Vítor Pereira |
Lucho chegou. Aterrou também um ponta de lança capaz de fazer golos.
Cada uma das contratações representa o colmatar de lacunas da época 2011/12.
Lucho devolve a alma perdida em Junho de 2011. Janko procura minorar os estragos da saída de Falcao no centro de ataque.
A perda de alma e a partida de Falcao foram consideradas como as grandes atenuantes do trabalho de Vítor Pereira. Sempre que alguém levantava um dedo ao mister vinha sempre a outra face da moeda.
Este não teve Falcao e outro tinha.
O outro rebentou com a temporada e este tentou juntar os cacos.
Para vos ser franco estou-me a borrifar para o outro. E quando me falam em juntar cacos penso num homem que não tinha atenuantes e sempre conseguiu arrumar a casa quando a SAD metia a pata na poça.
Um benfiquista de berço que este ano num Panathinaikos a contar os tostões e a ter que vender muito e a contratar pouco (gastou pouco mais de 1 milhão de Euros com Zeca a ser das contratações mais dispendiosas) construiu uma equipa e parece conseguir, finalmente, ultrapassar o Olympiakos.
Consigo contextualizar tudo para avaliar o trabalho de Vítor Pereira. Nenhum treinador do mundo que suceda a uma época de ouro (chame-se ele Rafael Benitez ou Luigi del Neri) tem luz para iluminar o túnel.
André Villas-Boas e Vítor Pereira |
O que se passou com Fucile, Sapunaru, Guarin, Walter e todos os outros que animicamente levantaram o pé muito provavelmente passar-se-ia com qualquer outro que substituísse André Villas Boas.
De forma crua diria que um treinador que não tem mão em variadíssimos jogadores não tem a liderança necessária. Querendo contextualizar o momento percebo a complexidade de fazer a transição de uma época de ouro para um ano normal.
Se levo a minha noiva numa viagem à volta do Mundo, com uma semana a banhos na Polinésia e um fim de semana romântico em Paris é obvio que ela não se sentirá muito motivada para voltar ao dia-a-dia do T1 na Rechousa. E é suposto que ela esteja comigo por amor à causa.
Guarin & friends não estavam cá por amor à causa. É natural este abrandamento motivacional. Ser natural não significa que seja compreensível.
Tudo isto para erguer mais um muro na defesa de Vítor Pereira.
Por mais alto que o muro seja chegamos aos 90 minutos e ele tem que dizer presente. Não acredito muito em fábulas de treinadores com olho no banco. Mesmo o António Oliveira ganhou fama mais à conta de erros na definição do onze inicial do que nos jogadores que entravam.
Um treinador não precisa de resolver jogos no decurso dos 90 minutos.
Acredito muito mais que eles se ganham na preparação táctica das equipas e motivacional dos jogadores no período que os precede.
Durante os 90 minutos exige-se atenção, percepção da realidade e auxílio dos seus comandados.
Um jogo em que Vítor Pereira esteve atento, percebeu e ajudou a equipa foi, por exemplo, o jogo em casa do Marítimo.
Não consigo dizer que foi por ele que ganhamos os 2 pontos mas é-me licito dizer que com ele foi mais fácil lá chegar.
Qual é o problema então?
É o auxílio.
Durante os 90 minutos não há pré-época, não há Falcao, não há André Vilas Boas, não há desmotivação que contextualize as movimentações do nosso banco.
E eu na lista de jogos vejo mais afogamentos do que auxílios. Vejo que o líder entra mais facilmente em pânico do que os jogadores.
Seja quando os jogos estão controlados e do exterior vem um sinal contra-corrente que reprime a equipa e a faz ter medo desnecessário (Shakthar, Beira-Mar) como quando estão descontrolados e do banco a solução que sai é anarquia e caos (Feirense, Zenit Apoel, Gil Vicente )
Não há rumo nem estratégia que possa ser bem sucedida se o líder nela não acredita.
Nos últimos jogos quais tem sido os pontos-fortes do Porto ofensivo?
1 - As subidas de Álvaro pela esquerda.
2 – As incursões pelo meio de James.
Quanto o barco tremeu com aquela 1ª parte de Barcelos devido ao tubarão Paixão o que fez o líder ao intervalo?
Mexeu muito e resolveu passar um sinal que quando as coisas estão a correr mal para a equipa a solução passa por eliminar os pontos-fortes dos jogos precedentes.
