porto para a frente porque o autocarro era muito grande. Tentou sempre dar a James a cobertura táctica para que este entrasse em jogo e até tentou ser ele a dar o momento de brilhantismo que nos faltava. Sai esgotado, numa aposta acertada de Vítor Pereira.

James – Fez um jogo desastroso. Quanto a isso, não há defesa possível. Já sabemos que não está no topo das suas capacidades e nunca soube dar a volta à marcação impiedosa de Matic ou Enzo. Falta-lhe arranque e endurance. Melhorou quando recua com a entrada de Liedson. Saiu do radar pressionante de Matic e Enzo e já ajudou a circular melhor a bola. Mas faltou-nos James neste jogo. Tirando a abertura para Danilo aos 5 minutos de jogo, nunca mais deu um safanão no jogo. Ficou em campo para ganhar o jogo, acabou por ser Kelvin.

Varela – Não ganhou os duelos todos, até se atrapalhou algumas vezes, mas foi essencial na nossa vitória. Manteve o ânimo sempre aceso, num ataque em que Jackson e James estavam desinspirados. Vertical no golo do empate, venenoso no inicio da segunda parte, onde mais brilhou foi na tenacidade com que serpenteou entre o monte de médios do adversário para lançar Kelvin ao minuto 91. Raça!

Jackson – Garay é um excelente central e manteve Jackson sempre controlado. Sofreu muito com a marcação impiedosa e na única vez que se libertou não revelou qualquer pingo de inspiração. Sofre com esta recta final. Época de estreia muito longa está a ter a sua factura. Resta respirar fundo e recuperar ao máximo para Paços de Ferreira.


Defour – Teve que entrar a frio para o lugar de Fernando e não aguentou a tarefa. Quando passou para o lado direito da defesa, soltou-se e desenvolveu melhor o seu jogo.

Kelvin – Eis o ás de trunfo da época. Depois dos dois golos ao Braga, um de antologia! Um hino ao futebol. Recepção e remate portentosos. Mas até a triangulação com Liedson é linda! Entrou para um momento e resolveu. O ás de trunfo foi, quase sempre, o último da fila. Nunca o mereceu. É o melhor em campo. Só pode!

Liedson – Triangulação perfeita de quem já jogou muito futebol. A forma como ataca o espaço de Maxi e o passe de primeira é de quem sabe muito do que se ganha e se perde num segundo de jogo. Não resolveu, mas ajudou.



FICHA DE JOGO

FC Porto-Benfica, 2-1
Liga portuguesa, 29.ª jornada
11 de Maio de 2013
Estádio do Dragão, no Porto
Assistência: 50.117 espectadores

Árbitro: Pedro Proença (Lisboa)
Assistentes: Tiago Trigo e Bertino Miranda
Quarto árbitro: Luís Ferreira

FC PORTO: Helton; Danilo, Otamendi, Mangala e Alex Sandro; Fernando, João Moutinho e Lucho (cap.); James, Jackson e Varela
Substituições: Fernando por Defour (73m), Lucho por Kelvin (79m) e Danilo por Liedson (84m)
Não utilizados: Fabiano, Abdoulaye, Castro e Sebá
Treinador: Vítor Pereira

BENFICA: Artur; Maxi, Luisão (cap.), Garay e André Almeida; Salvio, Matic, Enzo Pérez e Ola John; Gaitán e Lima.
Substituições: Gaitán por Roderick (67m), Lima por Cardozo (73m) e Ola John por Aimar (84m)
Não utilizados: Paulo Lopes, Melgarejo, Rodrigo e Urrega
Treinador: Jorge Jesus

Ao intervalo: 1-1

Marcadores: Lima (19m), Varela (25m) e Kelvin (90m+2)
Cartão amarelo: Enzo Pérez (46m), James (56m), Matic (59m), Fernando (66m), Defour (80m), Artur (85m) e Helton (90m+3)



Analise de Vítor Pereira:

"Procurámos a felicidade durante todo o jogo"

 “Não podemos festejar por antecipação, podemos atirar foguetes antes da festa e as coisas viram e correm mal”,

Foi um jogo de acreditar ate ao fim?

