segunda-feira, 23 de julho de 2012

Estórias com História: O Hexa, O TREINADOR



Nome: Fernando Santos 
Naturalidade: Lisboa 
Épocas na I Divisão: 10 
Títulos: Campeão português, 1998/99. Vencedor da Supertaça, 1998/99 
Percurso: Estoril (89/94), Estrela da Amadora (94/98), FC PORTO (98/99) 
Adjuntos: Rodolfo Reis, José Rosário, António André, Josef Mlynarczyk (Tr. Guarda-redes) e Ilídio Vale (Preparador Físico)



Fernando Santos – Prova oral

Havia uma dúvida secreta nos primeiros passos de Fernando Santos no FC PORTO. Era uma dúvida pequena, uma questãozeca que não comprometia o seu sucesso nas Antas, mas ainda assim uma pergunta pertinente. Para consumo interno provou que servia, e na Liga dos Campeões? O projecto apresentava-se-lhe de forma mais crua ainda do que foi a sua transferência no ano anterior, para o Tetracampeão português. Por abissais que fossem as diferenças, estava pelo menos no seu ambiente, um campeonato conhecido e sem outros segredos para além dos do próprio FC PORTO. Agora, depois de ter sobrevivido à primeira experiência europeia, pediam-lhe, de forma bem directa, que tivesse sucesso na competição mais complicada da Europa.

E como?

Posta da forma mais clara, a situação era esta: um ano antes, o público tinha perdido algumas ilusões europeias. António Oliveira fora infeliz na sua segunda Liga dos Campeões e os reforços não indicavam um investimento capaz de alterar substancialmente as coisas. Percebera-se, enfim, que a Europa exigia recursos, talvez mesmo um plantel divido em dois, suficientemente rico para suportar várias provas sem altos e baixos durante uma época completa.

Fernando Santos chegou sem obrigações, mas também sem um conhecimento profundo das dificuldades específicas de uma competição em que nunca tinha participado. Deram-lhe seis jogos para aprender, e a verdade é que não esteve mal, a não ser nos resultados, muitas vezes contrário às exibições, e no dinheiro que a SAD já tinha por certo. O engenheiro aprendeu, talvez, que a sorte é um bem precioso com o qual não se pode contar. Vem e vai quando lhe apetece (e, no seu caso, só foi, nunca veio).

Liga dos tormentos

Na época 1999/2000 já mandava o orçamento. Campeonato? Dinheiro sem retorno, incinerado numa série de jogos desgastantes, observados no local por meia-dúzia de pessoas e pagos pela tabela interna, quando havia transmissão televisiva. Na UEFA, os francos suíços chegavam aos quilos e as bancadas enchiam-se. Como há-de um treinador dizer que não? Se não foi o primeiro, Fernando Santos foi, pelo menos, dos primeiros técnicos em Portugal a sofrer esse tipo de pressões – e também a perceber que não havia forma de fugir delas. Deram-lhe um plantel fresco, naquela altura completamente construído de acordo com as suas ideias. Pôde contratar jogadores para os lugares em que eram necessários e nem sequer era legítimo dizer que lhe impuseram severos limites financeiros. Naquela época, o FC PORTO investiu muito mais do que era seu costume. O problema era esse…




Alessandro, Argel, Rubens Júnior e Domingos. A imagem dos três primeiros estava embaciada pela nacionalidade. Tão grande era o volume de futebolistas brasileiros, que entravam todas as semanas no mercado europeu, que se tornava difícil distinguir entre as compras de recurso e os bons negócios. Não se sabia se eram jogadores com “pedigree”, elementos da mais alta qualidade, comprados para fazer subir o nível da equipa. De todos os modos, representavam a vontade com que o FC PORTO abordava, naquela época, a frente europeia, mas também a consciência de que para se ser campeão (e era preciso, ou no ano seguinte não havia LC) é necessário mais do que ter bons jogadores. Caso contrário, uma das competições ficará a perder e, de uma forma ou de outra, a época estará desperdiçada. Quem fala em época fala, também pode falar nas contas da SAD.



Os êxitos que importam

Fernando Santos soube adaptar-se ao futebol PORTISTA. Teve a inteligência de mexer no mecanismo apenas quando havia a certeza de o estar a melhorar. Passou por algumas dificuldades na época do Penta, principalmente por ter despertado para um pesadelo, no início da segunda volta: de repente, a equipa parecia desprovida de soluções, uma doença agravada pela venda de Doriva à Sampdória. Perdera um jogador que assegurava algum sustento e, por esse motivo ou apenas por coincidência, começou a pagar a ausência nas exibições, cada vez mais fracas. Durante algumas semanas, o próprio primeiro lugar pareceu em perigo. Chegou ao público uma imagem de decadência, a ideia de que não havia volta a dar na queda da equipa. Talvez tenha sido bem menos nítida a imagem seguinte: de um FC PORTO renovado, mais goleador do que nunca, que soube sair do pântano e caminhar em linha recta até ao quinto título consecutivo.

Nessa recuperação silenciosa esteve o selo de Fernando Santos, agora empurrado para as fronteiras europeias com uma pá na mão, à espera que o dinheiro caia. Tinha que transformar numa estratégia de sucesso os escassos seis jogos de Liga dos Campeões a que se resumia a sua experiência prática na prova.


O que disse Fernando Santos:

“Sei que vou ter muitas dores de cabeça. Mas sou pago para isso”.

“O problema do futebol no mundo tem a ver com atitude. O resto é poeira para os olhos, mais nada. E esta é a grande questão do futebol português. A grande confusão é que a criatividade nada tem a ver com o rigor. É impossível ter-se rigor quando só se tem criatividade. O problema é que não se pode fazer um bom jogo sem criatividade”.

“Eles [concorrência] vão tentar roubar-nos o título e a melhor maneira de o evitar é tornarmos-nos mais fortes. Não peço que os outros percam, só quero que a minha equipa ganhe. Só me interessa que os meus jogadores demonstrem em cada jogo que merecem ser campeões”.

“Somos uma equipa, mas queremos ser ainda melhores”.
Fonte: jornal "O Jogo"



Por: Nirutam

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