domingo, 16 de dezembro de 2012

Segunda Liga: CD Feirense 1 - 0 FC Porto B (Por Breogán)



Perder no detalhe.

Foram alguns detalhes que determinaram o fim da série de bons resultados do FC Porto B. No entanto, não é uma derrota alarmante. O FC Porto B já está numa posição mais confortável na tabela e, em abono da verdade, fez um jogo bem aceitável em Santa Maria da Feira e bem distante da mediocridade exibicional dos primeiros jogos da época.



Já está resolvido o principal problema do FC Porto B. Já há um meio campo funcionante, estruturado e com noção de processos nas transições defensivas e ofensivas. É verdade que neste jogo faltou melhor qualidade e consistência no passe, mas o adversário é um candidato à subida, tem um meio campo com bons jogadores e jogava no seu reduto. Ainda assim, houve muito tempo de jogo em que o FC Porto B controlou as operações a meio campo. Pena foi que esse domínio não tivesse qualquer correspondência no volume e na qualidade do jogo ofensivo do FC Porto B. A razão desta dificuldade reside nos flancos. O jogo flanqueado do FC Porto B é muito pobre, sobrevivendo de alguns lances individuais, mas sem envolvência táctica da equipa. É este o detalhe que determina o vencedor neste jogo.


O FC Porto B criou muito pouco perigo pelos seus extremos e quando o conseguiu, foi sempre através de lances individuais. Em contra ponto, o Feirense criou sempre perigo pelos flancos durante o jogo, procurando envolver os laterais e os médios interiores no apoio aos extremos. Foi desta forma que o Feirense chegou à vantagem e ainda criou mais dois lances de perigo.

Este é o próximo ponto de trabalho para Rui Gomes nesta equipa do FC Porto B. A atacar os extremos vão sozinhos e a defender os laterais ficam entregues à sua sorte, frequentemente, com situações de 2 para 1. Ainda por cima, não há interligação entre o jogo interior e exterior. Percebe-se bem essa dificuldade na definição das jogadas. Enquanto os extremos do Feirense receberam quase sempre a bola no espaço, os do FC Porto B receberam-na quase sempre no pé. Depois, na conclusão, enquanto os extremos do FC Porto B, sobretudo Iturbe, partiram quase sempre para lances individuais e finalizados por si mesmos, os do Feirense alternavam conclusões individuais com a devolução de jogo para a zona interior.

Quanto ao jogo, começa praticamente com o golo do Feirense, aos 7 minutos, logo no primeiro lance de perigo. Ludovic ganha o flanco e cruza tenso para a área. Rafa, que na altura estava como médio interior, acompanha a jogada criada no corredor contrário e aparece solto para finalizar. É um lance que se repetiu algumas vezes ao longo do encontro, com os mesmos ou com outros protagonistas, mas que sublinha envolvência do jogo interior com o jogo exterior que o FC Porto B nunca conseguiu apresentar.

Responde o FC Porto B, aos 17 minutos. Dellatorre cai no flanco (só mesmo assim!) e serve Tozé na zona central. O 10 do FC Porto B dá de primeira e de calcanhar para Iturbe, que surge isolado e com a baliza à mercê. Com tudo para empatar o jogo, Iturbe permite a defesa a Marco.

Novo lance de perigo, só ao minuto 41, com Tozé, no flanco direito, a serpentear entre os jogadores do Feirense e a rematar cruzado com perigo.

O intervalo trouxe nova entrada forte do Feirense, com Stefanovic a resolver com dificuldade alguns lances.

Aos 65 minutos, Tozé é substituído. Rui Gomes retira à equipa o jogador que ainda fazia chegar algum jogo a Dellatorre e que mais perigo criou na primeira parte. As oportunidades começaram a escassear e é de bola parada a resposta do FC Porto. Livre cobrado por Sérgio Oliveira, Zé António falha a emenda por pouco e a bola acaba por sair rente ao poste. Já no fim do jogo, Dellatorre tem nos pés o empate. A bola sobra para o avançado que, descaído para a direita, sem marcação e só com Marco pela frente, atira por cima!

O Feirense foi melhor, mas não muito melhor. Um pouco mais de qualidade e de jogo de equipa na linha avançada e o FC Porto B teria saído com outro resultado de Santa Maria da Feira.

O problema é que nem no banco parece haver solução, como Rui Gomes o demonstrou ao abster-se de uma substituição. Se assim é, e é de facto!, cabe ir buscar quem o seja aos juniores.

Do lado do Feirense, o destaque vai para Rafa. Não pelo golo, mas pelo jogo que fez a médio interior. Para um ex-junior, fez um jogo muito interessante, personalizado e intenso (sublinho este último detalhe!). Sem medo de ter a bola, sem medo de partir para cima do adversário, sempre de cabeça levantada a procurar a melhor solução e lendo o jogo com e sem bola, não ficando parado à espera que o jogo lhe chegue ou acompanhando as jogadas. Uma exibição para fazer corar alguns ex-juniores de azul e branco.


Análises individuais:

Stefanovic – Um jogo desastrado e irreconhecível. Só não sofreu um golo numa trapalhada por sorte. Muito mal a sair aos cruzamentos e no jogo com os pés.

Diogo – Perdeu o duelo com Ludovic, mas não fez um mau jogo. Nunca teve a ajuda de Kelvin e chegou a ter Ludovic e Marcelo à sua frente. Deu algum espaço a Ludovic que não pode dar, é verdade, mas também fechou outros lances e até dobrou os centrais. Não é jogador para o FC Porto exercer preferência, mas por enquanto, é o melhor que há.

