segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Liga Zon/Sagres 5ª Jornada: Estoril 2 - 2 FC Porto: Areias do deserto

Areias do deserto.


Comecemos pela mão negra, para depois partirmos para o essencial.

O Estoril marcou dois golos ilegais. Ponto final. Podemos discutir o lance o Otamendi, também. Falta, claríssima.

Vermelho ou amarelo? Ia ficar isolado? Não creio. Com a bola controlada? Muito menos? Em equilíbrio para marcar? Nunca na vida.






Mas nem são estes lances que mais me chateiam. Foi o estilo da arbitragem. O amarelar toda a defesa, com a honrosa excepção de Danilo. O saber dar as pequenas faltas para permitir a fixação do jogo ofensivo do Estoril. O regime chorou (pela sua personagem predilecta), tocou a rebate, exigiu que o sistema desse provas de vitalidade. 





E o sistema saiu à rua. Até a polícia enfardou em Guimarães, pública e notoriamente. Detido? Identificado? 

Nada disso. Já tinha visto a guarda romana bater em Jesus. Quanto mais não fosse nos filmes. Jesus bater na guarda romana, foi a primeira vez. E saiu-se bem. Enfardou dois, despachou o terceiro que, temerariamente, lhe tentava explicar que invasão de recinto desportivo é crime e ainda tem uma saída à Scolari, dizendo: “estava a defendê o minino!”. Sai de campo a mascar a chiclete, peito feito, dono e senhor do pedaço e abrir caminho à Moisés no meio do seu pequeno mar vermelho. Ninguém lhe toca. Cada fio de cabelo daquela peruca é santificado e todos os seus pecados estão, automaticamente, perdoados.

Já tinha visto as claques do lado verde da segunda circular a pegarem fogo a um estádio e a correrem a polícia de choque das suas bancadas a pontapé e “cadeirada”. Nada aconteceu.

Ficamos a saber que as claques do lado vermelho da segunda circular podem invadir o que quiserem (menos nos jogos da UEFA, atenção!) que nem a polícia lhes pode tocar e impor a lei em vigor. Tal é a força do sistema, do clube do regime e da mão negra. Viver acima da lei é isto. É ao vivo, a cores e em directo. Sem pudor ou ressentimento. Impunidade total!

Do homem de negro, mais nada a acrescentar, pois já sabemos que nestas coisas da bola em Portugal, é assim mesmo. Por cada Paixão. Lucílio ou Capela que tomba, quarenta mais se levantam.

Vamos ao jogo!

Vou ser muito breve. Quiçá demasiado brusco. Foi mau, muito mau.

O meio campo não tem estruturação. O 8 não segura a equipa e não assegura as transições. E os flancos, desde a pré-época que bato neste ponto, chegaram a um ponto calamitoso.





O meio campo não se aguenta perante um meio campo bem organizado. Tiro o meu chapéu ao Marco Silva. Sem medos, como já o demonstrou na época transacta, estrutura o seu meio campo, não abdica do seu criativo e vai à luta. O FC Porto, perseguindo a sua senda Quixotesca por um meio campo de oitos, perde-se. Nem defende bem, nem ataca melhor, embora Lucho nos últimos dois jogos tenha sido a alma da equipa. Ainda por cima, é no 8 que é 8 mais vezes que a equipa mais sofre. As transições são tão pastosas e lentas no seu escorrer como caramelo.





Com o meio campo em falência, sobretudo defensiva, a defesa fica exposta. Temos uma dupla de centrais que joga roleta russa avidamente, ao que se junta um ataque estorilista com muita vontade de correr e sem medo de ir ao choque. Está explicado.

Por fim, o nosso jogo flanqueado. Que é quase inexistente. Sem rasgo, sem profundidade, sem penetração, sem veneno, sem alma e sem categoria.

Por último, a análise de Paulo Fonseca do jogo. Levamos com uma primeira parte medonha. Ainda assim, lá marcamos aos 26 minutos, aproveitando um deslize do adversário.

Tal como em Viena, levamos logo uma no ferro, mas não acordamos. O árbitro lá se lembra da parábola de Jesus e saca um penalti para o Estoril. Golo do empate inventado, mas sejamos honestos, já merecido.

