Gelo fino.
Piruetas sobre gelo fino. Foi um pouco assim o jogo do FC Porto. E é assim que tinha que ser. O FC Porto é uma equipa em evolução, arrancada ao estado de transe a que estava sujeita sob Paulo Fonseca e com um ciclo terrível de jogos pela frente, onde tem que fazer muitas coisas bem e em pouco tempo.
Por isso, abusa-se da sorte, especula-se com o jogo, vai-se um pouco para lá do limite, tudo se justifica numa tentativa de ganhar tempo, ganhar processos, ganhar jogadores e, sobretudo, empatia com o público. Só não direi acordar o morto, embora me apeteça, porque é um pouco forte demais para Paulo Fonseca. Justiça lhe seja feita.
Mas é isso o que Luís Castro tem feito. Primeiro, dar o que a equipa precisa. Depois, dar o que o povo quer. Até dar demais. Mas é o único caminho: piruetas em gelo fino. Esperar que a fina camada de água sólida não se estilhace com o nosso peso, tentando fazer umas piruetas engraçadas que dêem gosto a quem as realiza e entusiasmem quem vê e apoia.
Este jogo tem uma análise contraditória. Há duas grandes exibições no lado portista: Fernando e Defour. Mas é neste duo, ou melhor, nestas duas posições, onde a fragilidade deste novo FC Porto mais se nota. Temos duas peças que funcionaram bem, mas não de forma coordenada, afinada e constante. Foi por aqui que o Nápoles sobe no terreno no inicio da segunda parte e cria as suas melhores oportunidades e foi por aqui que o Nápoles esvazia a primeira meia hora de jogo do FC Porto, partindo para o quarto de hora final da primeira parte de forma bem mais tranquila.
Luís Castro apresentou o seu melhor onze. Julgo ser este o onze ideal, nesta fase, no plano de Luís Castro.
O FC Porto entra forte e pressionante, tomando controlo do jogo a meio campo. Ao Nápoles, restava o contra-ataque, mas nem isso saiu muito bem nos primeiros 30 minutos. Foi um FC Porto com chama, intenso e vivo que ficou a dever a si próprio o golo faltou. A si (Jackson) e ao árbitro, que anulou um golo limpo de Carlos Eduardo.
Passado este período áureo, o Nápoles consegue libertar Behrami e a ligação a Hamsik começa a ter alguma fluência. O FC Porto não coordena a transição ofensiva. Fernando e Defour começam a ter dificuldades em soltarem-se para frente e pressionarem a saída de bola do Nápoles. Fica um aviso dado ao FC Porto antes do intervalo.
O intervalo trouxe um FC Porto mais intranquilo. Ainda assim, o primeiro lance de perigo é do FC Porto. Fernando quase marca o golo da sua vida do meio da rua.
A sintomatologia do último quarto de hora da primeira parte agrava-se e o Nápoles tem o seu melhor período no jogo. É o meio campo napolitano quem mais pressiona e quem leva vantagem. São três sustos de enfiada, dois deles enormes!
É neste período mais negro, que o FC Porto marca. Canto na direita, a bola sobra para Jackson que enche o pé! O golo traz tranquilidade à equipa, que volta a pressionar melhor, a ter mais posse de bola e a ser mais rápida na transição para o ataque.
É aqui que Luís Castro especula com o jogo. Primeiro, tira Carlos Eduardo e coloca Quintero. Depois, retira Varela para colocar Ghilas. Os antípodas de Paulo Fonseca. Arrojo, loucura, até insanidade, em vez de medo, cautela e temor.
O que é melhor? Nem 8 nem 80, lá diz o povo. Mas depois de tanto 8, o FC Porto precisa de um pouco de 80. Para animar, até mais que isso, para vitaminar! Bem sei que se as coisas tivessem corrido mal, cairia o carmo e a trindade. Mas é o risco a que estamos sujeitos agora. A SAD acordou tarde para época e agora vale quase tudo para a salvar.
O 2-0 ainda espreitou. Num lance onde o falhanço e o poste negaram a tranquilidade, mas que têm a curiosidade de terem como protagonistas os dois jogadores tão especulativamente lançados no jogo. O falhanço foi de Ghilas e o poste frustrou Quintero.
Até ao fim, só o Nápoles assustou. Já o jogo estava meio partido e com Luís Castro a recusar-se fechar a porta (trocaria Defour por Herrera), Maicon salva sobre a linha de golo.
É curto? É. Vai ser complicado no San Paolo? Vai.
Estou preocupado? Não.
Porque confio que vamos ganhar no penico do campo grande. E de vitamina em vitamina. De pirueta em pirueta sobre um fina camada de gelo, que cada vez mais vai engrossando. De correcção em correcção, com vitórias no papo. Esta equipa vai subir, vai melhorar e quando chegar a Itália vai ser mais madura, mais consistente e mais segura de si.
Ontem não sofremos golos, com sorte, é certo. Ontem ganhamos em casa para as competições Europeias. Ontem ganhamos vantagem na eliminatória. É um corte drástico com o passado recente.
E agora, venha o circo. Se é que entendem! Com força e sem ressentimento. Nem que miem de aflição, temos que ser implacáveis até ao fim.
Análises Individuais:
Helton – Parece que ficou amiguinho de Higuaín. Bem se esforçou por isso. Uma grande defesa e alguns momentos à Helton. Espero que em Itália não se lembre que está a jogar nas competições Europeias. E que deixe o amiguinho para lá.
