Reininho diz que as dunas são
como divãs. Se são uma espécie de cama, então são um bom sítio para tirar um
soninho.
O FC Porto é um pouco isto, um
conjunto de dunas, que se movem por processos eólicos lentos e que criam uma
monotonia paisagística onde o sono se sente em casa.
Já não sei bem mais o que
escrever. Talvez me falte vontade ou força anímica. Os problemas são sempre os
mesmos, embora este jogo trouxesse um boa novidade, mas já lá iremos. Esta
equipa arrasta-se em campo, ganha vantagem e adormece e se o Arouca não fosse
Arouca, sei lá o que poderia acontecer.
A única boa novidade que trouxe
este jogo foi Herrera. Finalmente, um médio com potencial para preencher a
posição 8. Tudo o resto foi quase só sofrimento. O jogo flanqueado roça o medonho
e se não há soluções, também não há arte para as inventar. É um conjunto de
dunas, estéreis, monótonas e sem velocidade de progressão. Insiste-se em
esconder o único jogador com criatividade plena no banco, essa duna silenciosa
que assiste ao jogo. O meio campo fica a milhas de Jackson e lá trás a festa
continua. Ora os centrais, ora Helton, ora os laterais, ora em duetos. Aí
também se nota a consistência de areia ao embate dos adversários contrários.
Ganhamos bem. É fácil perceber
que por muitas que sejam as nossas deficiências, sempre era um estreante Arouca
que tínhamos pela frente.
Entramos bem no jogo, e foi isso
que nos valeu. Alguns momentos de siroco, esse vente quente do Saara, para
remexer algumas dunas. E esse siroco incorporou em Alex Sandro,q eu numa jogada
individual, causa o desequilíbrio para Jackson facturar.
Posto isto, o deserto. Duna, mais
duna e outra duna. Chuto para a frente e só Herrera, o estreante, ia tentando
levar a bola em progressão. Cheguei a ter a impressão que o nosso momento
ofensivo era Herrera e Jackson a tentar que este levasse a carta a Garcia.
Lá chegou o intervalo.
Felizmente.
A segunda parte é a mesmíssima
coisa. Duna e mais duna. Paulo Fonseca liberta-se do seu torpor e troca Varela
por Licá. Adivinham? Pois. Duna e mais duna. Tira e põe e é só areia por todo
lado. Uma secura imensa de ideia. Um calor tórrido que queima qualquer neurónio
pensante. O golo é uma miragem. Jackson e Herrera um oásis. Os camelos? Também
andavam por lá, mas não os vou chamar pelos nomes. Só um, um manhoso de apito
que inventou a bom inventar. Alucinações do deserto, só pode.
Pedro Emanuel, na pobreza
franciscana de talento do Arouca, lá tentava mexer, mas até para si a sorte é
tão escassa como a água no deserto. Ceballos que chateava o FC Porto sai
lesionado e o Arouca perde o pouco veneno que tem.
É então que, revoltado, Otamendi
decidiu passar para extremo e fazer aquilo que os cactos que habitam aquela
zona se recusavam a fazer. Velocidade, encara o adversário, drible e passe
preciso, como dizia o mestre Robson. Golo!
Nem sei se merecíamos esta água
para molhar os beiços. Mas neste deserto de futebol, ninguém desdenha essas
preciosas moléculas com hidrogénio e oxigénio. Eu não! Lucho já havia saído e
entrara Ricardo. O jogo flanqueado não melhorou, embora no centro Josué
encontrara a sua praia de areia.
E quando todos nós, após tantas
dunas vencidas, finalmente avistávamos a saída do deserto, eis que o Arouca
levanta uma tempestade de areia e reduz para 1-2.
Segundo acordar de Paulo Fonseca
do seu torpor. Pudera, os lábios já ressequidos e gretados e com uma
desidratação severa e contínua de futebol, restava tentar aplacar tão perigoso
adversário. E num rasgo iluminado, como raio a rasgar os céus estéreis de
nuvens e ideias, decide colocar o seu ás de trunfo em campo. Ao minuto 90, mas
a tempo do milagre.
Quintero entra, sofre falta,
levanta-se, mete-a na baliza e celebra o 1-3. Abrem-se os céus e cai um dilúvio
de talento (água) no deserto. Daquelas chuvadas só ao alcance dos predestinados.
