A Lógica
Encostado à parede, com uma onde sonora de unanimidade à sua
volta, Paulo Fonseca cede à lógica e devolve o meio campo ao FC Porto.
Ganhamos, até por poucos. Num jogo onde ainda revelamos fragilidades e más
decisões, mas ganhamos com folga, pelo simples facto de termos entrado em campo
com meio campo.
Finalmente, houve estrutura no meio campo do FC Porto. Houve
lógica. Fernando a 6. Lucho a 8 e Carlos Eduardo a 10. E que 10.
De resto, continuamos com as mesmas dificuldades no jogo
flanqueado, onde os laterais vêem os extremos como mais um pino a ultrapassar.
Mas a melhoria a meio campo foi muito significativa. A equipa respirou, pensou
melhor o jogo e soube resguardar-se quando assim precisou.
O FC Porto entra muito forte no jogo, pujante e alegre com o
seu novo meio campo. Carlos Eduardo dá muito que fazer ao sector defensivo do
meio campo vilacondense, e o FC Porto comanda o jogo. O golo é merecido, mesmo
tendo surgido de uma bola parada.
O FC Porto ganha vantagem, mas desorienta-se. A equipa ainda
não assimilou este novo meio campo. Percebe-se que é uma mudança conjuntural,
devido à pressão externa que a exigia. O meio campo do FC Porto recua. Lucho
cola-se mais a Fernando. É algo já mecânico na reacção dos jogadores. Carlos
Eduardo luta para puxar o meio campo, mas a equipa vai recuando e a não
produtividade dos extremos é gritante.
Aos poucos, o Rio Ave vai entrando no jogo. E chega ao golo
do empate, por volta dos 20 minutos, aproveitando uma perda de bola em
transição por parte de Varela. Os extremos não ajudam, como ainda atrapalham!
Com os laterais quase sempre subidos para tentarem chegar ao ataque, seria
sempre esse espaço que o Rio Ave atacaria.
Mas com o empate, o FC Porto arrebita. Volta a tentar
estruturar-se no meio campo. A equipa vai crescendo, tomando conta do jogo e
somando cantos. Num deles, nova bola nos ferros, algo comum nos jogos recentes.
O Rio Ave volta a assustar, num lance em todo semelhante ao golo do empate, mas
é o FC Porto que sai para o intervalo com nota positiva. O empate era
penalizador para o FC Porto e a equipa revelara-se capaz de controlar o meio
campo, algo raro nos últimos jogos fora.
O intervalo colocava Paulo Fonseca à prova. Daria ele à
equipa o que esta precisava? E o que precisava? De um 8 menos posicional, mas
que esticasse mais o jogo. Ou seja, de um 8 menos próximo de Fernando, mas mais
“amigo” de Carlos Eduardo. Sim, era importante essa alteração a meio campo, mas
mais importante ainda era tentar insuflar talento nos flancos. Alguém capaz de
meter arte e velocidade no jogo.
O jogo fica à mercê do FC Porto. A equipa dá mostras de
querer crescer e de uma auto-confiança nova com a reconquista da dianteira no
marcador. Paulo Fonseca vai metendo água na fervura e adiando o as
substituições que há muito se impunham. Até que, ao minuto 72 mete Kelvin e
tira Licá. Pouco depois, retira Lucho e faz entrar Herrera.
O FC Porto atormenta o Rio Ave, cresce no jogo e numa
diabrura de Kelvin ganha um livre à entrada da área vilacondense. Carlos
Eduardo cobra o livre, mas a ressaca sobra para Danilo que remata cruzado para
assegurar a vitória!
A lógica imperou. A equipa estava solta, leve e rápida no
jogo. Havia magia no flanco, criatividade no centro e potência na
verticalidade. Ganhamos, e ganhamos bem.
Na verdade, a vitória no estádio dos Arcos é fruto de toda a
pressão sobre Paulo Fonseca para acabar com o buraco que havia entre o duplo
pivô e Lucho. De toda essa pressão e de estar com a corda na garganta. Não fora
isso, e hoje teríamos mais do mesmo.
Paulo Fonseca tinha aqui uma oportunidade para mudar o seu
discurso e vir ao encontro da massa adepta do FC Porto. Preferiu ficar na dele,
mesmo tendo mudado pela pressão externa. Isto não é liderança, muito menos é
capacidade aglutinadora. Paulo Fonseca é um problema adiado.
Só espero que não exista recuo teimoso em algumas conquistas
conseguidas neste jogo. Seria o fim da picada! Mesmo que não as entenda, mesmo
que não as queira para si! Que as respeite!
Análises Individuais:
Helton – Fora da Champions, volta a seu normal. Excelente
defesa ao lance de Braga, segurando o FC Porto na sua pior fase no jogo.
