Não embandeiro em arco. As grandes
equipas inglesas ou italianas quando jogam contra as grandes equipas
portuguesas fazem-no como o PSG fez na quarta-feira.
Especulam com o 0-0 e mostram tanto
desejo em marcar golo como o Beira-Mar ou a Académica enquanto visitantes.
Há inúmeros exemplos nos mais recentes
anos de equipas de nomeada que se apresentam dessa forma na Luz ou no Dragão.
Quem se quiser animar dirá que somos
nós que obrigamos esses adversários de nomeada a não sair da toca. Que eles não
jogam, apesar de estarem cheios de vontade, porque nós não deixamos.
O PSG deste ano, como o Manchester City
do ano passado, não joga para ganhar encarando o empate como um 2.º resultado
aceitável.
Essas equipas fazem o contrário.
Apostam no 0-0 e, se possível, arriscam a vitória.
Nesses jogos especulativos o clic é
normalmente o primeiro golo, quando ele é marcado por uma equipa Portuguesa.
Há uns anos o Benfica eliminou um
Liverpool fortíssimo por causa disso. O 1-0 da 1ª mão acontece já nos últimos
10 minutos o que transformou a calma glaciar da 1ª mão para uma ansiedade
suicida na 2ª.
O ano passado, quando cá jogou o City,
o golo de Varela obrigou a que o clic no jogo fosse cedo demais. Este ano o
golo de James veio no momento certo.
Não embandeiro em arco. Vejo uma equipa
forte, capaz de se bater com qualquer equipa extra Barca, Real ou Bayern mas
capaz de não desbloquear jogos com Académicas, Nacionais ou Moreirenses.
Entre o último ano de Jesualdo
Ferreira, o ano de AVB e este Porto de Vítor Pereira há uma alteração colossal.
É um 4-3-3 mas a equipa das transições
ofensivas rápidas morreu. Somos uma equipa fortíssima na pressão alta mas
estamos cada vez mais incapazes de traduzir essa pressão em algo consequente.
A diferença entre o Porto de JF e AVB e
este Porto de VP é um bocadinho como a diferença do Barça de Guardiola e da
Espanha de Del Bosque deste último Euro.
O Porto mordaz, acutilante e rápido
morreu. Este é um Porto com tremenda qualidade na posse, com uma percentagem
elevadíssima de jogadores que sabem como passar, como se posicionar e o que
fazer com e sem bola.
A Espanha de Del Bosque tinha Xavi,
Iniesta, Silva, Cesc, Xabi Alonso, Busquets. Todos sabiam o que fazer com bola,
como se posicionar, como tabelar. Faltava potência e velocidade.
Faltando Villa ou Pedro faltava o
resto. Plagiando a música de Adriana Calcanhoto se havia a Estrada faltava o
Carro, se havia Romeu faltava a Julieta e se havia queijo faltava a goiabada.
Messi é carro e estrada, Pedro e Villa
são a Julieta e a Goiabada.
Quem gosta de NBA recorda com saudade a
dupla Stockton/Malone.
A Espanha de Del Bosque e o Porto de
Vítor Pereira estão cheias de Stocktons. Faltam Malones.
Este Porto que vimos na quarta-feira
está cada vez mais próximo do padrão da Espanha de Del Bosque que, na minha
opinião, é batível ao contrário do que a realidade tem demonstrado.
Não temos aquela percentagem de posse
de bola mas temos uma enorme qualidade de passe e fazemo-lo com critério e
noção de jogo de Champions. Perante a postura passiva do adversário fizemos um
jogo adulto e à altura do exigível.
Quem quiser ver o jogo de forma mais
desapaixonada percebe que grande parte das oportunidades de golo nasce do facto
de jogarmos contra uma equipa grande que quis jogar em contexto defensivo.
Como equipa grande que é o PSG quando
recuperava a bola na defesa tentava sair a jogar. Devagarinho mas a passar a
bola de uns para os outros no 1.º terço.
Ora, o ponto forte colectivo deste
Porto é o miolo. É o meio-campo. Dos melhores da Europa. O PSG arriscou passar
pelo meio dessa matilha em vez de a tornear. E assim nasce o golo e
oportunidades como as de Varela ou Jackson.
A nossa pressão alta sufoca a saída de
bola do PSG.
Como acima expus se a pressão alta é o
nosso ponto forte falta velocidade de ponta que confira a essa arma um carácter
letal.
Se não o fizermos vamos continuar a ser
equipa para discutir jogos destes mas seremos também equipa para sofrer para
ganhar ao Zagreb em casa.
Equipas pequenas a jogar em contexto
defensivo evitam a pressão alta. Jogam com bloco baixo e não batem no muro.