E ainda há quem goste que não
chova?! Pode lá uma pessoa entender isto. Os cactos abrem em flor, e o deserto
amarelo ganha tons de verde. Mesmo com uma chuvada tardia a ameaçar seca
prolongada.
Duas perguntas a Paulo Fonseca:
1 Para
quando Quintero a 10?
2 E
Ghilas? Tenho a certeza que se move mais que um cacto!
Até lá, não perder o que de bom
Herrera trouxe.
Confesso, acho muito difícil
transformar tanta duna em vales férteis. É preciso muita água e muito rasgo
luminoso no céu pensante.
Assim vamos.
Análises Individuais:
Helton – Já não bastava a triste
figura frente ao Atlético, decide voltar armar-se em Areias. Ninguém o critica
se chutar para a bancada de quando em vez. Não quero que mude a sua forma de
estar, só não quero é que abuse.
Danilo – Dificuldades a mais
frente a Ceballos. Curto no ataque e pouco sólido a defender. Sofreu com a
nulidade dos extremos colocados à sua frente. Ninguém o ajudou, sobretudo
Varela.
Alex Sandro – Percebeu que o
flanco só poderia contar com ele. Não foi implacável a defender, mas subiu a
preceito. É a ele que se deve o primeiro golo, num rasgo individual.
Otamendi – Um ou outro deslize,
mas foi o pronto-socorro da defesa. Fartou-se da carência ofensiva nos flancos
e deu uma aula para muito extremo de azul e branco aprender.
Mangala – Continua a errar ao
cubo. O que aprendeu do jogo passado? Nada, ao que parece. Muito perdido na
marcação, tenta compensar, mas chega quase sempre atrasado.
Fernando – Controlou bem a sua
zona de acção. Empurrou o meio campo, mas faltou quem o esticasse do outro
lado. Ainda está a entrosar com Herrera.
Herrera – Uma lufada de ar
fresco. Falta-lhe ainda muitas coisas. Falta-lhe ser constante no jogo,
falta-lhe perceber os automatismos da equipa e entrosamento com os colegas de
sector. Mas trouxe dinâmica, transporte de bola e velocidade na circulação.
Ganhamos um oito!
Lucho – Só mais uma vez: esta não
é a sua posição. Esforça-se ao máximo, mas não tem futebol para ser a muleta
criativa de Jackson.
Josué – O seu jogo divide-se em
duas fases. Primeiro, a falso extremo, fugia sempre para o centro. No inicio,
ainda deu alguma criatividade. Mas depois foi desvanecendo. A tal ponto, que se
volta a perder em quezílias estéreis. Um dia, ainda paga a factura! Ele e nós.
Foi descendo de produção até ser quase inócuo. Depois, passa para a zona
central, assumindo a posição 10. Melhora a olhos vistos, mas não o suficiente
para ser determinante no jogo.
Varela – Dois lances se salvam de
um subrendimento inaceitável. Uma vergonha!
Jackson – O melhor em campo. Tudo
estéril à sua volta. Chegaram-lhe duas bolas. Dois golos. Agradecido e que
continue a encontrar a redes. A nossa salvação.
Licá – Sai Varela e entra Licá.
Tudo na mesma. Mau demais!
Ricardo – Foi o melhor dos
extremos, mas curto. É um menino. Faz 20 anos e deveria entrar para crescer,
com tudo a rolar. Não para salvar!
Quintero – Mais uma vez demonstra
o óbvio. E agora? Volta para o banco?