Tenho de admitir que fomos felizes no momento em que fizemos o golo, mas procurámos a felicidade durante todo o jogo. O resultado que nos interessava era a vitória e o Benfica jogou com o nulo, que lhe continuaria a dar dois pontos de vantagem. Acabámos por ser premiados por acreditar sempre que, com o nosso jogo, poderíamos criar situações de golo e chegar à vitória. Tenho de dar os parabéns à equipa e a toda a gente que trabalhou para nos dar este resultado. Sabemos que temos agora um jogo muito difícil pela sempre e o Paços de Ferreira é uma equipa de grande qualidade, que fez uma época excepcional e tem um campo com características especiais. Teremos de nos preparar muito bem para esse jogo. Teremos de ir a Paços com muito querer e vontade para chegarmos ao objectivo fundamental da época que é o título.

Quando lança dois jogadores que desenham o lance do 2-1, como Kelvin e Liedson, esta é a altura de recolher os méritos?

Não, os jogadores que entraram é que têm o mérito porque fizeram bem o movimento e o Kelvin finalizou bem. Ainda bem que assim foi.

Foi perceptível a festa de Pinto de Costa no final do jogo. Já falou com o presidente? É obrigatório perguntar-lhe se este resultado abre uma janela para a sua continuidade.

Já estive com o presidente, como é natural no final de um jogo. Ele vem sempre cumprimentar os jogadores e os treinadores. Relativamente à questão pessoal, não estou minimamente preocupado com isso. Faço a minha avaliação e continuarei a ser treinador de certeza. A competência também não me vão tirar. O futuro é o que tiver de ser.

Depois do jogo, na flash, e agora, na conferência, esteve bastante contido. O que sentiu no momento do golo e quando o árbitro deu por terminado o encontro?

Foi um jogo de uma tensão enorme. Houve momentos em que perdemos um pouco a lucidez. Foi um jogo de muita tensão, que pode definir um campeonato, e é natural que no final liberte alguma emoção. Sou uma pessoa emocional, também me emociono. Só isso. Comemorei a vitória de hoje e mais nada.

Quando começou a jornada o Benfica estava em vantagem. Agora tem o FC Porto a vantagem de ir a um estádio de uma equipa que já tem a classificação definida, enquanto o Benfica recebe um Moreirense a lutar pela permanência. Como vai gerir o ânimo dos jogadores?

Pelo campeonato que o Paços tem feito, provou, por mérito próprio, que este ano foi a terceira melhor equipa em Portugal. Todos temos consciência de que é um jogo muito complicado, ainda para mais frente a uma equipa altamente moralizada. Sabemos igualmente que estamos a uma vitória do título. Temos de ir concentrados, com a motivação bem lá em cima e com controlo emocional para fazer bem o nosso jogo.

Antes do jogo disse que sabia como o Benfica iria jogar. Peço-lhe que me diga se foi como pensava.

O FC Porto tem um modelo bem definido, gosta de ter bola e a sua posse. Se formos a ver os registos, claramente somos a equipa com mais bola do campeonato. Quando a perdemos somos agressivos, para voltar a ter o domínio. A matriz do Benfica é diferente, não digo para melhor ou para pior, mas jogam em acelerações constantes. Com um adversário sem qualidade para ter bola criam grandes dificuldades. O jogo parte-se e têm “aceleradores” com bola que causam muitos problemas. Contra nós, o Benfica corre mais atrás da bola e a nossa forma de pressionar altera a sua forma de jogar, porque procuram muitas vezes as bolas longas e contra outros adversários isso não acontece.

Fica numa posição mais forte com esta conquista? E já se podem encomendar as faixas do título?

Em relação ao meu futuro, já respondi que não me incomoda minimamente. Se tenho futuro? Não tenho dúvidas. Em relação ao título também já respondi. Falta-nos uma final, um grande jogo, em que vamos ter de ser melhores para o caso de queremos festejar. Não podemos festejar por antecipação, podemos atirar foguetes antes da festa e as coisas viram e correm mal.

À saída para o intervalo teve uma discussão mais acalorada. Podemos saber se ficou tudo sereno?

