Ainda vivos
Qual a melhor notícia deste jogo? Ainda estamos vivos. Muito
longe da boa saúde, como o jogo o demonstrou, mas vivos. É isso que convém
realçar. Conseguimos vencer num campo onde já não vencíamos há muito.
Conseguimos vencer fora. Conseguimos ser melhores num terreno maltratado pela
intempérie. Conseguimos aguentar a pressão e obter um resultado, já sabendo que
os já catavam vitória nos seus jogos.
Segundo, a entrada de Quaresma no plantel obriga a equipa a jogar com dois extremos abertos. Quaresma veio para titular e Varela é titular. A equipa tem amplitude no ataque. Não deixa os laterais contrários livres para atacar.
Portanto, estamos vivos. Débeis e frágeis. Até flácidos e ofegantes. Mas vivos.
A segunda parte é uma fotocópia da primeira. Entrada forte,
algum desperdício e chega o 0-2 por Varela. O Gil Vicente responde e desta vez
marca. O jogo volta cair numa parada e resposta, mas a cada substituição de
João de Deus mais longe ficava o Gil Vicente da baliza portista. Ameaçamos o
1-3, mas nunca chegou. Até que Paulo Fonseca, ciente da preciosidade da vitória
fora, preferiu puxar as rédeas que firmar as esporas.
Comecemos pelo adversário. Este Gil Vicente é frágil. Pouco
tem daquele Gil Vicente que impôs uma série negra ao FC Porto, mesmo com ajudas
apaixonadas de quando em vez. Até o Gil Vicente que labutava na segunda liga,
há uns anos, tinha mais fibra, mais talento e mais organização que este.
Começaram bem a época, é certo, mas estão a afundar-se mais rapidamente que uma
pedra. Fiúza ainda vai chamar diabo a Deus.
Mas que melhorias houve neste FC Porto? Basicamente duas.
Primeiro, Paulo Fonseca foi obrigado a enterrar o seu duplo
pivot. Ou percebeu que Herrera melhora proporcionalmente à medida que galga
metros, ou o Mexicano faz ouvidos de mercador e faz o seu serviço. Quero
acreditar que tenha sido a primeira hipótese. Voltamos a ter um meio campo
estruturado e voltamos a ter organização. Tu defendes, tu transportas jogo e tu
organizas o ataque.
Segundo, a entrada de Quaresma no plantel obriga a equipa a jogar com dois extremos abertos. Quaresma veio para titular e Varela é titular. A equipa tem amplitude no ataque. Não deixa os laterais contrários livres para atacar.
Portanto, estamos vivos. Débeis e frágeis. Até flácidos e ofegantes. Mas vivos.
Não temos rotinas. Não temos mecanização do nosso jogo a
meio campo. Os jogadores ainda estão a instalar-se nos seus papéis, quanto mais
saberem compensarem-se uns aos outros. Meados de Fevereiro e repetimos um onze
inicial pela primeira vez. Sintomático. Falta-nos dinâmica, força e autoridade.
Enquanto nos lados a máquina já rola, permitindo até substituir peças em
andamento, por cá, só agora se percebe que máquina montar.
E veremos. Que tenho
para mim que ainda haveremos de voltar a ver o muito que já vimos.
Viu-se neste jogo. Houve muitas alturas em que o jogo
partiu. Era parada e resposta, como na esgrima. Simplesmente, o florete do Gil
Vicente não tinha aponta aguçada. Faltou-nos controlo do jogo. Faltou-nos
autoridade.
É certo que merecíamos um marcador mais dilatado. Que hoje
tivemos oportunidades para sair de Barcelos com a barriga tão cheia como se
fossemos comer umas papas de sarrabulho à Bagoeira. Bem verdade. Mas com outro
adversário, teríamos sofrido mais na “parada e resposta”.
Entramos fortes e determinados no jogo. Aliás, a resposta da
equipa tem sido inatacável. Brio há, vontade também, falta é método. A vantagem
chegou numa acção de Herrera no flanco direito. Eis a chave. Em vez incomodar
Fernando, Herrera soltou-se, desequilibra no flanco e mete açúcar num
cruzamento para Varela. Até ao intervalo, estivemos sempre por cima, embora com
fases de parada e resposta.
Estamos vivos, sim. Mas não mais que isso. Os próximos dois
jogos caseiros serão determinantes. Que esta vitória dê alento. Pois o problema
principal continua adiado.
Análises Individuais:
Helton – Sem culpa no golo, limitou-se a ver o Gil Vicente ao longe.
