Um génio tomba, outro levanta-se, qual Atlas a suportar nas suas costas todo o peso da equipa.
Após o jogo no estádio da areia pintada de verde, o FC Porto volta a fazer um jogo em que revela dificuldades no processo ofensivo, mesmo perante um Rio Ave com muitas dificuldades de se prolongar no ataque. Nunca o FC Porto foi absolutamente dominador ou asfixiante perante uma equipa com extrema dificuldade em chegar a João Tomás. O problema não esteve na ausência de Moutinho, que teve em Defour um substituto à altura. O problema radica na montagem do ataque do FC Porto. Hulk diminui-se na posição 9, sobretudo, perante alguém que já sabe quase tudo, como é o Gaspar. Nos flancos. O FC Porto não apresentou um extremo capaz de dar largura à equipa. Há James que foge sempre para o seu lugar natural e Rodríguez, que na sua luta a labuta, se esquece do essencial: dar qualidade de jogo à equipa. Soma-se, ainda, um Belluschi desastrado, apático e pouco influente na condução do jogo.
É neste jogo mastigado, com o Rio Ave a olhar para o relógio e a ver o 0-0 a prolongar-se e o FC Porto a ver o intervalo chegar, que, pela meia hora de jogo, Hulk sai de jogo por lesão. Um génio que tomba. Entra Kléber, o 9 esquecido, para um jogo sem flanqueadores e sem um 10 à altura. A agonia prolonga-se, até ao minuto 42, bem perto da fronteira psicológica do intervalo. É nesse minuto que outro génio se levanta. Bola sobra para James…e génio. Com 1-0 ao intervalo a equipa poderia respirar melhor, aliviar a pressão do resultado do jogo desta noite anterior ao seu e partir para uma segunda parte à FC Porto.
Promessas são sempre difíceis de cumprir. Sobretudo quando não sustentadas em bom futebol colectivo, mas nas pinceladas de génio deixadas aqui e ali por os artistas que carregam a equipa. O FC Porto entra na segunda parte como jogou em toda a primeira parte. O Rio Ave, pelo seu lado, já olhava para o relógio de forma diferente e via 45 minutos para ir buscar um ponto. É numa fuga de Yazalde a Maicon que quase consegue esse fito, com, tão só, 3 minutos da segunda metade. Passado o susto, o FC Porto continua na mesma. Seriam necessários mais alguns minutos para Vítor Pereira fazer a jogada que muda o jogo. Belluschi vai para a direita e James é colocado na sua posição natural. O jogo pelos flancos manteve a bitola baixa, mas a criatividade pelo centro explodiu, o que obrigou o meio campo Vilacondense a recuar. Com isso o Rio Ave deixa de criar perigo. Tudo o resto decorre dessa alteração táctica. Carlos Brito tenta insuflar capacidade ofensiva na equipa trocando, primeiro, de 10 e, depois, de extremos. Uma causa perdida, pois o FC Porto juntava um trio a meio campo altamente eficiente, rotativo e criativo que nunca deixou o meio campo do Rio Ave alimentar o seu ataque. Do lado do FC Porto a tentativa foi de corrigir o pior sector da equipa. Saíram os “extremos” e entram outros. Resultou, porque o jogo do FC Porto foi sempre melhorando, sendo premiado, no fim, por um lance do génio disponível. No seu lugar, no tempo exacto, James fecha as contas da partida.
Faltava o acto final, uma expulsão desnecessária no único lance em que se viu João Tomás no jogo.
Fica um jogo onde a equipa técnica do FC Porto pode tirar valiosas conclusões. Já se percebeu onde rende James. Já se percebeu que o FC Porto precisa de extremos que abram o jogo e não que façam só movimentos interiores ou que travem o lateral contrário. Já se percebeu que Fernando tem talento, capacidade e vontade para participar na primeira fase de construção. Ajuda a equipa a subir no terreno, a ficar em cima do adversário. Hoje viu-se um Fernando pleno. Temos o jogador, é preciso dar-lhe uso.
Análise individual:
Maicon – Mais um jogo em que mostrou fibra. É verdade que deixou escapar Yazalde e é verdade que não subiu pelo seu flanco. Mas é justo criticar? Não. Fez o que pôde e disfarçou muito bem as ausências dos laterais direitos do plantel.
