O bolo e a cereja.
Conseguimos o bolo. Tivemos que
inventar ingredientes de última hora e improvisar truques para desenformar o
bolo após a cozedura. Por bolo entenda-se a qualificação para a próxima fase da
Champions, num terreno difícil e perante uma equipa que jogava o tudo ou nada
perante nós.
Não saber apreciar um bolo de tão
complicada receita é pecado. As provações e as limitações foram muitas para
conseguir esta doçura da sobremesa. Ainda por mais, a qualificação foi
imaculada.
Mas a franqueza fala mais alto.
Tivemos a cereja à vista. Um pouco mais de ousadia, um pouco mais de rasgo e a
vitória era nossa. Não que ache bem arriscar o bolo para conseguir a cereja.
Mas, simplesmente, porque cheguei a sentir o cheiro fruto.
O FC Porto apresenta-se em Kiev
com Abdoulaye no lugar de Maicon e Defour a fazer a vez de Fernando. Por seu
lado, o Dínamo reformulou a sua linha ofensiva em relação à que apresentou no
Dragão. Jogando o tudo ou nada e perante o seu público, o Dínamo entra forte
sobre o FC Porto. Cabia ao FC Porto aguentar para espreitar o ataque. Aos 6
minutos, o Dínamo tem uma boa oportunidade, mas um corte oportuno de Mangala
mata o perigo. Aos 16 minutos, o FC Porto sacode a pressão e Jackson ganha um
lance na área do Dínamo, mas remate contra um opositor.
O FC Porto ganha,
então, o controlo do meio campo. Moutinho e Lucho ganham as segundas bolas e o
FC Porto não deixa o Dínamo construir lances ofensivos. Aos 28 minutos, o FC
Porto volta a abeirar-se do golo. Otamendi mete um passe a rasgar a defensiva
do Dínamo ao qual Jackson não chega por muito pouco.
O FC Porto mantém o torniquete no
ataque ucraniano e o domínio a meio campo. Faltava-lhe o jogador que empurrasse
a equipa para cima do sector defensivo adversário. Faltava Fernando.
Até que
aos 36 minutos o FC Porto cria a sua grande oportunidade na primeira parte.
James cruza da esquerda e Jackson antecipa-se a Khacheridi e de cabeça atira à
baliza. Koval defende com muita dificuldade junto ao poste. O lance é marcado
pelo agarrar de Khacheridi a Jackson, mas o árbitro não assinalou a
correspondente grande penalidade.
A primeira parte acaba com uma
ligeira pressão do Dínamo, mas nada que se compare ao quarto de hora inicial.
A segunda parte é o inverso da
primeira. Os primeiros 15 minutos são de pressão avassaladora do FC Porto. Aos
47 minutos, James é lançado em velocidade, mas acaba por deixar-se apanhar por
Khacheridi no último momento. Três minutos depois Lucho tenta isolar Varela e o
passe sai um pouco longo demais. Um minuto depois e o FC Porto falha a grande
oportunidade do jogo. Tal como na primeira parte, James aparece na zona 10 e
faz uma abertura primorosa para a desmarcação de Varela. Varela isolado remata
cruzado, mas falha o alvo por muito pouco. Uma oportunidade de ouro merecia uma
finalização mais clínica.
O jogo mantém uma toada de
pressão do FC Porto até que ao minuto 60 o Dínamo retira Milevskiy e coloca
Haruna. O Dínamo ganha um jogador espevitado onde tinha um jogador indolente e
começa a ganhar a batalha a meio campo, sobretudo na zona de acção de Defour.
O
belga não conseguia ganhar posição no terreno e obrigava o seu meio campo a
recuar.
Aos 65 minutos, o Dínamo volta a mexer bem. Troca de avançado centro, retirando
Rubén e metendo no jogo Ideye que havia marcado no Dragão. Rubén tinha sido
presa fácil para a defesa portista, mas Ideye trazia consigo um jogo mais vivo
e mais físico.
O FC Porto começa a ceder à
pressão do Dínamo e tarda em mexer. O Dínamo consegue duas oportunidades em
cinco minutos. Primeiro, aos 68 minutos, Yarmolenko falha perante Helton, após
ficar isolado por uma linha de fora de jogo mal feita pelo FC Porto. Depois,
aos 73 minutos, o mesmo Yarmolenko cruza para Ideye, mas este atira de cabeça
por cima.
Pouco depois, Vítor Pereira faz
sua substituição da praxe. Entra Atsu para o lugar de Varela. O FC Porto não
melhora muito, mas Atsu com alguns piques coloca Betão em sentido.
A
substituição decisiva acaba por vir por linhas travessas. Aos 80 minutos,
Defour lesiona-se e tem que ser substituído. Para o seu lugar entra Castro e o
meio campo do FC Porto respira melhor. O voluntarismo e a raça de Castro
trouxeram a dinâmica que faltava para voltar a controlar as acções a meio
campo. A partir daqui o jogo fechou. Nem o Dínamo conseguia o seu intuito, nem
o FC Porto conseguia arriscar a vitória.