Assim chega o intervalo. Tudo na mesma no regresso. O FC Porto lá melhora, um bocadinho, pelos berros ao intervalo, imagino. Mas a voz grossa pouco mais é que um analgésico para os nossos males.

Tudo volta à cepa torta e os minutos escoam. Quinze minutos após o recomeço, Paulo Fonseca decide meter o 10 que a equipa tanto reclama. Miraculosamente, ou quase, Lucho e Jackson “acendem”, combinam e ganhamos vantagem no jogo. Resultado: esquece lá o 10 e estamos bem como estamos!

Marco Silva aproveita e mexe ele. Tira o seu extremo mais lento e rasga com Balboa. Tira o seu médio mais fraco e mete um de transição. O Estoril cresce, o FC Porto mingua (ainda mais!).

Paulo Fonseca lá se decide. Querem o 10!? Tomem lá o 10! Não a 10, mas a extremo! (pensava eu que este assunto estava enterrado, voltou das areias do deserto!).

O FC Porto, ao fim e ao cabo, segue igual. E o Estoril vai espreitando. Sim, podíamos ter feito o 1-3 por Varela, mas esse foi o risco que Marco Silva decidiu correr. Não foi Paulo Fonseca que decidiu correr o risco de chegar ao 1-3, aproveitando o adiantamento do adversário. Aguentar o 1-2, sem flancos activos e sem 10.






Com sorte, com ressaltos e em fora de jogo, lá chega o 2-2. E agora? Sem minutos, sem flancos e sem 10? Quanto aos minutos nada a fazer. O 10 estava em campo, havia pois que o recolocar. Para os flancos metia-se Ricardo e Ghilas. Tudo em desespero, tudo na última, tudo de sobressalto. Ficando à espera de um milagre.






Entretanto, Marco Silva tenta fechar a porta. Sai o seu criativo e entra Mano. As setas na frente ficam apontadas e encosta-se mais à defesa. Confiar no nosso desespero e aguentar 7 minutos.
E assim acabou.

Resta saber as consequências? Quintero é suplente neste FC Porto? E os flancos? Ghilas serve só para suplente de Jackson? E o 8? Vamos buscar alguém capaz nas transições ou ficamos sujeitos a quem muito corre, mas não sabe para onde?




Análises Individuais:

Helton – Um momento pouco lúcido, felizmente, sem consequências. Valeu a falta de qualidade de Sebá. Sem hipótese nos golos, ainda salvou o ponto que nos restou com duas boas intervenções.

Danilo – João Pedro Galvão é um jogador tecnicamente dotado, mas Danilo soube bloquear as suas investidas. O adversário não tinha velocidade para o superar e só apareceu no jogo em movimentos interiores. A atacar, esteve sempre retraído. Com os extremos incapazes de rasgar, ainda tentou dar amplitude, mas a equipa não carburava.

Alex Sandro – Se a defender esteve uns furos abaixo de Danilo, a atacar foi uma ausência. Não está confiante e o FC Porto está vulnerável no seu flanco. Segundo jogo consecutivo em que entra francamente mal na partida.

Otamendi – Foi uma desgraça que até criou bicho! Tempos de entrada aos lances completamente errados. Muitas dificuldades em controlar um ataque embalado e sempre a perder no arranque para Luís Leal. Muito mau. Mas muito mesmo!

Mangala – Também ele uma desgraça. Aliás a dupla de centrais ressentiu-se do colapso defensivo do meio campo. Incapazes em travar um ataque estorilista embalado e bem alimentado por Evandro (com tempo e espaço para tudo). Como Mangala e Otamendi são dois centrais do “tudo ou nada”, quando apanham com um avançado móvel, bom de bola, rápido e com costados para aguentar as cargas, perdem-se logo. Tanta fífia, tanta virada que até foi penoso para quem via.

Fernando – Vamos lá assentar uma coisa. Fernando é um médio defensivo, um 6, um trinco, um cabeça de área, o que lhe quiserem chamar!!! Não é um Redondo que um dia chateou-se de ser o 10 numa equipa qualquer da argentina e decidiu pegar na bola junto dos centrais. Não é um Pirlo, nem um Verratti, nem um Schweinsteiger, nem mesmo um Javi Martínez. E não vem nenhum mal ao mundo!!! É um 6 e não um 8 recuado, quando não um 10 desorientado. Não tem a saída de bola maravilhosa de outros jogadores, mas também eles não tem a sua capacidade defensiva. Jogo pavoroso porque, uma vez mais, deixa de ser 6 e começa a disparatar em campo. Fica a pergunta: a culpa é dele ou de quem lhe pede isso? É que o meio campo de oitos nem no deserto funciona! Certo, Paulo Fonseca?!

