#LigadosCampeões #Lille #FCPorto #Brahimi #Casagrande
Dia D. Era hoje que tudo se decidia.
A equipa está demasiado mudada, com muito talento mas
muito jovem.
Por isso é uma confiança nervosa. Pressionados e
ansiosos.
Lopetegui decide bem. Olha para as deficiências que sabe
que a equipa tem e vai pela segurança. Se em Lille conseguimos tomar conta
disto jogando desta forma vamos pelo mesmo caminho. Jogar como se não
estivéssemos em casa, a céu aberto e com um tapete verde a sério. Entrar com um
espirito de 0-0.
Esquecer o golo de Herrera mas ter sempre presente
que era o Dia D.
Se a equipa ainda cambaleia dada a juventude vamos
fazer tudo para que ela se sinta cómoda e segura.
O Porto entra muito bem. Há 6 jogadores que inundam o
relvado tamanha a intensidade colocada. A organização é simples: Dois Centrais
posicionais, Um talento livre, um ponta de lança e os 6 da vida airada. Run
Forrest, Run. Que belo filme!!!
Não é o talento superior nem a tactica magistral que
fazem a diferença. É a disponibilidade para correr até cair, de dobrar o
próximo e ajudar o seu, a alegria da juventude e a frescura própria da vontade
que empurram o Lille lá para trás e descansam Fabiano.
Lopetegui conseguiu. A equipa não joga um grande
futebol mas tem um coração imenso e os jogadores comportam-se como se tivessem
assistido de cachecol ao pescoço às 18 presenças na Champions. Com uma energia
sofrega, uma vontade a roçar o portismo e com a organização dada por quem no
banco sua tanto quanto eles e parece sofrer tanto como nós.
Esta força não chega para criar oportunidades de
golo. O Porto chega com bola dentro da grande área mas depois faltam os
jogadores definidores.
Podemos dizer que aquelas bolas que Oliver e Herrera
tiveram na ala esquerda do ataque deveriam estar nos pés de Tello ou Quaresma.
É verdade que eu naquele momento preferiria ter um desses ali. Acontece que
para se chegar ali é preciso muito antes. O jogo é um processo que vive cada
vez menos de momentos.
Os jogadores que não entram dentro da dinâmica
colectiva da equipa ou são verdadeiros predestinados ou ser-lhe-ão dados
minutos proporcionais ao tipo de jogadores que são. De momentos.
Este entusiasmo, este coração e este pulmão não se
esgotam mas o jogo é demasiado longo para que possam dele tomar conta por
completo. A partir do minuto 25 o Porto chega menos mas continua com o mesmo
estado febril de tanto querer. Passamos a perder a bola com facilidade porque
depressa e bem há pouco quem. Sucedem-se as jogadas em que da recuperação à
perda passam menos de 10 segundos.
Aí nota-se a
falta de liderança que há em campo. No meio-campo. Não há quem perceba o que
está a acontecer e peça um time-out no decorrer da partida.
Quem obrigue a equipa a passar 1 minuto a trocar a
bola inutilmente estilo Paços de Ferreira mas que sinalize os companheiros e os
adversários que o mau momento já vai longe. Ninguém diz STOP.
Continua tudo alegremente a querer mostrar que o erro
da jogada anterior não se vai repetir.
São miúdos que não fazem filmes. Vivem o momento e
parece que já não viram disto antes.
Num desses lances Casemiro quase enterra Rúben Neves.
Passe na queima para uma zona proibida e as dificuldades fisicas e de reacção
do jovem talento vêm ao de cima. Gueye segue isolado para a baliza e surge o
momento da eliminatória.
A fase da inocência pueril tem o preço. Gueye segue
isolado em direcção a Fabiano e Maicon estica-se todo tentando com a perna
evitar o que parece certo.
Aí joga-se a eliminatória.
Se não chega, a probabilidade do Lille marcar e ficar
com grande ascendente psicológico é grande.
Se não chega e acerta na perna de Gueye tudo ficará
perto da derrocada. Seria penalti e expulsão.
Se chega, protege a inocência pueril da dura vida
real e dá-nos tempo para fazer filmes e descer à terra.
Maicon chega.
Chega e os putos olham uns para os outros assustados.
Não basta a alegria, a vontade, a energia vibrante e
a confiança contagiante. É preciso ter presente que a racionalidade não pode
ser posta de lado. O cérebro também joga e é bom que faça filmes.
Esse susto desliga a equipa da corrente. Se no inicio
do jogo esse ritmo frenético nos tinha ajudado a encostar o Lille lá atrás, a
partir dos 25 minutos essa correria histérica e vontade descontrolada tinha
conduzido a partida para o campo do Lille. Eles sabiam que só em manha nos
poderiam superar. A estratégia do Lille foi sempre a mesma.
