sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

A BOLA É MINHA. O COMANDO É MEU. O JOGO É MEU. É TUDO MEU!


Não dá mais para disfarçar. O Porto voltou a ser grande na Europa.

Primeiro que tudo convém salientar que a definição de grande é em sentido relativo. À escala portuguesa é raro ver uma equipa comportar-se desta forma em jogos fora.

O benfica tem conseguido fazê-lo na Liga Europa mas dominar os jogos com trela curta fora de casa e na Champions é muito raro.

O resultado é positivo mas não decide nada. A atitude, a personalidade e o domínio é que são verdadeiramente impressionantes.

A imagem que sai do jogo de ontem para todos os que querem fazer uma análise objectiva é, precisamente, a que deixou o médio do Basileia.

«Sinceramente, não tinha visto uma equipa tão forte neste estádio nos últimos dois ou três anos»

Eu cronista me confesso. Não sou fã do estilo de jogo ofensivo que é o padrão do Porto e de outras equipas que privilegiam a posse. A paciência a rodos, o rodar a bola infinitamente de lado a lado a sobrevalorização da parra em detrimento da busca incessante pela uva.

Eu cronista me rendo. O Porto de Lvyv, de Bilbao e de Basileia é uma senhora equipa.

Já tentei olhar de soslaio para estes jogos. Primeiro atribuindo culpas ao adversário que resolvia voluntariamente jogar em bloco baixo. Segundo atribuindo culpas ao adversário que era demasiado fraco para poder olhar o Porto de frente.

Há sempre uma maneira de levarmos o raciocínio por uma estrada nacional que apazigue o gosto pessoal de cada um.

Depois fechamos os olhos e lembramo-nos que já todos vimos o Shakthar a jogar contra Bayerns, Manchesters, Juventus e Chelseas e a bater-se de outra forma.

Depois vem a memória a  eliminatória em que o Bilbao passou o pano ao Nápoles de Benitez com justiça.
Por fim a estocada final. Este Basileia que encostou o Real às cordas no presente ano, que surpreendeu Anfield com personalidade levando Brandon Rogers ao desespero depois do amasso da 1ª parte.

Contam-se pelos dedos duma mão as equipas que conseguem pegar em equipas de muito valor e as colocam numa gaiola e com trela ao pescoço.

Vemos os jogos e ficamos sem perceber.

“Então porque é que os gajos só defendem? Não tentam sequer esticar o jogo?”

Quando entramos pela Estrada Nacional destes 3 jogos pensamos que não é uma questão de não conseguir. O Basileia não quis porque estava a ganhar 1-0. O Shakthar não quis porque também marcou primeiro.              

Fechamos os olhos e lá vem a estocada:

E o Bilbao? Não queria quando era obrigado a ganhar?
E o Basileia? Não queria quando leva o 1-1 porquê?

Não vale a pena. Este Porto tem um dom. Mete o adversário numa gaiola, obriga-o a refugiar-se num canto e mete uma trela ao pescoço.

A bola é minha, o comando é meu, o jogo é meu e isto é tudo meu.

Convoco o Frei novamente:

«O Real é incrível do ponto de vista individual, mas coletivamente o FC Porto é mais impressionante»

Incrível.

Claro que este Porto que tem um dom também tem defeitos. A relação entre a parra e a uva é aquela que salta mais à vista. Tem mais bola que baliza a correr pelas veias.

Claro que sabemos que este Porto que tem o dom de engaiolar os adversários com uma trela no pescoço perde jogos. Um qualquer lançamento lateral travestido de canto pode mostrar que o futebol é injusto com o domínio mas recompensador com o utilitarismo.

A partir desta realidade há 2 curiosidades que merecem ser respondidas:
1
  •     Como é possível conseguir enjaular um adversário desta forma sem ter a qualidade individual de Barcelonas ou Bayerns?


  •       Que acontecerá quando o Porto se deparar com um adversário que é, em teoria, claramente superior? Tentará engaiolar um tigre na casota do cão onde mete equipas como o Benfica, o Shakthar, o Bilbao e o Basileia? Se tentar, o que acontece?


Não consigo responder à 2ª questão. Quero muito ter a oportunidade de ver a resposta. À partida acho lunático tentar pôr uma trela no tigre para o meter na casota do cão.

