Há uns meses, aquando da análise
das contas da SAD (Ler Aqui), fiz uma tentativa de colar algo objectivo e material com a
palavra felicidade.
A gestão das contas é em prol da
minha felicidade? Se sim tem o meu apoio.
Vou insistir na felicidade.
Ligando-a ao sonho.
Vamos percorrendo a vida a
sonhar. Desde sonhar ter aquele brinquedo, comer aquele doce ou petisco, viver
com aquela mulher, conhecer aquele país, conseguir aquele emprego, comprar
aquela casa, ver o Porto ganhar aquela taça.
Se a palavra sonho vos parece
muito distante e algo infantil poderão substitui-la pela palavra projecto,
vontade ou pela palavra objectivo. Desta última fujo a sete pés desde que o
Paulo Bento a matou por exaustão com o 1.º, 2.º, 3.º, 4.º, 5.º e……………. 50.º
objectivo.
Um sonho é um sonho e cada um
sonha à medida da sua dimensão e do contexto em que está inserido.
Mesmo que implique dar um passo
maior que a perna sonhar é sempre bom. Bom, porque nos mantém vivos e felizes.
É difícil ver alguém infeliz quando procura incessantemente um sonho ainda que
o mesmo pareça impossível de alcançar.
A queda no abismo da infelicidade
pode ser brutal quando, após transformar o sonho em realidade, se perde a
vontade de continuar a sonhar, a desejar algo, a lutar por qualquer coisa.
Há inúmeras histórias de doentes
em fase terminal que prolongam a vida para além do tempo cientificamente
expectável porque sonham resolver aquele problema ou rever pela última vez
aquele familiar.
Quando ouvi, pela primeira vez,
da boca de uma enfermeira do IPO, as expressões “Não estava preparado para
morrer” e “Já podia morrer” não percebi o significado da coisa.
O quê?! Ninguém está preparado
para morrer. Ninguém decide quando pode morrer.
Anos mais tarde percebi. Quando
se sonha e se luta por algo nunca se está pronto para a morte, para a
infelicidade ou para a derrota. Se não se está pronto, adia-se.
Quando se preenchem todos os
cromos da caderneta dos sonhos duma vida está-se pronto para morrer.
Se em vez de vida falarmos de
empresa é porque está próxima de falir.
Se substituirmos empresa por
clube é porque está pronto para perder. Pensamos na ausência de sonhos do
Sporting do Roquette e seus discípulos e percebemos o estado a que chegou.
Sonhar não é demagógico. Sonhar
não é coisa de optimistas aluados.
Consigo persistir num pessimismo
militante e fazê-lo conviver com a importância vital de sonhar.
Suportado nessa militância ouvi
há meses o seguinte:
“Vencer a Champions? Temos de ter
esse sonho. Quando o FC Porto venceu a Champions, havia favoritos como o Barcelona,
Bayern Munique ou Inter. Portanto, não é irrealista ter a esperança de ver o
Porto a vencer a Champions outra vez”
Esta frase foi proferida pelo
nosso inspirador capitão e líder. Na altura, quando a li, a minha primeira
sensação foi: “Tá maluco! Ganhar a Champions?”
Depois reli a entrevista e
foquei-me no “Temos de ter esse sonho”. Reparem na imperiosidade. Temos que ter. É obrigatório
sonhar.
Pensei em começar a crónica com
esta frase. Para chocar, para confrontá-la com o que depois se passou e como se
passou.
Receei que quem a lesse hoje
passasse ao lado do “Temos que ter esse sonho.” Por isso, entendi deambular por
outros caminhos, menos futebolísticos.
Até aqui.
O sonho do Lucho acabou. Agora
vamos ver o Subotic a correr atrás do Saviola e vamos engolir em seco. Era o
Jackson que devia ser perseguido.
O Campeonato sempre foi visto
como uma obrigação que é uma das derivações menos simpáticas da palavra sonho.
Uma obrigação é uma responsabilidade. Um sonho é um desejo.
Eu não sou um irresponsável se não
conseguir aquele emprego, visitar aquele país ou viver com aquela mulher.
Aí sigo o Lucho. O Porto não é
obrigado a ganhar. Está obrigado a querer, ou sonhar, ganhar.
Seja obrigação, objectivo ou
sonho o campeonato está, desde a última jornada, muito mais distante.
A partir daqui temos 2 caminhos
que partem da resposta à pergunta:
“Há mais cromos para preencher na
caderneta dos sonhos?”
Se sim, qual é o sonho que nos
vai guiar?
