Vivi em África momentos
Com’os que Karen escreveu
Conheço o sol e o breu
E o silêncio dos tempos…
Que nesse terra s’escuta
No compasso dos sons
Que proliferam, quais dons!
Por essa terra acústica
E nesse perfume audível
Que sufraguei em tais tempos
Tenh’os sentidos, tão lentos
Por lá me ter, invisível
E transportado à génese
Da criação em tal terra
Sei a razão que s’encerra
Ao africano, por tese
E nessa correlação
Entr’a terra e o homem
É a humildade, o “nomem”
Na sua justa lição!
Pois o homem é parte
Desse legado, do todo:
A terra, a água, o ar, o fogo!
Outro elemento, por arte!
Pois da sua recomposição
A soma afigura-se maior
Não send’o centro, o melhor
É a sua criação!
E nisso se projecta o ser
Em que africano se sente
E se genial, não mente:
É-o por outro poder!
E o homem feito pantera
Na sua força e agilidade
Espanta essa humanidade
Desde esta terra austera
É um africano europeu
Projectado no império!
E voa a outro hemisfério
Por um regime que não é seu!
Colonial e segregacionista
Permite-lhe a ele negro!
Ser o seu rosto coevo
Por sua amostra benquista!
E eleva-se a esse mundo
Como o símbolo nacional
Do benfiquismo mundial!
Um africano oriundo…
E vive a sua glória
Nessa maior humildade
O que pr’a ele é a verdade:
Sem o futebol qu’outra história?
E nessa sabedoria
Tenta o caminhar por justo
Pr’a novos mundos, a custo
Mas é tido em alforria!
É o símbolo do regime
Antes de ser da nação!
E aqui se toma a benção
Do que Salazar define!
E já depois dessa glória
Sugado na sua força
É largado nessa “roça”
Pr’o trabalho sem compulsória!
E esquecido pl’o povo
Na sua quasi-pobreza
É resgatado, com firmeza
Por um presidente novo
Que tem nisso o seu proveito
Na sua gestão ruinosa
Eusébio, é a sua obra
Não o Mantorras, desfeito…
E nisso há que enaltece-lo
Por ter libertado um herói
Porque a pátria se constrói
Nas memórias do apelo!
E hoje, depois de morto
Outro resgate s’opera
O regime ainda prospera
Num africano oposto!
E tem sede no panteão
Dos maiores heróis da pátria!
Sem lamúrias ou idolatria
Por sentimento e razão!
E sendo futebolista
Nunca tentou ser perfeito!
Nessa humildade, o defeito
Para o retrato d’artista!
Pois, o africano é fidedigno
Tem-se quase por transparente
E foi num retrato comovente
Que d’Eusébio, se fez um hino!
Por: Joker
Sem comentários:
Enviar um comentário