Só que o cronista que aqui se confessa e que já muito criticou Lopetegui é obrigado a dar o flanco. Nunca vi um Porto pós-Mourinho a mandar na Champions desta forma.

Lembro-me da meia-final de Corunha que teve um cariz muito parecido com este. Lembro-me da forma como o Porto de Mourinho ia à Luz e a Alvalade e fazia o mesmo que o Porto fez ontem em Basileia e já tinha feito noutras 2 deslocações de Champions 2014.

Saio da análise macro e entrando no jogo propriamente dito percebo que Brahimi e Jackson jogaram abaixo da bitola média. Olho para Tello e vejo que o espanhol jogou ao nível médio que nos tem brindado o que não é nada que permita lançar foguetes.

Como foi possível então? Se os avançados estiveram fracos, se o Casemiro falhou passes a rodos, se o Herrera continua aquele Alien em campo capaz do melhor e do pior.

Como foi possível?

Foi possível porque a equipa tem posicionamentos e comportamentos colectivos que roçam a perfeição para quem quer engaiolar um adversário com uma trela ao pescoço.

Vê-se que há trabalho de treinador. É impossível jogar assim, desta forma, com médios  que não são (pelo menos ainda) jogadores feitos e de valor seguro sem que o TPC esteja bem  feito.

A bola é minha, o comando é meu, o jogo é meu e isto é tudo meu.

O golo do Basileia pode explicar o trela dentro da gaiola mas há mais vicissitudes que podiam ter abalado o padrão dominador, paciente e confiante que a equipa sempre teve.

Na única jogada de perigo o Basileia faz golo. Abordarei nas análises individuais a minha visão deste lance porque julgo que o erro é mais individual do que de movimentação colectiva da equipa.

A partir daí trela na gaiola com o capitão sem braçadeira a dar o mote tentando a meia distancia com o pé esquerdo.

Pouco depois o capitão fica sem braçadeira num penálti cantado que passa em claro.

A equipa treme? Nada.

Como um pastor a guiar as ovelhas não há nada que mude a estratégia.  Vamos encosta-los e torturá-los.
A lesão de Derlis Gonzalez ajuda à festa porque percebia-se que ali estava o maior perigo na transição ofensiva do adversário. Os centrais não deixavam que Streller segurasse a bola 2 segundos sequer pelo que não se aplicava a velha teoria do segurar a bola à espera que a equipa subia.

Nem Streller conseguia os 2 segundos de cessar fogo nem o resto da equipa lhe dava o beneficio da dúvida mostrando os apoios necessários para quem quer libertar o pescoço da trela. É melhor ficar na gaiola. Não podem ou não querem soltar-se?

Primeiro não queriam. Depois duvidaram se alguma vez conseguiriam. Por fim perceberam. Não vale a pena. O pastor manda.

A facilidade com que a bola andou nas imediações da área não se traduziu num jogo em que o engaiolado sofresse oportunidades de golo claras e em catadupa.

Mesmo assim deu para Tello aparecer na cara do redes 3 vezes. Deu para Jackson falhar um golo cantado. Deu para nos invalidarem um golo já festejado. Não deu para muito mas produziu mais do que suficiente para ganhar um jogo daqueles.

Para além da qualidade colectiva e tactica as peripécias do golo anulada ao Casemiro poderiam com facilidade derrubar ou perturbar psicologicamente qualquer equipa.

O espirito do momento 0 em que estamos na nossa vidinha é diferente da momento 1 depois de nos dizerem que ganhamos qualquer coisa, nos deixarem exprimir o prazer e o contentamento por essa conquista para depois nos revelarem que era brincadeirinha.

Agora que sabes o bem que podia saber volta lá à tua vidinha.

O Porto voltou à sua vidinha com muitos jogadores imaturos e com pouca experiência Champions sem o minimo sinal de perturbação. 

Ontem a perfeição tactica foi tal que nem o lançamento à Maxi nos bateria. Cantos e lançamentos à râguebi só são possíveis para quem conseguir fugir para fora da gaiola.

O resultado é injusto. Pareceu que o Porto era muito superior que o Basileia.