Danilo – Controlou o seu flanco, nem no lance do golo se
pode assacar culpas. Muito bravo no ataque e sempre sagaz nas suas acções. Está
a mostrar o lateral de eleição que pode vir a ser.
Alex Sandro – Não tão afoito como Danilo e mais permeável a
defender. Deu algum espaço entre si e Otamendi para o Rio Ave atacar.
Maicon – Ficou a dormir no lance do golo do Rio Ave, mas é o
seu único erro. Agressivo na marcação, foi um perigo na área contrária. Um golo
e uma no poste.
Otamendi – Uma fífia e dois cortes providenciais. Quase tudo
de carrinho. Otamendi, pois claro. No lance do golo, optou por não acompanhar
Edimar e fiar-se no fora de jogo. Erro.
Fernando – Jogo imperial na sua posição. Diego? Nem vi.
Empurrou o meio campo portista e mostrou, uma vez mais, que é jogador para
assumir a primeira fase de construção.
Lucho – Demasiado posicional, raramente assumiu a
verticalidade do jogo em transporte de bola. Está lento, com o jogo empastado,
o que tornou o meio campo do FC Porto algo previsível. Precisa de uma pausa.
Precisa de ser gerido o seu tempo de jogo.
Carlos Eduardo – Obviamente o melhor em campo. Um recital de
bom futebol. Disponível para defender, criativo a atacar e sempre em
progressão. Muito sagaz nas trocas posicionais e tecnicamente um tratado!
Afinal, o plantel tem soluções. Grandes soluções! Houvesse treinador. Falta
melhorar o diálogo com Jackson. Mas dois craques entendem-se rapidamente.
Retirar este jogador da titularidade é um crime lesa FC Porto.
Varela – Já nem sei o que escrever. Faz-me lembrar o cometa
Halley. Muito giro, mas só passa de 75 em 75 anos. Há quem nunca o veja. Ou
aqueles interruptores estragados. Um tipo insiste ali uma boa meia hora com o
botão para cima e para baixo, até que, há contacto e acende a luz. Faz uma
jogada em que parte o Lionn em três partes na zona dos rins, mete um “centraço”
e pronto. Está feito. Não faz mais nada no jogo, possivelmente nada fará nos
próximos, até ter outro momento Halley. Rasga os céus com a sua luz, encandeia
outro Lionn e desaparece.
Licá – Encaro este jogo como a sua despedida solene da titularidade
no FC Porto. Muito fraco, muito débil, muito inseguro. Nunca será mais que uma
opção de recurso.
Jackson – Jogo muito mais fácil. Finalmente, cheira a
futebol à sua volta. Lá virá o tempo dos passes açucarados de Carlos Eduardo.
Lá virá o tempo em que terá Kelvin no flanco. Tempos bons e merecidos para quem
muito amargou e mesmo assim, lá marcava. Picou o ponto, faltou o golo de
antologia, mas não era o Patrício na baliza.
Kelvin – Paulo Fonseca tem razão. Só ele sabe o que Kelvin
treina. Mas todos sabemos o que ele joga. O que é uma chatice! Kelvin é titular
de caras no FC Porto. É o extremo que esta equipa precisa. Não há mais
desculpa. Não quero o Kelvin no museu, quero-o em campo.
Herrera – Faz algumas patetices. Faz coisas
incompreensíveis, para mim. Não estava à espera de um jogador tão cru pelo que
custou. Mas dá à equipa verticalidade, pujança e capacidade de chegar ao
ataque. Quero acreditar que muitas dessas coisas patéticas do seu jogo irão
desaparecer rapidamente com o crescente tempo de jogo e com a adaptação ao
futebol português. É a minha esperança.
Ghilas – Entrar ao minuto 90 é mais um acto de gestão que
define Paulo Fonseca como líder. Não só entra tarde, como se perdeu uma
oportunidade de testar as suas capacidades em jogar a partir de um flanco.
Por: Breogán
4 comentários:
O treinador é teimoso e não parece estar disposto a alterar grande coisa do que são as suas ideias. E dessas ideias tem-se visto os resultados que conseguimos tirar...
Breogan: - Voce viu exactamente o mesmo jogo que eu. Bem visto, bem escrito.
Temos todos que ensinar este jovem, para como os outros, fazermos dele um treinador. Aos poucos vai vendo o que é escrito e o que é dito... ele vai lá. só falta limar as álas um elemento no meio campo (um nuemro 8) e dois extremos. por fim ler o jogo mais cede para mexer na equipa... Mas ele vai lá com a nossa ajuda. e depois quando sair do porto fica mais desprotegido como o André VB, e outros que levam curriculo e titulos deste grande clube... Este Paulo vai ser outro rapaz que vai ter títulos à (e só) custa do PORTO.
Excelente análise Breogan, não podia concordar mais
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