#SCBraga #FCPorto #PrimeiraLiga
Não sei se já é hora para tentar
definir o Porto de Lopetegui. Talvez seja demasiado cedo.
O jogo de Braga revelou uma
faceta preocupante que está para lá duma falha individual.
O ponto fulcral são AS FALHAS
INDIVIDUAIS. O somatório de falhas individuais.
A perda de bola de Rúben Neves em
Alvalade. A perda de bola de Oliver em Lviv. A ligeireza e tranquilidade de
Maicon em Lviv. A perda de bola de Brahimi no Dragão.
Se recuarmos ao ano transacto
percebemos que já vimos este filme.
O ano passado sucederam-se as
perdas de bola infantis que varreram toda a defesa. Na altura o azar ou
aselhice individual escondiam um problema mais vasto. A organização do
meio-campo, a exposição da defesa e a perda da rede de passe no início de
construção.
Não é a inexperiência ou a
“mania” de craques que estão a proporcionar estes auto-golos indirectos. É o
modelo. É o fundamentalismo em construção. O início de construção. O harakiri
em construção.
Tirando Maicon todos parecem
proibidos de recorrer ao passe longo para transportar a bola da nossa grande
área para as imediações da área adversária.
O passe longo não deve ser modelo
de equipa que quer dominar. Quanto a isso estou de acordo com Lopetegui.
A confusão está na mensagem que o
modelo instala no cérebro dos jogadores. Perante um problema X que o jogo possa
causar parece que a resolução não poderá passar por Y.
Se Fabiano recebe a bola de
Maicon e vê Zé Luis a aproximar-se todos os seus neurónios deviam estar
activados para a resolução do problema. Não estão.
A impossibilidade de utilizar Y =
Alivio/Biqueiro/Chutão/Passe Longo está tão presente na consciente e
subconsciente dos jogadores que perturba a resolução do problema X .
Um erro como o de Reyes perante o
Genk não tem nada a ver com isto.
O erro de Fabiano contra o
Everton, o de Oliver, o de Brahimi e o de Maicon não podem ser dissociados
dessa ideologia que faz com que em nenhum segundo do jogo os jogadores se
esqueçam da ofensividade do jogo. Se aliviarmos assim perdemos a bola. E nós
queremos a bola.
Um chutão bem dado pode pôr em
causa uma filosofia, prejudicar o crescimento individual do jogador num modelo
de posse mas resolve um problema.
Um modelo de jogo por muito
valioso que seja cola um conjunto de convicções e conhecimentos a uma realidade
que se desconhece.
Num debate, numa corrida, num
jogo de cartas ou xadrez podemos pensar previamente na estratégia ideal de
abordagem. Estudar essa estratégia e saber aplica-la é um bom método para
atingir o sucesso. Chama-se a isso treinar bem.
O problema é que desconhecemos
sempre onde vamos colar o nosso modelo. A nossa verdade. Se na corrida o piso
está molhado, se num debate o oponente é mais ou menos agressivo, mais ou menos
ardiloso, mais ou menos conhecedor.
Vou tentar fazer um outro
paralelismo para ver se isto fica mais claro.
Quem lê estas linhas terá
estudado qualquer coisa na sua vida. Com Doutoramentos, licenciaturas, ensino
básico ou secundário.
Imaginem agora que o senhor
doutor, senhor engenheiro ou senhor arquitecto que me está a ler tivesse que
repetir HOJE e JÁ todos os exames que fizeram nas Escolas, Institutos ou
Faculdades. Passariam?
Se a conclusão é contrária será
esse um sinal que foram anos perdidos e que hoje não deveriam ser doutores, engenheiros
ou arquitectos?
Nada mais errado. O que fica no
percurso é o conhecimento. Perdem-se informações apreendidas na altura mas
ganha-se uma capacidade de pensar, questionar e resolver problemas interligando
o que sabe com a realidade. Não se é capaz de resolver o problema porque se esqueceu a informação. É-se capaz de
resolver problemas porque se
ganhou conhecimento.
O que me parece transparecer ao
ver o jogo do Porto é que a equipa não demonstra conhecimento. Tem uma série de
informações e de ensinamentos que são aplicados no treino mas de tanto se
centrar no modelo e na vontade de seguir um percurso pré-estabelecido perde a
capacidade de pensar, se questionar e de resolver problemas quando a realidade
que lhes surge à frente é diferente do esperado ou contrária à sua vontade.
Vários treinadores e várias
equipas já apanharam o nosso ponto fraco e estão a massacrar em cima dele.
“O Porto sai em posse e não admite sair de outra forma. Se
pressionarmos alto com 5,6 e 7 jogadores a morderem calcanhares, relvado e
linha de passe vamos causar problemas.”
