JOGO DECISIVO
Terça-Feira de manhã. Jogo muito importante à vista. Hora de fazer a antevisão.
O Paços costuma jogar com Cássio na baliza.
Na defesa prevê-se o seguinte quarteto:
Nuno Santos / Ricardo / Filipe Anunciação (Ozeia) / Luisinho
Luiz Carlos / André Leão / Vítor
Melgarejo / Michel / Alvarez
Oportunidades que temos:
1) A defesa do Paços. O que faz desta equipa forte na 2ª volta é o trio de meio-campo bem oleado que vai mastigando muito jogo para que chegue pouco cá atrás.
O Filipe Anunciação é um trinco. Foi encostado atrás porque não tinha lugar mais à frente.
Um ataque que abandone (nem que seja por uma vez) o excessivo número de passes no meio e aposte numa transição rápida pelas alas pode forçar o defesa-central que não há em Filipe Anunciação.
Não será ele que ficará com Janko mas na Mata Real é importante jogar com Janko e para Janko. Forçar cruzamentos, pôr bolas na área, povoar as imediações para a segunda bola.
Mais jogo directo.
2) Os laterais. Uma adaptação à direita e à esquerda. Uma mais recente e outra desde o inicio da época. Luisinho é um excelente jogador mas ainda se está a aculturar ao lugar.
O aculturar significa que não respira duas vezes antes de agir. Age por impulso, vai a todas e tenta todas.
Entra sobre o adversário para ganhar a bola esteja no minuto 0 ou no minuto 60 com amarelo + um monte de faltas no bucho.
Fazer com Luisinho o que se fez com Emerson. Apostar nos duelos individuais e na potência de Hulk.
Ameaças:
3) O meio-campo. O meio-campo do Paços que jogou com o Benfica joga mais e melhor do que o meio-campo da Académica que jogou com o Porto.
Não podemos – repito – não podemos jogar em inferioridade numérica.
Apesar de fazer toda a diferença aqui não se discute se joga Fernando ou Defour. Aqui discute-se se há ou não duplo pivot. Se Lucho é um atacante que ajuda o meio quando pode ou se é um médio que aparece no ataque.
O Porto que vimos na Choupana não demonstra capacidade física à altura dos rivais. Quanto menor é o pedal mais importante é a aglomeração de jogadores onde tudo se decide.
Para pegarmos no jogo e forçarmos as oportunidades que acima enunciei é importante que se abandone o duplo pivot à frente da defesa. Moutinho ou Defour têm que deixar de ser gémeos. Um deles terá que ir para o sacrifício táctico (ser 6) e o outro terá que ter em Lucho o novo irmão.
Lucho tem que dar as mãos a um deles e deixar de cheirar o suor do sovaco do Janko.
4) A ala esquerda. Luisinho e Melgarejo fazem das alas mais perigosas do campeonato.
Maicon não joga e não é opção. Sapunaru parece não aguentar 90 minutos e jogará previsivelmente hoje à noite.
Se Fernando não joga há um deficit de velocidade claro para acompanhar a transição ofensiva do Paços. Cocktail explosivo.
Transição que derreteu o Benfica nos primeiros 15 minutos da 2ª parte.
Este é um jogo em que devemos apelar ao espírito de Dragão de Sapunaru.
Devemos pedir que ele faça um jogo à Maicon. Mais importante do que as incursões ofensivas que ele possa fazer aqui e ali é mostrar à equipa que ele não será derretido.
99% de atenção defensiva e não dar espaço nas costas. Jogo certinho atrás para que a equipa construa com segurança. Não queremos aquele jogo cá e lá. Tem que ser sempre lá.
5) Michel. O Hulk dos pobres. Cobre muito bem a bola mas no meu entendimento não é ponta de lança. Quanto mais próximo jogar dos centrais fica mais longe do jogo.
O que me incomoda é se ele dá dois passos atrás.
Quando dá dois passos atrás se jogarmos com o duplo-pivot à frente da defesa ainda ficará só. Com espaço. A zona da meia-lua não pode ser campo aberto para snipers.