Convém repetir 500 vezes que NÃO É. Não somos assim tão melhores que o Basileia.

A 1ª mão da eliminatória com o Malaga também passou a ideia de um Barcelona-Levante de diferença.
Na altura como agora as palavras do treinador enjaulado foram sábias.

“O Porto foi muito muito superior. Essa é a má notícia. A boa notícia é que ser mais superior do que isto é quase impossível. A boa notícia é que depois disto é incrível que ainda estejamos vivos. Isto só pode melhorar.”

Eles estão vivos. Safaram-se.

Os nossos jogadores têm que entrar em campo pensando no Basileia que jogou com o Real e Liverpool. Só a pensar naquele Basileia que mete medo é que podemos ser capazes de os enjaular de novo e de lhes meter medo.

Se a imagem que ficar na cabeça antes do apito inicial de 10 de Março for a do Basileia enjaulado, impotente e rendido ao nosso domínio corremos sérios riscos de não satisfazer a curiosidade daquela 1ª pergunta que ficou por responder.


ANÁLISES INDIVIDUAIS

Fabiano – A culpa é dele. Marcano estava a pressionar a entrada de bola em Streller. A garantir que ele não teria os 2 segundos que precisava.
Alex mostra pela postura corporal do inicio de jogada que tinha a lição estudada. Todo o movimento de Alex é a de adivinhar que a bola vai para ali e que ele tem que caçar o paraguaio. A bola vai e é muito bem metida mas Alex persegue-o como tem que perseguir.
Aí é uma questão de rapidez. Alex não ganha mas está a conduzir Derlis para o local onde pode ter reforços.
Aí podemos questionar se Maicon não devia ter fechado mais por dentro uma vez que Marcano estava subido. Podia e se calhar devia mesmo. O esforço de Alex na perseguição fez por merecer ajuda mais cedo.
A ajuda não chega quando deveria mas chega. Quando Alex corre com Derlis num movimento que a ser continuado os levaria para a bandeirola de canto Maicon já lá está para fazer a Sandwiche.
Ao ver o lance penso: O gajo já não sai dali. Ou dribla algum deles ou não arranja enquadramento para finalizar a jogada dali.
O movimento extemporâneo de Fabiano ao abandonar a baliza dá a Derlis a salvação que precisava. Dificilmente conseguiria rematar com perigo num movimento diagonal para a bandeirola de canto e a ser sandwichado. Passou a não precisar de rematar. Bastou desviar.
A culpa é de Fabiano. Se fica dificilmente poderia ser batido numa finalização ensandwichada.
Se sai a bola tem que ser dele.

Danilo – Gerrard, Terry, Luisão, Totti, Lahm ou Schweinsteiger. Não estou a meter tudo no mesmo saco nem a equiparar qualidades futebolisticas.
Há jogadores que valem mais do que aquilo rendem porque são lideres. Fazem a ouvir a sua voz dentro de campo e conduzem a equipa para um padrão atitudinal mais próximo do seu.
Danilo já é o lider desta equipa. Chegou timido e reservado num balneário que tinha já os seus patrões mas agora é ele que dá o primeiro grito de revolta e aquele em que o treinador confia, os companheiros admiram e os adeptos começam a reconhecer.
É um defesa direito capaz de jogar por dentro. Normalmente quando falamos em jogar por dentro pensamos num defesa que ajude os centrais estilo Ivanovic.
 Danilo é diferente. Joga por dentro mas ajudando os médios. Isso é crucial para engaiolar adversários. Ter laterais com tanta capacidade de ter bola e de a conduzir é fundamental para se conseguir a superioridade numérica que permite que se vejam jogos como o da 1ª mão contra o Málaga ou o de Basileia.
Assumiu o penálti e marcou-o exemplarmente mas julgo que quem o deveria ter marcado era Quaresma. Na cabeça de todos a hierarquia informal era Evandro, Quaresma e .......até ao último que é Jackson.
A hierarquia mede-se por penáltis marcados em jogos normais quando toda a gente está em campo. Danilo tem 2/3 tentativas desde que está no Porto. Falhou 1 crucial em Coimbra e teve a sorte de marcar um que foi mal batido.
Penáltis e livres devem ser batidos por quem está no guião. Assumir um dos penáltis mais importantes do Porto dos últimos tempos não deve ser obra do acaso ou de espirito momentâneo.
Calhou bem mas a lição tem que estar sempre estudada e preparada.

