quarta-feira, 11 de abril de 2012

Continuando a viajar pela historia: Entrevista a Jorge Nuno Pinto da Costa (Oito dias após a conquista do 5º título consecutivo ) ao jornal "PÚBLICO"




“NUNCA MAIS SE CONSEGUIRÁ TANTO”









Pinto da Costa gosta mesmo de Fernando Santos. Afirma-se “admirador do homem” e “fã incondicional do treinador”, que quer ver nas Antas até final do seu próprio mandato. Em tempo de balanço, o presidente do FC Porto olha para trás, realçando os 11 campeonatos de futebol conquistados nos últimos 15 anos, mas enumera com gosto especial, os muitos títulos acumulados nesta época, em várias modalidades. “Em termos desportivos atrevo-me a dizer que nunca mais ninguém conseguirá tanto”, refere nesta entrevista, antes de sublinhar que não “estar obcecados pelo hexa”, porque “senão isto nunca mais acaba”.










Pergunta – O que disse a Fernando Santos quando o abraçou nos corredores de Alvalade?
Pinto da Costa – Absolutamente nada. Depois de sabermos que éramos campeões, encontrámo-nos naquele momento e trocámos o tal abraço. Não dissemos uma única palavra. Nem era preciso. De certeza que o Eng.º Fernando Santos sabe tudo o que eu tinha para lhe dizer e eu sei tudo o que ele gostaria de me dito.

P. – Por que diz que Fernando Santos é a melhor pessoa do mundo? Nunca tinha dito nada assim sobre outro treinador…
PC – O que eu disse é que ele é das melhores pessoas que conheci no mundo do futebol. Já simpatizava muito com ele e ainda passei a simpatizar muito mais quando o conheci. Encontrávamos-nos muitas vezes nos jogos em que ele dirigia o Estrela e houve sempre duas coisas que admirei: em primeiro lugar a sua postura, antes, durante e depois dos jogos, e fosse qual fosse o resultado; em segundo, a forma como dirigia as equipas, com planteis nitidamente inferiores aos dos principais clubes. Fosse em casa ou não, as suas equipas dificultavam sempre ao máximo os objectivos dos adversários. Num dos últimos campeonatos que vencemos, veio aqui empatar a zero e venceu-nos depois por 2-1, numa época em que foi empatar a Alvalade e à Luz, com óptimas exibições. Após António Oliveira ter deixado claro que não continuava, muita gente veio-me recomendar treinadores. Fernando Santos não tentou minimamente posicionar-se para o comando técnico do FC Porto.

P. – Já se percebeu que aprecia o homem. E o treinador?
PC – Sendo um admirador do homem, sou fã incondicional do treinador. Quem estiver atento verificará que nas segundas partes dos jogos foram sempre corrigidas as dificuldades do primeiro tempo. Fiquei profundamente feliz por ter sido ele o engenheiro do Penta.

P. – Acha que ganhou uma aposta arriscada ao contratá-lo?
PC – Ao contrário do que se diz não foi uma aposta de alto risco. Fizemos o contrato depois de termos conversado muito, e tinha a certeza de que não estava a correr riscos. E ele, ao trocar a tranquilidade de alguns bons clubes que o pretendiam contratar pela responsabilidade de dirigir o tetracampeão, demonstrou grande coragem e confiança em si e em quem o convidou. Nenhuma vitória de um treinador me terá dado tanta satisfação como a de Fernando Santos. Nos últimos 17 anos, este foi um dos três ou quatro maiores momentos de felicidade que uma vitória me trouxe.