Se não, transformemos o clube num
tribunal e renuncie-se a objectivos desportivos em prol da análise de quem
esteve bem ou mal, quem deve sair ou ficar, quem deve entrar ou ficar à porta.
Fazer da Taça da Liga um sonho é
um insulto aos sonhos. Não se passa a vida a sonhar com tudo.
Eu não sonho com a cor do
semáforo que sei que vou apanhar daqui a 30 minutos quando sair daqui. Se está
verde ando, se está vermelho paro.
A taça da Liga é um semáforo.
Temos que passar por ele e convém que não esteja vermelho não vá atrasar-nos
para o encontro com o sonho seja ele uma mulher, um café com um amigo ou um
jogo da Champions às 19.45.
Ter um Moutinho e um James
desgastados com viagens e lesões a jogar contra o Rio Ave na 4ª feira é cor
vermelha no semáforo. Pode prejudicar o sonho.
Qual é o sonho?
Cada um escolhe o seu caminho.
Pelo que tenho lido e ouvido muitos portistas sonham com o Vitor Pereira. Mais
propriamente, com a sua saída.
Outros entretêm-se a sonhar com o
próximo ano.
Como vai ser, com quem vai ser e
o que se vai sonhar quando aí se chegar.
Reparem, mais uma vez, na
importância do sonho.
Quem não percebe ou não concorda
com o “Temos que ter esse sonho” do Lucho salta capítulos.
Como não quer viver o pesadelo de
não ter nenhum sonho em Abril e Maio passa automaticamente de Março para Junho.
Como é que passa?
Sonhando.
Com o Vitor Pereira na rua ou com
o Reyes no Olival. Tudo vale para não passar por Abril e Maio.
Há 2 anos atrás o nosso sonho era
gigante. O Benfica está na mesma crista da onda desse sonho. Se perguntarem a
algum benfiquista pelo sonho de Junho ou Julho manda-vos passear.
Podem fazer a dobradinha e lutam
por a ela juntar a Liga Europa. “Carrega Benfica!”
Qual Junho ou Julho? Isso é para
derrotados.
O meu pessimismo faz-me imaginar
a concretização desse sonho e o regresso da faixa “Reservado”. Penso no António
Costa nos Paços do Concelho, nos repórteres destacados para cobrir esse
acontecimento que permitirá que comentadores políticos, económicos e
cor-de-rosa passem uma boa temporada de férias.
Passos Coelho, Papa Francisco ou
Angela Merkel desaparecerão por milagre da agenda mediática.
Será a hora da benfica TV, da
Bola Tv, do Rui Santos, do Miguel Prates, do João Gobern, do Carlos Daniel, do
Rui Gomes da Silva a babar-se de alegria, da Leonor Pinhão,das entrevistas de
fundo de Luis Filipe Vieira, das histórias de vida do Jorge Jesus desde o Amora
até ao benfica.
Será a hora ideal para subir
impostos, despedir pessoas, remodelar o governo. Será a hora para tudo isso.
Semanas de festejos, entrevistas, reportagens, análises e debates.
Já vejo a Visão e a Sabado com o
bigode do Luis Filipe Vieira na capa:
“O Homem que fez acordar o
monstro!”
Como tudo isso me passa pela
cabeça e como acho que cada um tem que ter um sonho para Abril e Maio deixo
aqui o meu. É pequeno e está ao alcance de 90 minutos.
O meu sonho é que o Benfica,
entre a jornada 24 e a jornada 28 perca 2 pontos. Só.
Todo o portismo tem que ter esse
sonho e lutar por ele. Jornada 29.
Se tiver esse sonho encarará os
jogos que tem que fazer em Março e Abril de outra forma. Como instrumento de
perseguição ao sonho de Maio.
Sonho com o momento em que um
portista poderá olhar para um dos seus pares e dizer:
“Jornada 29 Amigo!”
Aqui chegados, acreditem que para
qualquer benfiquista chegar à jornada 29 com 3 pontos de avanço é um pesadelo.
A parte psicológica do sonho é o
Diabo.
Chegar aqui com 3 pontos de
avanço sem nunca ter tido 4 é uma coisa.
É a continuação da luta com o
Estado de Espirito que lhe está associado.
Chegar aqui com 3 pontos depois
de já ter tido 4 é outra.
É um pesadelo. E nós temos que ter
esse sonho.
Por: Walter Casagrande
2 comentários:
Muito bom!
boa prosa, vamos comungar todos desse sonho independentemente dos sonhos para a próxima época!!
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