Épico.
Foi um jogo épico. Pela emoção, pela labuta, pelo evoluir do
resultado e por passearmos entre o inferno e o purgatório.
O sentido do épico é bem mais lato. Foi épico na atitude,
comparando com o que se tem passado na temporada. Mas isso não é uma novidade.
Qualquer portista atento à capa do O Jogo de ontem sabia que hoje outro galo
cantaria. Fatal.
Foi épico também no disparate, nos erros defensivos graves,
outros gravíssimos e nas recepções disparatadas de Jackson no ataque.
Foi épico
porque tivemos o pássaro na mão no 2-2 e ainda assim fugiu, para logo ser
caçado no 3-3.
Foi épico porque o meio campo foi quase sempre um desastre,
mas a equipa nunca se afundou.
Foi épico porque é um jogo que rejeitou racionalidade,
controlo e competência. Foi coração, alma e uma espécie de poker de dados, onde
a sorte rola sobre a mesa.
Foi épico porque passamos sem ganhar um jogo, é
épico porque continuamos sem ganhar nas competições europeias, marcando e
sofrendo cinco golos.
Um jogo louco, absurdo e apaixonante. Sim, se aqui não se ignoram as muitas fragilidades que este jogo, uma vez mais, revelou, também é daqueles jogos que se perpetuam na memória portista. Onde o coração tem mais arritmias que sangue bombeado. Onde os nervos saem em frangalhos, entre a depressão e a euforia. Onde uns minutos voam e outros não passam. Tudo isso em quase duas horas de loucura.
O jogo começa com duas alterações no onze inicial. Maicon no lugar de Abdoulaye, impedido de jogar na liga Europa, e Carlos Eduardo no lugar de Josué.
O Eintracht aborda o jogo com a táctica do caracol. Começa
metido na concha. Se esta resistir ao choque, começa a esticar a cabeça para
fora da hélix, para, por fim, colocar os pauzinhos ao sol. E tem sucesso.
Os primeiros minutos são do FC Porto. Sôfrego e acossado, o
FC Porto atira-se ao Eintracht. Jackson, num longo rol de disparates, aniquila
o que se vai criando. A organização a meio campo vive em função da capacidade
de Herrera se libertar do duplo pivot. Com os extremos apostados no jogo
interior, fica para os laterais o jogo flanqueado. Para lá do desperdício de
Jackson, só Herrera ameaça a baliza do Eintracht.
Foi meia hora de pressão e para lá de umas lascas, a concha
do caracol estava intacta. Lentamente, o gastrópode começou a esticar a cabeça.
E foi pelo meio campo. Os médios do Eintracht avançam e Herrera é bloqueado
atrás. O jogo vira. Até que a sete minutos do intervalo, a defesa do FC Porto
assiste de camarote ao golo do Eintracht. Um sucessão épica de disparates,
erros de marcação e fífias, ao qual o Eintracht juntou alguma arte e movimentos
simples. E não foi por falta de aviso. Já Flum havia falhado por pouco num
lance igual. Estava feito o 1-0 e o intervalo chegava pouco depois.
A segunda parte traz um FC Porto ainda pior. Um minuto e já todos os portistas suavam frio. E se a sete minutos do intervalo o Eintracht ganhou vantagem, aos sete minutos depois do intervalo amplia-a. Maicon adormece no fora de jogo e os alemães fazem a festa.
Depressão. Que grande buraco. Como vamos sair disto?!
A resposta acaba por ser estranha. Se tivemos um ponta de
lança que mais pareceu um central, também tivemos um central que foi ponta de
lança. Só um jogo deste tipo para tanta
loucura.
O meio campo continuava imerso na sua capacidade e a nossa
salvação acaba por vir das bolas paradas. O primeiro golo, aos 58 minutos, por
Mangala, tem na sua origem um lance de bola parada que permite a fixação do
central na área contrária. Aos 71 minutos, Mangala repete a dose, mas desta vez
com brinde!
Finalmente, um lance de bola parada estudado! Aleluia!
Entre estes dois lances do nosso contentamento, não surge o
terceiro do Eintracht por milagre. Carlos Eduardo falha um passe na transição
ofensiva e a equipa é apanhada no contra-pé. O Eintracht é implacável e só não
marca por milagre, num lance que ameaçou entrar para o anedotário!
Volta o Eintracht a comandar o jogo. Surpreendentemente!
Após o 2-2 é a equipa alemã que tenta chegar ao golo da vitória. E consegue!
Nova sucessão de erros de marcação e golo. Faltava ao FC Porto cerca de 15
minutos (mais compensação) para chegar ao golo. O meio campo portista era
inexistente, Paulo Fonseca não opta por dar-lhe consistência, mas por juntar
Licá a Ghilas e Jackson. Pontapé para a frente, jogo directo e muita fé.
