Face à evolução do futebol,
cada vez menos o guarda-redes é o elemento que se limita a defender os remates
do adversário, fazendo da zona de baliza o seu único raio de acção. A
comunicação, o jogo de pés, a capacidade de antecipação, são características
que vão se tornando fundamentais num guarda-redes de uma equipa de topo.
Ora o FC Porto não foge dessa
linha, e desde a chegada de Wil Coort ao Clube, que coincidiu com a chegada de
Hélton, a procura desse guarda-redes-tipo tornou-se ainda mais abrangente. Isto
é, não se limita apenas ao guarda-redes para a equipa sénior.
Os últimos anos mostram uma
clara mudança no guarda-redes-tipo nos escalões de formação do FC Porto.
Há
relativamente pouco tempo, era comum ver nas nossas equipas (dos mais novos até
aos Juniores) guarda-redes de grande envergadura, algo pesados e com pouco à
vontade para jogar fora dos postes. Bruno Vale será talvez o exemplo maior
desse género de guarda-redes, mas há mais casos, como Taborda, Zé Eduardo, Norinho,
Hugo Marques, etc. As características principais que levavam à contratação de
um guarda-redes eram, acima de tudo, físicas, priorizando-se os mais altos e
encorpados.
De há 4, 5 épocas para cá o
paradigma mudou e os escalões mais baixos são o local mais fácil para perceber
essa mudança. Antes, o guarda-redes era, normalmente, o jogador mais alto da
equipa, mesmo em escalões como Benjamins ou Infantis. Agora, e uma vez que as
características que se procura num jovem guarda-redes são outras, é comum
vermos guarda-redes muito pequenos nas nossas equipas de iniciação.
Mas então quais são as
características fundamentais num guarda-redes para o FC Porto?
Partindo do
princípio que as nossas equipas (incluindo a equipa principal) jogam
maioritariamente em Organização Ofensiva, é importante ter um guarda-redes
rápido a atacar o espaço nas costas da nossa defesa. Uma vez que a posse de bola
é um aspecto fundamental do nosso jogo, e é raro o jogo no qual não temos mais
posse de bola que o adversário, é de uma importância extrema que o nosso
guarda-redes seja forte no jogo de pés, na lateralidade e na reposição de bola.
Se pensarmos no Hélton, estas características saltam à vista de imediato. E
será mesmo o Hélton o exemplo maior do que o FC Porto procura na sua formação
de guarda-redes. Ele é o produto final do guarda-redes-tipo que se tenta
“fabricar” no Olival.
Para além das características
já referidas acima, a Comunicação é outro aspecto fundamental para um
guarda-redes do FC Porto. E aí temos Hélton, mais uma vez, como expoente
máximo. Seja por linguagem gestual, seja oral, são constantes os feedbacks para
os seus colegas, mais “gerais” quando a bola está longe, mais curtos e precisos
quando a bola está por perto. “O grande guarda-redes não é aquele que faz
grandes defesas, é aquele que coordena os seus colegas de forma a que não
precise fazer grandes defesas”, já o dizia Peter Schmeichel.
Ora a busca por este
guarda-redes-tipo leva a que sejam feitas várias perguntas.
Centremo-nos no
trabalho de quem procura por estes guarda-redes nos escalões mais baixos.
- Serão
estas características passíveis de serem desenvolvidas à posteriori ou serão elas inatas?
- Um guarda-redes que seja
excelente entre os postes mas fraco no restante não serve para o FC Porto?
- Um
guarda-redes que não tenha qualquer tipo de critério a sair da baliza, seja
fora da área seja em cruzamentos, conseguirá desenvolver esse discernimento?
Tentando responder a estas
perguntas, não há nada que o trabalho não molde, desde que haja talento.
Tudo
dependerá da capacidade do atleta de perceber o que lhe é pedido, depois o
trabalho poderá (ou não) fazer o resto. Mas a verdade é que há, de facto, em
alguns guarda-redes, uma predisposição inata para estar constantemente a
comunicar, para atacar o espaço de imediato, para antecipar a sua acção e não
ficar à espera para reagir. Estes, de certeza que o nosso clube tentará não
deixar escapar, independentemente do seu tamanho. E se for ainda muito jovem,
nem mesmo a sua técnica de baliza importará muito, pois é o aspecto mais
trabalhável num guarda-redes.
Perceber isto ajuda-nos a
entender algumas das escolhas que o nosso Clube faz na contratação/dispensa de
guarda-redes nos escalões de formação. Ajuda a perceber o porquê da aposta no
guarda-redes X quando guarda-redes Y parece ter maior potencial, na nossa
perspectiva.
Como tudo, esta ideia de
guarda-redes poderá ter os seus contras. A aposta em Kadú, que o clube acredita
ter essas características, tem sido muitas vezes posta em causa e com alguma
legitimidade, face a alguns erros que o mesmo tem cometido, mas é importante
perceber que se trata de um guarda-redes em formação e muito longe de ser
“produto final”.
Como tudo na Formação, o tempo
dirá se esta mudança dará os seus frutos.
Por: Skap
1 comentário:
É realmente um artigo que apresenta alguns pormenores que poderão alterar o futuro na forma de contratação de jovens gr, assim como dar uma identidade ao gr português
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