Não é por acaso que nas primeiras
partes o Porto sofre sempre mais. Sofremos porque a equipa tem a lição bem
estudada mas não se questiona nem resolve problemas.
Precisa de ir ao balneário para
se adaptar.
Sofremos porque as pilhas do
adversário estão carregadas e é na 1ª parte que o fôlego físico permite abafar
o Porto como Guimarães, Sporting e Braga demonstraram.
O que pretendo demonstrar com
esta ladainha é que o início de construção estudado, planeado e detalhado
poderá vir a ser um Harakiri em Construção para toda a época do FCP se
continuarmos a jogar contra adversários que nos estudam e CONHECEM
auto-limitando a nossa capacidade de resposta.
O tiki-taka da construção será
muito mais poderoso se os 6,7 e 8 lobos que invadem o nosso meio-campo tiverem
medo que o Porto meta uma bola directa no Tello ou no Aboubakar.
Se fizermos isso uma vez com
perigo, da próxima vez que tentarmos construir já lá não estarão 6, 7 ou 8.
A história da 1ª parte é esta. Um
Porto sempre perigoso quando ataca mas que por opção própria de inicio de
construção ataca pouco. Quem viu Matheus?
Um Braga muito perigoso na
transição defensiva porque fere ao máximo o dogma de construção a passe curto e
de caracol. As oportunidades de golo do adversário não são construídas. São todas
roubadas.
Para além da forma podemos
questionar os intervenientes. Se é para jogar com esse risco perante a
realidade de pressão que o adversário nos coloca semana após semana então
Herrera é dispensável.
Se o início de construção tem que
ser assim e só assim então Marcano a 6 é perder uma das linhas de saída. Rúben
passa melhor.
Se o Porto tem revelado estes
equívocos na abordagem ao jogo, Lopetegui tem mostrado capacidade de leitura ao
intervalo.
Neste caso foi à luta. Se o Braga
nos deu na cara com uma realidade indesejada vamos torcê-la e ver quem ganha.
A flash interview mostra que
Lopetegui sabia o risco que corria quando coloca um meio-campo com Rúben,
Oliver e Quintero. Peito aberto e vamos ver se o poder de fogo ofensivo
compensa a fragilidade defensiva e na recuperação.
Mais uma vez a tónica é posta na
ofensividade. Correr todos os riscos.
O Braga, como todos os
adversários que nos causaram problemas na 1ª parte, perde o fulgor físico gasto
na pressão e o Porto tem mais tempo e espaço para sair.
Como os intérpretes são mais
técnicos sai melhor.
Como o poder de fogo ainda é
melhor continua a criar perigo à frente.
Como a segurança defensiva é
muito menor o Braga consegue criar perigo a construir e sem roubar. Como o eixo
central fica mais exposto até de chutão para a frente nasce oportunidade de
golo.
Estes ingredientes tornam o jogo
numa roleta-russa. O Porto sai-se bem da roda. Alex rouba um golo atrás e
Quintero faz magia à frente.
O 3-1 parece próximo mas o 2-2
nunca fica distante. É neste limbo que o jogo avança o que dá emoção ao Estádio
e nervos a todo o mundo.
O resultado final dá razão a
Lopetegui. O Porto voltou a torcer a realidade sem se a obrigar a adaptar a
ela.
Tenho a certeza que no próximo
jogo Marco Silva vai ter a mesma abordagem que teve no jogo de Alvalade. À Rui
Vitória. À Sérgio Conceição.
Eles não jogam sempre assim.
Jogam sempre assim porque jogam connosco.
Sabem com o que contam deste lado
e desenham sozinhos a realidade.
Cabe-nos a nós voltar a tentar
torcê-la ou mostrar conhecimento.
Não é Rúben, Maicon, Oliver ou
Brahimi que têm a palavra. É Lopetegui .
Fabiano – Exibição na bitola habitual. Entre os postes continua a
dar a segurança exigível para um guarda-redes de equipa grande. Fora dos postes
permanece seguro sem demonstrar a tremideira que se temia nos
cruzamentos/cantos.
Com os pés é peixe fora de água.
Duvida de si e faz com que todos tenhamos legitimidade para duvidar.
No global tem feito um arranque
de época acima do aceitável. Justifica a titularidade.
Danilo – Liderança em campo. É comum o diálogo entre jogadores no
relvado. Uma das expressões mais ouvidas é a “FAZ O TEU!”. Preocupa-te em
executar bem o teu trabalho e é meio caminho andado.
Danilo é líder porque está para
além do “FAZ O TEU”. É notório que Danilo percorre os terrenos que aquele jogo,
aquelas forças e fraquezas que a equipa revela exigem.
