Folgar as costas
Não é justo, nem porventura seja o mais importante. Mas nesta fase, confesso, estou-me nas tintas. Esta crónica resume-se às declarações finais de Paulo Fonseca, e pouco mais.
Disse o treinador do FC Porto, no fim do jogo, duas frases que ainda perduram na minha mente: “Foi um jogo em que o Marítimo ganhou por 1-0” e “vamos tentar corrigir este resultado nesta quarta-feira”.
A primeira frase, à primeira vista, não passa duma daquelas sensaboronas verdades redondas. Mas é muito significativa. Demonstra bem a profundidade da análise.
A segunda frase é demasiado fraca para um treinador do FC Porto. O tentar é lesa FC Porto. Ainda para mais, estando em causa uma eliminatória.
Mas é surpresa? Não. Paulo Fonseca há muito que demonstra a sua debilidade. Nem percebe o que lhe aconteceu, nem lança uma mensagem, um rumo para o futuro. Sobrevive. Mantém-se num estado comatoso, alimentando-se dos “Penafieles” que visitam o Dragão para mascarar um descalabro já quase sem memória. Um descalabro que se iniciou em Novembro! Há quanto tempo não tínhamos uma série tão negra fora de casa? Catorze jogos disputados e seis vencidos. Isto não é o FC Porto.
Bem sei que Paulo Fonseca não é o mal do FC Porto. Longe disso. Há responsabilidades bem maiores que as suas. Bem mais graves. Não só pela volumetria do erro, mas sobretudo pela persistência. Os superiores interesses do FC Porto andam pela rua da amargura. E até será por este prisma que se percebe a continuidade de Paulo Fonseca. Escudo humano. Enquanto a sua debilidade para o cargo nos agredir, enquanto a sua incapacidade para ser treinador do FC Porto nos ferir, não iremos verberar com quem realmente tem os cordelinhos na mão.
Sim, Paulo Fonseca é, e há muito, um problema adiado. Não é solução para nada. Até já se tenta esconder atrás do FC Porto, apelando à sua grandeza e evocando a história de sempre lutar até ao fim. Compreensível. Ele já tentou sair, já reconheceu a sua incapacidade para dar a volta ao texto, mas mantiveram-no lá. Enquanto for Paulo Fonseca a apanhar, folgam as costas de peixe graúdo.
Mas pronto, já se percebeu que a sua continuidade em nada contribuirá para a solução, pelo contrário, só agravará a degradação. E quanto mais degradado for o estado do FC Porto, mais difícil será voltar a subir. Chegamos à altura chave da época. Ou mudamos e evoluímos. E ainda teremos uma palavra a dizer na luta pelo título. Ou continuar o caminho da degradação, esperando um milagre já quase fora do alcance e do poder divino, é arriscar acabar a época com uma classificação tenebrosa.
Portanto, aqueles que até agora tiveram as costas folgadas e que têm os cordelinhos na mão, já não se podem esconder atrás de Paulo Fonseca. Chega a hora da decisão.
Quanto ao jogo, recordo que já estamos em Fevereiro e em plena segunda volta. Este FC Porto não joga puto. Zero. Nada. Não tem solidez na defesa. Tem um meio campo que mete dó. Uma confusão danada, para lá de qualquer explicação. Um meio campo que leva surra de qualquer meio campo minimamente organizado. E um ataque que vive do momento, do lance individual ou do falhanço alheio.
Mais grave que isso, este FC Porto não tem garra, não tem alma, não tem vontade. É um espelho fiel da liderança (?) que o conduz. Um FC Porto patético, absurdamente ingénuo e incompetente.
Bastou ao Marítimo largar o seu fato quase B, que por pouco não entalou o FC Porto no Dragão, para ser demais para o FC Porto. A primeira parte do FC Porto nos Barreiros é um insulto. Tomo-a assim. Os primeiros 30 minutos, então, são tão pobres, tão miseráveis, que nem são explicáveis. Lá está, esta equipa nem reage. Fomos os primeiros a jogar nesta jornada. Somos quem corremos atrás. Vamos defrontar um adversário tradicionalmente difícil, em sua casa e após um susto pregado por esta equipa, embora com alguns jogadores suplentes. E somos varridos pelo Marítimo. Varridos.
Mas o que mais assusta é que já nem há surpresa ou revolta. Já sabíamos que o desastre era eminente. Que esta equipa de Paulo Fonseca é frágil que uma efémera bola de sabão.
A segunda parte trouxe um Marítimo mais respeitador. Decidido a ganhar um jogo sem sofrer golos, pela primeira vez neste campeonato. Trouxe um Marítimo desejoso de defender a vantagem e acabar com uma série negra.
Do lado do FC Porto, só desespero, exaltação e salve-se quem puder e o que puder! Tivemos três bolas de golo, verdade. Também o Marítimo podia matar o jogo, sobretudo na fase louca de Paulo Fonseca que, borrifando-se nos resquícios de táctica e organização que ainda existem, mete tudo o que é avançado e médio ofensivo e acaba o jogo com dois blocos. Os da frente e os de trás. Dois blocos anárquicos. Todos misturados e atabalhoados.
Que mais dizer? Fim de linha. Para ser correcto, Paulo Fonseca já não é um problema adiado. Bem sei que o escrevi ainda algumas linhas atrás. A única coisa adiada em Paulo Fonseca é sua saída. Nunca foi solução e até já deixou de ser um problema. Já não é líder. Já não é treinador. É um desesperado à espera de misericórdia. Que aqueles cujas costas folgam se cansem de o usar.
