Decorrido mais um fim-de-semana
futebolístico que tem infelizmente como principal novidade o nosso empate em
casa do 10º classificado na tabela classificativa da Primeira Liga, como à umas
semanas atrás tínhamos empatado igualmente em nossa casa com o 14º neste caso o
Olhanense e por consequência o baixar ao segundo posto na tabela classificativa
Centremo-nos precisamente nestes
percalços mediante equipas medianas do nosso campeonato, equipas que geralmente
como virou moda dizer, estacionam os seus autocarros perto da sua área e rezam
a Deus para que num contragolpe, numa transição rápida consigam um golo
milagreiro.
O FC Porto de Vítor Pereira tem-se
caracterizado esta época por um modelo de jogo bem definido, um modelo que
esteve em laboratório praticamente um ano e que agora aparece aos olhos dos adeptos
já sustentado, é um futebol de posse e toque curto que vou apelidar de Tiki
taka Tripeiro.
Este FC Porto apresenta um ADN
muito próprio em Portugal, é uma equipa que gosta de ter bola, que não joga
rápido mas procura com o seu modelo desorganizar os adversários fazendo-os
correr atrás da bola, que procura sempre várias linhas de passe geralmente
curto e que joga com as linhas muito próximas umas das outras, procurando após
uma perda de bola ter a segurança de uma rápida recuperação e consequente nova
construção, não querendo nunca ser apanhada desposicionada. Não é um modelo de
futebol rápido mas é um modelo desgastante para quem tem que correr atrás da
bola e um modelo seguro na fase de transição Ataque-Defesa.
Partindo da base táctica do 4:3:3
este FC Porto tem um modelo muito próprio de jogo, Vítor Pereira no seu modo de
ver o jogo “despreza” os extremos puros, o extremo que estica o jogo e dá
profundidade até a linha de fundo, optando por falsos extremos que no ultimo
terço do terreno fletem para o centro procurando o futebol apoiado e a partir
daí com toque e tabela ganhar espaço para desfeitear o adversário. Com esta
derivação Vítor Pereira a meu ver procura sobretudo entrar na muralha
adversária confundindo-a e ganhando ao centro superioridade numérica de modo a
alimentar o ponta de lança, geralmente servido no pé.
James é esse extremo, Ismaylov
idem e até Varela deixou de ser um flanqueador nato para procurar também ele
zonas interiores do terreno. Andando um pouco para trás no tempo percebemos que
os extremos flanqueadores que existem no plantel ou estão muito verdes ainda (Atsu e kelvin) ou aos poucos foram emprestados
ou até dispensados, socorro-me dos nomes de Djalma e Iturbe, jogadores com características
de flanqueadores (mais Djalma) e desbloqueadores que Vítor Pereira achou
excedentários na sua visão e estilo de jogo coletivo, não por serem maus
jogadores, mas por não se encaixarem no ideal táctico preconizado.
Neste Porto já vimos pelo contrário na função
de falso extremo jogadores como Defour ou até Lucho e Moutinho ocasionalmente,
o que sustenta em teoria este modelo de jogo tão característico.
É um modelo de jogo que entrando o
primeiro golo cedo, é um regalo para a vista e para o futebol, é um futebol de
domínio absoluto de vertentes estatísticas do futebol, como o tempo de posse de
bola por exemplo que tende em ser arrebatador.
O problema é que como em quase
tudo na vida nunca há bela sem senão e neste caso as equipas do campeonato já
criaram muitas delas “vacinas” para este estilo de futebol, descendo o seu
bloco defensivo e fechando os espaços ao centro.
Como o nosso futebol não é um
futebol onde impere a velocidade e o desequilíbrio individual, antes a força do
coletivo muito bem estruturado, com blocos baixos como costumam jogar equipas
menores do nosso campeonato mesmo nos seus estádios, como foi agora o caso do
Sporting, tinha sido antes do Olhanense e antes mesmo com Rio Ave, geram-se com
isso dificuldades acrescidas ao nosso futebol caracterizado em trocas sucessivas de bola e com passes
quase no pé, curtos.