No fim do jogo, só uma nota para
o defensor do FC Porto conquistado nas bancadas de Kiev. спасибі, pá!
Sabe bem acabar o jogo e cumprir
o objectivo primordial. Estamos na próxima fase. Mais jogos, mais prestígio e
mais dinheiro. Ainda por cima, com tantas ausências de peso no onze inicial que
tivemos que apresentar.
Mas para além do bolo, fica a
sensação que não tivemos a cereja por uma unha negra. E esta cereja também
valia uns cobres jeitosos. O grupo merecia, pelo sacrifício e pela tenacidade
que demonstrou. Foi quase e foi pena!
Análises Individuais:
Helton – Passou grande parte do
jogo como espectador. Na segunda parte, tem uma defesa decisiva a remate de
Yarmolenko. Muito bem a jogar a libero e muito eficaz em matar os lances do
Dínamo. Não largou uma única bola. Espírito de sacrifício louvável.
Danilo – Volta a mostrar nítidas
melhoras de forma. Muito sólido a defender, afastou Gusev de jogo. Foi afoito a
atacar e merecia mais e melhor solicitação por parte dos seus companheiros,
nomeadamente, James. Tem que ter mais atenção à linha de fora de jogo.
Mangala – Só por uma vez vacilou
perante Yarmolenko, mas compensou com um corte decisivo logo aos 6 minutos de
jogo. Mostrou boa técnica e entrega à equipa. Está a ganhar confiança e já sabe
dosear melhor os seus tempos de entrada aos lances. Está a crescer a olhos
vistos.
Abdoulaye – Fez a sua estreia a
titular e logo num jogo com esta pressão. É sob essa premissa que o seu jogo
deve ser analisado. É verdade que teve algumas hesitações e também é verdade
que terá um longo percurso a percorrer para conseguir ser uma solução sólida
para o centro da defesa do FC Porto. Mas soube-se defender muito bem e
demonstrou maturidade para segurar o seu jogo. Teve mais dificuldades com Ideye
que com Rúben, mas tirando algumas entradas fora de tempo, até Ideye não foi
problema sem solução.
Otamendi – O melhor em campo.
Exibição imaculada. Defensivamente, foi o comandante supremo e com muita raça e
autoridade limpou tudo o que lhe chegou. Quase que fazia uma assistência para
Jackson ainda na primeira parte.
Defour – A maior desilusão da
noite. Alguns passes falhados muito comprometedores. Não deu segurança no passe
e não conseguiu empurrar a equipa para a frente. Raramente assumiu a construção
e refugiou-se em demasia nos centrais.
Moutinho – Mais uma boa exibição.
Está na base do equilíbrio táctico após 15 minutos iniciais de domínio do Dínamo.
Esteve bem no trabalho miudinho a meio campo, mas tal como a equipa, faltou-lhe
só um pouco mais de talento na hora de atacar.
Lucho – Foi mais um homem de
trabalho no meio campo. Tal como Moutinho, batalhou muito para equilibrar as
contas a meio campo. Também faltou-lhe mais critério no processo ofensivo.
Espírito de sacrifício louvável.
James – Jogou muito a espaços,
mas quando apareceu no jogo desequilibrou sempre. Esteve nos dois lances de
maior perigo do FC Porto, o que demonstra a sua preponderância ofensiva. Tem
que solicitar Danilo mais vezes. Cabe-lhe a ele ajudar Danilo a dar
profundidade ao flanco.
Varela – Continua em boa forma
exibicional e teve um bom momento no fim da primeira parte. Falhou uma
oportunidade que, a este nível, não pode falhar. Ali, isolado, tem que ser
golo.
Jackson – Fez um jogo de
sacrifício e quase ia marcando. Craque. Muito bem na luta com os centrais
adversários e a prender bolas à espera que o meio campo subisse. Ajudou muito a
equipa na hora de defender, recuando e tapando linhas de passe.
Atsu – Duas arrancadas e Betão
ficou avisado.
Castro – Entrou e o meio campo
melhorou. A sua raça trouxe outro dinamismo à equipa e mesmo não fazendo tudo
bem, deu à equipa a solução que precisava.
Kléber – Entrou para queimar
tempo.
Fotos: www.maisfutebol.iol.pt |
FICHA DE JOGO:
Dínamo de Kiev-FC Porto, 0-0
Liga dos Campeões, Grupo A, 4.ª jornada
6 de Novembro de 2012
Estádio Olímpico, em Kiev
Assistência: 34.386 espectadores
Árbitro: Alberto Mallenco (Espanha)
Assistentes: Roberto Díaz Pérez del Palomar e Jesús Calvo Guadamuro
Quarto árbitro: Pau Cebrian Devis
Assistentes adicionais: Fernando Teixeira e Antonio Mateu Lahoz
DÍNAMO DE KIEV: Koval; Betão, Mikhalic, Khacheridi e Taiwo; Vukojevic, Miguel Veloso e Milevskiy; Yarmolenko, Marco Ruben e Gusev (cap.)
