quarta-feira, 16 de outubro de 2013

3 Passos para trás


O Porto mudou. Quis ou foi obrigado a mudar? Não interessa. Mudou.






Chega Paulo Fonseca. Um treinador que só fez bons trabalhos. Pode não ter subido o Desportivo das Aves mas quer no Pinhalnovense, quer no Aves e, acima de tudo, no Paços de Ferreira demonstrou competência e conseguiu resultados.







A essa realidade somava-se uma outra: grande parte dos jogadores que privaram com o treinador revelam facetas do Homem que nos faz crer ser alguém especialmente dotado para gerir recursos Humanos chamem-se eles André Martins ou Josué.

O que é que 95% de treinadores de clubes pequenos pensam que ocorreria se um dia chegassem a um grande?

De Manuel Cajuda a José Mota, de Álvaro Magalhães a Carlos Brito e de Marco Silva a Paulo Fonseca julgo que todos pensam o mesmo.

“Quando tiver uma oportunidade faço tão bem ou melhor que os que lá estão porque sou competente e percebo muito disto. Com ovos serei o rei das omoletes!”

Quem não se lembra do que Jorge Jesus dizia num Real Madrid – Belenenses para o Troféu Teresa Herrera após uma derrota tangencial? “Comigo do outro lado virava aos 5 e acabava aos 10!” Ou logo após a chegada à Luz? “Comigo a equipa vai jogar o dobro.”

Jesus, por soberba e ingenuidade, verbaliza o que 95% desses treinadores pensam mas guardam por não terem, ao contrário de Jesus, chumbado logo na 1ª classe do Curso Politicamente Correcto.

Paulo Fonseca também pensará assim embora, ao contrário de Cajudas&Ca., tenha sido dos raros casos que conseguiu ter muito sucesso num clube pequeno.

Tanto, que se pode dizer que desde Pedroto até aos nossos dias nenhum treinador Português conseguiu entrar no banco do FCP conseguindo uma melhor classificação no campeonato do que Paulo Fonseca. Por isso, é legítimo que pense:

“Se com pouco faço muito com muito farei muitíssimo!”

Chegado o Homem do “muito” o céu nublado que caracterizava o período Vitor Pereira desaparece. 
Bom ambiente e Estado de Graça. Benfica a cambalear vindo do coma de 2012/13. 
Tudo a ajudar.

Para além da crença nas suas capacidades importa saber qual o método. Como é que entra.

Se Paulo Fonseca chegasse à Luz utilizaria o 4-3-3 com duplo pivot habitual no Paços?
Se chegasse a Barcelona faria o mesmo?

O que quero aqui perceber é se quem entra ignora o que está para trás porque isso vicia o que de bom se quer fazer ou se antes da acção propriamente dita há um processo avaliativo do que vem de trás.

Jesualdo fez terraplanagem de Co Adriaanse. Foi campeão.

André Villas Boas incorporou a era Jesualdo no caminho de melhoria. Foi campeão.

Nesta equação entram 2 variáveis: a personalidade mais ou menos egocêntrica de quem entra e se essa personalidade reconhece competência no antecessor.

AVB é mais egocêntrico do que Jesualdo Ferreira e não mudou muito.

O futebol de CO era “irresponsável” no cérebro de Jesualdo e, por essa razão, foi obrigado a mudar logo de modelo.

A partir daqui cabe a quem escreve ou quem lê encaixar Paulo Fonseca num desses rótulos.

1) Muito ou pouco egocêntrico?
2) O legado futebolístico de Vítor Pereira é empecilho ou instrumento?
3) Incorpora ou rompe? 

Nesta altura as minhas respostas às 3 perguntas são contraditórias. Não batem certo.

É alguém com ambição mas parece doseá-la com doses equilibradas de sensatez e bom senso. Não se julga como um Manuel Cajuda, um Manuel José, um Jorge Jesus ou um José Mourinho.

Faz parte duma nova geração de treinadores com os pés bem assentes no chão que não confunde ambição com egocentrismo. Médio.

Vi e ouvi entrevistas do Paulo Fonseca pré-Porto. Trata-se de alguém que reconhecia que o trabalho do Vítor Pereira estava a dar resultados. Acredito na genuinidade do que vi e ouvi mesmo sabendo que filosoficamente Paulo Fonseca estava mais próximo do futebol de Jorge Jesus. Instrumento. 

Vi com atenção os jogos do Porto 2013/14. Rompe.

