Valeu pela vitória, pelos três pontos e pelos euros.
Atrevo-me a dizer que nunca nos foi tão difícil ganhar no “nosso” Pratter. Nem que nunca jogamos lá tão mal.
O jogo começa logo por desdizer o que Paulo Fonseca havia dito no final do encontro frente ao Gil Vicente. A equipa jogou sem Quintero e isso não lhe trouxe mais domínio. Nem sobre o adversário, nem sobre a bola. O perigo nos primeiros 30 minutos vestiu-se de roxo, a cor do Áustria Viena. Só Lucho se debatia e Fernando, de vez em quando, dava o ar da sua graça. De resto, tínhamos o FC Porto totalmente bloqueado, sem poder de penetração nos flancos e sem arte para pressionar alto o Áustria Viena.
A equipa austríaca limitou-se a usar o que podia. Total solidariedade defensiva e muito coração na hora de atacar. Expectável e até bem conseguido.
Cabia ao FC Porto ser mais astuto e sagaz. Já não bastava o sobrepovoamento austríaco na hora de defender, como ainda se juntava, um meio campo sem consistência, sem criatividade na zona 10 e sem perigo nos flancos.
O jogo arrastou-se nesta pobreza, numa das primeiras partes mais enfadonhas do FC Porto. Lucho, com alma de operário, a ter que jogar atrás de Jackson e Josué, com alma de artista, a ter que jogar à frente de Fernando.
A segunda parte pouco melhor foi. Valeu pela subida de produção dos laterais, sobretudo ofensiva, que assim, mascarou a ausência dos extremos. Foi assim, num raro rasgo de futebol, que o FC Porto chega ao golo. Subida do lateral pelo flanco, com Lucho a orquestrar e concluir a jogada. Mais inspiração, só nos minutos finais, já com Quintero em campo e após uma “chuva” de médios para aplacar o adversário. Tão temível que era!
Longo bocejo, que nem serviu para tirar de esforço a derrota copiosa (e vergonhosa) sofrida pelos Sub-19 às mãos deste Áustria Viena.
Análises Individuais:
Helton – Não foi muito chamado a jogo, embora o Áustria Viena rondasse com perigo a sua baliza. Aqui e ali deixou um leve sinal de insegurança, algo já habitual no palco da Champions, mas desta vez, quando chamado, mostrou-se seguro.
Danilo – Muito bem sobre Jun, não dando qualquer espaço ao atacante checo. A atacar teve dificuldades, limitado pelo fraco desempenho de Varela e Licá. Se os extremos não abrem o corredor, fica mais complicado para quem tem que subir pelo corredor. Num dos raros lances em que foi solicitado, responde com classe à desmarcação imposta por Lucho e assiste, primorosamente, o capitão para o único golo. Até ao fim do jogo, foi sempre o flanqueador mais perigoso.
Alex Sandro – Entra muito mal em jogo, com tremendas dificuldades em segurar Royer. Ultrapassado em velocidade, não fechou bem o espaço entre si e Mangala. Após uma meia hora à deriva, estabilizou e assentou o seu jogo. Acaba a primeira parte em crescendo e toda a segunda parte tomou conta do flanco.
Mangala – Muitas dificuldades perante o empenho e o arrojo de Hosiner. O avançado austríaco metia o coração em todas as suas movimentações, entregando-se a todos os lances. Invariavelmente, Mangala respondia com o músculo e poucas vezes com a cabeça. Umas vezes ultrapassado, outras vezes castigando com faltas desnecessárias o adversário. Quando entrou Keinast (bem mais fraquinho que Hosiner) encontrou um adversário que satisfizesse melhor a sua forma de jogar. Já é tempo de Mangala abandonar o seu futebol de ímpeto e começar a planear melhor o seu jogo.
Otamendi – Voltou àquele seu registo em que intercala asneira da grossa com cortes providenciais. Ser virado e revirado por Hosiner é medonho. Esta dupla de centrais do FC Porto muita sorte teve de apanhar um avançado centro estreante nestas andanças. Alguém com mais calo teria feito mossa.
Fernando – Mais um jogo onde força mostrar aquilo que não é. Fernando não é um artista de jogo. Não sei se são ordens superiores ou um desejo de se mostrar capaz noutros capítulos, mas a insistência em tentar passar-se pelo que não é, mais cedo ou mais tarde, irá ter consequências. Fernando tem que entregar simples e seguro. Se assim o fizer, já é um óptimo construtor de jogo na posição 6. Não precisa de ser artista. A nível defensivo esteve quase sempre bem e quando errou, foi porque tentou inventar.