P. – Não está a desvalorizar os outros treinadores do Penta?
PC – O António Oliveira é o treinador do”Tri”, o Bobby Robson é um dos campeões dos vários “Bi” que o FC Porto tem. Não escondo que, em termos competitivos, também tive uma alegria enorme, comparável à do “Penta”, com o “Tri”, sob o comando de um técnico de quem fui dirigente enquanto jogador e por quem tenho uma amizade desde esses tempos. Foi uma alegria tê-lo ao meu lado quando nos sagramos campeões em Guimarães, e recordo-me de ver na televisão o abraço efusivo que demos, também sem trocar uma palavra. Os três são e serão sempre os treinadores do Penta, e se hoje voltasse atrás tomava as mesmas decisões, que muitos consideraram arriscadas. Robson tinha sido despedido do Sporting e estava de malas aviadas para Inglaterra. E quando o António Oliveira veio para o FC Porto era indesmentível a má vontade contra ele em quase toda a comunicação social. E sobre o Fernando Santos disseram que lhe faltava experiência para dirigir grandes equipas. Soube que vários clubes lhe endereçaram convites, mas, mesmo sem termos nenhum compromisso, ele sentiria, conhecendo-me razoavelmente, que iria ser a minha escolha. E recordo-me que acedeu de imediato. Falámos, durante horas, de tudo. Só não falamos de dinheiro.

P. – Dos cinco campeonatos qual foi o que lhe deu mais gozo?
PC – O “Tri” e o “Penta”. O primeiro era um sonho antigo, que, enquanto dirigente, já tinha estado três vezes à beira de alcançar. Todos sentimos que, se não fosse naquela altura, dificilmente seria alcançado com esta geração de dirigentes e jogadores. Aí pensei que já tinha conseguido tudo o que seria possível dar ao FC Porto, e que era o momento ideal para sair. Não nos podemos esquecer que, nos últimos 15 anos, o FC Porto venceu 11 campeonatos. Poucas vezes isso é referido, mas, se não é um caso ímpar na Europa, deve estar muito perto disso. Todos eles me deram grandes alegrias, mas foram alegrias iguais às anteriores. Na minha vida de Presidente, o primeiro grande momento é o do primeiro título, em 1984/85, quando contratei Artur Jorge, apesar da oposição de influentes dirigentes do clube. Esse título, mais o “Tri” e o “Penta”, juntamente com a vitória na Taça dos Campeões Europeus e na Taça Intercontinental, são os cinco maiores momentos de felicidade que tive como presidente. E fico também contente por quatro dessas vitórias terem sido alcançadas por treinadores portugueses. Quando lhes dão condições e são tratados com a dignidade que o lugar exige, são tão bons como os outros.

P. – Este foi o seu melhor ano à frente do clube?
PC – Em termos desportivos atrevo-me a dizer que nunca mais ninguém conseguirá tanto: fomos “Penta” campeões de futebol e campeões de basquetebol, andebol, hóquei em patins, natação masculina e pugilismo!

P. – Se é difícil de fazer melhor, não haverá um problema de motivação na próxima época?
PC – Há motivações que já não vou ter: a de querer que todos os treinadores sejam campeões e que a minha direcção seja campeã. Agora há uma coisa que não esqueço: ao Domingo, nas Antas e em todo o país, há gente do povo, que vive com tremendas dificuldades, mas a que os êxitos do clube enchem o coração de felicidade. Essa gente e a própria cidade precisam de que o FC Porto lhes continue a dar alegrias. Por isso vou continuar a desejar que o FC Porto ganhe. Não vou estar obcecado pelo “Hexa”, porque senão isto nunca mais acaba… Mas podem estar certos de vamos continuar a investir para sermos campeões.

“Não vejo ninguém a sair”





P. – E quanto é que pode investir?
PC – Neste momento não há necessidade de investir muito. Mas o investimento terá de ser significativo se houver alguma saída importante. Se não sair ninguém, como espero, será praticamente nulo.

P. – No primeiro semestre a SAD perdeu 390 mil contos (1 milhão e 945 mil €, aproximadamente). Continua ainda a apontar para um lucro de 150 mil contos (748 mil €, aproximadamente), no final do exercício?
PC – Na altura em que foram feitas essas previsões era claro que se o FC Porto não se apurasse para a Liga dos Campeões seriam inevitáveis saídas, É fazer contas e ver que o que vamos receber é superior ao défice e ao lucro previsto. Para nós é importante estar na Liga, como o é para o Real Madrid, o Barcelona, o Inter e para todos os que no mundo das dívidas são considerados pagadores.

