segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Liga Zon Sagres, 18ª Jornada; FC Porto 3 - 0 Paços de Ferreira

Asas de borboleta


 No futebol, a verdade não anda sempre de braço dado com a realidade. Tal como na vida, nem sempre o esforço é compensado, nem sempre o desleixo é penalizado. Tal como no trabalho, nem sempre a dedicação é reconhecida, nem sempre a incompetência é castigada.

FC Porto vs Paços Ferreira (LUSA) 

O FC Porto venceu por 3-0 ao Paços de Ferreira, e minha nossa!, como mente o marcador. Nem o Paços de Ferreira sabe como perdeu por 3-0, nem o FC Porto sabe como ganhou por 3-0.


Adoraria ter aquele discurso de que os campeões também se fazem em jogos assim. Tivemos estrelinha. Que ganhamos e é o que interessa. Que após ganharmos sem ler e escrever e por números tão esclarecedores, só podemos moralizar! Que a sorte não nos abandonou e que estamos no trilho da glória. Adoraria mentir a mim mesmo. Nem que fosse um pouquinho.



Mas não consigo.

 Porque temi mais o empate do Paços de Ferreira do que o lampião temeu que a cobertura do seu pré-fabricado lhe caísse em cima. Porque vi uma primeira parte horrenda, onde após razoáveis dez minutos iniciais, o FC Porto desaparece de campo, diluído pela chuva ou soprado pelo vento. Onde um Paços de Ferreira na retranca chegava à frente.
 Vejo uma equipa sem alma, sem querer. Vejo um FC Porto que já não só tropeça nas grandes e pequenas pedras do percurso, mas também, nos seus próprios pés. Vejo um FC Porto colado por cuspe, à espera do milagre ou da machadada final. Já estamos para lá da metade da época e nem uma ideia de jogo ainda há. Nem um esboço final de um onze inicial. Creio não estar a ser exagerado ao dizer que com as excepções de Helton, Jackson e os laterais (e por quase não terem concorrência), tudo o resto é passível de mudança.

FC Porto vs Paços Ferreira (LUSA)



E pronto, entre investidas do Paços de Ferreira, lá chegamos ao intervalo a ganhar por 1-0. Penalti infantil, mas justo. Já nos 10 minutos iniciais tinha havido outro por assinalar.


Merecido? Não interessa. É tudo pão para a boca!





  
 O intervalo trouxe um FC Porto mais agressivo, mais empenhado e mais assustado pelos assobios da bancada. Mas foi tão só isso. É mais o brio de querer mostrar serviço, que qualquer ideia sólida de jogo. Lá se foi mastigando o jogo, naquela luta titânica entre o meio campo do FC Porto e o meio campo do Paços de Ferreira. Eles com medo de atacar e destapar os pés. Nós a lutar pela bola, mas sem qualquer ideia ofensiva.
 Até que minuto a minuto, o Paços de Ferreira foi ousando. Devem ter pensado: “Querem ver que ainda empatamos?”. E lá se foram soltando. Arrancada dali, remate de acolá. Andava o Paços de Ferreira mais perto do golo que o FC Porto.
 Até que, já no ocaso do jogo, o Paços de Ferreira lança-se na busca do ponto e sofre dois golos de rajada. O primeiro, com Fernando a fazer todo o trabalho de meio campo. Ganha a bola meio campo – recuperação. Transporta verticalmente e em velocidade – transição. E lança o extremo com um passe a rasgar – criatividade. O segundo, é um brinde do guarda-redes do Paços de Ferreira.

 Continuamos tão frágeis como asas de borboleta numa tempestade. Cada jogo é uma ameaça de desgraça. Continuamos a ser um problema adiado que ameaça ruir a cada jogo.

 E agora, que nos apartamos do Dragão e se aproxima um ciclo de jogos difíceis, só espero que, de alguma forma, nem quero saber como, isto corra bem.

foto1



Análises Individuais:

Helton – Tirando um canto em que soca a bola para trás (!), salvou o FC Porto por três vezes.

Danilo – Tentou esticar no ataque, mas rapidamente percebeu que se era para tentar sozinho, mais valia estar quieto. A defender, teve dificuldades em parar Bebé e as suas arrancadas à sprinter dos 100m. A maior parte delas, inconsequentes.

Alex Sandro – Continua a ser o melhor extremo da equipa. Sintomático. A defender, foi muito passivo.