Josué – Este é um Fernando ao inverso. É um jogador de último passe que está transformado num médio semi defensivo. Se por um lado, não é em terrenos tão recuados que consegue dar arte ao seu futebol, por outro lado, tão atolado na disputa de bola, o seu futebol resvala para uma quezília constante. Nem temos arte em campo, como ainda corremos o risco, um dia, de o ver ir tomar banho mais cedo. Hoje foi um jogo totalmente perdido.
Lucho – Não fez um bom jogo, mas foi dos melhores em campo e acaba por ser determinante. É possível? Sim, é. Primeiro, já se sabe que Lucho naquelas funções joga sempre com intermitência. Nem a suposta superioridade de controlo do jogo é real. Se a posse de bola pode ser um dado estatístico incrementado pela sua presença nessa posição, a perigosidade andou quase sempre do lado do Áustria Viena. Mas nem isso é culpa sua, diga-se. O meio campo atrás de si colapsou e os extremos não conseguiam carrilar jogo. Foi a sua vontade, a sua entrega que mantiveram o jogo com uma chamazinha acesa a meio campo. Segundo, foi decisivo no lance do golo, ao dar uma pontinha de criatividade e ao aproveitar uma subida de Danilo. Terceiro, porque acaba a comandar um meio campo de médios, esse sim, implementado para controlar o jogo e a posse de bola, até dar lugar a Quintero.
Varela – Jogo pobre. Na primeira parte, ainda teve três arrancadas de bom nível, numa delas quase a dar o 0-2 a Lucho. Fora isso, nunca passou de uma mediocridade conveniente para os débeis laterais do Áustria Viena. Sem grande poder de arranque, pouco arriscou no um para um.
Licá – Jogo muito amorfo. Licá recebe a bola e não carrega sobre o adversário. Entrega para trás ou para o lado e, raramente, para a frente. Não tenta o desequilíbrio, não arrisca e não ousa. Perante um adversário fechado e minimamente competente na arte da marcação, desaparece. Se não for solicitado já embalado, com a bola metida à sua frente e, de preferência, em diagonal, o seu jogo torna-se demasiado previsível. Chega a hora de começar a fazer outro jogo.
Jackson – Anda desinspirado. Tem vindo a marcar, é certo, mas nota-se que ainda não está com a mesma fluidez de outros jogos. Bem sei que hoje os extremos não existiram e que o nosso jogo a meio campo foi fraco. Ainda assim, outro Jackson teria feito muito mais com as “meias bolas” que lhe foram chegando.
Izmaylov – Entrada agradável e com bom espírito. Não foi difícil fazer melhor que Licá e Varela, nem, tão pouco, era especialmente complicado mostrar que os laterais do Áustria Viena são vulgares. Mas Izmaylov, mesmo não rasgando jogo pelo seu flanco, mostrou raça e técnica onde, até ali, só tinha existido deserto.
Herrera – Entrou com ganas e isso fez a diferença. Na nossa apatia, qualquer sopro era uma ventania. Foi isso que trouxe Herrera.
Quintero – Fez um disparate, mas também foi o único a fazer um passe de morte para Jackson. Cinco minutos em campo que provam, uma vez mais, que é titular nesta equipa. Sem ele, não temos magia. Nem nos flancos, nem no centro.
FICHA DE JOGO:
Áustria de Viena-FC Porto, 0-1
UEFA Champions League, 1.ª jornada
18 de Setembro de 2013
Estádio Ernst Happel, em Viena
Árbitro: Craig Thompson (Escócia)
Assistentes: Alan Mulvanny e David McGeachie Assistentes adicionais: Steven McLean e Kevin Clancy
ÁUSTRIA DE VIENA: Lindner; Rogulj, Ortlechner (cap.), Suttner, Koch; Mader, Holland, Royer; Jun, Hosiner, Stankovic
Substituições: Simkovic por Jun (68m), Kienast por Hosinere e Okotie por Holland (83m) Não utilizados: Grünwald, Rotpuller, Leovac e Dilaver.
Treinador: Nenad Bjelica
FC PORTO: Helton; Danilo, Otamendi, Mangala e Alex Sandro; Fernando, Josué e Lucho (cap.); Varela, Jackson Martínez e Licá
Substituições: Izmaylov por Licá (67m), Herrera por Varela (79m) e Quintero por Lucho (87 m)
Não utilizados: Fabiano, Fucile, Reyes e Ghilas
Treinador: Paulo Fonseca
Ao intervalo: 0-0
Marcador: Lucho (55m)
Disciplina: Cartão amarelo a Koch (43m), Alex Sandro (44m), Hosiner (67m) e Varela (73m).
Por: Breogán
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