P. – Jardel tem a cláusula dos 16 milhões de dólares…
PC - … se alguém a accionar e ele quiser ir. Vamos tentar que isso não aconteça. Ele é o único do plantel com cláusula. Foi uma condição para o termos durante três anos, sendo certo que se sair receberemos uma mais-valia considerável. Penso que foi um excelente acto de gestão.





P. – E o Zahovic não sai?
PC – Muito dificilmente sairá qualquer outro jogador que o treinador considere relevante. Não estou a ver ninguém a sair. Acho que os contratos têm de ser encarados com mais seriedade. Quando se fazem, os clubes cumprem de boa-fé, mas, depois, os jogadores que rendem pensam que têm direito a sair e os que não rendem entendem que o clube tem de continuar a cumprir como se fossem estrelas. Isto tem de ser reajustado.

P. – E quanto a contratações? Já se falou em Jorge Couto, Toñito e Silva…
PC – Com a minha aprovação e do técnico, há apenas quatro jogadores que, se não são ainda jogadores do FC Porto, têm grandes hipóteses de o vir a ser: os brasileiros Argel e Rubens Júnior, e Paulo Ferreira e Rodolfo [ambos do Estrela]. Tudo o resto que se diga foi vontade de desestabilizar por parte dos empresários interessados em promover os seus jogadores ou de clubes que tentam aumentar os valores dos futebolistas.

P. – Mas o caso Jorge Couto…
PC - … não tenho nada a ver com essa situação. Admito que possa ter havido contactos, mas só em relação aos quatro que referi é que houve aval do presidente.+


“FC Porto investiu sério”


P. – Não é arriscado ter entrado em rota de colisão com o agente de vários jogadores do FC Porto, como é José Veiga?
PC – Não tenho nenhum problema pelo facto de ele ser empresário de vários jogadores. Seria estúpido não aceitar agentes do futebol como são os empresários reconhecidos pela FIFA. Alguns conceitos é que, para mim, estão errados. É que, quando chego a acordo com um clube sobre um jogador, não admito a interferência de empresários. E para que hei-de receber um empresário interessado no Jardel se ele tem cláusula de rescisão estabelecida? Por que há-de um empresário oferecer a outros clubes jogadores que eu não quero vender? Agora, se eu der uma lista aos empresários com nomes de jogadores que quero colocar, aí terá direito à sua comissão, como é óbvio.



P. – A participação na Liga dos Campeões foi má. Quando é que o FC Porto vai investir na prova?
PC – O FC Porto investiu a sério e, em teoria, investiu bem. Tínhamos vencido o “tetra”, mantivemos a estrutura da equipa e foi considerada a necessidade de reforçarmos dois lugares: um guarda-redes e um lateral que jogasse nos dois lados. Foram feitas observações de bons guarda-redes. O Kralj, que era e é titular da Jugoslávia, foi observado nas mais diversas situações por diferentes pessoas, que concluíram sempre que se tratava de um belíssimo jogador. Como lateral, demos preferência ao Nélson, que se tunha iniciado no FC Porto e vinha do exigente futebol inglês. Na teoria, as necessidades da equipa foram colmatadas com óptimos reforços, mas da teoria à prática tem de vir a confirmação. Creio que o Kralj foi afectado por muitas situações. Se tivesse demonstrado dentro do campo o que mostrou nos jogos em que foi observado, não tenho dúvidas de que o FC Porto teria feito carreira na Liga dos Campeões. Sem aquele fatídico minuto 90 no jogo com o Olympiakos, bastavam os restantes resultados para nos apurarmos. 


