Gatinhar
O FC Porto gatinha. Já se tenta pôr de pé, mas logo vai com
o rabo ao chão. Mas já gatinha. Ao menos já tem uma ideia de locomoção. Eu que
pensava que iríamos passar a época toda na fase de sentado.
Este Eintracht de Frankfurt é um bom exemplo de uma equipa
que já caminha pelo seu próprio pé. Ideias claras, linhas sempre juntas, saber
sofrer sem nunca perder de vista o ataque, bons princípios de jogo flanqueado.
Podem não ter um andar muito adulto ou que dê para altos voos, mas sabem andar
e sabem colocar um pé à frente do outro.
O FC Porto, não! O FC Porto está na sua pré-época. Finalmente, percebeu para que servem as pernas. Ainda só gatinha. E a liga Europa não se compadece.
Só agora, temos uma ideia clara de como se deve montar o meio campo do FC Porto. Ainda assim, na segunda parte, foi massivamente assassinada. Mas já lá vamos.
Finalmente, começamos com um meio campo estruturado.
Fernando já respira, temos um 8 forte e poderoso nas transições e um criativo.
Só ainda não sabem jogar em conjunto. “Só”. O Fernando andou a jogar em duplo
pivot. O Herrera desterrado na B. E o Josué um pouco por toda a parte do meio
campo e até a falso extremo. A questão é simples, o ponto onde estamos hoje
deveria ter sido vivido na fase final da pré-época. Passamos meio ano em
experiências alucinadas e isso tem um preço. Enquanto outras equipas estão em
velocidade cruzeiro, nós ainda estamos com os soluços do arranque.
O jogo deixa aquele amargo de boca. Caramba, já fomos
brutalmente mais incompetentes esta época e safamo-nos. Neste jogo, até fizemos
uma boa primeira parte, bom ritmo, boa amplitude e dominadores a meio campo. A
segunda, mesmo em perda acentuada, com dedinho de mestre da mula russa, também
não foi tão execrável como tantas outras nesta época. Oferecemos golos,
falhamos alguns e já estamos condenados a ter que ir ganhar a Frankfurt. Mesmo
que Paulo Fonseca teime em ir para Leverkusen.
Começamos muito bem. Fortes e rápidos. Somamos oportunidades
de golo, com Jackson em destaque na hora de somar golos falhados. O nosso meio
campo impunha-se, com Herrera avassalador sobre a transição do adversário. A
bola circulava rápido, embora o ataque ao espaço fosse deficiente. Ainda só
estamos a começar! O Eintracht de Frankfurt, sempre que podia, esticava a
manta. Mas as investidas eram travadas com relativa facilidade.
O FC Porto nunca conseguiu ser avassalador, mas manteve sempre o controlo da partida. O golo tardava, até que o remate genial de Quaresma traz justiça ao marcador, já em cima do intervalo.
A vantagem era escassa, até demasiado escassa para o domínio portista. Restava tentar ampliar a vantagem na segunda parte e ganhar conforto para a visita à Alemanha. Mas não. O problema adiado do FC Porto ressurge. Herrera recua, Fernando ganha um parceiro indesejado e o Eintracht de Frankfurt começa a ganhar o domínio a meio campo.
Logo no reinício dispõe de duas
oportunidades. Nem assim, o FC Porto corrige. O jogo vai caindo nas mãos alemãs
e o FC Porto cada vez mais refugiado no contra-ataque. Jackson volta a ameaçar
por duas vezes, até que Varela eleva para 2-0.
Estava ganho, julgávamos nós. Em cinco minutos, o Eintracht
de Frankfurt empata, em dois lances que nos penalizam por erros individuais,
com destaque para o segundo, verdadeiramente caricato. Mas mais que isso, fomos
penalizados por abdicarmos do controlo do jogo, por abdicarmos de sermos os
mais fortes na transição ofensiva. O lance que dá origem ao canto do segundo
golo do Eintracht de Frankfurt é sintomático. Havíamos perdido o controlo a
meio campo.
Abdicamos de ser o FC Porto frente a um “Bayern” para sermos
o FC Paços de Ferreira frente ao Eintracht de Frankfurt. O problema adiado
ataca sem apelo ou agravo!
