Vamos à Champions, cumprimos o sonho
Foto: modalidades.pt |
Existem jogos que entram para a história do nosso andebol. Este foi um deles. O objectivo que há tanto tempos perseguíamos foi hoje alcançado. Sofremos muito, público incluído. Lutamos ainda mais. Acredito que ninguém tenha saído do nosso Dragãozinho como entrou. Por esta equipa valeria sempre a pena, quando no final batemos uma fortíssima equipa e podemos celebrar ainda melhor.
Comecemos por falar do adversário de hoje, o Constanta. Uma equipa fisicamente capaz de fazer corar muitos seguranças, com experiência e valor. Nos últimos 7 anos, estiveram 6 vezes na fase de grupos da Champions. Só por aqui veríamos como seria dificil este obstaculo final.
Tal como aconteceu ontem, começam os esperados. Igual também foi o facto de ter sido o adversário a abrir o marcador. Spínola empatou logo depois.
Obradovic não alterou o esquema defensivo da véspera. A aposta inicial foi uma defesa em 5*1 como David Davis a entrar no processo defensivo, normalmente trocando com Spínola. Se ontem o tradicional 6*0 resultou melhor, hoje esta nova versão foi uma grande demonstração de bem defender. Todos sem excepção. Trocas defensivas perfeitas, atenção e muito coração. Sabíamos do perigo da meia distância deles e a forma como não os deixámos arranjar espaço foi brilhante. A eficácia aos 9 metros deles foi bem mais baixa do que habitual (29% no fim da 1ª parte). Perante um adversário tão forte arrisco-me a dizer que foi das melhores exibições defensivas dos últimos tempos. Quintana e Laurentino deram ainda mais brilho a esta actuação.
Gilberto com uma entrada aos 6 metros deu-nos a primeira vantagem da partida à passagem do 5º minuto. Podia e devia ter sido uma vantagem maior. Não foi culpa nossa. Um dos árbitros húngaros (o narigudo) deixou passar em claro uma falta sobre Spínola e no contra-ataque romeno eles empatariam. Foi uma falta claríssima. Falaremos mais à frente deste artista.
O jogo desenrolava-se sobre um grande equilibrio. Boas entradas aos 6 metros de um dos centrais, bons contra-ataques nossos mas sem disparar no marcador. Aliás as defesas estavam ambas a grande nível. Prova disso era o resultado aos 15 minutos. 4 - 5 para os romenos, poucos golos de lado a lado. Empataríamos pouco depois.
Aos 20 minutos, a vantagem miníma já era nossa (8 - 7). Este nosso 8º golo foi um brilhante exemplo de jogo colectivo e entendimento. Perante a pressão adversária e perto do jogo passivo, um dos centrais (neste caso Spínola) entra para os 6 metros. Gilberto acompanha o movimento e faz um passe magnifico. O nosso esuqrdino finalizou bem. Grande golo!
Obradovic ia rodando bem a equipa, na tentativa de manter todos frescos. Tiago foi ao banco em alguns momentos defensivos para entrar Salina. Spinola igual. João Ferraz ia entrando. Uma rotação exemplar entre os nossos jogadores mais experientes e que se viria a revelar fundamental. Sem perder em qualidade e experiência todos tinham o seu momento para recarregar baterias, já que o jogo estava a um ritmo alucinante.
Estávamos nestes últimos 10 minutos antes do intervalo a jogar a grande nível. Quintana teve defesas impossiveis (uma delas a um remate aos 6 metros lindíssima). os nossos centrais a jogar a uma velocidade enorme, na defesa e nas trocas de bola no ataque. Tiago Rocha, um dragão a lutar entre gigantes, cada vez melhor o nosso pivot.
Chegamos a ter 3 golos de vantagem neste período (10 - 7) e até 4 (12 - 8). O público obviamente estava ao rubro e não se cansava de o mostrar. Aliás, esta empatia do Dragãozinho com os comandados de Obradovic já é habitual.
Ao intervalo 12 - 9, uma grande exibição.
Na 2ª parte, e embora tenhamos no início até ter conseguido 4 golos de vantagem, piorámos no ataque.
Por vezes o excesso de coração retira algum discernimento. Notou-se isso no nosso ataque. Dos 14 -10 aos 4 minutos de jogo passamos para um 15 -15 aos 15 minutos. Mais de 10 minutos com apenas 1 golo marcado. Entenda-se que defensivamente continuávamos uns autênticos monstros. Sim, sofremos mais golos, mas tivémos longos períodos em desvantagens numéricas. Aliás, mais raros foram os momentos com 7 jogadores. Muitas vezes sem razão para as exclusões temporárias quando comparamos com o que se passava no outro lado do campo. Mas elas existiram.
Após o empate deles e quando podíamos perder o controlo, aconteceu o contrário. Mantivémos o coração mas melhoramos na concentração. Aos 17m Tiago Rocha, através de um livre de 7 metros quebrou a malapata dos golos. Pouco depois Ricardo Moreira, num contra-ataque, marcou novamente.