Abdoulaye – Não inventou e teve uma (re)estreia sólida. Algumas dificuldades no um para um, sobretudo frente a Bebé, mas manteve a compostura e a calma, o que é suficiente para mitigar o perigo de Bebé.

Mangala – Seguríssimo no corte e autoritário no jogo aéreo.

Fernando – Regressa em grande e é o melhor em campo. Se o meio campo do Paços de Ferreira encostasse um pouco mais no ataque, não sei se a história do jogo não seria outra. Felizmente, ainda há Fernando. A forma como cria o 2-0 é brutal.

Herrera – É a boa notícia do jogo. Está a crescer na posição 8 e explode à medida que se aproxima da área contrária. Ainda tem que ganhar fiabilidade, sobretudo no passe curto, e algum impacto no jogo, mas está no bom caminho. Jamais será um médio defensivo.

Josué – A ligação meio campo e ataque falhou. Tem que procurar mais bola, ser mais dinâmico, mais mexido, mais vivo. Josué procura pegar no jogo recuando. Isso baixa o ritmo. Tem é que pegar no jogo o mais próximo possível da sua posição. Com desmarcações rápidas entre os médios defensivos e a linha defensiva do adversário. Alguns bons passes e pouco mais.

Varela – Jogo morno. Nem absurdamente mau, como já fez. Nem o Varela pleno que raramente se vê. Passou muito ao lado do jogo.

Quaresma – Continua o mesmo abusado. Levando à loucura quem desespera por uma gota de futebol neste FC Porto. Quaresma será sempre assim e não aprende. Se aprendesse a carreira teria sido outra, como é lógico. Demasiados lances perdidos, demasiada inconsequência. Quaresma é como a bacia do garimpeiro. Por cada pepita, muita pedra e areia passa por lá. Por fim, não entendo como lhe permitem marcar tudo o que é bola parada.

Jackson – Lá marcou, num jogo onde andava longe da sua valia. O jogo não lhe chega e está a render-se à fatalidade. Maus domínios de bola e alguma lentidão no arranque.


Quintero – Tentou fazer melhor que Josué. Trouxe alguns movimentos individuais, mas a ligação meio campo - ataque não melhorou.

Licá – Numa substituição ousada, acaba por ser o Joker do jogo. Só prova que no futebol a lógica é uma batata. Entra francamente mal em campo, mas aproveita a arrancada de Fernando para assistir para o 2-0. Que sirva para ganhar alguma moral.

Ricardo – Entrou, marcou e o árbitro apitou. Há dias assim.




Ficha de Jogo:

FC Porto: Helton, Danilo, Abdoulaye, Mangala, Alex Sandro, Herrera, Fernando, Josué (68, Quintero), Quaresma (78, Licá), Jackson e Varela (90, Ricardo)
Suplentes: Fabiano, Maicon, Quintero, Ghilas, Licá, Ricardo e Defour
Treinador: Paulo Fonseca

Paços de Ferreira: Degra, Jailson, Flávio, Tiago Valente, Hélder Lopes, André Leão, Rodrigo António, Seri, Bebé, Minhoca e Del Valle
Suplentes: António Filipe, Romeu, Nuno Santos, Ricardo, Sérgio Oliveira, Fernando Neto e Manuel José
Treinador: Henrique Calisto

Árbitro: Cosme Machado (Braga)

Golos:  Quaresma, aos 43 minutos, através da marcação de grande penalidade, Jackson Martinez (87) e Ricardo (90+2)


Por: Breogán




1 comentário:

Alberto disse...

Nunca vi um Porto tão pouco mandão e autoritário em casa. Qualquer equipa almeja pontuar e não censuro. Sim, este Paços está bem mais arrumadinho e organizado mas o resultado é enganoso. Aquele duplo pivôt é uma nódoa..obrigar Herrera a desaparecer criativamente em prol de uma falsa maior segurança é um crime para o clube e para o incompreendido Fernando. Este, por ventura, está bem mais completo, desde os tempos do AVB, portanto desengane-se quem pensa que o segundo golo foi produto desta nova aberração tática ou dedo do treinador. Na luz já fez isto e o treinador era o Vítor Pereira. Já agora, obrigado Fernando por teres renovado. Mesmo que partas no Verão, vais imaculado ao contrário de Paulos Assunções....

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