O copo transbordou. Depois de desperdiçada a enésima hipótese de dar uma golpada num dos candidatos ao título o portismo explodiu.
Já ninguém consegue disfarçar a frustração e cada portista foi ao armário buscar o esqueleto predilecto para despejar e descarregar tudo o que havia sido acumulado.
Quem tinha o esqueleto Vítor Pereira no armário (começo por ele porque se eu tenho algum é o dele) não resistiu a tirá-lo cá para fora e discorrer sobre se ele tinha sido muito, muitíssimo ou muitíssimo muito responsável pelo empate de Paços de Ferreira.
Eu de cabeça consigo sacar pelo menos uns 10 jogos em que tenho criticas a apontar ao Vítor Pereira seja em derrotas, empates ou vitórias. Neste não.
Nem no alinhamento inicial (com Lucho a baixar da frente para o meio) nem nas substituições nem no facto de ele por uma vez se revelar menos desesperado no banco.
Admito que o Fernando tenha sido convocado sem estar a 100% e por isso não me apetece discutir essa opção.
Quem tinha o esqueleto SAD aproveitou a hora.
Voltaram as comissões, voltaram as viagens ao Brasil para trazer craques para o banco e os passeios intramuros para trazer inexperiência para substituir os buracos que tinham ficado no onze inicial.
O Janko falha dois golos claros e o que de bom tinha sido corrigido em Janeiro passou a ser um gritante reforço do erro de Agosto.
Também já malhei nisso. Nas horas em que achei que era menos desadequado fazê-lo.
Hoje com Kleber e Janko e com 6 jogos até ao fim do campeonato a ter que jogar sempre com 1 deles não é hora de relembrar o que podia cá estar e não está.
Gosto da frescura e vitalidade do Kleber e gosto do espírito que o Janko adicionou ao grupo. Vou ter que me agarrar a isso se preciso for.
Depois vem o esqueleto tranquilizador.
Nada como pensar que se nós quiséssemos ganhávamos sempre ou quase sempre.
O futebol é um jogo aleatório mas o destino está traçado desde que a “gente queira”.
Assim fica tudo mais fácil para quem gosta do jogo futebol mas não convive bem com o pormenor algo aleatório de que o destino não está traçado à partida.
Quando não ganhamos é porque não quisemos porque se quiséssemos ganhávamos.
Um Pai nunca diz que o seu filho é burro ou incompetente porque não consegue viver com esses defeitos. Se ele falha na sua vida escolar é porque é malandro ou porque não estuda porque se o fizesse ou quando resolver fazê-lo será o melhor.
É um espírito que tranquiliza quem os emite.
Eu faço parte da vida de X. Seja como educador ou como torcedor.
Se X falha é porque não quer porque basta ele querer e é bem sucedido.
Está sempre ao nosso alcance.
Nada é inultrapassável e o resto do mundo é tudo figurantes no filme escrito para nós vencermos quando quisermos.
Empatamos porque não tivemos atitude.
Se tivéssemos ganhávamos como ganhamos na Choupana ou na Luz. Tudo no mesmo saco.
Nada mais simples.
Se o Hulk, o Janko ou o Lucho metem a quase dezena de oportunidades que tivemos o aparente inexplicável falhanço do Rolando teria a mesma relevância que a asneira que ele fez no ano passado contra o mesmo Paços.
“Naquela altura o campeonato estava ganho!!!” - É verdade.
Quando o Helton leva um frangalhão com o Shakthar no Dragão a Champions estava no início.
Quando o por muitos louvado capitão à Porto Bruno Alves dá a bola ao Rooney a eliminatória com o U-NIGHT não estava resolvida.
Quando o Guarin dá a bola ao Messi o Barcelona ainda não estava na frente.
Quando o Álvaro Pereira dá luz verde ao Saulo o jogo com a Académica estava 0-0.
Quando o Hulk falha penalty +recarga em Olhão já estávamos na pior.
Quando o GRANDISSIMO Fernando perde a bola para o Mossoró naqueles longuíssimos segundos a final de Dublin ainda não estava resolvida.
Não há hora para a asneira. Ela aconteceu e acontecerá sempre.
O Guarin não pode ser relembrado de forma pejorativa porque o Barcelona ganhou nem o Fernando esquecido porque o Helton nos salvou.
Não houve vergonha alguma em Paços de Ferreira.
O que se viu na Mata Real foi uma equipa que percebeu a importância do momento e conseguiu fazer o que ainda não tinha feito na maioria dos jogos de 2012.
Pegar no jogo, mandar no jogo, controlar o jogo e ter um caudal ofensivo abundante e mais do que suficiente para quem sabe que tem que ganhar o jogo.
Na Choupana despegamos, fomos mandados num descontrole só e abundantes foram as bolas que passaram tangentes aos postes, trave e luvas do Helton.
Alguém falou de atitude? Não era preciso.
Sexta-Feira numa hora complicada, nem toda a gente viu. Ganhamos e isso é que interessa.
Se necessário até se diz que é nestes jogos que o espírito de sofrimento e sacrifício de campeão aparecem. E não jogamos sozinhos.