Até que o lance aparece. Biqueirada de Maicon da nossa área
lá para a frente. Licá ganha a bola na entrada da outra área e tabela com
Ghilas. O remate é forte e o argelino acorre ao ressalto. Golo!!!! A cinco
minutos dos 90, sem meio campo e num jogo de destes?! Loucura!
Restava aguentar. Paulo Fonseca retira Jackson para colocar
Reyes. Mais valia reforçar o meio campo, mas o Eintracht já não tinha mais
forças.
Continuamos a não ganhar na Europa. Mas há empates que sabem a vitória, como os há que sabem a derrota. Este sabe a vitória, mais do que algumas que o foram.
Mas o problema de base está lá. E foi evidente neste jogo. Evidente demais. Veremos se a equipa arrebita, animada pela passagem, ou se é nuvem passageira. E mais capas do O Jogo como a de ontem…só assim!
Análises Individuais:
Helton – Não foi mal batido em nenhum dos golos, mas no primeiro
podia ter feito mais. De resto, o mesmo número habitual de dança na primeira
parte do jogo.
Danilo – Muito assertivo no ataque, sobretudo na primeira parte. Um
desastre a defender.
Alex Sandro – Se Danilo foi um desastre, Alex Sandro foi uma calamidade.
Aquele terceiro golo do Eintracht é anedótico. No ataque, sofrível.
Maicon – Ganha o título de “mais pior mau” da defesa. Totalmente
perdido, fora de tempo, fora de contexto, fora da marcação. Fora de tudo. Valeu
pelo chutão lá para a frente a acabar.
Mangala – Há dois Mangalas. O central foi tão nabo como os outros defesas.
Menos culpado que Maicon, mas tão sofrível como os restantes. O ponta de lança
esteve implacável na área do adversário.
Fernando – Joga muito pior com um jogador ao seu lado, mas Paulo
Fonseca insiste em arranjar-lhe companhia. Não foi tão sólido como costuma ser,
nem tão influente no jogo. Grande cruzamento para o segundo golo.
Herrera – Boa primeira parte, soltando-se sempre que podia. Foi por
ele que passou o nosso melhor futebol, sobretudo na primeira parte. Aos poucos
desligou-se da frente, mas não foi por sua culpa. Sai na segunda parte,
imerecidamente, e o meio campo do FC Porto eclipsa-se. O que vale é que era o
Eintracht.
Carlos Eduardo – Exibição muito fraca. Pouco intenso no
processo ofensivo, ainda deu barraca nas transições! Quase nos custava o 3-1,
num lance que mete medo!
Varela – Não fez mossa e pouco se notou. De volta à sua fase lunar?
Bem substituído.
Quaresma – Perdeu muito lances, sobretudo na primeira parte, chamando a si o protagonismo. Mas já sabemos o que a casa gasta. Mas a recompensa veio depois. Assistência para o primeiro golo (bom cruzamento). Felizmente, no segundo golo, optou por surpreender ao colocar em Fernando.
Jackson – Jogo medonho. Um assassino de lances ofensivos. Um autêntico
central, pé de chumbo, a ponta de lança. O que foi aquilo?! Armado em otário?!
Espero que tenha sido só um daqueles dias para os quais não há explicação. Só
isso, espero.
Ghilas – É o melhor em campo. Entra para o molhinho na
frente, mas já percebeu que não se pode entregar só a isso. Procurou jogo e
caiu nos flancos. Trouxe alegria e força ao ataque. Marca o golo da
“vitória-empate” e não merece voltar a jogar 3 minutos nos jogos seguintes.
Licá – Boa entrada, desta vez sim, para a sua posição.
Aproveitando o balanceamento do Eintracht, sempre na diagonal e a escapar para
segundo avançado. Excelente movimento no último golo, com um remate forte que
colocou Trapp em dificuldades.
Reyes – Para segurar e queimar tempo.
Ficha de Jogo:
Eintracht Frankfurt: Trapp; Jung, Zambrano, Madlung e Oczipka; Schwegler e Flum;
Aigner (Rosenthal, 69), Meier e Barnetta; Joselu (Lanig, 85).
Suplentes: Wiedwald,
Djakpa, Rosenthal, Inui, Lanig, Weis e Kadlec.
Treinador: Armin Veh
FC Porto: Helton; Danilo, Maicon, Mangala e Alex Sandro; Fernando,
Carlos Eduardo e Herrera (Ghilas, 54); Varela (Licá,78), Jackson (Reyes, 90) e Quaresma.
Suplentes: Fabiano, Reyes, Josué, Licá, Defour, Ghilas e Ricardo.
Treinador: Paulo Fonseca
Árbitro: Björn Kuipers (Holanda)
Assistentes: Angelo Boonman e Erwin Zeinstra; Richard Liesveld e Ed
Janssen
4º Árbitro:
Golos: Aigner (37), Meier (52, 76), Mangala (58,71) e Ghilas (86)
Por: Breogán
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