Álvaro – Um jogo ao seu nível. Kelvin teve que fugir de si para criar perigo. De resto, fez tudo pelo seu flanco. Defendeu e atacou, usando o seu “extremo” como uma tabela. Uma das boas exibições da noite.
Otamendi – O Rio Ave nunca testou a dupla de centrais do FC Porto, até ao último minuto de jogo. Com Álvaro a fazer um jogo impecável pelo flanco esquerdo, pouco sobrou. Mostrou determinação na forma como abordou os lances.
Rolando – Num jogo tranquilo, onde esteve seguro, borra a pintura no minuto final. Uma expulsão por desleixo. O jogo só termina quando o árbitro apita. João Tomás, no alto dos seus 36 anos, sabe isso de cor e salteado. Rolando não tem a mesma veterania, mas nem isso lhe vale!
Fernando – Um jogo assombroso. Um 6 moderno, altivo e efectivo. Defensivamente, um muro, ofensivamente um tormento para o adversário. A melhor exibição da noite. Não se pode continuar a desperdiçar toda a sua amplitude de jogo.
Defour – Na sua posição natural, brilhou. Passe seguro, disponibilidade e trabalhinho de formiga. Falta-lhe ser mais presente no jogo, mais constante e um pouco mais afoito no passe vertical.
Belluschi – Basta dizer que a equipa subiu vários degraus quando Vítor Pereira o encosta à direita e cede a posição criativa a James. Um jogo falhado. Valeu sempre a disponibilidade para participar nos movimentos ofensivos, mesmo que errando mais que acertando.
Rodríguez – Um cabeceamento, num lance de bola parada, para uma estrondosa defesa de Huanderson. De resto, disponibilidade, vontade, labuta e mais nada. Nada de substancial ou de qualitativo.
James – O génio da noite. Toda a qualidade de um talento raro na vitória de hoje. Se brilhou no flanco, explodiu a 10. Uma exibição onde mostrou que rende mais, muito mais, com liberdade criatividade pelo centro. Mas a cereja no cimo do bolo foi a sua disponibilidade para ajudar a defender.
Hulk – Meia hora de incómodo numa posição que não é sua. Deu trabalho, mas a lesão retirou-o do jogo.
Kléber – Entrou mal no jogo. Está longe daquele Kléber alegre, positivo, dinâmico e confiante que brilhava no Marítimo. A equipa não ajuda, é verdade. Não tem amplitude, nem dinâmica para o sustentar. Ainda assim, o seu principal problema é motivacional e o tempo de banco não está ajudar ao processo.
Iturbe – Um jogo ansioso, nervoso, de menino que dá os primeiros passos. Assume o risco e precisa de mais minutos, mais tempo para poder arriscar, errar e acertar. Chega a hora de Iturbe.
Varela – Entrou mais alegre. Será? Pareceu-me que sim. Uma nova atitude e sem medo de arriscar. Se assim for, será um bom reforço de inverno.
Kelvin – Tal como Iturbe, tem ainda caminho a percorrer. Mas assume o risco e criou perigo no Dragão. Perdeu gás com o decorrer do jogo e nem sempre foi objectivo nas suas acções. Está em boas mãos para aprender. Um bom cartão de visita deixado no Dragão.
5 comentários:
Grande jogo de JAMES, esse tem talento ate de sobra. Gostei de ver o Defour, fez o seu trabalho...esta a evoluir, e jogamdo a PORTO. Mas o jogador que me enche os olhos de tanto velo: FERNANDO, sentirei iminsas saudades se sair, expero que venha um a altura, trinco como este ja nao existem, precisa se de aranjar um boa FEMEA para procriar :P
Um jogo confuso, sem fio, sem ideias. Um Fernando gigante, curiosamente o treinador não o queria no início da época.
Vive-se de lances de génio como ontem James e no passado recente de Hulk. Vai ser sofrer e pena até ao fim da época infelizmente
Metade da época decorrida e não conseguimos estabilizar um fio de jogo. Sr Presidente será que não percebemos mesmo de Futebol?
Não há voz de comando, cada um por si. Futebol desgarrado, sem qualquer principio, meio e fim. Os 15 milhões metidos ao bolso no inicio da época continuam a passar factura.
2004/2005, 2009/2010, a historia repete-se.
Voces têm de se convencer que não podemos ganhar sempre o campeonato, ninguém ganha sempre
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