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Qualquer conversa sobre a história do basketball em
Portugal tem, necessariamente, de passar por um nome incontornável: Dale Dover.
Pouco importa se terá sido o melhor jogador que passou pelos campos nacionais;
uns não deixarão de apontar Mario Ellie e os portistas ainda poderão indicar
Henry Crawford ou, mais recentemente, Jared Miller. Porém, nenhum teve o
impacto de Dale Dover no desporto nacional.
Embora surgindo em 1926, por iniciativa de António
Sanches, Agostinho Marta e Daniel Barbosa, o basketball no FCP nunca atingiu um
patamar de destaque. Enquanto o andebol colecionava títulos e outras
modalidades, como o rugby ou o polo aquático também se sagravam campeãs, os
primeiros títulos nacionais do basket apenas foram obtidos no início da década
de 50. Decorreram quase 20 anos até que o FCP conquistasse novo título. E este
foi um título com a assinatura de Dale Dover.
O TÍTULO
Para perceber a importância de Dale Dover no basketball
português será suficiente escutar os relatos de algumas pessoas – portistas ou
não – que tenham acompanhado a modalidade no princípio da década de 70.
O orgulho com que é referido “Eu vi o Dover jogar!” é
qualquer coisa que perdurará no tempo e tenderá, até, a confundir a realidade
com o mito. Os jogos do FCP esgotavam constantemente em qualquer parte do país,
transformando Dale “Flash” Dover num Globetrotter nacional.
Pelo FCP, para lá do título nacional, ele terá sido ele o
grande dinamizador da construção do pavilhão das Antas – inaugurado nessa
altura – tal era o grau de interesse que a equipa de basketball suscitava nos
sócios portistas. Apenas ele fazia com que o Palácio de Cristal fosse pequeno
para a multidão que acorria aos grandes jogos.
Desportivamente, para além do título de 1972, ficam os
relatos que muitas vezes se confundem com mitos, dificilmente verificáveis,
como a história de que terá marcado 119 pontos num jogo. Do que não restam dúvidas
é que o FCP foi campeão, derrotando a equipa campeã e que haveria de se sagrar
campeã no ano seguinte – Sporting de Lourenço Marques. E também não restam
dúvidas de que este terá sido, provavelmente, o título de basketball mais
festejado pelos portistas e rivalizando apenas, talvez, com o título de andebol
dos anos 90 ou a primeira Taça dos Campeões Europeus de hóquei em patins. Na
época seguinte Dale Dover haveria de continuar no Porto, marcando mesmo 45
pontos em 68 do FCP nas competições europeias. Finalmente, haveria de se tornar
treinador, por exemplo, liderando o FCP numa eliminatória europeia contra o
Barcelona.
SERIA MESMO BOM?
Dale Dover era um base com 1,88. Contam os relatos de
quem o viu jogar que a sua capacidade de impulsão era inigualável em Portugal,
afundando com grande facilidade. A sua velocidade de deslocação era,
igualmente, ímpar em Portugal e foi a origem da alcunha “Flash”.
Dale Dover era um show-man antes do show-time ter chegado
ao basketball.
Mas, algo que certamente percorre a mente dos mais novos
passa pelo confronto entre a realidade e o mito de Dale Dover. A passagem de
Dale Dover por Portugal está devidamente documentada na memória de todos os que
o viram jogar. Porém, seria Dale Dover assim tão bom? Seria um jogador de NBA? E,
qual foi o percurso dele antes e depois do FCP?
Dale Dover foi mais um miúdo pobre de New York, filho de
um taxista local e crescendo nos bairros de Harlem e South Bronx. No Evander
Child High School, Dale era a estrela da equipa de basket local, mas a aptidão
para o desporto era já combinada com uma inteligência invulgar, concluindo o
liceu com uma média de 89,4, em 1967.
Diversas universidades prestigiadas o procuraram:
Harvard, Columbia ou Cornell estavam entre elas. Em plena década de 60, um
jovem afro-americano com boas médias e aptidão para o desporto, poderia
escolher a universidade! No final, Dale optou por Harvard, que não é,
certamente, a melhor opção para entrar na NBA! Ao contrário do que se tem
passado recentemente, os Crimsons nunca tinham vencido a Ivy League (a primeira
vitória foi em 2011) e apenas três jogadores dos Crimsons chegaram à NBA: dois
na década de 50 e, mais recentemente, Jeremy Lin.