Não foi nada com o Jorge Jesus, que até estava calmo. Eu é que estava acalorado, arrependo-me de ter dito algumas coisas e também ouvi coisas menos agradáveis. Não tenho problemas em admitir que não estive bem, alterei-me por momentos, mas foi fruto do próprio jogo.






Por: Breogán

2 comentários:

Manuel Herculano disse...

Parabéns pela crónica.

Destaco a forma como descreveu na perfeição como todos vivemos aquele momento. Momento que seguirá pela vida fora.

Uma questão: Ao contrário do que tem sido falado não acha que o problema do benfica foi ter colocado demasiados homens à frente, depois dos 90 minutos, num lançamento lateral?
Se reparar aquando do golo do Kelvin o Porto está em superioridade numérica: James, Jackson, Varela e Mangala na área e Otamendi a chegar.
Não terá sido autocarro a menos?

Breogán disse...

Agradeço o elogio. Mais não fiz que tentar uma débil aproximação ao que senti.


Quanto ao lance e ao seu comentário, fizeram-me recordar como JJ o tentou justificar na flash interview após o jogo. É um lance de difícil digestão para quem o sofre.

Tudo surge de um lançamento lateral no nosso meio campo defensivo. Com a satisfação do empate, a equipa adversária avança as suas linhas para manter a bola o mais longe possível da sua baliza. Afinal, este FC Porto de Vítor Pereira é forte na posse de bola e não na transição ofensiva.

Creio que identifico bem os momentos chaves do lance. Após a recuperação de bola e “alívio” do Moutinho, Matic corta de cabeça. Pare a imagem nesse “frame”. O que vê? Garay a marcar Jackson e Maxi a marcar Liedson, com Luisão na sobra. James entalado entre Matic e Roderick. André Almeida sobre Varela e Kelvin solto sobre a esquerda. Enzo e Aimar a tentam recuperar posições mais defensivas e só Mangala (e não Otamendi) é que vem a carregar para a frente. Portanto, contas feitas, temos 8 jogadores do adversário na transição defensiva ou a tentarem participar nela (só Salvio e Cardozo estão ausentes) e 6 jogadores nossos na transição ofensiva ou a tentarem participar nela.

Frame seguinte, Varela ganha na raça sobre André Almeida e ataca a zona central. Sai-lhe ao caminho Aimar e fica para trás. Segue-se Enzo e para trás fica. Grande serpentear de Varela, desequilíbrio conquistado e é aqui que a transição entra em acção. Roderick vê os seus médios centros a ficar para trás e tenta a aproximação a Varela. Entretanto, Maxi apercebe-se da progressão de Kelvin, avança e tenta posicionar-se para o acompanhar. Liedson fica para Luisão e Garay afasta-se de Jackson e tenta fechar o espaço central. O adversário guina tudo à direita. É aí que Varela mete em Kelvin, que ainda tinha espaço de progressão e sem estar pressionado por Maxi. Liedson aqui é rato. Aproveita todo o resto de velocidade que tem e despede-se de Luisão atacando as costas de Kelvin.
O Kelvin que chegou ao FC Porto tentaria driblar o Maxi. Este Kelvin tabela com Liedson. Mal sai o passe, Roderick percebe o perigo, larga Varela e tenta ser ele a acompanhar Kelvin.
Liedson puxa Luisão para o flanco até ao máximo. Garay não pode fechar todo esse espaço, tem Jackson nassuas costas e sabe que o flanco esquerdo está todo aberto (por onde entram todos os outros jogadores do FC Porto participantes na transição).
A partir daqui, Liedson passa de primeira e toda a vantagem que Kelvin acumulou sobre Roderick seria agora decisiva.

O resto é história e alegria! A nossa história e a nossa alegria.


Portanto, neste lance há dois momentos chave. A raça de Varela e o seu desequilíbrio, a triangulação perfeita entre Kelvin e Liedson. Uma triangulação é sempre mais valiosa que um bom drible. O resto foi magia…

O autocarro veio. E não é um lance que coloca em dúvida o autocarro, penso eu. O resto do jogo bem mostra que para lá de defender, o adversário só quis defender. O que matou o autocarro foi a verticalidade deste lance. Desequilíbrio na zona central e verticalidade imediata no flanco. Depois tivemos magia, ou sorte, como preferir. Eu prefiro magia, confesso!

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