Danilo – Seguro a defender, embora com alguns pecadilhos, foi algo ausente no ataque. Boas dobras aos centrais.
Alex Sandro – Muito intranquilo a defender e como resultado disso, falhará Nápoles por amarelo. A atacar teve momentos de elevada qualidade. Belo galope na segunda parte, onde arrasta meia equipa do Nápoles. Pena foi que não tivesse virado o flanco do jogo.
Maicon – Exibição irregular, embora consistente e competente. Híguain não é um avançado fácil. Melhorou qualitativamente em relação ao que vinha apresentando, o que ajuda a explicar a melhor prestação defensiva da equipa.
Mangala – Muito intranquilo a defender e quase oferecia um golo. Está difícil em conjugar esta dupla de centrais, quando, em teoria, têm características complementares.
Fernando – O melhor em campo. Cortes de grande nível e disponibilidade total para a luta. Dito isto, não pode ter períodos de jogo em que se cole tanto aos centrais. Bem sei que divide responsabilidades com Defour, principalmente, e com os extremos e o criativo. Mas é aqui que o FC Porto tem que dar o passo em frente. Temos que ser uma equipa mais pressionante, mais sufocante, mais curta e mais solidária. Hamsik não pode receber a bola em Nápoles. Se a receber, não pode rodar. Se rodar, não pode fazer um passe à vontade ou escolher o lado da baliza para onde vai rematar.
Defour – Muito bom jogo, mas insuficiente. Dos melhores jogos que o vi fazer na sua posição ou na posição para a qual foi contratado. Insuficiente porque, tal como Fernando, esta bitola ainda não é tranquilizante. Tem que ter mais poder de choque a defender e mais veneno a atacar. Bater mais e mais verticalidade. Essencial.
Carlos Eduardo – Boa primeira parte, metendo talento em muitas jogadas e causando desequilíbrios. Esmoreceu no último quarto de hora da primeira parte e, na segunda parte, mal se viu. É visível que ganha conforto no jogo quando embala desde uma posição mais recuada. A rever o seu posicionamento. Mas mais importante que isso é esticar o seu jogo no espaço temporal da partida.
Varela – O lado lunar de Varela é longo e demora a passar.
Quaresma – Bom jogo, com raiva e ganas. Nem tudo saiu bem, mas mostrou vontade e autocontrolo. Até liderou a equipa, em alguns momentos, pela persistência com que disputava o lance. É, neste momento, o extremo mais fiável do FC Porto.
Jackson – Falhou um golo cantado. Marcou um golaço. É esperar que esta letargia que o apoquenta passe. Agora há jogo, há flanqueadores, há um criativo, há alegria, só falta a sua e o seu saber fazer.
Quintero – Percebo a aposta de risco de Luís Castro. Carlos Eduardo apagava-se e o FC Porto não podia recuar. Quintero levanta o estádio e precisa de crescer. Atirou-o para o jogo, fechou os olhos e confiou que ia dar certo. Quase deu. Muito risco? Muito. Mas nesta fase da época as árvores têm que crescer do dia para a noite. De jogo para jogo.
Ghilas – Ajudou mais o lateral que Varela. Trouxe verticalidade e diagonais. Já sabíamos que sacava cruzamentos de letra e que era um perigo a arrancar do flanco. Agora, também sabemos que é competente a defender. Para quando a titularidade, com o Varela numa fase lunar?
Herrera – Muito bem, Luís Castro não fechou a porta. Se fazia a mesma coisa? Não. Mas tentou um assalto final. Aquela transição que só o Herrera tem. Aquele lavrar de arado a rasgar a terra que chega de um lado ao outro do campo em pouco tempo.
Ficha de Jogo:
FC Porto: Helton, Danilo, Mangala, Maicon, Alex Sandro, Defour (Héctor Herrera, 87), Varela (Nabil Ghilas, 72), Fernando, Carlos Eduardo (Juan Quintero, 67), Ricardo Quaresma, Jackson Martinez
Treinador: Luís Castro
Nápoles: José Reina, Miguel Britos, Anthony Réveillere, Faouzi Ghoulam, Raúl Albiol, Valon Behrami, Marek Hamsik (Dries Mertens, 74), Henrique, José Callejón (Goran Pandev, 79), Lorenzo Insigne, Gonzalo Higuaín (Duván Zapata, 83)
Árbitro: Pavel Kralovec
Por: Breogán
3 comentários:
na analise individual, discordo de alguns pontos: o hélton esteve muito bem, o danilo foi muito fraco e o defour está a ser alvo de uma injustiça, pois foi o melhor em campo
Estamos a Melhorar apesar de LC ter pegado na equipa há pouco tempo.
O plantel não é fraco como alguns dizem. Tenho esperança que este Maestro o vai confirmar na pratica.
Parece-me que alguns jogadores não estão em grande forma física.
Melhores neste jogo: Helton, Danilo, Fernando, Defour e Quaresma.
As substituições talvez devessem todas, ser efectuadas mais cedo um pouquinho.
Até porque havia atletas que já estavam "mortos".
Há esperança de novo.
O Napoles estava por cima no jogo aquando da substituição de Carlos Eduardo por Quintero.
Nessa altura deveria ser Herrera a substituir Carlos Eduardo, pois estávamos a ter pouca bola?
BREOGAN, entrar Quintero, foi muito arriscado , pois joga sobretudo com bola ?
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