De 1967 a 1971, a carreira de Dale Dover em Harvard foi
marcante. No primeiro ano em Harvard, bateu o recorde de pontos num jogo: 38
pontos em 12 de Julho, em Springfield, marcando 13 lançamentos de campo e 12
lances livres, numa época sem triplos (entretanto, o recorde foi batido,
encontrando-se a marca de Dale Dover em 5º lugar). Nos dois anos seguintes,
Dale Dover foi vice capitão da equipa e melhor marcador, com médias de 16,9 e
18,6 pontos.
Não obstante, em todas estas épocas, os resultados eram
pobres, com uma percentagem de vitórias próxima dos 30%. Contudo, no último ano
de Dover, os resultados alteraram-se e Harvard conseguiu o segundo lugar da Ivy
League, com Dover a capitanear a equipa. Em todos os anos, Dale Dover foi
objeto de menção honrosa da All-Ivy League, embora nunca conseguindo ser eleito
para qualquer das melhores equipas.
Ao longo da sua carreira universitária disputou 75 jogos,
conseguindo 1.201 pontos, com uma média de 16 pontos por jogo, o que o coloca,
ainda hoje, entre o Top-15 dos Harvard Crimson em pontos por jogo.
NBA POR UM MÊS
Numa época em que o draft era bastante diferente do
formato atual, Dale Dover foi escolhido pelos prestigiados Boston Celtics, na
10ª ronda do draft: a sua posição global foi 161! Dale foi igualmente um dos 10
atletas selecionados anualmente pelos Harlem Globetrotters para prestar provas.
Uma vez que os treinos eram na mesma altura, Dale Dover
teve de escolher e escolheu os Boston Celtics.
Durante um mês, Dale Dover foi
jogador dos Boston Celtics.
Apesar de ser considerado um excelente defensor, com um
forte espírito competitivo, Dover acabou dispensado numa equipa que, na
realidade, não tinha quaisquer vagas.
Com um curso de línguas em Harvard e sem opções no
basket, Dale Dover tornou-se parte da História do FCP.
DEPOIS DO FCP
Em 1974 ingressou no Departamento de Estado dos USA,
sendo nomeado vice-cônsul na Dinamarca entre 1975 e 1977. Na Dinamarca jogou
pelo Sisu Copenhaga, sagrando-se campeão e vencedor da Taça da Dinamarca em
dois anos consecutivos, tendo também treinado a seleção da Dinamarca.
Em 1978 foi nomeado cônsul americano em Israel até 1980,
onde continuou a jogar basketball. Sem receber, Dale representou o Hapoel Yagur
– onde foi o primeiro não judeu – apenas nas competições europeias, pois não
eram permitidos estrangeiros. Mesmo perto dos 30 anos, continuava com uma média
próxima dos 17 pontos por jogo, sendo o grande responsável pela melhor carreira
europeia – na Taça Korac – do Hapoel Yagur (fase de grupos).
DEPOIS DO BASKETBALL
Depois de Israel, Dover regressou a Harvard. Em Harvard,
obteve a segunda licenciatura – desta vez, em Direito. Continuou ligado ao
basketball, treinando uma equipa feminina e jogando em equipas de veteranos.
Após a conclusão da licenciatura, estabeleceu-se em
Washington, onde exerceria a advocacia.
Em 1990, haveria de se tornar, por um curto período de
tempo, o primeiro presidente afro-americano da Câmara de Falls Church – uma
pequena cidade de 10.000 habitantes, no estado da Virginia.
Dale Dover era um jogador de basketball diferente, sendo
um bom exemplo o seu conhecimento de diversas línguas, como o Português, o
Francês, o Dinamarquês, o Hebraico, o Chinês ou o Swahili ou as suas duas
licenciaturas em Harvard.
É bem verdade que os tempos eram outros (se calhar não
tão diferentes face ao atual panorama do basketball nacional), mas é indesmentível que a sua curta passagem
pelo FCP marcou uma era e mudou o basketball português e, 40 anos depois ainda
se ouve com orgulho “Eu vi jogar o Dale Dover”!
Por: Jorge
3 comentários:
Sempre a aprender!
"Eu vi o Dover jogar". Lembro um Porto-Benfica, no Palácio de Cristal,e um jogo contra o BPM (Banco Pinto de Magalhães), em que os adversários se sentaram, desesperados por não conseguirem roubar a bola. Quanto ao record é verdade. Penso que foi num jogo contra o Nun'Álvares de Campanhã. O anterior record de 106 pts pertencia ao Abílio Serafim -"Abílio Centenário" do Vasco da Gama
...um dia não havia treinador por algum motivo e Dover deu o treino e chamou-me a mim para explicar uma jogada, tinha 11 ou 12 anos, é claro que nunca mais esqueci esse momento (nem a jogada)...
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