FICHA DE JOGO
Arouca-FC Porto, 1-3
Liga, 7.ª jornada
6 de Outubro de 2013
Estádio Municipal de Arouca
Árbitro: Vasco Santos (Porto)
Assistentes: Nuno Pereira e Alexandre Freitas
AROUCA: Cássio; Luís Dias, Mika, Diego e Ivan Bálliu; Nuno Coelho, Bruno Amaro (cap.) e David Simão; Ceballos, Pintassilgo e Roberto
Substituições: Luís Dias por Paulo Sérgio (55m), Ceballos por Serginho (67m) e David Simão por Romário (82m)
Não utilizados: Igor, Miguel Oliveira, Soares e André Claro
Treinador: Pedro Emanuel
FC PORTO: Helton; Danilo, Otamendi, Mangala e Alex Sandro; Fernando, Herrera e Lucho (cap.); Varela, Josué e Jackson Martínez
Substituições: Varela por Licá (53m), Lucho por Ricardo (69m) e Quintero por Josué (90m+1)
Não utilizados: Fabiano, Maicon, Defour e Ghilas
Treinador: Paulo Fonseca
Ao intervalo: 0-1
Marcadores: Jackson Martínez (12m e 74m), Pintassilgo (90m) e Quintero (90m+2)
Disciplina: Cartão amarelo a Lucho (34m), Mangala (50m), Paulo Sérgio (56m), Fernando (79m) e Bruno Amaro (83m)
Análise dos intervenientes:
Paulo Fonseca
“Entrámos determinados e marcámos cedo, mas de forma merecida. O Arouca privilegia o jogo directo e isso faz com que haja muitos duelos, muitas faltas. Foi difícil para nós, mas tivemos sempre o controlo do jogo, começámos a sair de forma mais incisiva para o ataque e ganhámos de forma merecida, com outra determinação na segunda parte. Penso que o golo do Arouca foi injusto para a minha equipa. Foi um golo de bola parada, mas num contexto diferente dos outros. Pela forma acertada como defendemos, não merecíamos sofrer um golo aqui.”
“É verdade que a determinada altura o jogo pediu maior agressividade nos duelos individuais, nas ‘segundas’ bolas, e nem sempre conseguimos ser mais fortes nesse capítulo. Foi mais difícil sair para o ataque nesse momento. Não foi um jogo fácil, foi muito físico e teve muitos duelos, num terreno pesado. Tivemos um jogo de grande intensidade com o Atlético de Madrid, na terça-feira, e isso pesou numa certa fase do jogo, em que não conseguimos chegar com tanta frequência à baliza adversária.”
“Estou satisfeito com o Herrera e com a segunda parte de todos, mas o Herrera esteve num plano muito bom, assim como a maioria dos jogadores que estiveram em campo.”
Herrera
“Sabíamos que era um jogo complicado e tínhamos de entrar com tudo. Merecemos a vitória e temos de continuar a trabalhar. Penso que a equipa fisicamente está bem. Para mim o tempo que passei na equipa B foi importante, sobretudo por causa do ritmo que ganhei. Tinha de estar ao ritmo da equipa principal e do futebol na Europa, e os jogos com a equipa B ajudaram-me bastante. Depois, quando aparece a oportunidade, temos de aproveitar.”
Por: Breogán
3 comentários:
Como habitual cronica de qualidade.
Breogan, Tozé apesar de não ser extremo, dava muito jeito, nessa posição na equipa A ?
E o que acha de Ricardo? É o melhor extremo do nosso plantel?
Sendo Licá e Varela jogadores com as limitações que se conhecem, ainda por cima neste momento não parecem estar na melhor forma, com Josué que a extremo pouco rende nem dignifica a posição porque não tem características para tal, porque não experimentar Ghilas de início a extremo, Paulo Fonseca? Não é extremo nem nunca o será, tal como o Josué, mas tenho a certeza que faria boa figura e de certo marcaria golos. Acho Ghilas um bom jogador, na pré-época esteve bem e por isso não percebo porque não o colocam mais tempo em campo.
O Ricardo é um jogador para o futuro. Olho para as suas características e penso que estará ali um lateral direito com muito potencial. Se é o nosso melhor extremo. Alguém que consiga encarar um defesa, esboçar um drible...é logo o nosso melhor extremo.
Quanto ao Tozé, á vai sendo tempo de ser chamado e utilizado na equipa A. Tal como o Pedro Moreira. Já vai sendo hora.
Finalmente, o Ghilas. Não é extremo, mas é um jogador com uma diagonal muito poderosa. Tem arranque, tem drible, não tem medo de partir para cima. Da mesma forma que o Otamendi deixou claro que um jogador que não tenha receio de arriscar, corre o risco de ser o nosso melhor extremo, também estou certo que, não sendo o habitat natural do Ghilas, já teria feito muita mais mossa que as actuais soluções idealizadas por Paulo Fonseca.
Enviar um comentário