Pinto da Costa - E depois da meta?
Minutos antes da segunda mão da Supertaça (FC PORTO 3 Beira Mar 1), um repórter da TSF pediu um comentário ao presidente do FC PORTO, que tinha acabado de receber o troféu referente ao título de campeão da época 1998/1999. “Esta já tenho. Agora estou a contar receber outra no final do jogo”. Oferecer o quê a um homem que tem tudo? A lista de êxitos da época passada (1998/99), é apenas a nota estridente de uma sinfonia que Pinto da Costa vem tocando a solo há quase duas décadas. No fundo, é um beco sem saída. Longo, mas sem saída.
Nas entrelinhas das entrevistas que deu depois de confirmado o Penta, confessou relativo cansaço pelos campeonatos consecutivos e admitiu preferência pela Liga dos Campeões. Envolvidos mais ou menos125 mil contos (625 000€), em cada partida da maior prova da UEFA, é evidente que o tédio em nada esteve envolvido nessa viragem, que nem sequer é bem real, porque o FC PORTO sempre investiu muito na competição. Eis Pinto da Costa na pele de uma figura que chegou a renegar, há alguns anos, quando se colocou pela primeira vez a hipótese de avançar com as sociedades desportivas. A SAD exige uma politica mais sensata do que “os êxitos pelos êxitos” e talvez, neste momento da vida do actual presidente administrador, seja essa a única doutrina possível.
De resto, é interessante verificar a similitude de comportamentos entre o FC PORTO gerido como clube e, agora, administrado enquanto SAD. Apenas esta época (1999/200) o investimento atingiu patamares verdadeiramente altos. Em nenhuma das anteriores, os PORTISTAS queimaram tanto dinheiro em contratações como o Benfica ou o Sporting, e no entanto sempre tiveram mais retorno do que qualquer deles. Afinal, levam muitos anos de participação consecutiva na única competição rentável e têm vendido jogadores para o estrangeiro pelo menos com a mesma regularidade dos outros, e com mais proveito.
Estádio para a posteridade
A modernização começou pela SAD e prosseguirá nas estruturas. O entretenimento de Pinto da Costa, nos anos próximos, será o complexo possibilitado pela Câmara Municipal de Gaia e o novo estádio das Antas, ao lado do actual mas rodeado de uma cidade desportiva. O projecto passou por dificuldades legais, relacionadas com a propriedade dos terrenos em que as obras envolventes serão edificadas, mas vai avançando lentamente – e com ele solidifica-se a noção de um FC PORTO perfeitamente consciente do valor financeiro do seu nome. O estádio terá comparticipação estatal, maior ou menor, consoante a decisão da UEFA em Outubro próximo (1999), quando for altura de escolher o país organizador do Euro’2004, e os acordos que levaram ao financiamento da parte restante garantem o melhor negócio possível.
Cimento e tijolo são (eram) a única falha no currículo de Pinto da Costa. Falta(va)-lhe uma obra que fique, perdidos que estão os seus muitos títulos no emaranhado de triunfos do FC PORTO. Quando se ganha muito, cria-se uma determinada imagem, à qual os sucessos posteriores praticamente nada acrescentam; observa-se a floresta, mas perdem-se de vista as árvores. Um edifício de vulto, como será o novo estádio, dará ao seu presidente uma outra dimensão. É um sinal de amadurecimento, de preocupação com o futuro, que talvez faça diminuir a importância desta época, praticamente medida entre assembleias de accionistas. “Quanto perdemos este ano? Quanto vamos ganhar no próximo?”. Nesta altura, um título é apenas mais um título, mas um estádio não se constrói todos os dias.
Os sucessores de Pinto da Costa conhecerão, provavelmente, muitas vitórias; no entanto, é improvável que alguns deles, nas próximas décadas pelo menos, venham a ter necessidade de um recinto desses. Pinto da Costa fechará o capítulo com a palavra: INSUPERÁVEL.
O que o presidente disse:
“Confirmou-se a hegemonia do FC PORTO e a regularidade com que conquista troféus [por alturas da Supertaça]. Nunca se pode esperar que a equipa esteja na sua máxima forma, mas mesmo assim gostei do que vi neste início de época. Ficou provado que é uma equipa com a qual os sócios podem contar”.
“Acho que temos condições para ir mais longe na Liga dos Campeões, mas isso é algo que depende muito de factores adversos como os adversários que nos calhem e a própria sorte do jogo”.
Fonte: Jornal "O Jogo"
Por: Nirutam
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