Se não é empecilho porque é que rompe?
Se não é egocêntrico nem desaproveita o legado porque é que rompe?
Será mais egocêntrico do que se pensa?
Achará que os pontos fortes do futebol de Vítor Pereira só eram fortes porque os que eram fracos (criatividade ofensiva) os valorizavam por contraste?
Será que é empecilho ou indiferente?
Se não é empecilho porque é que o posicionamento do outrora ponto forte mudou todo?

Fernando de 2013/14 tem um lugar diferente no esquema face ao Fernando de 2012/13.
Defour de 2013/14 tem um lugar diferente no esquema face ao Moutinho de 2012/13.
Lucho de 2013/14 tem um lugar diferente no esquema face ao Fernando de 2012/13.

Este desmembramento é porque a organização ofensiva é que tem que ser trabalhada dado que a defensiva, segundo Paulo Fonseca, é mais fácil de atingir?

Lembro que a que ganha campeonatos é essa, caro Paulo.

Deixei 7 perguntas para as quais me debato com a resposta.

Vou lançar mais uma arriscando responder.

Porque é que o Porto rompe na maioria das 2ªs partes?

Rompe porque não incorpora. Rompe porque rompe .

Rompe porque Paulo Fonseca incute na equipa o espírito do legado Vítor Pereira ao nível da intensidade na transição defensiva mas depois isso é feito de forma mais individual do que colectiva.

Em 2012/13 a disposição dos jogadores do Porto no terreno de jogo era em rede. Centrais próximos de Fernando, Fernando próximo dos médios, James próximo dos médios, laterais próximos de extremos e de médios. Todos próximos de todos.

Só Jackson, principalmente na recta final, estava mais distante.

A intensidade era grande mas havia pelotão. O esforço dum ciclista que faz 100 Km sozinho a 40 km/h é muito maior da de um outro que faça 150 Km a 42 km/h enquadrado num pelotão.

Hoje a teia rompeu-se.

Fernando não está próximo dos médios. Está colado ao outro médio. Defour.
Não há mais médios para além destes. Há Josué que tem tentado disfarçar a falta que o James de 2012 faz e há Quintero que tem disfarçado a falta de criatividade que a equipa tem desde Hulk.

Lucho deixa de ser médio. 
Lucho também não parece ser 10. 
Lucho é uma espécie de 9,5 quando o adversário tem que sair a jogar para pressionar como um doido a saída de bola.
O forcado que se vai colar aos cornos do Touro quando os parceiros da ajuda estão a quilómetros. Depois de levar 4 marradas faz a travessia para a ilha próxima para ajudar os siameses médios. Quando e se chega a tempo é médio n.º8 . 
Se, no meio da travessia, o Polvo da ilha já tratou do assunto não lhe atira uma bóia em formato de teia. Volta a colar-se ao cafetero Jackson. Ataca a bola atrás e à frente quando a equipa não a tem e foge da bola quando a equipa a tem longe de Jackson.


Voluntariamente longe do miolo quando o adversário tenta sair a jogar para maximizar a pressão.
Involuntariamente no miolo quando falha a 1ª vaga de pressão ou a transição defensiva da equipa. Tem que lá ir ajudar. Não está mas tem que ir. 
Voluntariamente longe do miolo quando a equipa sai a jogar para se posicionar junto de Jackson para o último passe ou para uma tabela.

Por isso é que contra o Atlético a estatística de passes completos nos diz:
Fernando - 54 ; Defour - 62 ; Lucho - 21
Lucho deixa de estar no jogo.

Lucho é o forcado ciclista que jogo após jogo tenta unir as ilhas. Faz fugas de 100 km sozinho para depois ouvir comentadores sem paciência para fugir do cliché.

Tem mais de 30 anos e não rende a partir do minuto 70? Não tem pernas.

Acabou de chegar, é novo e não rende a partir do minuto 70? Está numa fase de adaptação.
Se o Bolat fizesse o que o Rui Patrício fez contra Israel era sinal que o período de adaptação estava em vigor. Caso fosse o Helton o problema seria o da (falta) agilidade fruto da idade.
Está no manual do comentário. Simples.

Fernando é outro dos ciclistas. Aquele que se resguardava no pelotão poupando-se para as montanhas de 1ª categoria. Agora dizem-lhe que tem que puxar a carroça para chegar à ilha de Lucho.

Sprinta, vai para a cabeça do pelotão, entra em fugas, distribui água. É assim que tem que fazer para ser um ciclista completo. Ser só bom onde é preciso não chega. 

Não há um esforço colectivo conjugado. O passe curto entre os médios e a zona de Lucho/Jackson é uma impossibilidade. 

