Continuamos com a nossa série de crónicas sobre a história do nosso clube, esperamos que gostem...
Parte 5
TRILHO DE UM “TRI” TRIDIMENSIONAL
Por quatro vezes o FC Porto esteve à beira de conquistar o tri-campeonato. Por quatro vezes passou tangentes a esse alvo. Mas à quinta foi de vez. Uma Maldição que pairava sobre as Antas foi finalmente banida. Depois de Bobby Robson – coadjuvado por José Mourinho e Augusto Inácio – ter conseguido dois títulos consecutivos, a etapa final ficou ao cuidado técnico de António Oliveira porque o treinador inglês não pôde resistir ao apelo de Barcelona. Mas o próprio fez questão de afirmar que 66 por cento deste “tri” também é dele.
A explosão foi imensa no dia em que matematicamente já ninguém poderia retirar o terceiro título consecutivo ao FC Porto. Com uma vitória assegurada na cidade “berço” de Portugal, por um concludente 4-0 (houve quem considerasse premonitório para o “tetra”). Este foi só o epicentro que se prolongou desde então e teve o seu epílogo com a conquista do “penta”. O primeiro passo no trilho do “tri” foi dado no estádio das Antas, no mês de Agosto de 1994. E o malogrado Rui Filipe foi o autor do primeiro de mais de duas centenas de golos que foram dando os pontos e as vitórias necessárias para que o FC Porto conseguisse demonstrar de forma inequívoca que, desde 1994, tem sido a equipa que melhor futebol no nosso país.
A Bobby Robson, quando foi para as Antas substituir Ivic, depois de ter sido despedido do Sporting, na temporada de 93/94, já ninguém lhe exigiu que conseguisse conquistar o “tri”, dado que já muitos pontos haviam sido desperdiçados. A Taça de Portugal e uma boa presença na Liga dos Campeões eram as únicas alternativas de que ainda dispunha. Venceu o Sporting no Jamor e só foi derrotado pelo Barcelona nas meias-finais da Liga milionária. No ano seguinte, e depois de já ter conquistado o coração dos adeptos portistas, Robson prometeu tudo fazer para arrebatar o seu primeiro título de campeão em Portugal, afinal aquilo que o Sporting não acreditou que ele conseguisse realizar. O inglês, por muito que pretendesse desforrar-se dos “leões”, jamais imaginaria que o destino lhe iria ser tão fiel e, em simultâneo, tão cruel com Sousa Cintra e o seu clube.
A festa “azul e branca” começou ali mesmo no relvado do adversário, sem grandes exaltações, nas suas memórias estava o incidente ocorrido antes do inicio do encontro com um grupo de adeptos leoninos e presenciado pelos jogadores portistas. Rui Filipe, o autor do golo inaugural do título portista, não foi esquecido: a ele foi dedicado um título que o consagrou de novo campeão. Pinto da Costa, aliás, não escondia a emoção quando afirmou: “Jurei na campa de Rui Filipe que ainda haveria de ser outra vez campeão. E foi”.
Na temporada seguinte, o plantel foi reforçado com as entradas de Lipcsei e Mielcarski, as principais aquisições. Logo no inicio, surgiria a primeira grande contrariedade da época. Bobby Robson faz um “chek-up” clínico, em que foi descoberto um tumor maligno, pelo que ficou em Inglaterra para se tratar, tendo Augusto Inácio ocupado o lugar de técnico principal. Foi o primeiro de alguns azares que acompanharam os portistas durante a época de 1995/96.
Enquanto Robson convalescia no seu país, o FC Porto perdia um dos seus reforços mais importantes da época. O polaco Greg Mielcarski lesionava-se ainda no inicio da Liga dos Campeões e ficaria 100% operacional até ao final da temporada. Entretanto, no campeonato, os portistas mantinham-se em bom ritmo, alcançando mesmo um período em que as goleadas eram consecutivas, quando Robson já havia assumido o comando das operações.
Na 25ª jornada, o percurso do FC Porto sentiu um enorme abalo. Na deslocação a Campo Maior, V. Baía respondeu a um soco de Pedro Morcela, dirigente do clube alentejano e foi imediatamente suspenso. Pouco tempo depois, na deslocação à Luz e quando os portistas ainda não tinham sofrido qualquer derrota no Nacional, Silvino foi vitima de uma entrada cobarde e com toda a intenção de o lesionar, por parte do argentino Mauro Aires. O guardião portista sofreu uma grave lesão no ombro, tendo que abandonar o jogo passados poucos minutos do seu início. Foi o segundo azar consecutivo nas redes portistas e seria a primeira derrota do FC Porto, impossibilitando o clube de conseguir um título sem derrotas.
Semedo, ainda antes de terminar a temporada era dado como dopado num jogo da Taça de Portugal, depois de ter recorrido às habilidades de um tal Casanova. Era a saída pela porta pequena de um grande jogador portista.
Sem Baía e sem Silvino, o FC Porto foi ainda obrigado a contratar dois guarda-redes, Jorge silva e Eriksson, até ao final da temporada. Mas as goleadas e as tardes de espectáculos futebolísticos já não voltariam. O título de campeão foi conseguido com mais antecedência do que na época seguinte, mas terminava o “Nacional” com uma derrota, nas Antas, frente ao V. Guimarães.
No final de Maio, de 1996, o optimismo para a conquista do “tri” começava a esmorecer, com a anunciada saída de Robson. Uma vez mais, o FC Porto mudava de treinador, após o”bi”. Mais tarde, com as saídas de V. Baía para Barcelona, Secretário para o Real Madrid e Emerson para Inglaterra, muitos pensavam que o título seria discutido apenas pelos dois clubes da 2ª Circular.
Lentamente, Pinto da Costa anunciou algumas contratações vindas do Belenenses, como F. Mendes e Lula, Artur do Boavista, Barroso do Sp. Braga, Wetl e Diaz eram nomes de estrangeiros pouco conhecidos. A grande arma estava ainda por contratar. Mário Jardel, ponta de lança brasileiro, era o diamante pretendido para o ataque portista que António Oliveira pretendia ver no plantel. O presidente para além deste desejo ainda lhe concedeu outro, ao contratar Zahovic, o esloveno que jogava em Guimarães e havia terminado o seu contrato.
Ainda assim, a maioria da massa associativa não acreditava nas potencialidades de Oliveira como treinador, adensando-se as dúvidas quando o FC Porto inicia o campeonato com um empate a duas bolas, nas Antas, frente ao V. Setúbal. Do mal, o menos, terão pensado, depois de terem visto a equipa a perder por 2-0.
O mês de Setembro, porém, começou a dissipar as nuvens de cepticismo que pairavam sobre a equipa técnica. Lentamente, o FC Porto foi amealhando pontos e quando chegou o Natal já liderava o “Nacional”, com confortável vantagem sobre os seus rivais lisboetas. Entretanto, quanto mais os portistas se aproximavam do título, mais polémicas rodeavam os jogadores, técnicos e dirigentes do FC Porto. E, se a nível competitivo, o campeonato não foi dos mais difíceis, foi, por certo, o que maior número de opositores teve.
Pelos resultados, no entanto, pode-se concluir que a quantidade de opositores ao “tri” portista não era de grande qualidade, pois sempre estiveram longe de alcançar os seus intentos.
Fonte: "Jornal OJogo"
Por: Nirutam
Sem comentários:
Enviar um comentário