Demolidor. Foi uma daquelas
exibições de cantar de galo. O FC Porto nem os deixava levantar a crista, tal
era o abafo sobre o meio campo gilista.
O Gil Vicente apresentou um meio
campo trintão e com artroses avançadas que nada conseguiu fazer para suster o
ímpeto e o talento do meio campo portista. Perante tão ténue resistência ao
turbilhão de talento, foram mais os golos que se perderam que os que se
marcaram. Um pouco mais de acutilância pelas alas e sorte na finalização e
deste galo nem o bico sobrava.
Vítor Pereira escala Fernando
para o onze, regressado de cumprir castigo. Mantém Defour a titular, passando-o
da posição 6 para a de falso extremo e mantém a dupla de centrais Otamendi e
Mangala.
A entrada do FC Porto em jogo volta
a ser arrasadora. Total domínio do jogo, até que, aos 5 minutos de jogo, o FC
Porto materializa a sua vantagem no marcador. Lucho serve Danilo e o brasileiro
avança para a área. Como que descendo os Alpes em slalom gigante, Danilo
serpenteia por entre os defesas gilistas até colocar a baliza na mira. Já
dentro da área, remata e dá vantagem ao FC Porto.
O FC Porto manteve sempre o
comando do jogo e à medida que os minutos escoam, vai intensificando o garrote
sobre o meio campo gilista. Aos 7 minutos, a única “semi” oportunidade do Gil
Vicente na primeira parte. Bola bombeada e corte defeituoso de Mangala.
Aproveita Hugo Vieira, qual parasita que vive do erro alheio, para correr em
direcção à baliza de Helton. Alex Sandro dobra Mangala com acerto e coloca
ponto final aos intentos do galináceo que não consegue ser milhafre.
A pressão do FC Porto
intensifica-se, assim como a espessura do autocarro gilista em frente à baliza.
A pressão é de tal ordem que a linha de meio campo mais parece a linha de fundo
do lado contrário à baliza do Gil Vicente.
Aos 11 minutos, canto a favor do
FC Porto. Após a cobrança, a bola sobra para Otamendi, perto da pequena área e
junto da linha de fundo. Perante a pressão de Cláudio, Otamendi luta pela posse
de bola e dribla para ganhar uma nesga de terreno. Numa zona quase sem ângulo
de remate, opta por centrar tenso para o coração da pequena área. No seu
trajecto, a bola desvia na cabeça de Vítor Vinha e entra na baliza gilista.
Um 2-0 mais que merecido e uma
justa margem de conforto para gerir. Cabia agora ao Gil Vicente vir à procura
do jogo, mas nem assim! Seria o FC Porto a apertar cada vez mais sobre o meio
campo gilista. Um massacre de posse de bola e de talento.
Aos 16 minutos, fica um penalti por
assinalar. Danilo, de novo, em slalom gigante e César Peixoto sem pernas para
aguentar. Empurrão nítido e evidente que fica por sancionar. Aos 22 minutos,
após cobrança de um livre indirecto por Moutinho, Jackson cabeceia com muito
perigo, mas ao lado.
Um minuto depois, Paulo Alves
tenta ressuscitar a equipa. Retira Vítor Vinha e coloca Valdinho em campo.
Louva-se a intenção, mas este galo já estava assado demais para se levantar e
voltar a cantar. Seria o FC Porto a pressionar sempre à procura do golo, embora
nem sempre da melhor forma ou com a acutilância devida.
Aos 35 minutos, após boa jogada
colectiva, Defour falha um golo feito e quase de baliza aberta. Cinco minutos
depois, boa abertura de Defour para Jackson, mas Adriano sai bem da baliza e
mata a jogada.
Até ao intervalo, manteve-se
sempre a pressão portista e a invisibilidade do meio campo gilista. O resultado
ao intervalo é curto e lisonjeiro para o Gil Vicente. Faltava ao FC Porto maior
capacidade de rasgar a defesa gilista pelos flancos e os números seriam outros.
O intervalo não é bom conselheiro
para o Gil Vicente, já o FC Porto volta com a mesma toada. Três minutos após o
reinício e vendo nova má entrada em jogo por parte do Gil Vicente, Paulo Alves
decide voltar a mexer. Retira Paulo Jorge e coloca Brito em campo, mas falha o
ataque ao problema fundamental da sua equipa: o meio campo.
Ainda assim, cabe ao Gil Vicente
a primeira oportunidade da segunda parte. Hugo Vieira volta a parasitar o erro
alheio e contra-ataca. Avança para a área do FC Porto, mas vendo-se rodeado de
adversários, passa a bola a Brito. O extremo gilista remata com perigo e rente
ao poste esquerdo de Helton.