Danilo – No plano defensivo foi eficaz, no ataque foi venenoso.
Parece que a equipa começa a explorar melhor a sua grande capacidade nos movimentos
interiores quando embalado. Veremos se se confirma.
Alex Sandro – Mais uma vez, bem melhor no aspecto ofensivo que defensivo. Voltou
a revelar dificuldades a fechar o seu flanco e o espaço para o central.
Abdoulaye – No geral, uma boa exibição. Aqui e ali, as fragilidades
habituais no um contra um. Também faz dois cortes providenciais, registe-se.
Mangala – Falhou na marcação ao Hugo Vieira no lance do golo.
Demasiado espaço em zona frontal! Ainda assim, formou uma dupla sólida com
Abdoulaye.
Fernando – Limpou toda a criatividade do Gil Vicente a meio campo. Na
zona central, a equipa de Barcelos foi estéril. Falta articular-se melhor com
Herrera. Mas isso, só com minutos de jogo.
Herrera – É o melhor em campo. Difícil, porventura injusto para
Varela, mas é uma eleição que pretende sublinhar a importância da mudança de
paradigma na sua posição que torna o FC Porto mais FC Porto e menos FC Paços de
Ferreira. Tem muitas arestas para limar. É um jogador muito cru, mas dá a
potência nas transições que a equipa precisa. E tem uma característica curiosa,
à medida que avança no terreno, ganha conforto com a bola.
Josué – Bom jogo, embora aquém do que sabe. Não compreendo alguns
bloqueios mentais no seu jogo. Remates patéticos, com tudo para fazer golo e
após fazer o mais difícil, com grande classe. Passes disparatados em situações
sem pressão, e passes a rasgar pressionado. Tem que perceber que o seu
rendimento tem que ser fiável, constante e garantido. Não um carrossel entre o
excelente o sofrível. Ora abria horizontes, ora atirava a bola para as couves.
Varela – Falhou golos cantados. Marcou dois e bem complicados. Um bom
Varela, pontuado do Varela obscuro. No fundo, foi o jogador da linha ofensiva
que melhor proveito tirou da estruturação do meio campo.
Quaresma – Finalmente, largou as bolas paradas. Fez um bom jogo para a
bitola do actual Quaresma. Não do outro. Ainda não produz o suficiente para
sair amuado.
Jackson – Mais um jogo taciturno. Chega-lhe pouca bola. Veremos se a
equipa cresce nos próximos jogos.
Licá – Entrou para defender e
afincou-se na missão.
Ghilas – Para queimar tempo. Para dar potência no ataque à
baliza através de diagonais. Merecia mais minutos.
Mikel – Para fechar a porta e queimar mais tempo.
Ficha de Jogo:
Gil Vicente: Adriano, Gabriel, Halisson, Danielson e Luís Martins; Luan,
Luís Silva (46, Pedró) e João Vilela (67, Mosquera); Brito, Hugo Vieira e Diogo Viana (72, Caetano)..
Suplentes: Caleb, Pedró, Leandro Pimenta, Keita, Caetano, Peks e Mosquera.
Treinador: João de Deus
FC Porto: Helton; Danilo, Abdoulaye, Mangala e Alex Sandro; Fernando, Herrera e Josué (90+3, Mikel); Quaresma (69, Licá), Jackson Martínez e Varela (88, Ghilas).
Suplentes: Fabiano, Maicon, Mikel, Quintero, Ricardo, Licá e Ghilas
Treinador: Paulo Fonseca
Árbitro: Paulo Batista (Porto)
Golos: Varela, aos 18 e 53 minutos; Hugo Vieira, aos 55 minutos
Por: Breogán
1 comentário:
Bom jogo! Sem a treta do duplo-pivot que não serve a esta equipa e com Herrera a jogar a 8 e bem, o futebol foi muito mais agradável e criámos muitos lances de ataque.
É a diferença entre Herrera e Moutinho. Moutinho dá muita consistência a uma equipa mas Herrera oferece muito mais a nível ofensivo. Moutinho nunca teve capacidade para desequilibrar, uma ou outra vez conseguia-o mas acontece em 1 jogo a cada 10. Vamos ver se Herrera não continua a evoluir e se não consegue dar a mesma consistência à equipa. Pela capacidade física não terá problemas, tem é de mostrar inteligência e estar sempre no sítio certo (para Moutinho era mais fácil porque ele nunca subia ao ataque, estava sempre atrás).
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