Dar espaço para a meia distância de Michel é um perigo porque ele remata muito bem sem ser necessário grande tempo de preparação.
Era muito importante que Fernando voltasse e reassumisse a sua posição de 6 único. Quando Michel desse dois passos atrás o bafo de Fernando recambiaria o Hulk dos pobres para a casa partida.
O meu onze seria:
Helton,
Sapunaru, Rolando, Mangala, Alex
Fernando(Moutinho)
Moutinho(Defour) e Lucho
Hulk, Janko e James
Temos dois rivais na luta pelo campeonato.
O jogo com a Académica e Nacional mostrou-nos que não há vitória galvanizadora que nos devolva o élan necessário para os carris do título.
Com um ponto na frente sentimos que estamos a ser caçados por bólides menos pesados e com pneus menos gastos.
O Braga está a jogar muito, o Benfica para além do que joga tem quem lhe limpe caminho (Caue, Wilson Eduardo e André Pinto) e o Porto está a jogar abaixo da bitola habitual dum Porto campeão.
Parecendo que perdemos vantagem volta a volta, para ganharmos a corrida sem ter que parar nas boxes é aproveitar cada trajectória e cada curva para fechar a porta e não dar espaço para acelerações.
O ano passado mostrou-nos que é possível lutar por vários objectivos sem fazer concessões a nenhum. A história do “não ter cu para 2 cadeiras” é conversa pequena e tacanha de treinador tuga da década de 80.
Não perceber o contexto é pior ainda. A equipa já não parece ter margem para arrancar. Temos mesmo que nos agarrar ao ponto de avanço como cão a um osso.
O Paços de Calisto está a voar e o Porto da Choupana não terá direito a 2.º milagre.
Eu quero que o Porto tenha medo. Eu quero que o Porto sinta que às tantas não tem o que é preciso.
Quero que o jogo da Mata Real seja encarado como o daquela 6ªfeira na Luz. Importância transcendental.
Depois o país futebolístico vai tremer de ansiedade com o regresso dos filhos pródigos brasileiros. Do duelo Terry/Cardozo e se Nelson Oliveira vai ao não ser lançado na Champions.
Nós temos que aproveitar esse fogo de artifício e fazer o nosso caminho. Primeiro passo é ganhar 2 jogos e o segundo passo perceber se temos que ir a Braga para ganhar ou se temos margem para jogar xadrez com o Jardim.
Não consigo pensar noutra coisa e não concebo que nas cabeças de portistas existam outras prioridades. Levo 4 secos na boa hoje se me garantirem que nos próximos 2 jogos somamos 6 pontos. Na boa.
Ninguém joga para perder, ninguém dá nada a ninguém mas não pode haver alguém que se esqueça do que está em jogo e como têm corrido os nossos jogos.
Já não me lembro de um jogo que o Porto tenha ganho de forma fácil e inapelável.
É tudo a soar, é tudo na marra, é tudo arrancado a ferros.
A semana é para pensar no Paços.
A convocatória para hoje é feita a pensar no Paços.
Nos sete que se sentam no banco haverá lá gente que não está no relvado a pensar no Paços.
O jogo de hoje só deve fazer parte das nossas preocupações a partir das 18/19 horas.
Aí especulemos sobre o onze e a táctica até à hora do jogo.
Depois do apito do árbitro entreguemo-nos todos. Nós e os jogadores.
É para ganhar e não pode ser de outra forma. Naqueles 90 minutos deixa de haver Paços mesmo que se note que o Sapunaru está a puxar demasiado e é preciso para domingo.
Acaba o jogo e voltamos a Paços. A flash interview, a análise ao jogo, as criticas, o gozo ou elogio tudo tem que ter a Mata Real na mira.
Tenho mais receio da embriaguez duma eventual 4ª vitória no decisivo jogo de domingo do que dos efeitos psicológicos duma pesada eliminação.
Este Porto não pode viver enganado. Joga globalmente pouco e não se pode distrair em nenhuma trajectória para não ser ultrapassado. Não pode.
Temos 1 ponto. Como se fosse 1 segundo. Fecha a porta. Ninguém passa.
Por: Walter Casagrande
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