Sobre o Nélson, não compreendo ainda hoje porque não mostrou todas as suas capacidades. Agora, quando na baliza temos um dos melhores guarda-redes da Europa, e uma óptima defesa, estou convencido que vamos ter uma participação bem mais positiva.


“COM A SAD CONTINUAMOS A VENCER”

P. – Já terminou o tirocínio necessário a um presidente de uma sociedade desportiva que antes era só presidente de um clube?
PC – É fundamental que, quando se cria uma SAD, os seus dirigentes conheçam bem o clube. Esse foi um dos argumentos que me foram apresentados, depois de vencer o “Tri”, para eu continuar. Entendi que era verdade. Penso que uma SAD não pode ter gestores públicos que hoje estão na TAP e amanhã nos Correios ou nos CTT. Os arautos da morte dos clubes e do futebol já nem piam, porque o FC Porto demonstrou que os ataques À SAD eram cretinices. Desde que criou a SAD, o FC Porto continuou a vencer, designadamente nas outras modalidades, e a ser um orgulho para os adeptos. E o FC Porto passou a ter uma vida totalmente cumpridora. Na festa das Antas e junto aos paços do concelho, vamos dar ao mundo uma prova de quem é grande e de quem é demagogo, de quem cumpre e de quem não o faz. Aí sentir-me-ei profundamente recompensado por ter sabido escolher para o meu lado os melhores dirigentes, técnicos e profissionais.

P. – A redução dos contactos com o Sporting e com José Roquete foi estratégica ou deveu-se a qualquer outra razão?
PC – As duas direcções mantiveram contactos mais ou menos frequentes por ocasião da criação das SAD, para tratar de questões fiscais, problemas legislativos e burocracias. Dois a remar para o mesmo lado é melhor do que cada um a remar para o seu lado e em barcos diferentes. A nossa vontade é a de tornar o futebol mais transparente e só há duas maneiras de o fazer: assumindo a criação das SAD, que têm revisores de contas, auditorias e orçamentos transparentes, ou apostar na conversa fiada. Nós e o Sporting preferimos optar pelas SAD. Dessa conjugação de esforços e vontades surgiram outras possibilidades de entendimento, que algumas pessoas não querem e criticam. Mas vá perguntar a uma fábrica de armamento se quer a paz no Kosovo, na Guiné ou em Angola…É óbvio que essa gente não quer.

P. – E quem é essa gente?
PC – Toda a gente sabe quem é que está interessado na guerra.

P. – Mas o acordo com o Sporting não se limitou ao que disse…
PC – Em termos concretos, combinámos não fazer guerra com jogadores de qualquer modalidade, e resolvemos aproveitar a rivalidade para fazermos a apresentação das nossas equipas. Foi um sucesso, tivemos duas casas cheias e receitas superiores ao normal. Resolvemos também, em conjugação com os técnicos, estudar a possibilidade de fazermos permutas de jogadores. Sem elas, se calhar o Peixe e o Rui Jorge, em vez das brilhantes exibições em Alvalade, tinham sido espectadores nesse jogo. São duas situações concretas de um acordo que se pode repetir. Mas, ao contrário do que se disse, isto não tem nada de secreto. E quem viu os jogos entre as duas equipas nas várias modalidades continuou a assistir a jogos tremendamente disputados. Mas é claro que há quem diga baboseiras ou esteja mais interessado em manchetes nos jornais. Esta situação entre o FC Porto e o Sporting não serve os interesses dos propagandistas do armamento.