Substituições: Milevskiy por Haruna (58m), Marco Ruben por Ideye (67m) e Vukojevic por Kranjcar (88m)
Não utilizados: Shovkovskiy, Garmash, Bogdanov, Haruna e Mehmedi
Treinador: Oleksiy Mykhaylychenko
FC PORTO: Helton; Danilo, Otamendi, Abdoulaye e Mangala; Defour, João Moutinho e Lucho (cap.); James, Jackson e Varela
Substituições: Varela por Atsu (76m), Defour por Castro (79m) e James por Kleber (90m+1)
Não utilizados: Fabiano, Miguel Lopes, Rolando e Iturbe
Treinador: Vítor Pereira
Cartões amarelos: Vukojevic (20m), Milevskiy (42m) e Abdoulaye (70m)
Análise dos intervenientes:
Vítor Pereira:
"Estou muito satisfeito com a personalidade da equipa"
"Sabíamos que o Dínamo jogava tudo para o apuramento e fizemos um jogo personalizado. Quando tivemos de ser equipa unida, fomos, quando tivemos de defender, defendemos, e criámos algumas situações de golo; pena foi não termos concretizado. O Dínamo, em casa e com o apoio do seu público, é uma equipa perigosa e com bons jogadores, nomeadamente do meio-campo para a frente."
"Queria dar os parabéns aos jogadores que entraram, que substituíram quem saiu, e estiveram muito bem. Além disso, queria reforçar o espírito de sacrifício dos nossos capitães, o Helton e o Lucho, que jogaram condicionados, porque tanto um como outro estavam com pequenas lesões."
"Em termos gerais, estou muito satisfeito com a personalidade da equipa e com a entreajuda entre os jogadores. Estou muito satisfeito com a atitude. Foi um FC Porto personalizado, o que esteve hoje aqui, em Kiev. Estamos satisfeitos, mas já vamos pensar no próximo jogo da Champions como mais um para ganhar, porque nós não jogamos para empatar jogos."
"O resultado acaba por ser o correcto, mas conseguir o apuramento à quarta jornada é uma façanha, não é qualquer equipa que consegue esse objectivo. É claro que o objectivo agora é o primeiro lugar. Isto é uma prova demasiado importante para relaxarmos. Queremos ganhar os jogos todos e vamos tentá-lo. Hoje não foi possível alcançar a vitória, mas concretizámos aqui o apuramento e no jogo 150 do nosso presidente. É mais uma prenda para ele. "
Lucho:
"Apesar do empate, ficamos com um doce sabor. A equipa fez um excelente jogo e seria lindo termos podido marcar um golo e poder ganhar, mas o mais importante é que o nosso objectivo foi conseguido. Agora vamos jogar pelo primeiro lugar."
"Creio que fizemos um grande jogo e a vitória seria um resultado justo, mas também estamos contentes assim. Logicamente que, se formos analisar os 90 minutos, fomos superiores e tivemos situações para poder marcar, mas faltou esse último passe e um pouco mais de tranquilidade. Obviamente que agora vamos a Paris lutar pelo primeiro lugar, uma vez que está conseguido o objectivo principal, que era a qualificação."
"Senti-me bem. O corpo médico fez um grande trabalho e felizmente pude aguentar bem os 90 minutos."
João Moutinho:
"A equipa está de parabéns, fizemos um bom jogo e conseguimos um bom resultado. No conjunto, estivemos bem, estivemos concentrados naquilo que tínhamos de fazer. Sabíamos que o Dínamo é uma equipa perigosa em contra-ataque e foi isso que tentaram fazer, mas estivemos muito bem e criámos algumas oportunidades. Não conseguimos sair daqui com mais do que o empate, mas vamos felizes por termos conseguido o maior objectivo."
"O FC Porto é um dos favoritos [do grupo]. Estamos com o Paris Saint-Germain na luta pelo primeiro lugar e vamos jogar contra eles para ganhar, como fazemos em todos os jogos em que entramos, para tentar garantir a primeira posição, que é algo importante para nós."
Helton:
"Graças a Deus, e também com o espírito de grupo, consegui ir a jogo. Ontem também torci o tornozelo, para ajudar à minha dúvida, e tive dores durante o jogo, mas valeu o espírito de sacrifício, porque a malta estava a merecer – como sempre -, e isso animou-me ainda mais para ficar até ao final."
"Não tenho outra resposta para o que sinto, a não ser: feliz, alegre, contente com o resultado e com o nosso objectivo conquistado. Agradeço, obviamente, a Deus e aos meus companheiros, que apostaram e depositaram a sua confiança. Eu divido sempre o mérito com o grupo, porque eles merecem e têm-me ajudado muito."
Por: Breogán
2 comentários:
De acordo com quase tudo.
A divergencia prende-se com Defour que sem ser brilhante acho cumpriu (atenção que nao tem o ritmo dos outros dado jogar menos)
Bomjogo da nossa equipa.
Controlamos a bola o espaço e os ritmos.
Duma maneira geral todos os jogadores cumpriram embora claro uns melhores que outros.
Otamendi por exemplo está um SENHOR.
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