terça-feira, 13 de novembro de 2012

Emídio Rafael: Sorte Madrasta (Por Breogán)


Sorte madrasta.

O Homem e o seu percurso:





Emídio Rafael começa o pontapé na bola, pelas ruas do seu bairro em Lisboa, com os amigos. É com esses amigos que, numa brincadeira, decidem ir às captações do Sporting. Tinha Emídio 9 anos. Os amigos não duraram por muito tempo nas captações, mas o Emídio dali não mais saiu. Quando ascende ao escalão de juvenis é já titular a defesa-esquerdo numa equipa onde conta como companheiros João Moutinho e Nani. 




Nos dois anos de juvenis perde os dois títulos para o FC Porto. Cumpridos os dois anos do escalão, sobe ao escalão de júnior. Nos juniores, no primeiro ano volta a falhar o título, mas é titularíssimo na sua posição. O segundo ano de júnior seria uma amostra do resto da carreira do Emídio Rafael. 

O Sporting faz uma aposta forte na campanha de 2004/2005. Com Paulo Bento ao comando, Emídio Rafael mantem-se titular no ataque ao título, que já fugia há 9 anos daqueles que auto-intitulam a melhor escola de formação do país. Nessa temporada, Emídio é chamado, pela primeira vez, à selecção nacional e integra os trabalhos da selecção Sub-19. Fruto da boa campanha no nacional de juniores, Paulo Bento é promovido a treinador principal do Sporting a meio da temporada e decide apresentar um contracto profissional de dois anos a Emídio Rafael. 

Mas quando tudo parecia correr sobre esferas, eis que o azar bate porta. A poucos jogos da decisiva fase final, Emídio Rafael sofre uma rotura dos ligamentos cruzados ao serviço da selecção nacional Sub-19. Cirurgia imediata e recuperação longa pela frente. André Marques, então suplente, avança para a titularidade no lado esquerdo da defesa. Conquistado o título de juniores, Emídio Rafael ainda enfrenta 6 meses de recuperação.

Paulo Bento decide emprestar Emídio Rafael, ainda em recuperação, ao Casa Pia e levar André Marques para o estágio da equipa principal. Duro golpe nas ambições de quem se preparava para dar o salto para o futebol profissional. A época no Casa Pia não corre bem. Emídio Rafael perde a pré-época e quando recupera totalmente já a temporada ia quase a meio. Na época seguinte e já no último ano de contracto com o Sporting, a decisão volta a recair no empréstimo de Emídio Rafael. Desta vez, o destino foi o Real Massamá. 








Em Massamá, Emídio conquista de imediato a titularidade, tornando-se um dos esteios defensivos da equipa da linha de Sintra. Ainda assim, a decisão do Sporting é de não renovar o vínculo e Emídio Rafael toma o destino nas suas mãos. Após dois anos de IIB, Emídio espreitava uma oportunidade para subir na carreira. A oportunidade surgiu em Olhão. Luís Martins, seu treinador na formação do Sporting, assume os comandos do Portimonense e decide convocar os serviços do seu ex-jogador. Emídio assina por duas épocas com o Portimonense. Em Portimão, agarra a titularidade, logo de início, e torna-se indiscutível no onze algarvio. A segunda época corre especialmente bem e é um dos destaques do campeonato.





Atenta às suas prestações e ainda com maior apetite por ser um jogador livre, a Académica não deixa escapar a oportunidade de o contractar. A mudança para Coimbra representaria mais um degrau vencido. Aos 23 anos, Emídio Rafael chega à primeira liga, mas terá pela frente um adversário difícil. Hélder Cabral é dono do lugar e um jogador mais experiente que Emídio Rafael. Mas o talento de Emídio força a titularidade e parte para uma época em cheio. Com a chegada de André Villas-Boas, consolida o seu lugar no 11 titular da briosa e é premiado com a chamada à selecção de sub-23. Tantos anos depois, de volta à selecção.