Quiño – Continua pouco agressivo a defender e pouco acutilante a atacar. Não se destaca em nada. Tem 20 anos e chegou há pouco tempo, correcto. Mas continua a demonstrar muito pouco. Teve dificuldades em parar o Jorge Gonçalves e no ataque pouco fez.

Zé António – Seguro e autoritário. Ainda tentou fazer a diferença no ataque, mas desta vez, não deu.

Tiago Ferreira – Pecadilho aqui e ali. Hesitação aqui e ali. No final das contas, alguma dificuldade com a mobilidade de Platini, mas sai de campo com uma exibição positiva.

Pedro Moreira – Esteve abaixo do nível das últimas exibições. Este meio campo do Feirense tem jogadores com boa técnica (Rafa e Diogo Cunha) e um Panzer (Sténio). Lutou e tentou dar segurança no passe à equipa, mas reduziu em demasia o seu futebol. Tem que ser mais afoito, porque tem futebol para isso.

Sérgio Oliveira – Um jogador do seu nível não pode falhar passes de palmatória. Errar um passe lateral na transição ofensiva da equipa é surreal. Fez isso três vezes e das três vezes o Feirense contra-atacou. O mesmo se aplica às suas cobranças de bolas paradas. Não pode continuar a misturar o bom com o sofrível. Ou saca uma cobrança de falta que quase é golo, como depois cobra um canto que sai pela linha lateral do lado contrário! Tem que ser mais consistente e mais persistente. Tem que se dar mais ao jogo. Mais à luta. Que ponha os olhos em Moutinho!

Tozé – Enquanto esteve em campo foi o elo de ligação com o ataque. Quando Rui Gomes o retirou, desligou o ataque. Uma substituição injusta e que prejudicou a equipa. Pontuou o jogo com bons detalhes técnicos e nunca teve medo de meter o pé, o que perante Sténio não é fácil. Tivéssemos melhor jogo flanqueado e seria mais preponderante.

Kelvin – Fez um jogo morno. Detalhes técnicos fantásticos, um ou outro lance vistoso, mas não passou disso mesmo. Algum fogo de vista e pouco mais. Tem que ser mais incisivo e mais produtivo. Os seus lances têm que ter consequência e não esvaírem-se no nada após duas ou três fintas.

Iturbe – Tecnicamente esteve mais apresentável, mas continua a tomar decisões absurdas. Nem embalado consegue ganhar vantagem sobre o adversário. É só encaminhá-lo que, mais cedo ou mais tarde, perde o controlo da bola. Foi presa fácil para André Santos e desperdiçou a melhor oportunidade, sem ninguém por perto. Muito tenrinho.

Dellatorre – Fez um bom jogo, dadas as circunstâncias. Pouco jogo lhe chegava, sobretudo pelos flancos, mas mostrou capacidade técnica para jogar fora da área e foi importante nesse aspecto. Deu luta a Oliveira e não se furtou ao choque. No fim do jogo, desperdiça uma boa oportunidade e nem na baliza acerta. Tanto porfiou e depois desperdiça!


Sebá – Não trouxe nada ao jogo e não tem culpa. Primeiro, porque a sua entrada implicou a saída de Tozé, o que tornou a saída para o ataque bem mais difícil. Segundo, porque também resolveu o problema no flanco quando Iturbe saiu. Não é um extremo puro, mas um jogador que arranca do flanco para a área. O FC Porto B precisa de um extremo capaz de carrilar jogo pelo flanco.

Edú – Não tem a capacidade técnica de Tozé, portanto, pedir ao Edú que faça de Tozé na posição 10 é pedir demais.


FICHA DE JOGO:

Feirense-FC Porto, 1-0
Segunda Liga, 18.ª jornada
15 de Dezembro de 2012
Estádio Marcolino de Castro, Santa Maria da Feira
Assistência: cerca de 700 espectadores

Árbitro: Rui Silva (Vila Real)

FEIRENSE: Marco, André Santos, Oliveira, Luciano, Marcelo, Sténio, Rafa, Diogo Cunha (João Ricardo, 82m), Ludovic (Tiago Jogo, 68m), Jorge Gonçalves e Platiny (Jacob, 90m).
Não utilizados: Sea, Pires, Marcão e Bastian.
Treinador: Quim Machado

FC PORTO: Stefanovic, Diogo, Zé António, Tiago Ferreira, Quiño, Pedro Moreira, Sérgio Oliveira, Tozé (Sebá, 66), Kelvin, Iturbe (Edu, 81) e Dellatore.
Não utilizados: Eloi, Mikel, Fábio Martins, Bruno e Rafa.
Treinador: Rui Gomes

Ao intervalo: 1-0
Marcador: Rafa (7m)
Cartão amarelo: Sérgio Oliveira (79), Marco (90+1), Tiago Jogo (90+3) e Kelvin (90+4)



Por: Breogán

4 comentários:

Anónimo disse...

Excelente cronica. gostei muito de ler.

A equipa B está de facto melhor mas há de facto aspectos a melhorar e que aqui foram citados.

Douro disse...

Perdemos mas temos vindo a melhorar.

Breogan, o Rafa será jogador com futuro para um grande ?

E o Vitor do Paços que hoje voltou a jogar muito bem ?

Anónimo disse...

O Vítor do Paços tem 28 anos...o comboio para ele já passou à uma data de tempo...

Breogán disse...

Ainda é muito cedo para fazer uma previsão. Depende da sua evolução física.

Uma coisa é certa, em termos de ritmo de jogo, já vai bem à frente de muitos nossos ex-juniores que integram a equipa B. E mesmo de alguns que já são ex-juniores há 2 anos.

Também serve para demonstrar a falsidade do mito de que o mercado doméstico já está todo escolhido quando chegamos aos escalões de especialização, nomeadamente, juniores e juvenis.

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