terça-feira, 23 de julho de 2013

Deportivo Anzoátegui 2 - 4 FC Porto: Futebol de turismo





Primeiro, é preciso contextualizar este jogo. Esta digressão não é habitual nas pré-épocas portistas. Ainda por cima, com o rótulo de figura de cartaz.

Depois temos a longa viagem, os luxos da mesma e da estadia com vista para o Mar de Caraíbas. Juntam-se as condições ambientais (temperatura e humidade) e um relvado que mais parecia um pasto. Finalmente, o adversário Deportivo Anzoátegui. Não é um clube com muita tradição, nem o seu nome desperta ambição de vitória por si só. Tudo isto iria resultar num futebol de turismo, normal e justificável, que permite a equipa evoluir e continuar a balizar o seu trabalho.


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Segundo, leio por aí muitas conclusões definitivas, sejam elas de âmbito colectivo ou individual. As características do jogo não o permitem, nem ainda entramos na fase da pré-época onde se afina a máquina. O grupo tem que emagrecer e o experimentalismo ultrapassado. Por fim, as características do adversário e a marcação mais solta facilita alguns desempenhos individuais. Por outro lado, o repentismo com que se lançam no ataque também foi um bom teste ao nosso sistema defensivo. E não foi por acaso que sofremos dois golos e alguns outros ficaram por marcar.



Deixo algumas notas:

  •  O jogo virou com a entrada do Lucho. Sem dúvida. Para lá da acção individual do argentino, superior em qualidade à de Carlos Eduardo, mais determinante foi a estruturação do meio campo. Não vale a pena tentar reinventar a roda. Um 4-3-3 dinâmico assenta num meio campo estruturado. Podemos ensaiar variantes mais ofensivas ou defensivas, mas o modelo exige sempre um meio campo estruturado. Só assim o meio campo se estende em todas as fases do jogo, sejam elas defensivas ou ofensivas. Não é por acaso que quando Lucho entra no jogo, até a defesa defendeu melhor. Com Fernando a 6, e não a 8 alucinado no ataque, os sobressaltos diminuíram e a equipa estendeu-se melhor. Até o Herrera, jogou a um nível bem bom com Fernando e depois cai de produção com a saída deste. Este experimentalismo de Paulo Fonseca é aceitável, mas não é entendível o perpetuar de uma solução que não é solução.
  •  Precisamos de aumentar a agressividade defensiva. Muita festa na hora da marcação, onde nem os esquemas tácticos defensivos escapam. A equipa ressente muito a ausência de uma referência defensiva à sua frente. Esse farol que é um 6. O Deportivo Anzoátegui usou todo esse espaço para acelerar, e à boa maneira Sul-Americana, avançam em números e em largura. Foi um óptimo teste, onde a debilidade do “vais tu ou vou eu?” do duplo pivot ficou demonstrada.
  • Continuo a achar o nosso jogo exterior ofensivo demasiado cândido. Bem sei que após a exibição individual de Iturbe e com dois golos nascidos de cruzamentos, não será a melhor altura para confessar esta preocupação. Mas para mim, é evidente. Continuo a ver muito pouca ligação entre o lateral e o extremo. É um jogo exterior muito pouco envolvente e dependente do rasgo individual.
  •         Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Tivemos épocas com a linha defensiva muito alta e, até agora, temos uma linha defensiva demasiado baixa.




    Análises Individuais:

    Fabiano – Creio que o erro é mais de Mangala que dele. Fabiano, e com todo o acerto, pensou que aquela bola era o Mangala. Depois tentou tapar o sol com a peneira e com isso muita ajuda Mangala a aliviar-lhe o peso da cruz. Ainda assim, para ser guarda-redes de um clube de topo ainda lhe falta mais presença e autoridade.

    Fucile – Defensivamente, fez um jogo muito fraco. Ultrapassado com demasiada facilidade. No plano ofensivo foi totalmente ausente.

    Alex Sandro – Fechou bem o seu flanco, até teve fases de jogo onde mandou a seu belo prazer. A oposição não tinha qualidade para o incomodar. Pegou melhor no ataque que Fucile, mas também não teve envolvência com Iturbe.

    Maicon – Demasiado lento no ataque à bola, deixou jogar demais e pouco ganhou em antecipação. Nem parecia que jogava de chuteiras, mas sim de chinelo de enfiar no dedo. À turista.

    Mangala – Fez coisas muito boas e outras muito más. Mangala será um grande central quando não tentar ganhar tudo no aço, mas também não deixar que alguém rode sobre si como deixou no primeiro golo do Deportivo Anzoátegui.

    Fernando – Quando, na segunda parte, lhe passa a alucinação do 8 ofensivo, o FC Porto assenta e reduz o Deportivo Anzoátegui à sua condição. A roda já foi inventada há muito.

    Defour – Boa primeira parte, no meio do caos em que se transformou o meio campo do FC Porto. Subiu de rendimento na segunda parte e beneficiou do meio campo estruturado. Bom jogo.

    Carlos Eduardo – Perdeu-se. Não foi o 10 que a equipa precisava e deixou Ghilas completamente isolado no ataque. O jogo a meio campo isolou-o do resto da sua equipa. Tem condição técnica e física para ser um jogador muito interessante, falta-lhe a estrutura mental.

    Iturbe – Jogo mesmo ao seu gosto. Muita hipótese de ter bola no espaço ou não fosse um jogo na América do Sul. Aproveitou e mostrou a evolução que teve no River Plate (e que nunca teve na nossa B). Está um jogador mais centrado no jogo e não tanto em si. Usou a sua capacidade de aceleração para ganhar vantagem e os centros saíram a preceito. Pena não ter marcado. Mas este ainda não foi um teste definitivo à sua condição.

    Varela – Bom jogo, embora aquém do que pode fazer. É verdade que nos momentos decisivos esteve lá, mas faltou-lhe capacidade para desequilibrar no jogo flanqueado. Só se revelou no jogo interior, com dois golos de belo efeito. Em especial o primeiro.

    Ghilas – Sofreu muito com a incapacidade do meio campo do FC Porto e com a pouca caudal do jogo flanqueado. Já sabemos que Ghilas de costas para a baliza tem muito que aprender. Mas revela empenho e tivesse um Carlos Eduardo mais espevitado, e a música seria outra. Ou seja, tivesse jogado na segunda parte, e teria outro futebol para desenvolver.

    Danilo – A sua entrada trouxe mais acutilância ao flanco e fechou o corredor ao Deportivo Anzoátegui. Soube aproveitar o espaço, mas precisa de ser ainda mais intenso.

    Lucho – Trouxe pressão alta, trouxe fiabilidade no passe e trouxe vontade de correr. Trouxe, também, um meio campo mais estruturado, embora tenha passado muito tempo distante de Jackson. Só isso bastou para meter o nosso meio campo a outro nível. De resto, foi a sua classe. Habitual.

    Jackson – É um grande ponta de lança, e por si mesmo resolve problemas. Puxou para si o meio campo, algo que o Ghilas ainda não sabe fazer e dá tranquilidade à equipa.

    Herrera- Excelente entrada em jogo. Bom toque de bola e boa agressividade.

    Castro – Tentou cumprir a 6.



    Por: Breogán

1 comentário:

Anónimo disse...

As cronicas de Breogan não são dispensáveis.

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