Defour – Ver a banda passar. Se já ter o Fernando atirado para a frente é mau, conjugar isso com um Defour sem dinâmica para ser um 8 de uma grande equipa é colapsar o meio campo. Assumo-o, na minha opinião, Defour pouco mais é que um suplente útil. Esforçado, dedicado, até bem intencionado, mas muito limitado. Foi por si que o meio campo quebrou. Foi por si que o Estoril sempre teve espaço para lançar Luís Leal. Corre muito, só não sabe porque corre e o que deve fazer. Quem pressionar, quando fugir de Fernando, quando abrir no flanco, quando fechar junto de Fernando. Mas corre…

Lucho – Não sou fã da sua utilização a 10. Já manifestei essa posição sobejas vezes. Mas não escondo o meu apreço pela sua actuação hoje. Foi alma e qualidade. Foi o fio de vida que manteve o nosso meio campo à tona. Foi quem chegou a Jackson e não o deixou ao abandono. Foi o melhor em campo, mesmo jogando fora da posição onde rende mais e sem qualquer auxílio de um meio campo medíocre.

Varela – Muito a espaços deu um ar da sua graça, com alguns arranques em velocidade e uma ou outra finta. De resto, uma miséria franciscana. Uma vulgaridade atroz. E como desperdiça um golo cantado, que valeria 3 pontos, é um acabrunhante. Nas últimas épocas, pouco mais faz que meia dúzia a uma dezena de jogos de muito bom nível. O resto, é quase tudo tão miserável que uma pessoa chega a questionar como chegou ao FC Porto.

Licá – Marcou o golo na única jogada que teve ao seu jeito. Bola para a frente, Licá a correr atrás e a acreditar até ao fim, sempre em diagonal, de preferência. Capacidade de rasgar pelo flanco? Zero. Capacidade de ganhar no um para um? Zero. Capacidade de arrancar para a baliza, com a bola controlada e a ganhar à oposição? Zero. Resumindo, construiu alguma coisa? Zero. Enquanto Licá for um jogador só de diagonais e uma espécie de Jackson mais fraquinho ao segundo poste, quando o original não chega ou não resolve ao primeiro poste…é curto! Demasiado curto.

Jackson – Lá está. Fez uma grande exibição? Não. Com franqueza, seria possível? Claro que não. No meio campo, só Lucho. Nas alas, ninguém. Há ponta de lança que sobreviva a tanta míngua. Há ponta de lança que ganhe jogos quando o 10 entra a 15 minutos do fim? Muito fizeram ele e Lucho. Se não fossem estes dois e o árbitro até podia fazer orelhas moucas aos dislates de quem bate na polícia e não vir com a lição estudada. O Estoril de Marco Silva bastava para nos tirar 2 pontos.


Quintero – Só Paulo Fonseca sabe porque guarda o seu ás de trunfo no banco. Eu não entendo. Desisti. Já se percebeu que este ano, uma vez mais, a opção do FC Porto foi ir a jogo com opções muito débeis para extremo. Ainda por cima, escondemos a magia que nos resta no jogo interior no banco. Faz sentido? Não. Ainda por cima, entra para o flanco. É de atar as mãos à cabeça. Outra vez? O mesmo filme outra vez? 

Ricardo – Chega o empate e Paulo Fonseca acorda. Espera lá, e se metesse o Quintero a 10 e abrisse com um extremo. Boa! Lá diz o povo, mais vale tarde que nunca. Mas Paulo Fonseca abusa! Não é tarde. É tardíssimo.

Ghilas – E por falar em tarde e abusar. Para aqui perdi já adjectivos. Só faço um voto. Que Seja visto não só como opção a Jackson, que é. Mas que se comece já a pensar na sua titularidade no flanco. Faz diagonais como o Licá. Pode ser um Jackson de segunda ao segundo poste, também. Mas tem uma vantagem. Este vai para cima. Este encara. Este pode não ganhar o lance, mas não passa para trás ou para o lado.