Subir a montanha para a Champions na nossa roda e
esperar um desfalecimento ou harakiri.
O intervalo é um balsamo. A equipa precisava de parar
e de falar com o treinador. Há lideres dentro de campo mas jogam ou demasiado à
frente ou demasiado de lado para que a sua voz se possa ouvir na Casa de
Máquinas (plágio de Luis Freitas Lobo).
Esta equipa precisa tanto de treinador! Os Olivers,
os Herreras, os Casemiros, os Brahimis, os Rubens, os Alexs. Alguém que os
oriente e que os conduza. Precisam de alguém a mesma alegria de viver como eles
mas com mais experiência de vida e de futebol do que eles.
Ao contrário do normal vejo necessidade de muita
conversa não tactica. Para lá do fecha ali ou cobre acolá. É preciso muito
“Pensa” “Calma” “Tranquilo”...muita conversa da treta que acondicione as doses
industriais de energia que os miúdos têm lá dentro e que estão mortos por
gastar seja de que forma for.
Na 2ª parte o Lille muda. Tenta apertar um bocadinho
mais em cima.
Na 2ª parte o Porto muda. Mais brain, menos
histerismo.
A mudança do Lille tinha em mente o filme do final da
1ª parte. A mudança do Porto permitiu que esse guião fosse interrompido.
Aí e só aí aparece o talento. Um momento, um jogador
com momentos e que tenta encaixar no processo. Brahimi. Livre soberbo e Enyeama
entre o mal colocado e o escorregadio não chega nem cheira. O 1-0 é redentor.
Todo o stress acumulado liberta-se com aquele golo.
Tanto que a equipa volta a ligar a ficha do entusiasmo
descoordenado. Nos 5 minutos após o golo do Porto o Lille chega com perigo
varias vezes. Livre de Corchia, isolamento de Origi.
Este é mais um filme que esta juventude não tem na
memória. Não há jogos ganhos nem momentos em que se possa perder o foco e a
organização.
A situação é preocupante porque o Lille volta a
acreditar e o Porto apesar de mais responsável está também muito débil na zona
do meio-campo.
Oliver já não se desmultiplica, Herrera desgastado e
Rúben Neves de gatas. Casemiro está de pé mas o esforço retira-lhe capacidade
de reacção e clareza de passe.
Estes 4 jogadores estavam com mais de 6 kms ao
intervalo. É um ritmo alucinante e bem acima do normal nivel Champions. Quem
joga assim e quer jogar assim tem que ter um plantel com profundidade.
Lopetegui não conta – e bem – com Brahimi e Quintero
para a contabilidade dos maratonistas de 12 Kms que têm que varrer o relvado de
uma ponta à outra.
Lopetegui quer ter – compreensivelmente – 3 a 4
maratonistas em campo em jogos deste nível.
Lopetegui planeia – e bem – meter uma intensidade
fisica brutal a campo inteiro em jogos deste perfil.
Neste momento o Porto tem 5 médios e 1 deles é um
ex-juvenil que está a dar os primeiros passos em jogos de 90 minutos.
Os 5 têm sido chamados a jogo nestes 4 jogos
oficiais. Se mais tivéssemos não era Ricardo Pereira a entrar no lugar de
Casemiro.
Se é para estes 5 jogarem literalmente até cair
(Ruben, Casemiro, Herrera, Oliver e Evandro) é preciso pelo menos mais um
guerreiro maratonista sob pena de sofrermos no final dos jogos ou em semanas de
3 partidas.
Lopetegui faz o que todo o estádio já percebeu.
Rúben, pela primeira vez, parece um juvenil a jogar no meio de Homens. Juvenil
não por deficit de inteligência ou de qualidade mas por incapacidade de responder
fisicamente às exigências do jogo.
Entra Evandro e a equipa melhora num ápice. O Lille é
posto em sentido e são dados mais minutos de vida aos maratonistas que já
estavam nas lonas.
Naquela altura Evandro tem uma velocidade acima nas
pernas e na agilidade mental. Quando a bola para ele se dirige o pescoço já
tinha rodado em direcção a Brahimi e atalhado o trabalho do pé. Está a ir, está
a vir. Um toque.
Brahimi recebe e é hora do diferencial de talento
entre Porto e Lille. Combinação com Cha Cha que chuta com o pé que tem mais à
mão com tudo o que tem.
Estádio vem abaixo e é um misto de alegria e alivio.
Estamos onde pertencemos e fizemos o que era
obrigatório.
Temos um Porto com a fibra, a vontade e o caracter
dos velhos Portos.
Temos um Treinador Basco que ainda não sabemos bem
como responderá a nivel de competências e conhecimentos futebolisticos mas que
já percebemos que tem o carisma e a personalidade que são timbre do Porto de
sempre.
