As selecções nacionais de futebol foram criadas com o propósito de representarem cada país, albergando os respectivos melhores jogadores.
Contudo, vários são os exemplos de selecções em que a escolha nem sempre recaía nos melhores: profissionais vs amadores, brancos vs negros, nacionais e oriundi, conflitos regionais ou, mais recentemente, interesses económicos, vários são os motivos que têm, ao longo dos tempos, condicionado as escolhas dos 11 melhores.
Também a selecção nacional de Portugal teve/tem alguma dificuldade em escolher os 11 melhores; mas, complementarmente, aos motivos atrás referidos, esta dificuldade, esteve muitas vezes relacionada com um antagonismo (in)explicável a um clube de futebol: o FCP.
Os “afastamentos relacionais” da selecção nacional ao FCP trespassam a história do futebol nacional e são facilmente reconhecidos por qualquer observador do futebol nacional: o consulado de Scolari ou, mais antigo, a célebre convocatória de Wilson, ultrapassam muito as questionáveis opções de treinadores, como de João Moutinho, recentemente, mas também de Futre/1986 ou Américo/1966, por exemplo.
Os “afastamentos relacionais” da selecção nacional ao FCP trespassam a história do futebol nacional e são facilmente reconhecidos por qualquer observador do futebol nacional: o consulado de Scolari ou, mais antigo, a célebre convocatória de Wilson, ultrapassam muito as questionáveis opções de treinadores, como de João Moutinho, recentemente, mas também de Futre/1986 ou Américo/1966, por exemplo.
Aliás, não deixa de ser interessante verificar que, as divergências entre o FCP e a selecção nacional tiveram início no primeiro jogo da selecção nacional.
Pois é então esta a proposta para este texto: acompanhar a presença (ou ausência…) dos jogadores do FCP na selecção nacional.
Para isso, começaremos com os primeiros 15 jogos da selecção nacional, até à presença nos Jogos Olímpicos de 1928.
Num início da década de 20, começaram os contactos para formar uma representação nacional de futebol.
Esta era uma época onde existiam alguns torneios regionais, sobressaindo o Campeonato de Lisboa, pois o Campeonato do Porto era menosprezado pela existência de um crónico campeão – o FCP. Estranhamente, e apesar dos diversos desafios formulados pela imprensa do Porto, os clubes de Lisboa permaneciam sem grande vontade em criar um campeonato nacional. Note-se que, nesta altura, Espanha ou Itália, por exemplo, já tinham competições nacionais há quase 20 anos.
Foi então neste contexto que se disputou o primeiro desafio entre Portugal e Espanha. Entre os eleitos, contavam-se 10 jogadores de clubes de Lisboa e 1 … do FCP: Artur Augusto, natural de Lisboa, um dos primeiros profissionais do futebol nacional, que apresentaremos à frente.
(Artur Augusto é o 5º a contar da direita) |
A reacção da imprensa portuense à derrota foi de desdém, encarando esta representação como uma selecção de … Lisboa.
Até 1925, a selecção nacional haveria de disputar mais 4 jogos, perdendo todos os desafios com a Espanha e triunfando, no quinto, sobre a Itália.
Entretanto, em 1922, começa a disputar-se o Campeonato de Portugal. Até 1924, o FCP registaria uma vitória e uma final perdida, aliás percurso idêntico ao Sporting. A vitória em falta foi do Olhanense. Nos torneios regionais, o FCP venceu todos os campeonatos e, em Lisboa, o Sporting e o Casa Pia vencerem dois cada.
Seria, pois, expectável, numa época em que os ingleses já não dominavam os 11 das equipas nacionais, que a distribuição dos jogadores presentes na selecção estivesse, minimamente, correlacionada com o percurso mais ou menos vitorioso de cada equipa. Seria! Mas não foi!
O Sporting e o Benfica tiveram muito mais de metade das internacionalizações e os clubes de Lisboa concentraram 85% das internacionalizações dos primeiros jogos de Portugal. Certamente, seria o FCP – campeão crónico do Porto – o clube mais representado depois dos clubes de Lisboa! Errado! O Olhanense teve mais do triplo das internacionalizações do FCP, as quais se resumiram à já referida participação de Artur Augusto e, em 1923, de Balbino. Duas internacionalizações em 5 jogos! Até o Académico (de Costa Cabral) teve em Manuel da Fonseca e Castro um internacional!
Assim, começava uma história de amor!
Em 1926 e 1927, a selecção nacional disputou mais 6 jogos! 6 jogos e … ZERO internacionais para o FCP! Um jogador do Boavista, um do Braga, porém…nenhum do FCP! E, não obstante os títulos regionais, o FCP sagrou-se campeão de Portugal em 1925 e foi semi-finalista em 1926!
E, só nos primeiros quatro jogos de 1928, antes dos jogos Olímpicos, surgiu o primeiro internacional repetente do FCP: Waldemar Mota. É verdade que tinha de ser um fora-de-série, um extremo direito (que haveria de se converter em interior) fenomenal, reconhecido por ter sido o primeiro jogador português a marcar 3 golos num jogo da selecção – no Ameal.