FICHA DE JOGO

Estoril-FC Porto, 2-2
Liga portuguesa, 5.ª jornada
22 de Setembro de 2013
Estádio António Coimbra da Mota, em Cascais

Árbitro: Rui Silva (Vila Real)
Assistentes: José Lima e Bruno Trindade

ESTORIL: Vagner (cap.); Anderson Luís, Bruno Miguel, Ruben Fernandes e Babanco; Gonçalo Santos, Diogo Amado e Evandro; João Pedro Galvão, Sebá e Luís Leal
Substituições: Balboa por João Pedro Galvão (71m), Filipe Gonçalves por Diogo Amado (72m) e Mano por Evandro (85m)
Não utilizados: Ricardo Ribeiro, João Pedro, João Coimbra e Bruno Lopes
Treinador: Marco Silva

FC PORTO: Helton; Danilo, Otamendi, Mangala e Alex Sandro; Fernando, Defour e Lucho (cap.); Licá, Varela e Jackson Martínez
Substituições: Quintero por Varela (76m), Ricardo por Defour (84m) e Ghilas por Licá (90m)
Não utilizados: Fabiano, Reyes, Herrera e Josué
Treinador: Paulo Fonseca

Ao intervalo: 1-1
Marcadores: Licá (26m), Evandro (35m, g.p.), Jackson Martínez (67m), Luís Leal (80m)
Disciplina: Cartão amarelo a Mangala (30m), Otamendi (34m), João Pedro Galvão (37m), Babanco (40m), Alex Sandro (59m), Fernando (66m), Anderson Luís (78m) e Vagner (90m)



Por: Breogán

4 comentários:

Anónimo disse...

No OJOGO o Tribunal de árbitros considera os dois golos do Estoril IRREGULARES.

Também considera cartões amarelos mal mostrados a jogadores do FCP.

E no tal lance entre Otamendi e o avançado do Estoril a opinião não é unanime . Coroado quer falta e só amarelo, PHenriques falta e expulsão e José Leirós nem considera falta que foi o que me pareceu deste inicio e a treta do comentador benfiquista da Sport Tv não me convenceu.

De salientar que no lance do penalty mal assinalado também há fora de jogo de Sebá, por isso nem razão para amarelo ao Sebá havia.

Anónimo disse...

Mais uma excelente cronica.

Mas tenho que realçar que Lucho fez um excelente jogo a 10.

Anónimo disse...

É a primeira vez que consulto este blog. Os meus parabens pela análise feita. Concordo em absoluto. O Porto de PF é um conjunto de duvidas e imperfeições que apenas a qualidade individual de alguns jogadores e a fraca oposição dos adversarios vinha disfarçando.

De facto não jogamos nada. Tenho serias duvidas sobre o futuro. Tenho receio que o nosso mister esteja deslumbrado e se torne dependente em vez de lider dos jogadores. Já vi isto com o Quinito.

É preciso ter a coragem de mudar e por os melhores a jogar. O problema está no meio campo.

Para piorar a situação, as declarações de PF no final do jogo são lamentáveis e indignas de um treinador do FCP. Querer atirar areia para os olhos não. A arbitragem foi fraca, prejudicou-nos imenso mas nós estivemos 2 vezes em vantagem e não soubemos aproveitar. Foi mau de mais e não em recordo de uma serie tão prolongada de pessimas exibições.

Pedro disse...

O Porto neste momento quase nao tem meio-campo. Jogar com Fernando, Defour e Lucho, num suposto sistema de 4-2-3-1 muito dificilmente resultará pois nenhum dos supostos oitos tem capacidade para transportar a bola para o ataque com qualidade, nem Lucho é capaz de "pegar" no jogo a meio-campo como um 10 o deveria fazer limitando quase sempre as suas acçoes ao último terço do terreno.
Este aspecto era compensado no inicio da época com Josué a falso ala direito, que tinha capacidade de recuar para organizar o ataque, algo que hoje nao é possivel com Varela e Licá nas alas.

Nao deixa de ser curioso que com tantos médios ofensivos que poderiam dar criatividade ao nosso jogo, nenhum tem neste momento lugar no 11.

Parece-me até que o estatuto de alguns jogadores se sobrepoe aos interesses da equipa.

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