Está a fazer coisas por nós e connosco.
Está a fazer por nós o que devíamos ter feito o ano
passado e não fizemos por desleixo ou comodismo: Educar Quaresma, reeducar
público e ressalvar o colectivo como prioritário.
Está connosco no desafio de mostrar na Europa que por
alguma razão estamos no Pote 1 e de mostrar em Portugal que odiamos perder.
Estou a gostar do filme. Continua, por favor.
RUN FORREST! RUN!
Análises
Individuais
Fabiano: Fez o que o consagrado Enyeama não fez.
Colocou-se melhor no livre da 2ª parte e defendeu a bola de Corchia.
A equipa está a conseguir protegê-lo da insegurança
que teima em revelar aqui e ali como quando larga uma bola fácil após
cruzamento.
Danilo:
Tem espirito de Dragão sem juras de amor facebookianas e é capitão sem
braçadeira.
O Universo Portista não percebeu que está aqui um dos
poucos estrangeiros que cá chegados percebe tintim por tintim onde se meteu.
Ele percebe a importância que isto tem para nós, portistas. Ele percebe a
importância que ganhar tem para o Porto. Ele percebe a importância que o Porto
tem na Europa. Percebe qual o espirito do Dragão. Percebe o antes quebrar que
torcer.
A partir daí joga com todo esse conhecimento e vê-se
um brazuca a festejar um corte como se fosse um defesa grego do Otto Rehhagel.
A partir daí vemos um sprint à Usain Bolt aos 89
minutos para reposicionamento depois de uma falta tactica e com um jogo mais do
que ganho.
Consequência disso vemos um jogador de cócoras a
recuperar fôlego ao minuto 93 para conseguir festejar depois.
Se as pinceladas de génio de Brahimi merecem o preço
do bilhete a atitude à Porto de Danilo justifica o lugar anual.
Alex Sandro:
Estava no mesmo comprimento de onda de Lille. Poderoso defensivamente e no
vai-vem pela ala. Fez muitissimo bem em pedir para sair mesmo perto do
intervalo. Não vale a pena arriscar agravar a lesão ou enganar a equipa que
conta muito com ele.
Maicon:
Que me perdoe Brahimi. É MVP! Se penso que o momento da eliminatória é
aquele corte tenho que premiar quem foi fundamental.
Estou convencido que teríamos boas hipóteses de
passar se aquele livre vai para fora.
Se Maicon não intercepta ou faz falta naquele lance
teríamos boas hipóteses de ir para a Liga Europa.
Está em crescendo e a assumir-se como o patrão da
defesa e o Central n.º1. Fantástico.
Martins
Indi: Enquanto esteve a central exibiu-se dentro do padrão habitual.
Regularidade, consistência. Certinho e direitinho.
Quando é obrigado a jogar a defesa esquerdo marcou
demasiado ao homem. Seguia o seu opositor directo para onde fosse abrindo
crateras nas costas que nem sempre foram aproveitadas.
Casemiro:
Como joga e vive o jogo transmite a
ideia que está a gostar de está por cá. Nós também gostamos de o ter. Quer
bola, quer ser protagonista mas tem o espirito colectivo à Porto. Num desses
momentos quando vê Brahimi a fazer um sprint longo para dobrar Danilo bate
palmas ao companheiro e recompensa-o moralmente pelo esforço.
Foi o último Homem a cair. O médio que esteve num
padrão de intensidade mais linear.
Como aos seus parceiros de sector falta-lhe calo e
sobra-lhe imaturidade. O lance em que faz uma tocaia a Rúben Neves está nos
limites do imperdoável.
Tudo somado merecia uma grande salva de palmas na
substituição o que não foi possível porque muitos dos adeptos que foram ao
Dragão não sabem distinguir o Hino da Champions da música oficial do Big
Brother.
Rocket
Neves: Muita calma nesta hora.
Jogaste mal mas passamos.
Lopetegui tem tentado não desperdiçar um talento.
Lançar Pepas, Brunos Gamas, Nélsons Oliveiras qualquer 1 faz. Continuidade ao
mais alto nível é o que separa o Pai de um Padrasto afastado.
Lopetegui está a tentar que Rúben não desligue. Que
não saia deste filme de sonho que nos está a ser oferecido e que o desânimo não
desça à terra.
Hoje correu mal porque já não houve talento,
inteligência e maturidade que compensasse o desgaste e diferecial fisico de
quem está nisto há 2 dias.
Já é uma certeza no plantel.
Herrera: Até à exaustão. Esteve melhor do que em
Lille e foi obrigado a mais do que em Lille porque Oliver e Rúben desligaram os
motores na 2ª parte.