Se o Sporting jogar no Domingo como
jogou na 2ª metade da época passada ou no início desta época vai ser muito
difícil.
Porquê?
1
– Falta o carro para comer metros de estrada.
Fernando, Lucho, Moutinho, James, Alex
são top a passar, a posicionar e a cortar mas precisam de estrada.
Temos que ter velocidade de ponta nas
alas.
O plantel do Porto tem Miguel Lopes,
Danilo, Iturbe e Atsu capazes de dar essa 6ª velocidade.
Atsu tem velocidade e muito talento mas
não tem baliza. É um terror para qualquer defesa lateral mas 90% das vezes ou
cruza ou chuta fraco.
Quem se lembra do brasileiro Artur
percebe o que digo. Era um avançado que podia jogar na ala e que era um perigo
para o lateral e para o redes.
Atsu ainda está verde e é um terror
para o lateral mas um cordeiro para qualquer redes.
A substituição de Álvaro por Alex
fez-nos ganhar muita coisa a nível de posicionamento defensivo, capacidade de
jogar por dentro, desequilíbrios no 1 para 1 mas fez-nos também perder um
bocadinho do carro que acelerava sem travão naquela estrada.
Este Alex é melhor jogador que o Álvaro
mas é mais um jogador na linha da qualidade de passe, posicionamento que
monopoliza o onze inicial do FCP.
O Porto precisa de locomotivas.
Ficamos sem Hulk, sem Álvaro e o Varela
de hoje não é o de há 3 anos. É mais um extremo capaz de ir à linha mas não
ganha em velocidade pura a um lateral como faz Atsu.
Em jogos destes tem a vantagem de dar
peso e consistência à equipa mas cada vez menos é o comboio que precisamos para
esticar o jogo.
2
– Meia distância e meio rompedor.
Lucho é o nosso médio com mais chegada
e tem poder de remate à entrada da área.
Moutinho tem menos chegada e falta-lhe
poder de remate. Já não digo à Guarin mas pelo menos à Belluschi.
Fernando é um médio sem chegada e pouco
vocacionado para a meia distância.
James tem poder de remate a média distância
mas aposta pouco nessa vertente.
Destes 4 há 2 capazes de conferir à
equipa um poder de fogo adicional mas o chip é o do Barça. De tentar mais uma
tabela, mais um passe em vez de sinalizar o adversário que à entrada da área a
marcação zonal pode ser um perigo.
Um exemplo disso é uma jogada na 2ª
parte entre James e Lucho. Se fosse entre James e Moutinho eu percebia e
defendia o forçar da tabela.
Quando a bola está em Lucho e há espaço
eu quero que ele remate. Não podemos ser só tiki e taka. Os que têm poder de
fogo devem dar à equipa essa arma.
Quando AVB encaixou Guarin a Moutinho
no meio-campo fez o Porto subir de nível não pela qualidade individual que
Guarin tem face a Belluschi ou Micael mas por dar a uma equipa já de si muito
boa armas adicionais. Complementaridade.
Potência, poder de fogo e capacidade
para romper defesas com bola.
Face ao plantel actual só vejo um
jogador capaz de dar ao nosso meio-campo essa característica. Esse jogador
chama-se Danilo. Não vou por aí porque não interessa mexer naquele trio e
Danilo é fundamental para preencher outro vazio.
3
– Jackson.
Se eu fosse treinador de futebol pegava
no Homem e ia jogar à sardinha para apurar reflexos. De tanto levar palmadas
nas mãos havia de perceber que há jogos em que a velocidade de reacção pode
evitar muita dor.
As principais qualidades de Jackson já
vistas são o jogo aéreo e a qualidade que mostra com a bola nos pés. Trata bem
o esférico e vê-se que sabe o que fazer com ele.
Qual é o problema?
Quantos cruzamentos faz o Porto? Quantos cruzamentos faz este Porto?
De que vale ter jogo aéreo se o estilo
Barceloniano privilegia o toque, a tabela e o passe?
Ele sabe o que fazer com a bola mas o
tempo em que a mensagem vai do cérebro (emissor) ao receptor (ponta da
chuteira) é elevadíssimo.
O treino do jogo da Sardinha serviria
para isso. Para tentar ajudar a transformar este jogador que parece ser mais de
gramado sul-americano do que de relvado Europeu.
O
que fazer para melhorar este Porto?
Perceber os pontos fortes deste Porto é
essencial. Para melhorar não basta identificar o que está mal. Importa que as
correcções a fazer não destruam os pilares do que até agora corre bem.
O melhor que este Porto tem
colectivamente é Lucho/Moutinho e Fernando. É o miolo.
O melhor que este Porto tem é a
capacidade de desequilíbrio individual de James.