O resumo dos primeiros 15 jogos da selecção nacional é apresentado no seguinte quadro:
Certamente é uma coincidência que a equipa com mais títulos e a segunda equipa com mais presenças em finais do Campeonato de Portugal, apenas tivesse 3 jogadores internacionais em 15 jogos distribuídos por 6 anos. No plano oposto, outras equipas, sem quaisquer títulos (nem regionais…) ou presenças em finais do Campeonato de Portugal conseguiram ter 10 jogadores internacionais.
Na verdade, José Tavares Bastos e o guarda-redes Lino Moreira estiveram selecionados para o segundo jogo internacional de Portugal, porém um castigo e uma lesão, respectivamente, impediram a presença de ambos. Contudo, reduzida seria a alteração ao quadro anterior.
Coincidências, indubitavelmente, que, como veremos, se multiplicarão ao longo da história da selecção nacional…
Eis então os dois primeiros internacionais do FCP, ambos naturais de Lisboa!
Artur Augusto foi formado no Benfica, jogando na companhia do seu irmão mais velho: Alberto Augusto, conhecido como o Batatinha. Nessa altura, ele era predominantemente um interior, oscilando entre a direita e a esquerda, revelando-se, igualmente, um regular marcador de golos. Titular indiscutível, ocasionalmente, jogava, já, a defesa, revelando uma invulgar capacidade de adaptação, mas que haveria de se manter ao longo da sua carreira.
Em Junho de 1921, encontrando-se seleccionado para um jogo do Benfica, não comparece, transferindo-se para o FCP, a troco de bom dinheiro (mil escudos por mês, presume-se) – algo não reconhecido numa época em que os jogadores não eram profissionais.
Jogou uma única vez pela selecção nacional, em Dezembro de 1921. Os relatos do jogo indicam que terá actuado a bom nível, estando entre os melhores em campo, fazendo a asa esquerda na companhia do seu irmão.
Artur Augusto haveria de se manter no FCP por apenas duas épocas. Nessas duas épocas, embora tenha começado por jogar a interior, foi a defesa-esquerdo que actuou nas finais do primeiro Campeonato de Portugal, que o FCP venceu. Na segunda época ao serviço do FCP manteve-se a defesa-esquerdo.
A sua presença nas equipas do FCP é recordada pela entrega que sempre revelou, mas também pela qualidade técnica e invulgar polivalência.
Regressou depois a Lisboa, começando por jogar no Carcavelinhos e acabando a sua carreira com participações esporádicas no clube que o formou. O título de campeão de Portugal e a imortalidade, enquanto primeiro internacional do FCP, conquistou-os no FCP.
José Balbino da Silva ingressou no FCP na época de 1921/22. Balbino era um casapiano que haveria de adoptar o Porto como a “sua” cidade, embora, a exemplo de Artur Augusto, natural de Lisboa.
Balbino era um jogador ofensivo, predominantemente médio-interior, que algumas vezes era utilizado como avançado-centro.
Ingressou no FCP para jogar na 3ª categoria, porém, joga os 3 jogos da final contra o Sporting, na posição de interior, marcando mesmo um dos golos da finalíssima disputada no Campo do Bessa. Reaparece como titular duas épocas depois, mas agora como avançado-centro. Na época do segundo título de campeão de Portugal – 1924/25, Balbino retoma a posição de interior, embora oscilando, por vezes, entre a extrema-direita e a posição de avançado-centro.
Jogou no 3º jogo da selecção, em Sevilha, contra a Espanha, na posição de interior. Os relatos (dos jornais de Lisboa) das suas aparições nos jogos-treino de preparação deste embate não eram favoráveis, referindo-se alguma desorientação. A derrota copiosa neste jogo (0-3) não suscitou referências elogiosas a nenhum jogador. Também ele, a exemplo de Artur Augusto, não haveria de regressar à selecção.
Em meados da década de 20, Balbino envolve-se numa polémica interna, primeiro por discordar da nomeação do director José Guimarães, depois envolvendo outros jogadores e fazendo referências difusas ao profissionalismo. Muda-se para Lisboa, jurando não regressar ao FCP. Não seria assim! Joga no Casa Pia, mas acaba por regressar ao FCP, onde ainda jogaria no final da década.
Balbino era um tecnicista, mas, igualmente, capaz de marcar golos.
Por: Jorge
Por: Jorge
4 comentários:
Começo por dizer que não sou adepto da Selecção da FPF, sou apenas e só DRAGÃO,mas depois de ter lido esta crónica, aliás bem escrita e elucidativa mais reforço a ideia do anti-selecção.
Aliás recordo a decisão do meu clube e do saudoso José Maria Pedroto em não autorizar a ida de nenhum jogador do FCP aquele jogo particular com a Espanha realizado em Vigo, tendo o Comboio em Campanhã esperado pela entrada dos Jogadores. SOMOS PORTO, SOMOS NORTE .
Fico à espera dos próximos capítulos!
Um jogador colocado na prateleira foi Fernando Gomes, indiscutivelmente , na época, o melhor ponta de lança português. Havia de jogar sempre o Manuel Fernandes. Nas raras vezes que jogou, o resto da equipa boicotava o Gomes, começando pelo Jordão.
Recentemente, Paulo Bento forçou Moutinho a jogar lesionado, o que custou caro na liga dos campeões. Agora, como saiu do Porto já há dispensas.
Parabéns! Excelente Crónica!
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