É um jogador com muito rasgo, muito pulmão mas que
terá sempre que ser considerado como um desequilibrador para ser importante na
equipa. Se quisermos ver nele um equilibrador teremos o Herrera de Paulo
Fonseca de volta e o do Mundial do Brasil a milhas.
Oliver:
É o simbolo do novo Porto. Talento, juventude, irreverência, alegria,
qualidade de passe, boa gestão da posse, inteligência e fôlego na pressão.
Ele quer ser feliz e procura o protagonismo. Foi o
grande impulsionador no Porto bom da primeira parte. Conseguiu fazê-lo partindo
da ala onde teria à priori menos condições para o fazer.
Na 2ª parte o motor gripa e o ritmo que tinha
oferecido não é possível de replicar. O talento de Brahimi e a ajuda de Evandro
ajudaram-no a esconder essa quebra.
Brahimi:
Tocou os violinos de Jaime Pacheco com a nota artistica de Jorge Jesus.
Mágico.
Olhei para a camisola dele e pensei várias vezes na
palavra “calcanhar”.
Aprendeu com o falhanço de Lille e foi aquilo que a
equipa precisava que fosse. Continua a ser o homem que vira o tornozelo à
Iniesta e que agora marca livres à Zidane e assiste à Michael Laudrup.
Fez isto tudo e ainda tocou os bombos de Jaime
Pacheco ganhando o respeito dos maratonistas cá de trás.
Jackson:
O nosso farol. Mais comprometido do que nunca com o talento e o instinto
matador de sempre. Este Homem vale mais do que se pensa. Marca muitos golos em
equipas que produzem pouco ou nada.
O golo é à João Pinto. Com a mesma crença das mãos
que não largavam a taça e com o pé que tinha mais à mão.
Reyes:
Engolimos em seco quando ele entrou. Sustemos a respiração quando a bola lhe
chega aos pés. Tememos o pior quando tem que intervir. Sentimos isto tudo
sabendo que ele é bom porque pensamos que ele nunca vai “crescer”.
Eu acredito que o Reyes vai “crescer”. A competência
revelada em jogos como o de hoje é o caminho para lá chegar. Esteve muito bem.
Evandro:
Desde a pré-época que tenho batido na tecla do crime lesa-patria ao se equacionar
se ele vai ou fica no plantel. Quem faz esse tipo de equações ou não percebe de
matemática ou não vê futebol.
A única dúvida relativamente ao Evandro é a de saber
se joga ou vai para o banco. É o mais cerebral dos médios, o mais equilibrador
e o que já viu mais filmes.
Entrou e a diferença foi da água para o vinho. Bate à
porta da titularidade.
Ricardo
PEREIRA: Resolvi escrever PEREIRA com letras maiusculas. Gosto de
jogadores que saibam distinguir o Hino da Champions da música oficial do Big
Brother.
Ficha do jogo:
FC Porto: Fabiano; Danilo, Maicon, Martins Indi, Alex
Sandro (Reyes 39'); Casemiro (Ricardo Pereira 85'); Rúben Neves (Evandro 61'), Herrera;
Brahimi, Jackson Martínez, Oliver
Lille: Enyeama; Béria, Kjaer, Rozehnal e Souaré; Balmont,
Mavuba e Gueye(Delaplace 76'); Corchia (Marcos
Lopes 71'), Roux (Ryan Mendes 64') e Origi
Golos: Brahimi
(48') Jackson (68')
Por: Walter Casagrande
7 comentários:
Excelente!...
Boa crónica, realçando os momentos bom sem esquecer os menos bons!
Agora urge vencer o Moreirense dando descanso a alguns jogadores e depois disso trabalhar bem na pausa do campeonato já com o plantel definido.
Temos condições para fazer uma grande época.
caríssimos,
não há como escapar a este facto, porventura incómodo para alguns: (pelo menos) 10.7M€ encaixados (2.1M€ pela participação no 'play-off' e 8.6M€ pela passagem à fase de grupos).
é certo que foi "no risco", e espera-se que "a graça" não se repita tão cedo, mas assim ainda soube melhor a vitória.
abr@ços
Miguel | Tomo II
Muito bem.
Podes explicar um pouco melhor a análise ao Ricardo Pereira? Fiquei na dúvida amigo.
Não há muito a dizer sobre o Ricardo Pereira porque esteve pouco tempo em campo e a sua acção é irrelevante para a história da partida.
O que pretendi louvar é o espirito que ele também encarna. Alguém que entra quando já nada conta mas que transborda felicidade por estar a viver aquele momento com a sua equipa.
O espirito colectivo em que o resultado do NÓS é mais relevante do que as expectativas do EU.
O PEREIRA com letra grande é um elogio à atitude sempre grupal.
Excelente crónica ao jogo e á análise individual, parabéns.
Escrever com esta qualidade e facilidade é para muito poucos.
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