A) O que se deve fazer é partir desta
base. Não ficar embriagado com Defour a 6 ou James a 10 e destruir a força
colectiva deste Porto.
Na passada 4ª feira quando vi Atsu na
linha para entrar uma parte de mim desejava a saída de Lucho para dar aquele
plus ofensivo que parecia ser necessário.
A outra pedia a saída de Varela para
não pôr em risco o controle e o domínio de jogo que estava nas nossas mãos.
Essa luta interna foi desfeita 2
minutos depois. Quando numa transição rápida com Fernando e Moutinho
desposicionados vi o aparente desgastado Lucho a disputar um sprint longo com o
fresco Lavezzi em velocidade para lhe roubar uma bola por trás em carrinho
perto da nossa área.
Esses lances que não aparecem no resumo
de três minutos são a diferença entre a vitória ou a derrota.
Mais vale ser acusado de cinzentismo do
que arriscar o caos táctico. No momento em que Sá Pinto ouviu os críticos e
optou por tirar médios para dar ofensividade trocou o cinzentismo pelo caos.
O papel que VP sempre deu a James é o
correcto. O Porto tem que dar a liberdade que o seu melhor jogador ofensivo
precisa. Se não pode jogar a 10 porque mina o ponto forte colectivo tem carta
branca para desequilibrar a equipa tirando-lhe a simetria nas alas.
B) Para devolver essa simetria é urgente
descobrir um comboio nas alas. É fundamental dar a Danilo o papel que Daniel
Alves tem no Barça. É fundamental que o trio de meio-campo perceba que aquele
lateral tem que arriscar ofensivamente e preencher aquele espaço se preciso
for.
C) Iturbe é neste contexto fundamental.
Não por ser o novo-Messi mas por ter características que a equipa precisa. A 6ª
velocidade, baliza e poder de fogo.
Fundamental para estar no banco. Não
faz sentido ter Castro + Miguel Lopes + Defour no banco.
Bastaria Miguel Lopes + Defour para
precaver quaisquer catástrofes no miolo. Danilo pode lá jogar, lembro.
No banco tem que haver um
governo-sombra para o trio da frente. Só com Atsu e Kleber a equipa fica manca
no banco.
D)
Dar minutos a Kleber enquanto se
trabalha a velocidade de reacção de Jackson. Perante defesas viciadas no estilo
Jackson uma injecção de Kleber poderia trazer efeitos energéticos similares ao
que vimos na troca Varela/Atsu contra o PSG.
E)
Rolando. Rolando está para Otamendi
como Fernando está para Defour.
Em teoria, Otamendi não merece ir para
o banco. Desde que assumiu a titularidade tem estado a um bom nível. O problema
é que eu penso que este bom nível é o máximo que o Otamendi nos pode dar.
O Rolando ainda é (com licença do
potencial de Maicon) o melhor central que o Porto tem e uma garantia de qualidade,
segurança e fiabilidade.
Não faz sentido pôr na prateleira ou
desperdiçar um activo que pode dar a experiência, qualidade e tranquilidade que
esta jovem equipa precisa.
É por aqui que o Porto tem que
caminhar.
A base deve ser Helton, Danilo, Maicon,
Rolando, Alex, Fernando, Moutinho, Lucho e James.
Estes 9 são a base. Atsu/Varela e
Jackson/Kleber para serem usados como Belluschi/Guarin e Otamendi/Maicon eram
utilizados por AVB. Até que fique demonstrado à saciedade que a equipa joga
mais e melhor com um do que com outro.
Danilo é a peça-chave na equipa. Deve
ter a invulgar liberdade que é conferida a um defesa.
“Podes ser ala, podes atacar. Deves ser
tu a subir nos cantos e Fernando a acompanhar Alex cá atrás.”
Tendo a liberdade para atacar deve ser
encorajado a experimentar a meia distância de quando em vez. É um jogador com
jogo aéreo, com chegada, com cruzamento e com físico. Precisa de ser libertado
para preencher o obrigatório buraco James e dar simetria e cruzamentos que
Jackson precisa.
Iturbe deve ter em 2012/13 o papel que
Juary tinha há décadas atrás.
Kelvin pode ser uma arma importante se
em determinados jogos se perceber que só de bola parada lá chegamos.
Se James e Maicon mostrarem o perigo
que o Porto pode representar nas bolas paradas injectar um talento como Kelvin é
garantia de faltas à entrada da área aos magotes. É virtualmente impossível
tentar tirar a bola ao miúdo sem lhe acertar na canela.
Não embadeirar em arco. Não pôr as
fichas todas na capacidade de posse. Dar mais soluções. Ter carro e estrada.
Queijo e Goiabada. Melhorar este Porto.