Se estamos menos fortes no
meio-campo Danilo vai lá ser mais um a pressionar. Se o ala ataca demais Danilo
sobe menos porque alguém tem que cuidar.
Se as dificuldades de construção
atrás são grandes é ele que assume a responsabilidade.
Está feito Zanetti. É capaz de
fazer tudo, preocupa-se com tudo e é um farol na equipa.
Alex Sandro – Deu o tiro de partida para o harakiri da construção.
O brasileiro nem sequer tem a desculpa da pressão porque o passe/assistência
que faz para o ataque bracarense foi livre, leve e solto.
A partir do erro tentou
reerguer-se e com a ajuda de Marcano foi impedindo que Pardo causasse maiores
estragos.
Na 2ª parte tem uma intervenção
decisiva quando Maicon não ataca a bola e fica a olhar para o balão.
Ofensivamente colaborou sem ser
decisivo. A atitude perante o jogo é a contrária ao do colega do sector.
Preocupa-se só com o dele e às vezes nem isso.
Maicon – O defesa central que treme, erra e volta a tremer parece
estar de volta. Não transmitiu segurança atrás nem tem a sensibilidade para
jogar diferente quando percebe que não está num dia bom. Se Alex não o salva na 2ª parte a sentença
poderia ser pesada.
Como este foi um jogo em que
vários jogadores tocaram o céu e o inferno tem como mérito a participação no
1.º golo.
Martins Indi – Alguns sinais preocupantes. Na grande maioria das
vezes em que dividiu uma bola de cabeça com o adversário perde. Como neste jogo
tentou mais do que habitual notou-se.
No lance do golo bracarense o
erro maior não é dele mas podia ter evitado a fuga de Zé Luis se mantivesse os
2 pés no chão. Um defesa quando sai de carrinho é como um guarda-redes quando
sai a uma bola aéreo. Ou é para ganhar ou mais vale ficar quieto.
A tudo isto somou a habitual luta
subterrânea. Fá-lo no limite do risco dentro ou fora da grande área o que expõe
a sua equipa à equipa de arbitragem.
Marcano – 3 jogadores sobressaíram na 1ª parte: Danilo, Tello e Marcano.
Começa a médio-centro para ir
tombando para o lado onde o fogo era maior. Nessa altura impediu que Alex
Sandro fosse ficando mal na fotografia e que o Braga criasse perigo em
construção.
Se defensivamente cumpriu e
apagou fogos, na construção foi básico e pouco interveniente.
A forma como o Porto quis
construir com demasiado apetite ofensivo e sem qualquer noção do perigo
tornou-o irrelevante quando na realidade era dos poucos que não errava e
equilibrava defensivamente.
Herrera – Mau jogo. Como mais de metade da 1ª parte foi passada no
meio-campo defensivo Herrera não teve possibilidade de demonstrar aquilo em que
é forte. Fôlego, intensidade, poder na 2ª bola em campo de ataque.
A criação do jogo ofensivo do
Porto foi feito de forma paciente e a passo. Quem pisava o grande círculo nessa
fase era o mexicano. Os lobos bracarenses mordiam todo o meio-campo.
Herrera de costas é sofrível. A
rapidez de execução perante lobos não é o seu ponto forte.
Se é para jogar assim com longos
períodos de tempo a serem passados perto da nossa baliza o mexicano é
prescindível.
Oliver - Ao contrário do
habitual não assumiu o jogo como deveria na 1ª parte. Seria expectável que o
médio com melhor qualidade de passe e maior capacidade de ter bola acudisse ao
pânico verificado no inicio de construção.
Nesse período Oliver não teve a
inteligência de se juntar a Herrera e Marcano e manteve-se demasiado colado aos
triângulos com o lateral e o Extremo. Tanto que saíram dos seus pés, quando a
bola passava do meio-campo, as principais combinações com Tello que incendiavam
a defesa bracarense.
Na 2ª parte foi obrigado a jogar
de forma mais central e mostrou que a forma como a equipa joga e se expõe exige
Oliver em campo.
Brahimi – Demasiado disponível para o jogo. O argelino procura a
bola esteja ela onde estiver. Como na grande maioria a bola está no meio-campo
defensivo Brahimi recebe a bola demasiado atrás, fica a quilómetros da baliza
adversária mas joga da mesma maneira.
A mesma ginga, a mesma revienga e a mesma dança.
Quem tem cabeça de atacante não
deve ter bola quando coloca as botas na zona de defesa.
Foi pressionado ali, perdeu a
bola e mais um golo sofrido por laxismo/fundamentalismo no inicio de
construção.