Depois, veio o desespero. Se dúvida houvesse da qualidade
táctica de Paulo Fonseca, a substituição aos 83 minutos acaba com ela. Ávidos
para (re)ganhar o controlo a meio campo para atacar a baliza alemã, num assalto
final para tentar ganhar alguma vantagem para a segunda mão, Paulo Fonseca
retira Fernando e coloca Ghilas. Nada contra a entrada do avançado, como é
óbvio, mas abdicar do nosso melhor recuperador de bolas e o jogador que
equilibra o meio campo, não lembra ao careca! É a típica substituição do
treinador fraquinho em desespero. Tirar Varela ou Quaresma? Nada disso. Molhinho
lá na frente!
Já se nota que nem os jogadores percebem o que ele quer. Nem
eles acreditam na sua liderança. É uma equipa à deriva à espera do desastre.
Nada estaria perdido. Temos mais que equipa para ir a
Frankfurt ganhar. Só não temos treinador.
Mero detalhe!
Na entrevista pós-jogo, Paulo Fonseca afirma: “Temos feito
bons jogos, tanto na Liga dos campeões como agora na Liga Europa. Com certeza
que os adeptos saberão reconhecer o bom jogo que fizemos perante uma equipa
difícil.”
Só uma breve nota de rodapé: sete jogos Europeus esta época,
uma só vitória e zero jogos ganhos em casa.
Bem sei que Paulo Fonseca não diz isto por despeito, nem
desrespeito a nós. Diz porque não sabe mais o que há-de dizer. Diz porque quer
acreditar no que diz. Diz porque é a primeira coisa que lhe vem à cabeça,
porque não tem discurso nem mensagem. Diz porque mais vale uma ilusão que a
dureza da realidade. E sim, até tem um pingo de verdade. Hoje não fomos
medonhamente maus, pelo contrário, tivemos uma primeira parte bem boa, mas
deitada a perder pelas suas limitações.
A culpa não é dele. A culpa é quem o adia. A culpa é de quem se esconde atrás dele. Por isso, e por um mínimo de decoro, ao menos que o Rui Cerqueira, de uma vez por todas, arrume a questão. Paulo Fonseca, até ao dia que sair do FC Porto, não deveria ir muito além do “sim” ou “não” como resposta às perguntas que lhe são colocadas. E ainda assim, sabe Deus!
Análises Individuais:
Helton – Seguro no assalto inicial da segunda parte. No primeiro golo
não tem hipótese, mas no segundo fica-me aquela sensação que deveria fazer
mais. Não é frango, nada disso, mas uma coisa meia atrapalhada.
Danilo – Seguro a defender e disponível para atacar, na primeira
parte. Após o intervalo desaparece do ataque. Ordens?!
Alex Sandro – Anda a precisar de dar com os dentes no banco. Amorfo a
defender, algo que já vem a agravar-se há algum tempo. A atacar, sai a preceito
mas define mal.
Maicon – Boa primeira parte, mostrando que só lhe fez bem o
tratamento de banco após aquela vergonha frente ao Marítimo. Na segunda, erra
no momento mais crítico.
Mangala – Anda demasiado intranquilo. Parece que não lhe assenta bem o
papel de líder da defesa. Pavorosa a forma como é batido no segundo golo.
Fernando – Boa primeira parte, onde aniquila quase toda a criação de
jogo do Eintracht de Frankfurt. Na segunda parte, Paulo Fonseca resolve voltar
a Paços. A linha criativa dos alemães agita-se logo. Herrera é mais estorvo que
ajuda e no píncaro da loucura, para não dizer burrice, Paulo Fonseca abre mão
de Fernando.
Herrera – Grande primeira parte, pelo que fez neste período, merece ser
o melhor em campo. Solto, agressivo e muito forte na transição ofensiva. Ganha
imensa qualidade quando ataca. Como prenda, Paulo Fonseca, mete-o no duplo
pivot na segunda parte. Danke Paulo Fonseca!
Josué – Depois de ter sido saco de pancada por todo o lado, começa
uma nova etapa no seu lugar. Primeiro, está muito aquém da dinâmica que um 10
precisa. Tem que ser mais rápido, mais esperto e mais eficiente. Esse é um
choque táctico que não vai ser dado por este treinador! Segundo, precisa de ter
outra capacidade física.