Partindo do princípio que quatro
terços dos nossos jogos são jogados contra equipas que optam por estratégias
defensivas, com blocos baixos e na frente fé em deus e num velocista que lá
metem, eu estou em crer que não conseguindo chegar ao golo cedo este tipo de
futebol pode e tem jogado muitas vezes contra nós.
É um futebol que em exagero e com
o resultado em empate ou até derrota, consome demasiado tempo, joga contra nós
no relógio e nessas situações já não raramente vimos com o aproximar do fim a
nossa equipa a buscar situações de passe direto mas já sem grande critério.
Eu gosto deste futebol, mas creio
que para resultar a equipa precisa de menos régua e esquadro mas de mais
improvisação. Precisa no centro do terreno de alguém que acresça
imprevisibilidade e criatividade como tão bem tem explicado o Breogán nas suas
análises aos jogos (a última das quais uma lição de ler futebol e que deve ser
lida e relida AQUI), precisamos de
alguém que faça funcionar os flancos, precisa sobretudo de esticar o seu jogo à
linha.
Estamos a promover demasiado o toque e menos o
cruzamento da linha de fundo para as costas da defesa contrária, se em tempos
se podia entender esse futebol em Portugal pelo falta quase genética de
verdadeiros avançados centro, hoje em dia com Jackson temos uma solução a roçar
o ótimo para desenvolver um futebol de ataque variado e com variadas
solicitações.
Hulk dava isso a esta equipa,
mesmo não estando o modelo devidamente consolidado, não raramente procurava a
linha para cruzar, com a vantagem de nos dar também soluções de criatividade e
imprevisibilidade que só por si resolviam jogos ou deixavam as defesas contrárias
mais contraídas e assustadas.
Hoje em dia não temos Hulk, mas
temos James (!), um James com uma capacidade de passe, criatividade e visão de
jogo como mais ninguém no plantel consegue dar e aqui volto a citar Breogán quando
diz que não é só de Moutinho que se sente falta”.
Diz Breogán:
"Ontem, não foi só Moutinho que faltou. Faltou também um 10 e extremos capazes de alimentar o ataque. Dir-me-ão que isso tem faltado quase sempre esta época! Não podia estar mais de acordo, só que agora para além disso, faltou Moutinho, o nosso 8 com melhor qualidade de passe e dá à equipa maior verticalidade"
É nessas características que a
meu ver a equipa tem que apostar de forma declarada no centro do terreno, um
James criativo e solto e não um James partindo amarrado de uma linha. Um James
mais Alenichev imprevisível e menos Lucho de futebol regra e esquadro.
Juntando a este futebol as variáveis
fantasia, verticalidade e profundidade creio que contra estas equipas que só
pensam em defender e depois fé em Deus no ataque, resolvíamos grandes bloqueios ofensivos
que temos padecido.
Por último e quanto ao
campeonato, resta dizer que até ao fim nos restam 9 finais com algumas saídas
complicadas nomeadamente à Madeira nomeadamente para defrontar o benfica C onde
geralmente ao adversário é prestada vassalagem e contra nós costumam-se esfolar, e ao Nacional num terreno que nunca é fácil e com umas condições
climatéricas sempre meio estranhas, não menosprezando os outros adversários e
fazendo um pouco de futurologia creio que será nestes campos e depois no nosso estádio
aquando da visita do Benfica que se resolverá o campeonato e onde só a vitória
nos interessará.
É nessas 9 finais que temos que estar focados, pensando em nós
próprios em primeira instância, não contando com o ovo no dito da galinha
porque este ano ou muito me engano ou o adversário de uma forma ou de outra
(tenho mais receio da “de outra”) irá conseguir levar os seus adversários de
vencida até porque considero terem um calendário teoricamente mais fácil.
Por: Rabah Madjer
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