Por: Walter Casagrande
4 comentários:
Em primeiro lugar queria dizer que sao estas "discusoes" que gosto de ler.
Começando pelos 2 primeiros pontos, penso que se a vitória nao deve ser embandeirada em arco, também nao deve ser menosprezada. Todas as grandes equipas jogam desta forma fora de casa, quer na fase de grupos quer nos playoffs se este for o 1º jogo. O pensamento é básico, um empate fora de casa ou até uma derrota tangencial pode dar sempre para tentar recuperar em casa.
O segundo ponto tem haver com a matriz de jogo do Porto, e que para mim foi relativamente alterada no jogo com o PSG, nao sendo de desprezar aqui os numeros da posse de bola. Normalmente a pressao que fazemos tem quase como objectivo final a recuperaçao da bola, quarta-feira pressionamos como forma de voltarmos a atacar, nao deixando de concordar que parte das oportunidades surgiram porque o PSG tentou trocar a bola entre os seus jogadores mais recuados, o que normalmente nao acontece com as equipas que se deslocam ao Dragao.
Já o meio-campo, sendo o actual forte, penso que existe algum conflito com aquilo que o VP pretende que ele realize, é que ter muita posse de bola nao significa que tenhamos assim tanta qualidade de posse e circulaçao e isso torna-se mais evidente quando queremos controlar os jogos controlando a bola, mas também quando queremos ter qualidade de posse em progressao. Perdemos muitas vezes a posse da mesma em zonas nao protegidas e com a equipa disposicionada permitindo com alguma facilidade contra-ataques muito perigosos.
Também me parece que muitas vezes existe uma falta de capacidade de transporte de bola no meio-campo porque Moutinho tem feito pouco esse trabalho, nao sei se com ordens ou nao e tem-se dedicado a um trabalho de maior cobertura enquanto Lucho fica mais liberto para acçoes atacantes. Na quarta penso que a melhoria do jogo do Porto também passou por aí, podendo ser reflexo ou nao de ter Fernando nas suas costas.
Nao ficando agarrado à ideia de James no meio, é necessário uma forma de ele estar presente em mais momentos do jogo, como organizador, fazendo que a bola chegue-lhe aos pés com mais frequencia e mais qualidade para além de compensar a sua derivaçao para o meio, para que a equipa nao fique tantas vezes coxa em termos atacantes, tornando o seu jogo mais previsivel.
Só mais 2 notas individuais:
Rolando: nao parece que se trate da sua qualidade, mas sim de 1 problema interno, para além de que nao sei da sua condiçao psicológica neste momento para voltar sendo que na época passada nao foi exactamente o espelho de tranquilidade e segurança defensiva.
Jackson: ainda nao tenho uma opiniao completamente formada sobre ele. Tem marcado golos, tem revelado pormenores interessantes, mas também consegue passar do 80 ao 8 na mesma jogada.
gostei . boa perspectiva.
Relativamente ao Texto concordo com 80%. O Caso Rolando, devia de ter sido resolvido na época anterior, ou com mais jogos (mais motivação) ou com a venda do mesmo de forma a não se tornar o problema que é hoje. Acho que devia-se de dar mais tempo em jogos "menores" ao Mangala para este crescer.
O Moutinho do Porto é um Moutinho mais recuado que o do Sporting. As tarefas defensivas, coberturas de espaços e dobras dos laterais são muito maiores, não lhe sobrando tempo e espaço para tentativas ofensivas (façam um termos comparativo de golos no porto e no sporting).
Jackson ainda necessita de tempo para perceber a diferença do futebol europeu. Mesmo assim estou a crer que vai marcar mais golos na época de estreia do que Falcão marcou.
James necessita de ter bola, de ter jogo, O Messi no Barcelona vem buscar jogo onde for preciso para tabelar, arrancar, driblar. James não é um Messi mas também tem esta necessidade de ter bola é necessário encontrar esta sua maior dinâmica com a equipa.
Novamente acho VP um treinador razoável. O Porto é que tem uma grande equipa.
Relativamente ao PSG é um ano de mudanças, tudo é novo. Mesmo dentro do próprio 11 a estrutura mudou, os jogadores. Verratti por exemplo ainda agora começou a jogar, Pastore esta a demorar a se afirmar. Na segunda volta será muito mais complicado, Ancelotti veio ao Dragão empatar. Mentalidade italiana pura. (Atenção não estou a tirar o mérito ao Porto)
O Jogo em Kiev pode demonstrar se realmente estamos fortes ou não, o Zagreb é muito fraco para podermos ter percebido se realmente temos ou não possibilidades de ir longe na competição.
Concordo com muito do que foi escrito.
Na "situação" de Rolando nem tanto.
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