Alex Sandro – Na análise de Fabiano já inocentei Alex do lance do golo. No resto do jogo foi o atleta e o artista com bola do costume.
Estes 2 laterais que o Porto tem deviam estar na lista de compras de qualquer tubarão que queira jogar em posse. Com Cedric e Jefferson jamais poderíamos engaiolar Bilbao, Shakthar e Basileia. Com Maxi e Eliseu também seria missão impossivel dominar desta maneira.
Defendem o seu corredor, quando podem fazem uma incursão pelo ataque e passam bem, pressionam melhor e ajudam muito os médios-centro em todas as tarefas.

Maicon – Na jogada do golo ficou aquela sensação de ter demorado na ajuda. Na outra jogada do único pesudo-ataque após o golo tentado pelo Basileia foi Maicon que resolveu com classe.
Agressividade na disputa de bola e fez um muro com Marcano que Streller nem passou, nem saltou. 
Quando entrou Embolo pensei que o perigo de separar a equipa do Porto (que estava com um bloco junto) era maior.
A qualidade colectiva e tactica foi tal que Embolo nem tentou embalar. Ficou largado às feras como Streller e teve o mesmo destino. Engolido.

Marcano – Na jogada do golo pode-se questionar o posicionamento do espanhol. Quem vê o jogo do Porto e quem  tentar perceber porque é que Streller e Embolo foram engolidos entende que para se actuar assim é preciso uma determinada marcação e um bloco alto.
Intratável no jogo aéreo e não deu 2 segundos de descanso a Streller. O desgraçado até já tinha medo de receber bolas tamanho era o tratamento que o obrigou a sair exausto e aparentemente feliz.
A dupla com Maicon e o estilo de jogo agressivo, proactivo e contundente que implementaram foi decisivo para o processo de engaiolamento do Basileia.
É engraçado pensar que Indi é o melhor central do Porto e não deixar de entender a lógica de Lopetegui ao apostar neste dupla que se tem portado bem e que tem dado uma abordagem mais agressiva e menos expectante que ajuda a equipa a defender mais alto.

Casemiro – Não sei explanar algo que é paradoxal e contraditório mas para mim Casemiro falhou passes a mais mas foi talvez o melhor jogador em campo.
Se não foi o melhor foi o mais importante para que o jogo, o comando, a bola e tudo aquilo fosse nosso.
Em crónicas anteriores tenho criticado Casemiro pela sua absoluta incapacidade de ler o jogo, de ser inteligente e culto no posicionamento de um 6.
Tentando fazer uma comparação com o ténis diria que Casemiro não tem sido capaz de ser competente no jogo de fundo do court. Muitas vezes (A derrota nos barreiros é um exemplo) não está naquela zona central à saída da nossa grande área que permite evitar ou desincentivar invasões com perigo para a nossa grande área.
Não foi ontem que Casemiro me provou o contrário. Não me provou que sabe estar no fundo de court porque o maluco do brasileiro matou tudo com o jogo de rede.
Casemiro perdeu 1,2,3,4,5 bolas no inicio de construção. Matou 1,2,3,4,5,6,7 ataques à nascença.
Casemiro ganhou 1,2,3,4,5,6,7,8,9,10 segundas bolas no pé de ferro, no bafo, na agressividade.
O maluco do brasileiro nem teve condições para mostrar que se sabe comportar no fundo do court porque jogou subido na rede (meio-campo do Basileia) e fez lá o servicinho todo.
Se o Basileia não teve transição ofensiva praticamente nenhuma muito se deve ao jogo de rede de Casemiro que abafou por completo qualquer tentativa de sair a jogar.
Teve ajuda, teve os laterais compatriotas 5 estrelas e os de faca nos dentes Marcano e Maicon sempre por perto mas deu para perceber que o portador da bola suiço não queria ver o maluco do brasileiro por perto.
Deviam querer porque Casemiro é maluco e Casemiro já tinha amarelo mas a dada altura já deviam estar cansados da agressividade daquele jogo de rede e de levar com tanto smash e volley.
Matou muitos ataques é certo. Nossos e deles.
Aí faço outra comparação desportiva. Casemiro teve uns 1,2,3,4,5 turnovers mas teve 5 roubos de bola, 20 ressaltos e uns 10 blocos.
Aí relembro a fábula do muita parra e pouca uva.
Das vezes em que sai uva quantas nascem de jogadas construídas de raiz em organização ofensiva da equipa e quantas nascem de transições ofensivas em que o Porto obriga o adversário a perder a bola no seu meio-campo?
Infelizmente o processo de construção ofensiva do Porto dá pouquissima uva. Transviar um passe de construção que dá lançamento lateral para o adversário não é assim tão grave.
A uva nasce maioritariamente de momentos em que o Porto rouba a bola alto e apanha o adversário desorganizado.
Pensando nisto tudo dará para perceber melhor como é que alguém que falhou tantos passes foi tão importante e decisivo para demonstração de classe que surpreendeu Frei&Friends.
Outro factor a ter em conta: Casemiro tem golo numa equipa onde isso não abunda. Casemiro é impactante nas bolas paradas. Enche a área.