Varela – Marcou um golo e pouco mais. Pouco influente no jogo,
deveria ser ele a dar o lugar a Ghilas.
Quaresma – Tal como Varela, pouco influente no jogo. Salva-se o seu momento de génio, com um golo brutal a dar o 1-0. Espero que não lhe suba à cabeça.
Jackson – Anda azedo com os golos. Falhou demais. Nunca virou a cara à
luta, mas a equipa precisa que volte a encontrar o caminho do golo. Para isso,
seria preciso que o conjunto funcionasse e que Jackson recebesse mais jogo. O
que não me parece que vá acontecer neste consolado.
Carlos Eduardo – Entrou numa fase onde o FC Porto já não
tinha controlo sobre o meio campo. Meio a frio, ainda tentou dar alguma magia,
mas rapidamente foi varrido pelo meio campo defensivo alemão.
Ghilas – Ainda a tempo de falhar um golo cantado, não teve
grande impacto no jogo, pois foi para a “molhada”, quando o meio campo do FC
Porto nem conseguia ter domínio
Ficha de Jogo:
FC Porto: Helton; Danilo, Maicon, Mangala e Alex Sandro; Fernando,
Herrera e Josué; Quaresma, Varela e Jackson.
Suplentes: Fabiano, Reyes, Licá, Carlos Eduardo, Quintero, Ghilas e
Ricardo.
Treinador: Paulo Fonseca
Eintracht Frankfurt: Trapp; Jung, Zambrano, Madlung e Oczipka; Schwegler e Russ;
Rode, Meier e Flum; Joselu.
Suplentes: Wiedwald;
Djakpa, Lanig, Aigner, Schrock, Barnetta e Kadlec.
Treinador: Armin Veh
Árbitro: Matej Jug (Eslovénia)
Assistentes: Matej Zunic e Roland Brandner; Dragoslav Peric e
Dejan Balazic
4º Árbitro: Robert Vukan
Golos: Quaresma (44), Varela (68), Joselu (72) e Alex Sandro (auto-golo, 77)
Assistência: 25.107 espectadores
Por: Breogán
5 comentários:
Bom dia.
estou de acordo em quase tudo... só + 4 coisas:
1 - Temos que "afirmar" que com fabiano o segundo golo não acontecia. O helton cai com muita facilidade (exemplos: 1º golo na Luz, outro: -uma jogada que quase dava golo com o Gil, agarra a bola já deitado!!! e ontem, parecia a jogar futebol na praia com os filhos!!!)
2 - Sabendo que o Abd. Ba não pode jogar na Europa, porque não rotina a dupla disponivel Maicon \ Mangala? ( o jogador chegou do Vitória e jogou , logo a titular!!!)
3 - Porque o treinador teima em mexer no jogo tarde... e já várias vezes, nem as 3 substituições faz, como ontem?!!
4 - O QUE GANHA o PORTO ao TEIMAR em aguentar este treinador?!!! (só se for, para no fim ir buscar o L. Jardim, que agora está indisponivel)
Alguem sabe?!!!
Obrigado.
Achei a exibicao do Mangala absolutamente sofrivel. O mau alivio que fez que deu a bola a joselu em zona proibida e deu o 1o golo. O corte de cabeca completamente suicida que faz da o 2o...
Pessima exibicao e um retrato do espirito (ou neste caso a falta dele) incutido por Paulo Fonseca. Os jogadores como activos estao a perder valor a olhos vistos. Tendo em conta o modelo de negocio do nosso clube nem desportivamente nem financeiramente esta amostra de treinador faz sentido.
O recuar do herrera depois do 2o golo para o lado de Fernando para mim foi a gota de agua. Treinador medroso e o pior que já vi no banco do Porto.
Se havia duvidas que Leonardo Jardim não é solução para o FCP, basta ver o recenteBenfica-Sporting...
caríssimos,
no fundamental:
penso que ganhámos todos com a exibição desta Quinta-feira, i.e., que, nos dias que correm, o nosso Portismo está a ser testado diariamente.
teremos que ser fortes o suficiente para sucumbir à «gloriosa» tentação de passarmos a duvidar de tudo e de todos no nosso clube do coração.
somos Porto!, car@go!
«este é o nosso destino»: «a vencer desde 1893»!
abr@ços
Miguel | Tomo II
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