P. – O FC Porto foi acusado durante anos de controlar a arbitragem. Afinal, foi campeão nos dois anos em que houve sorteio…
PC – Os árbitros são a desculpa de quem promete vitórias. Antes de existir a Liga, os presidentes do Conselho de Arbitragem nunca foram portistas, com excepção de Lourenço Pinto.
Fernando Marques, Laureano Gonçalves e Pinto de Sousa são assumidamente boavisteiros. Quando fui presidente da Liga, defendi que a arbitragem devia estar fora da Liga, porque considero que os erros dos árbitros existem em todo o mundo e as desavenças podem atingir a boa harmonia dos clubes. Não quiseram. Preferiram o sorteio e o FC Porto continuou a vencer. Falar em sistema e relacioná-lo com o FC Porto é uma estupidez. O presidente da Federação é do Benfica, o presidente da Liga deixou de ser presidente do Boavista para ir para lá, o actual presidente do Boavista faz parte da Direcção da Liga, o vice-presidente da Federação em representação da Liga foi uma escolha pessoal do seu presidente e é um antigo dirigente do Boavista, o presidente do Conselho de Arbitragem da Federação é um indefectível adepto do Boavista. Não ponho em causa a sua isenção, só quero é que não haja más interpretações. O FC Porto ganha porque tem grandes profissionais. No último estágio em Lisboa, o Sr. Fernando Martins, antigo presidente do Benfica, disse o seguinte numa conversa em que estávamos eu e Fernando Santos: “Conheço bem o presidente do FC Porto e quando se constou que o Oliveira ia sair, afirmei que o novo treinador só poderia ser uma de duas pessoas: Eriksson ou Fernando Santos”. O Sr. Fernando Martins sabe que sou um adversário leal, que procuro sempre escolher os melhores colaboradores. E se quiser comparar a postura da minha administração com a de alguns responsáveis da direcção do Benfica, podem encontrar as razões por que um ganha e outro não.
O nosso lema é pôr o FC Porto a jogar à Porto, o que está a ser respeitado. O presidente do Benfica procura fazer um Benfica à Benfica e os resultados são o que se sabem. No dia a seguir ao FC Porto ter conseguido um feito único, estive aqui com outros administradores, dirigentes e funcionários a trabalhar até às nove da noite. Tenho a felicidade de ter colaboradores com este espírito de quererem sempre mais e melhor. O meu conceito de liderança não passa por despedir pessoas para salvar a minha pele. Nem admito engolir sapos ou paquidermes para garantir a sobrevivência. O que mais admiro na liderança é a capacidade de ter os melhores colaboradores. Tenho, com muito orgulho, uma administração óptima no que diz respeito a competência, lealdade e disponibilidade para servir o FC Porto.

P. – Tem havido uma aproximação do presidente da Câmara de Gaia ao FC Porto. E, pelo contrário, parece que as relações de Fernando Gomes com o clube esfriaram um pouco. É apenas uma questão conjuntural ou há algo mais profundo?
PC – Como presidente da Câmara, o Dr. Fernando Gomes terá um lugar inapagável. Só quem não quiser reconhecer tudo o que tem feito e irá fazer na transformação da cidade é que não vê.
Ficará na história da cidade como o grande líder do século XX. Isso é irrefutável e não o digo por ter por ele uma grande estima. Se concorresse à Câmara do Porto por qualquer partido do PP até à CDU, teria sempre o meu voto de cidadão. Mesmo que se concretize o centro de estágio em Gaia, nunca ninguém será tão importante no futuro do FC Porto como Fernando Gomes pelos projectos que existem, do clube e da autarquia, para o futuro desta zona da cidade. O Dr. Filipe Menezes é um homem assumidamente do Norte e que já teve alguns problemas por isso. E, como tal, não pode deixar de reconhecer o que o Dr. Fernando Gomes representa para a região. Hoje preside à Câmara de Gaia e aí está a ter o “feeling”político que sempre demonstrou nos lugares que ocupou. O centro de estágio é importante para o FC Porto, mas é-o igualmente para Gaia e para muitas das suas instituições.