A mensagem foi:
“Vamos virar isto com o Álvaro a não subir pela esquerda e o James a não descair para o meio.”
Sempre que o Vítor Pereira faz alterações não entendíveis para os jogadores (nem para ninguém) não percebe o que fica em causa.
O que se perde é mais do que um jogo. Perde-se a consciência do grupo de trabalho na competência do líder.
O jogo com o Feirense trouxe-nos à estaca zero. Todo o bom caminho que tínhamos feito perdeu-se ali. Num jogo que até parecia ser para “rodar jogadores”.
Pior do que o deslize natural numa época longa é o desbaratar inconsciente da confiança dos jogadores no treinador.
É como voltar ao nível 1 depois de falhar no nível 15 num jogo de computador. Recomeçar tudo de novo era bem mais desmotivante do que andar apenas uns passitos para trás para tentar passar, à segunda tentativa, aquele desafio falhado.
Esse é o Porto que Vítor Pereira nos dá. Quanto parece que há um rumo, que está definido um caminho e a equipa começa a crescer dando sinais de confiança a si mesma vem um tsunami do banco e arrasa com tudo.
À primeira contrariedade o primeiro a desconfiar do rumo e da estratégia é o líder.
E voltamos, outra vez, à estaca Zero. Nível 1 outra vez.
Se tivesse oportunidade para dizer umas palavras a Vítor Pereira diria:
ATINA!
Tens um dos melhores empregos do mundo.
Conseguiste-o num dos piores momentos possíveis.
Num dos piores momentos possíveis continuas a estar num dos melhores empregos do mundo.
És um treinador de futebol. Com Maicon a defesa-direito ou com Hulk a ponta de lança faz o que acreditas e acredita naquilo que fazes.
Se aquilo em que acreditas não resulta não grites ao mundo que às tantas já não acreditas naquilo que acreditavas. Estou-me a borrifar para o mundo mas o problema é que nele habitam 20 e tal indivíduos que são membros do plantel que tu diriges.
ACALMA!
Pode parecer heresia mas nos 90 minutos treina o Porto como treinarias o Santa Clara.
A dimensão do clube que treinas não te deve pressionar a tal ponto de estruturar esquemas tácticos tão sôfregos e desorganizados. O Porto pode estar em desvantagem no marcador sem que seja necessário tirar 3 defesas e meter 3 avançados.
Sapunaru |
ACORDA!
Nunca, mas nunca em circunstância alguma deixes cair em público algum dos teus jogadores.
Nunca digas que A não joga porque não tem carácter.
Nunca digas que a equipa não teve atitude dentro de campo. Se um dia o fizeres ganha uns títulos valentes primeiro.
Um líder só pode massacrar os seus comandados se tiver estatuto. Se eles pensarem que o gajo que lhes está a dar na cabeça ainda não tem estatuto em vez de verem murro na mesa e autoridade só detectam topete.
Em vez de pensarem: “ Este gajo é fodido para nos dar na cabeça” perguntam “ Quem é que este gajo se julga para falar assim de nós?”
E o que vai na cabeça dos jogadores é decisivo. Mais do que o 4-3-3 ou o 4-4-2 losango.
Mais ainda se estamos numa época em que a SAD se tem revelado totalmente desajeitada na gestão da época.
Eu sei que nos dias de hoje atingir o Rating AAA está pelas horas da morte face à voracidade dos “mercados”.
Se daqui até ao final da temporada Acordares, Acalmares e Atinares é possível que a agência de rating controlada pelos portistas te absolva.
Sai um Triplo A para o Vítor Pereira.
AAA.
Por: Walter Casagrande
4 comentários:
Genial!Uma opinião alicerçada em pormenores factuais quer no tempo,quer no momento.Só um pormenor:será só nos AAA que se confina o comportamento oscilante da equipa?Pessoalmente,resumo a:" Nenhum treinador do mundo que suceda a uma época de ouro" completando...fará um trabalho sem comparações negativas.
Muito bem,subscrevo totalmente!
No fundo é o que todos nós querer, até ao acorde. A absolvição não por isso!
Eu não quero, a partir de certa altura só me preocupo com os danos minimos
Infelizmente, tenho uma visão menos crente na capacidade de Vítor Pereira em regenerar esta época. O que se passou em Barcelos, naquela segunda parte, foi mau. Ainda assim, resta-nos confiar, pois ainda estamos na luta.
Enviar um comentário