segunda-feira, 4 de março de 2013

FC Porto e o Tiki Taka Tripeiro.









Decorrido mais um fim-de-semana futebolístico que tem infelizmente como principal novidade o nosso empate em casa do 10º classificado na tabela classificativa da Primeira Liga, como à umas semanas atrás tínhamos empatado igualmente em nossa casa com o 14º neste caso o Olhanense e por consequência o baixar ao segundo posto na tabela classificativa






Centremo-nos precisamente nestes percalços mediante equipas medianas do nosso campeonato, equipas que geralmente como virou moda dizer, estacionam os seus autocarros perto da sua área e rezam a Deus para que num contragolpe, numa transição rápida consigam um golo milagreiro.

O FC Porto de Vítor Pereira tem-se caracterizado esta época por um modelo de jogo bem definido, um modelo que esteve em laboratório praticamente um ano e que agora aparece aos olhos dos adeptos já sustentado, é um futebol de posse e toque curto que vou apelidar de Tiki taka Tripeiro.

Este FC Porto apresenta um ADN muito próprio em Portugal, é uma equipa que gosta de ter bola, que não joga rápido mas procura com o seu modelo desorganizar os adversários fazendo-os correr atrás da bola, que procura sempre várias linhas de passe geralmente curto e que joga com as linhas muito próximas umas das outras, procurando após uma perda de bola ter a segurança de uma rápida recuperação e consequente nova construção, não querendo nunca ser apanhada desposicionada. Não é um modelo de futebol rápido mas é um modelo desgastante para quem tem que correr atrás da bola e um modelo seguro na fase de transição Ataque-Defesa.

Partindo da base táctica do 4:3:3 este FC Porto tem um modelo muito próprio de jogo, Vítor Pereira no seu modo de ver o jogo “despreza” os extremos puros, o extremo que estica o jogo e dá profundidade até a linha de fundo, optando por falsos extremos que no ultimo terço do terreno fletem para o centro procurando o futebol apoiado e a partir daí com toque e tabela ganhar espaço para desfeitear o adversário. Com esta derivação Vítor Pereira a meu ver procura sobretudo entrar na muralha adversária confundindo-a e ganhando ao centro superioridade numérica de modo a alimentar o ponta de lança, geralmente servido no pé.





James é esse extremo, Ismaylov idem e até Varela deixou de ser um flanqueador nato para procurar também ele zonas interiores do terreno. Andando um pouco para trás no tempo percebemos que os extremos flanqueadores que existem no plantel ou estão muito verdes ainda (Atsu e kelvin) ou aos poucos foram emprestados ou até dispensados, socorro-me dos nomes de Djalma e Iturbe, jogadores com características de flanqueadores (mais Djalma) e desbloqueadores que Vítor Pereira achou excedentários na sua visão e estilo de jogo coletivo, não por serem maus jogadores, mas por não se encaixarem no ideal táctico preconizado.



Neste Porto já vimos pelo contrário na função de falso extremo jogadores como Defour ou até Lucho e Moutinho ocasionalmente, o que sustenta em teoria este modelo de jogo tão característico.

É um modelo de jogo que entrando o primeiro golo cedo, é um regalo para a vista e para o futebol, é um futebol de domínio absoluto de vertentes estatísticas do futebol, como o tempo de posse de bola por exemplo que tende em ser arrebatador.

O problema é que como em quase tudo na vida nunca há bela sem senão e neste caso as equipas do campeonato já criaram muitas delas “vacinas” para este estilo de futebol, descendo o seu bloco defensivo e fechando os espaços ao centro.

Como o nosso futebol não é um futebol onde impere a velocidade e o desequilíbrio individual, antes a força do coletivo muito bem estruturado, com blocos baixos como costumam jogar equipas menores do nosso campeonato mesmo nos seus estádios, como foi agora o caso do Sporting, tinha sido antes do Olhanense e antes mesmo com Rio Ave, geram-se com isso dificuldades acrescidas ao nosso futebol caracterizado  em trocas sucessivas de bola e com passes quase no pé, curtos.

Partindo do princípio que quatro terços dos nossos jogos são jogados contra equipas que optam por estratégias defensivas, com blocos baixos e na frente fé em deus e num velocista que lá metem, eu estou em crer que não conseguindo chegar ao golo cedo este tipo de futebol pode e tem jogado muitas vezes contra nós.

É um futebol que em exagero e com o resultado em empate ou até derrota, consome demasiado tempo, joga contra nós no relógio e nessas situações já não raramente vimos com o aproximar do fim a nossa equipa a buscar situações de passe direto mas já sem grande critério.






Eu gosto deste futebol, mas creio que para resultar a equipa precisa de menos régua e esquadro mas de mais improvisação. Precisa no centro do terreno de alguém que acresça imprevisibilidade e criatividade como tão bem tem explicado o Breogán nas suas análises aos jogos (a última das quais uma lição de ler futebol e que deve ser lida e relida AQUI), precisamos de alguém que faça funcionar os flancos, precisa sobretudo de esticar o seu jogo à linha.






Estamos a promover demasiado o toque e menos o cruzamento da linha de fundo para as costas da defesa contrária, se em tempos se podia entender esse futebol em Portugal pelo falta quase genética de verdadeiros avançados centro, hoje em dia com Jackson temos uma solução a roçar o ótimo para desenvolver um futebol de ataque variado e com variadas solicitações.

Hulk dava isso a esta equipa, mesmo não estando o modelo devidamente consolidado, não raramente procurava a linha para cruzar, com a vantagem de nos dar também soluções de criatividade e imprevisibilidade que só por si resolviam jogos ou deixavam as defesas contrárias mais contraídas e assustadas.

Hoje em dia não temos Hulk, mas temos James (!), um James com uma capacidade de passe, criatividade e visão de jogo como mais ninguém no plantel consegue dar e aqui volto a citar Breogán quando diz que não é só de Moutinho que se sente falta”. 

Diz Breogán: 

"Ontem, não foi só Moutinho que faltou. Faltou também um 10 e extremos capazes de alimentar o ataque. Dir-me-ão que isso tem faltado quase sempre esta época! Não podia estar mais de acordo, só que agora para além disso, faltou Moutinho, o nosso 8 com melhor qualidade de passe e dá à equipa maior verticalidade"

É nessas características que a meu ver a equipa tem que apostar de forma declarada no centro do terreno, um James criativo e solto e não um James partindo amarrado de uma linha. Um James mais Alenichev imprevisível e menos Lucho de futebol regra e esquadro.

Juntando a este futebol as variáveis fantasia, verticalidade e profundidade creio que contra estas equipas que só pensam em defender e depois fé em Deus no ataque, resolvíamos grandes bloqueios ofensivos que temos padecido.





Por último e quanto ao campeonato, resta dizer que até ao fim nos restam 9 finais com algumas saídas complicadas nomeadamente à Madeira nomeadamente para defrontar o benfica C onde geralmente ao adversário é prestada vassalagem e contra nós costumam-se esfolar, e ao Nacional num terreno que nunca é fácil e com umas condições climatéricas sempre meio estranhas, não menosprezando os outros adversários e fazendo um pouco de futurologia creio que será nestes campos e depois no nosso estádio aquando da visita do Benfica que se resolverá o campeonato e onde só a vitória nos interessará. 




É nessas 9 finais que temos que estar focados, pensando em nós próprios em primeira instância, não contando com o ovo no dito da galinha porque este ano ou muito me engano ou o adversário de uma forma ou de outra (tenho mais receio da “de outra”) irá conseguir levar os seus adversários de vencida até porque considero terem um calendário teoricamente mais fácil.


Por: Rabah Madjer

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