No ataque continua a ser um foco
de perigo. Com mais ou menos egoísmo ou mais ou menos cansaço é um dos símbolos
do Porto de Lopetegui.
Será importante que pés, cabeça e
tronco contactem a bola perto da baliza correcta.
Jackson - Parece o pai da miudagem toda. Ele é o Pai e Danilo o
irmão mais velho que toma conta da inconsciente criançada. Teve uma primeira
parte apagada porque a bola esteve sempre longe do seu campo de acção.
Na 2ª parte percebeu que em modo
de roleta-russa tinha que dar vários passos atrás e foi fundamental na
transição defensiva para além de valiosíssimo na combinação com os talentos
ofensivos da equipa.
Tello – A luz da equipa.
Quando a sonolência do tiki-taka transportava os colegas para um estado
comatoso e à mercê dos lobos bracarenses havia alguém que espetava um foco nos
olhos dos companheiros e os obrigava a mexer.
Com uma desmarcação, um sprint ou
uma arrancada Tello metia a 6ª velocidade à frente quando os companheiros
jogavam em 2ª até ao meio-campo. A diferença de ritmo e predisposição para a
corrida era tal que jogadas houve em que Tello é obrigado a fazer compassos de
espera. No ataque.
Claro que não define bem, claro
que decide muitas vezes mal mas é um jogador que activa a equipa, que a impede de hibernar e a obriga a fugir do
passe pastoso para o ataque e perigoso para a defesa.
Na 2ª parte teve mais e melhor
companhia na vertente ofensiva e embora mantivesse a bitola notou-se menos.
Começa a conquistar o titulo de imprescindível.
Rocket Neves – Entrou numa fase muito perigosa do jogo. Lopetegui
decidiu ao intervalo que 1-1 não seria o resultado final e Rúben teve o papel
de tentar equilibrar atrás o que parecia impossível. A qualidade de passe que
sempre revelou quando jogou na sua posição esteve lá. Os lances cerebrais e
geniais que pincelam as suas actuações a 6 também.
O que se viu de melhor face às
performances anteriores foi a agressividade na disputa de bola.
Quintero – Quando Quintero joga a 10 Lopetegui estica a corda e
transforma o jogo numa troca de socos. Por felicidade foi este boxeur que
acertou em cheio no adversário.
Quintero é o jogador do plantel
que eu escolheria para ter a bola no último terço. Não é egoísta, tem visão de
jogo, qualidade suprema de passe e capacidade de remate. Dá tudo isto à equipa
mas rouba capacidade de reacção à perda de bola.
A cueca que faz a um adversário
em inicio de construção revela o modo roleta russa do jogo de Domingo.
Evandro – No
meu entendimento entrou tarde. Pesos pluma no meio-campo e jogo partido quando
se ganha por 2-1 não é um bom negócio.
Cumpriu o seu papel de estabilizador da equipa.
Ficha de jogo:
7ª Jornada: FC Porto 2 - 1 SC Braga
Competição: Primeira Liga
Estádio: Dragão, Porto
Assistência: 37.103
Árbitro: Pedro Proença (Lisboa)
Assistentes: Paulo Soares e André Campos
4º Árbitro: Luís Ferreira
FC PORTO: Fabiano; Danilo, Maicon, Martins Indi, Alex Sandro; Iván Marcano (Rúben Neves, 45), Héctor Herrera (Quintero, 45), Óliver Torres; Brahimi (Evandro, 77), Tello e Jackson Martínez.
Suplentes não utilizados: Andrés Fernández, Quaresma, Ádrian López e Aboubakar.
Treinador: J. Lopetegui
SP. BRAGA: Matheus; Baiano, Aderlan Santos, André Pinto, Tiago Gomes; Danilo, Rúben Micael( Pedro Santos, 72), Pedro Tiba (Alan, 86); Rafa, Pardo e Zé Luís (Éder, 79).
Suplentes não utilizados: Kritciuk, Sasso, Custódio, Salvador Agra.
Treinador: S. Conceição
Golos: Martins Indi (25), Quintero (59) para o FC Porto e Zé Luís (32) para o SC Braga
Discuplina: Cartões Amarelos, M. Indi, Alex Sandro, Marcano e Óliver para o FC Porto, Baiano e Tiba para o SC Braga.
Por: Walter Casagrande
2 comentários:
Sublime a análise! Parabéns!
é a diferenca para as épocas de Sir Robson, em que aos 15 minutos já estava sempre 2-0 :)
aqui há que penar pelo menos meia hora...
também espero que estas coisas sejam corrigidas, o 11 está a ser estabilizado e estes pormaiores vao ser debelados.
ainda nao percebi o que Lope tem pedido ao Evandro...
Grande análise, um abraco Portista
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