Soltas






P. - Não receou que o benfiquismo de Fernando Santos pudesse ser um problema?
PC – Lembro-me que quando uma rádio deu a notícia da sua contratação, a única que acrescentou foi que ele era sócio do Benfica. Aí percebi qual ia ser a estratégia para lhe tentar arranjar mau ambiente. Mas fiquei contente porque serviu para nos unir ainda mais, a mim, a ele e a Reinaldo Teles, numa luta que nos haveria de levar ao “Penta”. Hoje não tenho dúvidas de que o Fernando Santos se apaixonou por este clube, se identificou com a sua massa associativa e que quando sair – o que eu espero que seja daqui a muitos anos – vai ter sempre no seu coração um lugar de grande destaque para este clube, que também nunca o esquecerá.

P. – Já renovou contrato com ele?
PC – de palavra está renovado. Espero pôr tudo preto no branco antes de se iniciar a próxima época. Será um contrato que prolongará o actual até ao fim do meu mandato, por mais dois anos. Tenho a garantia, porque para mim a palavra é mais importante do que o contrato, de que será o nosso treinador até ao fim do meu mandato.






P. – Não se assustou quando, à sétima jornada, o FC Porto já tinha sofrido duas derrotas, ou quando foi eliminado da Taça pelo Torrense?
PC – O campeonato é uma prova especial. É uma maratona ou uma prova de dez mil metros, e nessas circunstâncias normalmente vencem os melhores. No campeonato do “Tri”, começamos com um empate em casa com o Setúbal e à quarta jornada empatámos com o Estrela. Era quase impossível começar pior. Quando surgem situações como essa é que se faz a diferença, aí é que se vê quem tem estaleca para aguentar as situações. É nesses momentos que técnicos e jogadores precisam de tranquilidade.

P. – Como portuense, gostou de ver o Boavista ficar em segundo lugar e apurar-se para a Liga dos Campeões, ou é mesmo verdade que gostaria de ver o Sporting nesse lugar?
PC – Como portuense, gostei de o Boavista ficar em segundo lugar e fiquei triste por o Salgueiros não ter ficado em segundo ou terceiro. Abstenho-me de responder à segunda parte da pergunta por não querer entrar em questões pessoais.


P. – O “Expresso” noticiou que está zangado com o seu filho, também ele agente de alguns jogadores portistas. É verdade?
PC – Não leio o “Expresso”. Tenho até com ele um problema grave. Sempre tive um princípio: não concedo intromissões na minha vida privada. Desafio alguém a mostrar uma entrevista em que tenha aberto a minha casa para mostrar onde me sento e como, ou o Bobby e o Tareco que não tenho. Não vou abrir excepções, por mais especulações que façam sobre a minha vida privada. No caso do meu filho, só tenho a dizer que as coisas só dizem respeito a nós. Agora, ele é empresário e tem direito às mesmas obrigações e benefícios que qualquer outro. Foi ele que vendeu o Doriva e o FC Porto cumpriu com ele escrupulosamente. Sou tido por figura pública, mas quando casei pela segunda vez consegui fazê-lo na maior privacidade, sendo esse o meu desejo e o da minha mulher. E se me casei pela segunda vez é porque me divorciei, o que também consegui fazer privadamente. Se andasse a exibir-me nas resvistas piorsas, aceitava que estivessem fotógrafos no notário. Por isso não admito excepções.

P. – Vale e Azevedo disse que quem mandava no futebol do FC Porto já não era Pinto da Costa , porque a lógica da saída de jogadores era eminentemente financeira. A sua resposta foi: “Quem manda sou eu”. Teve de afirmar o seu poder?
PC – O que diz o Dr. Vale e Azevedo não me afecta. Toda a gente sabe por que razão está ele no futebol. Não o conheço nem quero conhecer. Agora, o que senti, designadamente através de Reinaldo Teles, que convive com o balneário e até com os sócios, é que havia preocupação em saber se eu estaria a fazer uma passagem de testemunho tranquila. Por isso quis transmitir a mensagem aos jogadores de que, como sempre, estava com eles para tomar as decisões necessárias à vitória. A mensagem foi compreendida e foi visível que o nosso grupo ficou mais unido.


Por: Nirutam

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