Fernando rouba a bola. Ou faz um passe microcurto para o siamês ou faz um passe curto para Danilo, Alex. Se renega essas opções ou caminha com a bola uns 20 metros ou faz um passe médio/longo para Lucho/Jackson.

Este ataque organizado de Paulo Fonseca, sem teia, só pode partir da ala. Foi assim na 1ª parte contra o Atlético.

A defesa, num jogo de futebol, é a montanha de 1ª categoria que coincide com a meta.

Como os jogadores do Porto quando entram intensos (o jogo de Viena não entra para a contabilidade) fazem fugas, sprintam e vão para a cabeça do pelotão, às deficiências organizativas do eixo central de ilhas (Ilha Otaman, Ilha Siamesa, Ilha de Lucho) soma-se a natural incapacidade física quando o final da etapa se avizinha.


Com o Marítimo havia folga depois da 1ª parte. Gil Vicente, Estoril, Guimarães e Atlético de Madrid puseram a nu as deficiências organizacionais da nova transição defensiva das 3 ilhas sem teia e a incapacidade física de termos forcados ciclistas que vão a todas e correm a tudo mesmo sem ter uma rede de apoio.

Os problemas que o Porto de Vítor Pereira tinha estão lá todos.
Consegui passar uma crónica sem falar em nenhum deles. Porque hoje, infelizmente, parecem irrelevantes.

Vejo este anúncio e penso no Porto:

http://www.youtube.com/watch?v=5vGCtuzgOpc

Imagino Paulo Fonseca no papel de fada. Tenho 3 desejos:
Para o Lucho: “3 Passos para trás.”
Para o Defour: “3 Passos para a frente.”
Para o Paulo Fonseca: “3 Passos para trás.”
Antes de continuar a conduzir o Mercedes é bom que Paulo Fonseca ande 3 passos para trás.
Não a duvidar dele próprio mas a avaliar o que está a falhar na transição de pasta antes que os resultados o deixem de proteger.
Que ande 3 meses para trás e faça uma auto-avaliação: 
O que é que mudei? O que esperava com a mudança? O que estou a ver?
Que volte a formar um pelotão. Depois de garantido o pelotão será mais fácil fazer melhor do que tínhamos. Um passo de cada vez.
Sem pelotão, sem transição e sem avaliação temo que a punchline do anúncio se aplique com ele a ter que dar 3 passos para o lado para deixar passar o Mercedes.


Por: Walter Casagrande



6 comentários:

Anónimo disse...

Bonita crónica

Anónimo disse...

Enorme ego.


Chega ao Porto e a 1ª coisa que faz é:
Trazer Carlos Eduardo e Josué, os que tínhamos não chegavam?
Mudar de 433 para 4231, mudança mais infeliz.

Eu se assumo o cargo de alguém, não vou reinventar a roda, vou tentar saber porque fui escolhido e o que o anterior a mim fez de bom e mau. Não é difícil.

Anónimo disse...

Excelente e perspicaz artigo, parabéns e obrigado pelo mesmo.

Abraço

Castle

Anónimo disse...

Só o Josué é que veio do passos e não quer dizer que tenha sido o Fonseca a pedi-lo. Foi um regresso ao FC Porto depois de dar nas vistas no Paços, lembro até que o Sporting queria o gajo.

O Carlos Eduardo foi comprado como foram o Licá, o Ghilas, o Ricardo, o Tiago Rodrigues, etc alguns já estavam comprados antes do treinador assumir o cargo e foram todos boas contratações. Baratos e bons.

Anónimo disse...

A próxima semaninha vai ser esclarecedora, ai vai vai...ou estamos na presenca de um génio ou entao...é que nao há meio termo, nao há mesmo.e

Abel Pereira disse...

Muitos portistas agarram-se às vitórias para se tranquilizarem, julgo eu. Ainda à pouco vinha eu a pensar que os jogadores do FCP não se movimentam de acordo com um esquema, tudo parece passar-se como obra do improviso. A essência do futebol é simples: marcar mais golos do que os sofridos. Mas se vemos que, jogo após jogo, a vitória podia não ter acontecido, não podemos ficar tranquilos, como a derrota com o Atlético de Madrid veio provar. Estou muito apreensivo em relação ao futuro. O meu maior receio é que me parece que Paulo Fonseca não tem conhecimentos para pôr a equipa a jogar de outro modo... Os próximos 2 jogos vão esclarecer a situação...

Saudações portistas!
Abel Pereira

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