PRÉ-SISKA
O final da carreira de Lino
Moreira no FCP, correspondeu à ascensão de Luiz Peixoto da Silva. Peixoto fez a
época quase completa de 1923/24, apenas para ser José Borges de Avelar o
guarda-redes da final do Campeonato de Portugal desse ano. Apesar das boas
críticas que Borges de Avelar teve, esta foi uma das poucas (única?) aparições
deste guarda-redes na equipa de primeiras categorias do FCP. Na época seguinte
haveria de chegar o primeiro mito das balizas do FCP: Miguel Siska. Peixoto
ainda seria o guarda-redes das segundas categorias do FCP por algum tempo.
MIGUEL SISKA
Mihaly Siska foi o primeiro
grande ícone das balizas do FCP.
Para além da classe que sempre
demonstrou a defender a baliza do FCP, converteu-se num verdadeiro portista.
Na Hungria, no Vasas de Budapest,
muito jovem, alinhava onde fosse necessário ou onde faltassem jogadores. Fora
do futebol, era mecânico-dentista.
Em 1924, chegou a Portugal por
indicação de Akos Teszler – o primeiro verdadeiro treinador do FCP – com apenas
18 anos. Foi, provavelmente, o primeiro estrangeiro a ser contratado para jogar
futebol em Portugal.
A sua chegada ao FCP enquadrou-se
nas disputas de então entre a defesa do profissionalismo ou a manutenção do
amadorismo (ou profissionalismo encoberto…). A sua contratação foi mesmo levada
a Assembleia Geral. No final, acabou por assinar pelo FCP a troco de um salário
mensal de 1.000 escudos, não deixando, porém, de trabalhar numa sociedade de
vinhos.
A sua estreia deu-se num jogo
contra o Celta de Vigo, onde o FCP perderia por 2-9. Acabaria por fracturar a
clavícula, mais tarde, estreando-se oficialmente pelo FCP em 23-11-1924, no
Bessa, numa vitória do FCP por 6-1 sobre o Progresso (havendo relatos de que
teria marcado o último golo e … de bola corrida).
No final da sua primeira época –
em 1924/25 – começou, verdadeiramente, o mito de Siska, com uma exibição
fantástica e recordada por muitos anos, na final do Campeonato de Portugal que
o FCP haveria de vencer, em Viana do Castelo.
No FCP permaneceu até ao final da
sua carreira, sagrando-se ainda Campeão de Portugal em 1931/32, em Coimbra. A
esses dois Campeonatos de Portugal, juntam-se os 9 Campeonatos do Porto – todos
os que disputou.
Em todos os anos ao serviço do
FCP, poucos foram os jogos em que Siska não defendeu a baliza do FCP.
A sua identificação com o Porto e
Portugal, levaram a que se naturalizasse português, “aportuguesando” o seu
primeiro nome para Miguel.
Era um guarda-redes alto e forte,
rijo (numa altura em que os guarda-redes não gozavam da protecção dos tempos
mais recentes) e com excelentes reflexos. As crónicas da época recordam um sem
número de jogos onde foi decisivo e incluem as finais do Campeonato de Portugal
já referidas, (mas também jogos épicos como a meia-final contra o Belenenses,
em Santarém, em Maio de 1930 ou o jogo em que defendeu dois penalties, contra o
Salgueiros).
E aliava a esta extraordinária
capacidade de defender as balizas, uma modéstia, uma correcção e uma educação,
elogiada por todos, colegas, mas também adversários. Combinava esta educação
com uma reserva inerente à sua própria timidez, evitando falar de futebol fora
do campo.
Infelizmente, a sua carreira não
haveria de ser longa, deixando de jogar futebol ainda antes dos 30 anos, por
problemas de saúde. Pelo contrário, a sua reputação mantém-se viva e longa, sobrevivendo-o
por muito, pois ainda hoje é recordado como um ícone do FCP.
Assumiria o cargo de treinador do
Progresso, treinando o FCP em dois jogos durante a época de 35/36. Regressaria,
definitivamente, em 1937, conseguindo um segundo lugar com igual número de pontos
do primeiro e sagrando-se bi-campeão, em 1939 e 1940.
Uma vez mais, a sorte haveria de
ser madrasta e atacado pela doença e incapaz de treinar, acabaria os seus dias
remetido a uma secretária, como funcionário administrativo do FCP.
O FCP ainda organizaria um evento
desportivo com um jogo contra a Sanjoanense e um desafio de velhas glórias do
FCP e do Benfica, mas a que Siska já não assistiria.
Siska é um exemplo e um ídolo do
FCP, transversal a todas as idades. E, numa altura em que os relatos vivos das
gerações mais antigas se tornam cada vez mais raros, é importante recordar que
para existir um Vítor Baía, foi preciso Miguel Siska abrir a porta.
SUPLENTES DE SISKA
O período em que Miguel Siska
defendeu a baliza do FCP foi demasiado curto, mas a sua regularidade neste
período foi notável. Os jogadores que asseguraram a sua substituição, para além
do já referido Peixoto, foram Luiz Retumba, António da Mota Freitas e Giles
Holroyd. Luiz Retumba, para lá de guarda-redes do FCP, era, igualmente, um
conhecido praticante de hipismo (na figura retratado por Simplício) e de
andebol. António da Mota Freitas começou na equipa de infantis do FCP em 1924.
Fez todo o percurso no FCP, culminando como o guarda-redes das segundas
categorias, atrás de Siska. Giles Holroyd também defendeu as redes do FCP,
sobretudo, nas segundas categorias. Para além de guarda-redes, Giles
participava em corridas de automóveis, onde chegou a ser colega do cineasta
Manoel de Oliveira. Foi, igualmente, voluntário da Marinha do Reino Unido na 2ª
Guerra Mundial.
PÓS SISKA
O fim da era Siska poderia
antecipar muitas dificuldades para o seu sucessor. Na realidade, não veio a ser
assim, pois Manuel José Soares dos Reis foi outro ícone da baliza do FCP.
1 comentário:
Acho fantástico o blog divulgar grandes nomes do FCP pouco conhecidos de muitos portistas sobretudo os mais novos.
Talentos como Siska, Pinga, Waldemar Mota, Acácio Mesquita, Araújo etc justificam e merecem.
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