Passo a passo e degrau a degrau. Após ser atirado ao chão, Emídio voltou a subir a escada. No final da temporada, Villas-Boas assina pelo FC Porto e formula, a Pinto da Costa, o desejo de poder contar com o seu lateral esquerdo na Académica para concorrer com Álvaro Pereira. Emídio Rafael sobe o último degrau da escada e entra no Dragão. As suas declarações à chegada são marcantes: “Estou ciente do meu valor e dos meus objectivos e o meu objectivo era sempre chegar a um clube grande de Portugal. Chegar ao FC Porto é melhor ainda.”

A sua primeira época de FC Porto foi recheada de títulos. Quatro de uma assentada:

 Supertaça, Taça de Portugal, Campeonato e Liga Europa. Um sonho. 

Afinal, estava no clube que lhe havia roubado os dois títulos em juvenil





Mostrou ser opção válida e foi titular em 10 jogos, totalizando 658 minutos de utilização e dois golos marcados, até ao dia 29 de Janeiro de 2011. Esse dia é o filme da carreira de Emídio Rafael condensado. Começa o jogo a suplente, mas Villas-Boas chama-o para tapar as crateras deixadas em campo por Fucile. Faz um bom jogo, marca um golo, até que, no último minuto da partida, sofre uma lesão muito grave: fractura do perónio e rotura do ligamento deltóide da perna esquerda. 






Começa o seu calvário, de novo. Operação, recuperação, nova operação e longa recuperação. Desde então, mais não e viu de Emídio Rafael nos campos de futebol...

A análise ao jogador:

Não é um super-talento, mas é um jogador confiável. Sólido a defender e acutilante no ataque. Sabe o que faz e não inventa. É um jogador que se fez por esses campos e por essas divisões abaixo. Sem peneiras ou altivez. Sabe sofrer, esperar a sua oportunidade e corresponder quando é chamado. Villas-Boas sabia o que pretendia quando o chamou para o FC Porto. Quando fosse necessário descansar ou substituir Álvaro Pereira, o rendimento estava garantido.

É um jogador com boa técnica individual, muito boa capacidade física e veloz. Mas é, sobretudo, um lutador. Jogador de raça! Após um período de adaptação ao FC Porto começou-se a ver o que Emídio Rafael tinha para dar. Foi pouco tempo. Muito pouco tempo. Até dia 29 de Janeiro de 2011.


E agora?



Agora só um milagre. Mas há duas coisas em que acredito:

Primeiro, na perseverança do Emídio,

Segundo, que é no FC Porto que este tipo de milagres acontecem. Faz parte da nossa mística e sei que o público Dragão sabe o seu valor.

Uma coisa é certa. No dia em que sair do FC Porto, retribuirei as mesmas palmas emocionadas que o Emídio brindou os seus adeptos em Barcelos e guardarei a sua imagem a festejar os golos de Dragão ao peito. Aquela raça!




E por fim hoje:



Por: Breogán

4 comentários:

Anónimo disse...

Com a lesão de Alex Sandro e Maicon, seria bom ver o Emídio Rafael no lado esq do Porto e Mangala no seu lugar de defesa central.

Mokiev disse...

Felizmente há histórias com final feliz!

Esta vai ser uma delas, não fruto de milagres, mas devido ao enorme profissionalismo, espírito de sacrifício e mentalidade de Campeão do Emídio.

Foi bom ver a reacção dos colegas e o espírito de união que é encarnado nas fotos, isto sim é um orgulho para qualquer Portista.

É também por isto que este clube é tão especial!

Anónimo disse...

O rapaz tem tido mesmo pouca sorte.

Mas quem sabe se ainda vai a tempo com um pouco de sorte e "teimosia".

Foi mais um desperdicio do Sporting.

E aproposito de desperdicio o jovem Tiago Silva (médio do Belenenses) também não é um desperdicio do Benfica, Breogan?!

Breogán disse...

Ainda tenho algumas dúvidas se tem capacidade física e técnica para chegar ao nosso nível.

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