Oliver -  O farol da equipa. Toda a equipa fica mais descansada quando a bola lhe para nos pés porque sente que é o que melhor sabe o que fazer com ela. Sabe quando jogar no pé, quando temporizar, quando jogar no espaço.
Esta importância é tanto maior quanto mais longe Oliver jogar das linhas. Aí tem mais opções de passe e tem visão, inteligência e qualidade capaz de por em alerta vários jogadores adversários porque tudo pode sair dali.
Aí está mais defendido da dificuldade que tem quando joga demasiado perto da baliza adversária. Oliver é muito mais Xavi Hernandez do Andrés Iniesta. O facto de ser mais móvel e ter maior amplitude de movimentos que Xavi não lhe mexe no ADN futebolistico.
Se está dentro da área com o lateral não vai fazer um pique e ultrapassa-lo em velocidade.
Se está dentro da área em construção (em transição ilumina como fez com o passe mortal para Jackson) é muito dificil que consiga assistir num amaranhado de pernas.
Sabe movimentar-se dentro da grande área adversária porque é eximio a procurar o espaço vazio e a jogar sem bola, mas depois falta-lhe aquilo que toda a equipa que não se queira cingir à parra precisa. Qualidade de remate acima de Moutinho e killer instinct acima de Tello.
Se não se lesiona no ombro caminharia para números à escala Dortmund em quilometros corridos. É fundamental no Porto.

Herrera – A imagem que me fica de Herrera é a que ficou do final do jogo. A expressão facial não conseguia transmitir alegria, tristeza, alivio, nada. Só cansaço no limiar da exaustão.
Fez um jogo à sua medida num estilo de jogo de posse que parece ser tão contrário as suas caracteristicas.
Pressionou muito, tentou assistir sempre e ligar-se com Jackson. Na direita, na esquerda, na posição 6 e onde fosse preciso. Herrera foi tudo e tentou estar em todo o lado.
Este Porto de posse que Lopetegui tenta implementar ganha muito com estes monstros fisicos que parecem Pacmans a engolir relvado, bola e adversários.

Brahimi – Num dos melhores jogos que o Porto fez o que vimos foi um trio de ataque que não se exibiu à altura da dinâmica colectiva da equipa.
Brahimi continua a pegar na bola demasiado atrás fazendo com ela e onde quer que esteja aquilo que é suposto que faça quando está perto da grande área.
Por isso faz muitas fintas de corpo inuteis e perde bolas em zonas demasiado perigosas.
A jogar assim não consegue dar mais do que ninguém no último terço. Não desequilibra pelo critério ou pelos cruzamentos como Quaresma. Não desequilibra como Tello pela velocidade.
Trava um jogo que já de si é travado pela lógica de passe.
Saiu bem porque Tello é mais errático e errante mas parecia mais capaz de nos dar mais do que parra.