A esses, muita atenção. Acabou a margem de erro. Acabou a tolerância. Se o título (ainda) está ao nosso alcance, o caminho para ele não é este. Precisamos de um treinador. De uma liderança, de uma nova alma. Precisamos de reagir. Não só de tentar.
Muito vos tem folgado as costas!
Análises Individuais:
Helton – Não teve grande trabalho e no penalti foi bem batido.
Danilo – Erros tão primários que chegam a ser incompreensíveis. Atabalhoado. Desconexo. Errático a defender e um penalti patético.
Alex Sandro – Mais estável que Danilo, sobretudo a atacar, mas sem grandes fulgores.
Maicon – Um central que tem brio em jogar no FC Porto não pode ficar indiferente a uma exibição como ele fez hoje. Um central do FC Porto não pode ser comido de toda a forma e feitio como lhe fez Derley durante os primeiros 30 minutos. Jogador este que está longe de ser um craque. Que tenha vergonha na cara. Após esses 30 minutos, continuou a apanhar bonés, mas ao menos não foi de forma tão vergonhosa. Banco!
Mangala – Afectado pela encefalopatia do seu colega, também tratou de arriar a giga! Fora de controlo, sem o mínimo de noção de como controlar um jogador chato e corpulento, mas sem grandes recursos técnicos. Foi mau, mas não tão mau como Maicon.
Defour – É de uma regularidade espantosa. Nem joga bem, nem mal. Nem sei se joga, sequer. Um passarinho no lance do penalti, tão tímido que foi. Lá fez de Fernando, versão pirata. Na verdade nem deu muita força ao meio campo. Nem deixou de dar. Defour, portanto. É como aquele adoçante que dizem que adoça, mas tem que se gastar um quilo para uma chávena de café.
Josué – Os tempos em Paços deixaram uma marca profunda na psique de Paulo Fonseca. Já foi (falso) extremo e já foi 8. Já fez duplo pivot e agora até de 6 já faz. Só rende a 10, mas é onde Paulo Fonseca parece recusar-se a utilizá-lo. Um dia será central, no zénite do desespero, imagino. É uma espécie de pedra filosofal para Paulo Fonseca. Acha que fez um trabalho de recuperação tão maravilhoso como o rapaz, que este rende em todo o lado, menos no seu sítio.
Carlos Eduardo – Gostei. Na desgraça que foi o meio campo, foi o único que ainda criou alguma coisa e que se oferecia ao jogo. O homem não joga sozinho e não faz mais porque tudo à sua volta é mais cáustico que o mar morto. Por fim, é ele quem tem que bater TODAS AS BOLAS PARADAS!!!
Varela – Apareceu para falhar um golo lá para a segunda parte. Comido por todos os laterais do Marítimo (e foram quatro). Ei-lo de volta à mediocridade. E Kelvin?
Quaresma – Primeiro, devia ser proibido de bater bolas paradas. Segundo, fez um jogo aos solavancos, como tem sido o seu timbre. Mais tempo parado que a brilhar, mas isso já é costume. Para ser o salvador da pátria terá que jogar muito, mas muito, mais do que tem feito.
Jackson – O melhor em campo. Sofreu medonhamente 30 minutos de seca extrema. Nem UMA bola lhe chegou. Uma! Na altura do “molhinho à Paulo Fonseca”, revolta-se e faz de extremo e de 10! Jogador a mais para equipa a menos. Jogador a muito mais para treinador a muito menos.
Quintero – Entrou bem, fez o que pôde e não tem culpa que já não existia meio campo para suportar o seu talento. Acabou abafado, claro. Ainda passou pelo flanco, porque o falso extremo ainda está muito na moda e vai sempre bem.
Ghilas – Está visto. Para o molhinho, perde espaço de explosão. Deveria arrancar da ala. Já nem vale a pena!
Licá – Não percebi. Nem era para perceber. É Paulo Fonseca e ponto final.
Ficha de Jogo:
Marítimo: Romain Salin, Márcio Rosário, Gegé, Patrick Bauer, João Diogo (Rúben Ferreira, 45), Artur (Sami, 74), Theo Weeks, Danilo Dias (João Luiz, 84), Danilo Pereira, Nuno Rocha, Derley
Suplentes: Welligton, Rúben Ferreira, Marakis, Fidélis, Sami, Luís Olim e João Luiz.
Treinador: Pedro Martins
FC Porto: Helton, Alex Sandro, Mangala, Maicon (Licá, 83), Danilo, Carlos Eduardo, Defour (Juan Quintero, 62), Josué, Jackson Martinez, Varela (Nabil Ghilas, 72), Ricardo Quaresma
Suplentes: Fabiano, Reyes, Herrera, Quintero, Kelvin, Licá e Ghilas.
Treinador: Paulo Fonseca
Árbitro: Nuno Almeida
Golos: Derley, aos 12 minutos, através da marcação de grande penalidade.
Por: Breogán
5 comentários:
+Paulo Fonseca faz tudo ao contrário. P*ta que o pariu!
Mais palavras para quê? - Subscrevo inteiramente o comentário da Tribuna.
Mais um análise que eu gostava de não concordar mas é integra fiel ao que eu vi... de referir que eu tenho gostado do Luis Castro, um homem trabalhador dedicado humilde e com um sentimento á Porto
Luís Castro não é melhor que Paulo Fonseca
Caros Portistas, a nossa única salvação neste momento, para não irmos ao fundo, se é que já não estamos, só tem um nome AVB. Apesar de tudo!!!!
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