Passada esta breve interrupção no
domínio portista, o FC Porto volta a comandar a seu belo prazer as operações a
meio campo. Dois minutos depois da ameaça gilista, chega o 3-0. Lucho abre para
Defour, no flanco esquerdo. O belga encara Éder e trucida a zona lombar do
lateral brasileiro com uma cortada assombrosa. Não satisfeito, remata na
passada e de pé esquerdo ao ângulo da baliza de Adriano. Tanta maldade junta!
Um golo espantoso.
Com o 3-0 aos 54 minutos de jogo,
já pouco sobrava ao Gil Vicente para lutar, que não fosse tentar não levar um
cesto de bolas de volta para Barcelos. Pior ficou o cenário, aos 62 minutos,
com Cláudio a receber ordem de expulsão. Paulo Alves é forçado a mexer de novo,
desta feita para reconstruir a sua linha defensiva e sai de jogo sem mexer na
sua linha média. Uma proeza!
O FC Porto começa a gerir o jogo
e o plantel. Em cinco minutos, Izmaylov e Castro entram para os lugares de
Defour e Fernando. Mais minutos para quem tem falta deles e mais descanso para
quem precisa.
Aos 63 minutos, livre directo
para Moutinho. A cobrança sai quase perfeita, mas ligeiramente ao lado do poste
esquerdo de Adriano. Mesmo com os novos jogadores em campo e em gestão, o FC
Porto não dá descanso ao Gil Vicente.
Aos 75 minutos, o FC Porto volta
a encontrar o caminho do golo. Grande cruzamento de Castro no flanco esquerdo
(!) e Varela, na pequena área, a desviar para golo. Um cruzamento tenso e
teleguiado para um desvio astuto de Varela. Feita a festa, Varela é substituído
por Sebá e a gestão do grupo prossegue.
Com o 4-0 no marcador, Moutinho
parece apostado em chegar à mão cheia. Aos 80 minutos, trabalha muito bem na
área gilista. Excelente recepção e rotação, culminadas com um remate bem
colocado. No entanto, Adriano faz a defesa da noite e nega o 5-0 a Moutinho.
Oito minutos depois, cruzamento de Alex Sandro e Moutinho volta a tentar a
sorte, desta vez com um pontapé de bicicleta. Adriano dá-lhe o mesmo fim e
volta a negar Moutinho.
Com tanta oportunidade, o 5-0 já
estava prometido. Não veio por Moutinho, mas veio por quem sabe da arte do
golo. Já em cima do minuto 90, Sebá arranca um passe magistral para a entrada
em diagonal de Jackson. Na passada, aquele gentil desvio. Uma carícia na bola e
o desvendar do caminho do golo. É Jackson, senhores.
O árbitro apitou e o galo, enfim,
descansou.
Foi uma noite de farta e deliciosa
cabidela, mas que o prato não nos iluda. Temos que melhorar o nosso jogo
flanqueado e outros jogos virão onde o meio campo adversário vai bicar bem
mais. O próximo será assim, aposto.
Uma coisa é certa, este galo
soube a pato. Primeiro, porque foram alguns “patinhos feios” que mais
brilharam. Segundo, porque sabe bem vencer assim, com estes números e com esta
classe. Terceiro, há algumas personagens no Gil Vicente que bem o mereceram!
Análises Individuais:
Helton – Esteve em campo?
Danilo – É um exibição
desconcertante. Na primeira meia hora jogou o Danilo do Santos. Na segunda meia
hora já jogou o Danilo mais recatado, embora em bom nível, do FC Porto. Na
última meia hora foi o pior Danilo do FC Porto. Pelo menos, já deu para
perceber que o Danilo do Santos está cá. Escondido, mas está.
Alex Sandro – Muito bem no apoio
ao ataque e eficaz a defender. Boa dobra a Mangala aos 7 minutos de jogo.
Otamendi – Hoje voltou a estar
imperial e adaptou-se bem à velocidade de Hugo Vieira. Dobrou Mangala, por duas
vezes, com eficácia. No plano ofensivo, apertado e sem ângulo, fez melhor que
em inúmeras situações anteriores, sozinho e de frente para a baliza deserta!
Mangala – Teve algumas
dificuldades para adaptar-se ao estilo parasita eléctrico de Hugo Vieira. É o
tipo de avançado que não gosta. Um tipo escorregadio, que se furta ao contacto
e fareja sobras. Ainda assim, exibição positiva.
Fernando – Não tinha muito que
fazer. André Cunha foi presa fácil e César Peixoto nem foi à luta. Ainda tentou
dar uma ajudinha à frente.
Moutinho – Que jogaço! Um poço de
técnica e de omnipresença. Um pouco mais de golo e era o médio perfeito! O
melhor em campo.
Lucho – Muito esforço em prol do
colectivo, embora não tenha sido um jogo muito inspirado. No entanto, o amontoar
de jogadores do Gil Vicente acantonados em frente à área gilista não facilita a
sua função.