Só não jogamos sozinhos quando ganhamos. Se empatamos passamos a jogar sós e o adversário uma minudência se comparada aos problemas atitudinais.
Jogo com o Setúbal. Equipa desliga motores na 2ª parte e o moribundo Setúbal chega a assustar.
O que se disse da atitude? Nada. No meio dos jogos com o City aquele desligar foi uma brilhante gestão de esforço. Ganhamos.
Jogo com o Feirense no Dragão. Hipótese de alcançar o inimaginável. Chegar à luz com os mesmos pontos. O que se viu na 1ª parte? NADA.
O que se disse da atitude? Pouco ou Nada. A agenda mediática era ter apanhado o Benfica e arranjar a foto mais fixe para pôr no facebook a ver se eles se borram de medo.
Contra um Paços que voou contra o Benfica e ficou a pé com um Porto mandão e que massacrou Cassio sem ser à pisadela à Bruno César ou pontapé à Aimar aqui del REI que é uma Vergonha!
Vergonha é ter um jogador que se auto-expulsa num jogo decisivo para o título.
Se o James prega uma patada no Fernando Alexandre ao minuto 60 no Dragão com 0-0 é porque está numa de Manuel Serrão.
Numa altura em que é mais importante descarregar frustrações individuais do que em dar o contributo necessário para conseguir o que se afigura complicadíssimo.
Numa de que não percebe o que está em jogo. E se não percebe a importância do que está em jogo não podemos contar com ele para o que falta.
E isso é que é uma vergonha.
Numa de que não percebe que o Jesus, o Gomes da Silva, o Vieira, o Gabriel e a divulgação oportuna dos dados dos árbitros alinham pela mesma cartilha.
O Aimar tira-lhes 2 pontos na 6ªfeira e inteligentemente sai camuflagem.
De que vale pôr Aimar no pelourinho pensam eles? Nada.
Mais do que despejar/descarregar eles querem é ganhar.
Nós preferimos dar tiros nos pés.
Deixa de existir um Porto para nascerem milhares de Portos.
“O meu Porto não desperdiçava esta oportunidade”
“No meu Porto um gajo não saltava sozinho num momento destes.”
“Com o nosso velho Porto ia Cássio, ia bola ia tudo lá para dentro.”
“Aquele Porto é uma vergonha”
“Este não é o meu Porto”
Como não haverá alargamento na época 2011/12 lamento informar mas neste campeonato só vamos poder ver um Porto.
O Porto de S.Petersburgo, de Nicósia, de Barcelos, de Manchester, da Choupana e da Mata Real.
É com esse que temos que viver e são os defeitos desse Porto que teremos que apontar, amparar ou castigar.
Não é hora de castigar. Não é hora de apontar. Se o Benfica percebe isso com a fraca atitude de Aimar nós também temos que perceber.
Se o Benfica percebe que é importantíssimo condicionar cada apitadela de lançamento da linha lateral porque diabo os portistas que têm palco vão dar tempo de antena a apontar e “castigar” os jogadores que “ganham milhões” desvalorizando os amarelos a dedo ao Hulk pós escamoteamento de Penalty.
Ao contrário de Brunos Césares e Aimares o que eu vejo é que a nível de atitude os nossos querem ganhar jogos de futebol e não de kickboxing e correm por isso.
O Álvaro Pereira sprinta hoje nos dois sentidos. Antes era só num.
O Rolando quando falha hoje não é porque se distraiu ao pensar que o telemóvel estava a tocar.
Falha porque sente a pressão do momento e não está leve emocionalmente para não se dispersar com pormenores insignificantes do jogo.
É ele que cede o canto.
É ele que de cara fechada, concentrada e nervosa pede o pontapé de baliza ao árbitro.
É ele que com isso na cabeça e contrafeito com essa decisão volta para o lugar onde já deveria estar, concentradíssimo, para fazer o seu papel.
É ele que percebe 5 segundos depois que já não há rewind.
“Fiz merda! E agora?”
Agora Rolando NO PASA NADA.
Levanta-te que o jogo com o Olhanense é no Sábado e nós precisamos de ti para o ganhar.
No próximo canto, no próximo livre lembra-te desse hiato temporal em que te perdeste numa discussão, numa desconcentração.
E não nos deixes ficar mal porque precisamos de ti para comandar a defesa.
Fizeste Merda, assumes, levantas-te e voltas a comandar.
Como um campeão que és.
Como o melhor defesa que o Porto teve nos últimos 4 anos.
É esse o espírito. Só pode ser esse.
Os meus pedidos para o que falta são:
a) Baixar Lucho.
b) Aproveitar cada minuto para tentar ganhar mas não desesperar (é para ti Vítor!) com cada minuto que passe sem que tal aconteça.
c) Estabilidade táctica nos 90 minutos seja qual for o resultado .
d) Estabilidade dos onzes que arrancam para os 6 jogos que faltam. Sempre os mesmos salvo lesão/castigo como tem feito o Braga das 13 seguidas.
Ganhar ao Olhanense e que se lixe o Benfica-Braga.
Depois disso olhar a tabela, perceber a lógica pontual e respirar.
Vamos a eles.
Por: Walter Casagrande
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