Jackson -  Não gostei. Tudo bem que fez aquele bom jogo em que se liga ao meio-campo, que segura bolas, que atrapalha defesas.
Tudo muito certo mas demasiado Montero. Uma equipa que estava a dar aquele chocolate ao Basileia pedia era a versão Jackson matador porque só com Monteros não há parra que dê uva.
2 lances que definem a Monterização de ontem. Uma transição rápida em que Quaresma mete um cruzamento rasteiro na zona mortal e em que Jackson não está lá e ainda nem entrou na grande área e a falta de killer instinct e excesso de souplesse no passe mortal de Oliver.

Tello – Com ele em campo ficamos sempre com a sensação que pode nascer perigo. É sempre uma dor de cabeça para qualquer lateral e um consolo para qualquer redes que veja um extremo lhe surgir na cara.
Ganha o espaço, ganha o tempo, ganha a oportunidade mas treme a seguir.
Na noite de ontem em que ninguém dos seus parceiros de ataque parecia estar particularmente inspirado o “espaço, tempo e oportunidade” foram mais importantes para Lopetegui do que o costume. Ficou até aos momentos finais e ficou bem.


Quaresma – Fundamental. Deu a objectividade e clarividência que faltou a Brahimi. Começaram a surgir cruzamentos para a área que rarearam antes da sua entrada. Combinou bem com Danilo e entrou naquele espirito que deve ser o de “tenho que ajudar” ao invés do “tenho que ser eu a resolver”.
Ter a consciência daquilo que pode dar sem vedetismos pode dar futuro a Quaresma no Porto.
Ontem deu um rico presente. Foi o melhor do ataque. Menos é mais.

Ruben Neves – Mais uma boa mexida de Lopetegui. Nervo, fisico e agressividade já lá estavam com Casemiro, Herrera e a dupla intratável de centrais.
Se sai Oliver era importante repor a luz do farol de passe, a inteligência tactica e a sobriedade posicional.
A amplitude de Rúben foi menor mas tudo o resto que Oliver dava não desapareceu. A equipa perdeu um jogador decisivo mas graças a Ruben não perdeu o andamento que permitiu o forcing final para empatar a partida.

Quintero – Jogou pouco mas esperava mais. O Basileia estava de rastos depois de um esforço fisico e psicológico sobrehumano. Quintero teria espaço para mostrar tudo o que tem dentro das botas mas (talvez por instruções de Lopetegui) entrou no jogo com a postura de quem sempre lá tinha estado. Não se quis mostrar nem dar nada de diferente no pouco tempo que jogou.


Ficha de jogo

Basileia-FC Porto, 1-1
UEFA Champions League, 1/8 final, 1ª mão
Quarta-feira, 18 Fevereiro 2015 - 19:45
Estádio: St. Jakob-Park (Basileia, Suíça)

Árbitro: Mark Clattenburg (Inglaterra).
Assistentes: Simon Beck e Stuart Burt; Anthony Taylor e Kevin Friend.
4º Árbitro: Gary Beswick.

BASILEIA: Vaclík, Xhaka, Marek Suchý, Walter Samuel, Safari, Frei, Elneny, Zuffi, Derlis González, Streller, Gashi.
Suplentes: Vailati, Philipp Degen, Ajeti, Matías Delgado, Hamoudi (83' Gashi), Callà (25' Derlis González), Embolo 
(63' Streller).
Treinador: Paulo Sousa.

FC PORTO: Fabiano, Danilo, Maicon, Marcano, Alex Sandro, Casemiro, Herrera, Óliver Torres, Tello, Jackson Martínez, Brahimi.
Suplentes: Helton, Martins Indi, Quaresma (61' Brahimi), Quintero (81' Tello), Evandro, Rúben Neves (68' Óliver Torres), Aboubakar.
Treinador: Julen Lopetegui.

Ao intervalo: 1-0.
Marcadores: Derlis González (11'), Danilo (79' pen).
Disciplina: Frei (21'), Casemiro (29'), Elneny (36'), Óliver Torres (36'), Walter Samuel (46'), Alex Sandro (51'), Gashi (57'), Marek Suchý (62'), Danilo (86').


Por: Walter Casagrande

3 comentários:

Anónimo disse...

Grande cronica. Parabéns.

Lisbon Connection,,, disse...

Excelente, Casagrande!

Anónimo disse...

A melhor analise que vi a uma partida de futebol nos últimos tempos.

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