Defour – Marcou um golaço e Vítor
Pereira não deixou escapar a oportunidade de o elogiar. Merecido, sobretudo
pela disponibilidade que demonstra em cumprir vários papéis. Volto a colocar as
minhas dúvidas se a longo prazo esta situação será benéfica para ele. Hoje,
voltou a misturar coisas boas com outras não tão boas. É até um pouco vertiginoso
como consegue de uma jogada para a outra fazer coisas tão antagónicas.
Varela – Uma primeira parte de
grande nível, a (re)lembrar um Varela que já não se via há algum tempo. Rápido,
incisivo e acutilante. Acaba por marcar na segunda parte, período onde cai de
produção.
Jackson – Um craque nunca
desespera. Jogou sempre para a equipa e nunca tentou a glória pessoal.
Fartou-se de jogar à bola sem exigir nada em troca. Foi premiado no fim.
Justiça divina. Um golo que é um mimo na bola.
Izmaylov – Ainda muito longe da
afinação plena, percebe-se que quando estiver em sintonia com a equipa pode ser
um quebra-cabeças bem bom para os adversários.
Castro – Voltou a demonstrar que
já consegue ser mais que um jogador voluntarioso. Um cruzamento perfeito para
Varela.
Sebá – A sua assistência para Jackson é brilhante. Um
passe calibrado ao milímetro
FICHA DE JOGO:
FC Porto-Gil Vicente, 5-0
Liga, 16.ª jornada
28 de Janeiro de 2013
Estádio do Dragão, no Porto
Assistência: 24.202 espectadores
Árbitro: Paulo Baptista (Portalegre)
Assistentes: José Braga e Valter Rufo
Quarto Árbitro: Luís Ferreira
FC PORTO: Helton; Danilo, Otamendi, Mangala e Alex Sandro; Fernando, Lucho (cap.) e João Moutinho; Varela, Jackson e Defour
Substituições: Defour por Izmaylov (62m), Fernando por Castro (68m) e Varela por Sebá (81m)
Não utilizados: Fabiano, Maicon, Abdoulaye e Kelvin
Treinador: Vítor Pereira
GIL VICENTE: Adriano Facchini; Éder, Halisson; Cláudio e Vítor Vinha; Luís Manuel e César Peixoto; Paulo Jorge, André Cunha (cap.) e Luís Martins; Hugo Vieira
Substituições: Vítor Vinha por Valdinho (22m), Paulo Jorge por Brito (ao intervalo) e Hugo Vieira por Sandro (68m)
Não utilizados: Vítor Murta, Yero, Luís Carlos e Tiero
Treinador: Paulo Alves
Ao intervalo: 2-0
Marcadores: Danilo (4m), Vítor Vinha (11m, p.b.), Defour (54m), Varela (74m), Jackson (89m)
Cartão amarelo: Mangala (44m), Cláudio (47m e 61m)
Cartão vermelho: Cláudio (61m)
Análise dos intervenientes:
Vítor Pereira:
«Defour merece um carinho especial»
«Acho que fizemos um jogo fantástico do primeiro ao último minuto. Os jogadores evidenciaram toda a qualidade individual e coletiva. Não foi possível estrear o Liedson, mas ele tem pouco tempo de trabalho com a equipa, precisa de mais treinos e não lhe faltarão oportunidades para jogar aqui.
O Defour é um jogador inteligentíssimo e que merece um carinho especial de todos os nossos adeptos. Preciso dele à esquerda e ele joga à esquerda, preciso ao meio joga ao meio, preciso à direita e joga à direita, tem grande qualidade táctica e é inteligentíssimo.
Nós vamos ser competitivos e apresentar qualidade até ao fim. Sabemos o que queremos e o que queremos é o campeonato. Este clube e esta equipa sabe que terminando bem coletivamente está sempre com grandes possibilidades de terminar em primeiro. Este ano não foge à regra.»
Danilo:
«Era importante pôr o FC Porto no topo»
«Acabou por ser tranquilo, porque tornámos o jogo tranquilo. Entrámos com determinação, com essa pegada, é um campeonato difícil e vamos tentar manter esse ritmo até ao fim.»
«Tentamos fazer isto em todos os jogos, às vezes funciona outra vezes não. Pressionámos, não demos espaço e hoje deu muito certo. Sim, o resultado demonstra que foi uma das nossas melhores exibições, não demos hipótese nenhuma ao Gil Vicente.»
«Era um objetivo para hoje. Olhávamos para a tabela, mas não era o nome do FC Porto que estava no topo. Era importante mudar isso. O triunfo vai ajudar a dar confiança para nos mantermos lá.»
Por: Breogán
3 comentários:
O resultado final de 5-0 é o suficiente para dizer que o FC Porto dominou o jogo, com muitos golos e espectáculo...
Uma das melhores exibições dos dragões esta época.
Defour esteve muito bem.
http://keepingpossession.blogspot.com/
Que jogatana.
Pareciamos o Barça ( já não é a primeira vez).
Muito bom comentário.
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