Com a vantagem, mais exclusões. Wilson Davyes inclusivé teve a 3ª exclusão e consequente vermelho a 10 minutos do fim. Se na última a exclusão é merecida, outra deixou muitas dúvidas. Daymaro na jogada defensiva seguinte foi excluido. Um rigor enorme, na jogada anterior houve uma falta igual do nº7 deles (que já tinha tido 2 exclusões e batido muito depois disso). Por breves momentos menos 2 em campo.
Mesmo assim, mantinhamo-nos na luta. Novo contra-ataque e golo de Davis. Nova vantagem nossa (18 - 17), agora conseguida em inferioridade. Sofria-se cada vez mais, o coração de todos estava a 1000.
A 2 minutos e meio do fim, mais uma absurda decisão. A exclusão de Davis é incrivel. Exasperante. Sempre o mesmo árbitro que o fazia. O outro esteve em bom plano.
Não nos desconcentrámos. Fomos enormes nesta altura. Mesmo em desvantagem quase até ao fim dos 60 minutos fomos para cima deles. Depois de mais uma gravata do número 7 sem exclusão, Gilberto com uma grande finta de corpo arranja espaço e atira. A bola, caprichosamente, foi ao poste.
Faltava um minuto. Eles não podiam marcar. Nós não o deixamos. Daymaro, esse gigante de dedicação, interceptou um passe e recuperou a bola. Enorme, enorme Daymaro. O último ataque ia ser nosso, tínhamos cerca de 20 segundos ainda para marcar. Boa troca de bola na 1ª linha, Ferraz assume o remate, tudo a suster a respiração. Mais uma vez bola ao poste. Parecia bruxedo. Spínola (grande exibição) ainda a recuperou e marcou. A mesa considerou que foi fora do tempo. Era dificil de avaliar, talvez estivessem certos. Íamos a prolongamento. Mais 10 minutos de grande ansiedade e sofrimento.
Como referimos Obradovic teve a preocupação de ir rodando. Ainda bem, conseguimos estar bem fisicamente neste prolongamento. Foi essencial. tal como foi o posicionamento de Tiago Rocha. Este foi mais um central que entrava aos 6 metros (fazendo assim 2 pivots). Confundiu as marcações dos romenos.
Entramos a grande nivel. Aos 30 segundo golo nosso, tiro de Gilberto. Bom inicio. Melhor ainda se seguiria. Eles não marcaram e nós fizemos outro. Spínola uma vez mais.
Na defesa continuava o nosso show. daymaro faz um bloco, Quintana defende depois. No ataque Spínola continuava de mão quente, novo golo e estava conquistada uma vantagem de 3.
Tiago Rocha foi desqualificado. O número 7 deles, que não tinha nada a ver com a jogada, ainda foi armar confusão, empurrou tudo e todos e andou por ali de punho cerrado. Finalmente foi também desqulificado. Foi com muito tempo de atraso, mas foi finalmente. Demasiada permissividade com ele.
No intervalo deste prolongamento 23 - 19. Fantástico. Parcial de 4 - 0 para nós.
Já ninguém se sentava, era impossivel. Um misto de garra e dedicação ao clube com alegria pela vantagem.
A bola começou deles e falharam novamente. O tempo corria a nosso favor. Um ataque demorado, com paciência pedia-se. Foi o que fizemos e melhor ainda, não só gastamos tempo como marcamos. Gilberto a dar-nos mais um motivo para festejar.
Já estava quase. Era tempo de manter a concentração na defesa e ter ataques longos e procurar uma boa situação.
Nas bancadas já só se festejava. Estava ganho. Íamos à Champions. Fomos ao rubro com uma defesa de Quintana num livre de 7 metros a 2 minutos do fim.
Como grande gestor que é e com uma vantagem insuperavel, a miudagem toda lá para dentro. Prémio justo para esta miudagem cheia de talento. Até nisto Obradovic e restante equipa técnica são extraordinários.
Final do jogo. 26 para nós, 22 para o Contanta. Estamos na fase de grupos da Champions. Enorme orgulho nestes atletas, são fantásticos. Honram o nosso emblema.
No final já se sabe, já vivemos parecido. Muita emoção, festejos, abraços, lágrimas de alegria, palmas, cânticos. Jogadores e público. Todos juntos. Como sempre. Ontem, hoje e amanhã. Seja Campeonato, Taça ou Champions.
Uma nota final. É preciso que os adeptos percebam que não somos candidatos a vencer a Champions, nem lá perto. Iremos lutar para ganhar como sempre, mas subimos um patamar. Iremos aprender e melhorar.
Foto: fcporto.pt |
Equipa e marcadores:
Equipa inicial: Alfredo Quintana (g.r), Gilberto Duarte (6), Tiago Rocha (3), Wilson Davyes, Pedro Spínola (9), Ricardo Moreira (2) e Mick Schubert (2).
Jogaram ainda: Hugo Laurentino e João Moniz (g.r), David Davis (1), João Ferraz (2), Daymaro Salina, Miguel Sarmento, Vasco Santos, Nuno Carvalhais e Belmiro Alves (1).
Por: Paulinho Santos
1 comentário:
Muita emoção.
Merecemos.
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